E
o empresário não parou por aí! Há
quatro anos abriu um restaurante para divulgar o produto,
e hoje oferece cursos básicos de engorda de camarão,
direcionados aos produtores, com direito as aulas teóricas
e práticas, que ocorrem no sítio.
Neste
ano, Ticianelli produzirá cinco milhões de pós-lavras,
que serão vendidas para São Paulo, Minas Gerais,
Paraná, Goiás, entre outros Estados. E ele ainda
pretende ampliar as estufas de estocagem de filhotes. Vamos
produzir mais pós-larvas e vender aos novos parceiros.
Nossas parcerias ainda estão sendo iniciadas, a princípio
na nossa região. No futuro, temos a intenção
de fazer parcerias com produtores de diversos lugares do Brasil,
comenta.
Atualmente, a venda de camarões adultos, produzidos
em parceria com 15 criadores das regiões do Vale do
Ribeira (São Paulo), Bauru (SP) e Minas Gerais, ocorre
na propriedade. O empresário compra a produção
dos parceiros, que pagam R$ 74 cada mil filhotes. Eles
compram as pós-lavras (filhotes de camarão)
e a ração. Nós fazemos o acompanhamento,
seguido da assistência técnica aos produtores,
e buscamos a produção na propriedade, da onde
se faz até a despesca, diz o empresário.
A despesca seletiva, com rede de malha de 25 milímetros,
começa a partir do quarto mês e se repete por
duas vezes até completar seis meses, quando geralmente
se faz a despesca total com o esvaziamento completo do viveiro.
Outra vantagem do camarão, segundo o criador, é
que o pequeno produtor pode investir pouco e iniciar uma criação
com um número reduzido de crustáceos. É
um meio de se aprender, sem correr riscos de perder dinheiro.
Mas, como qualquer outra atividade, é necessário
investir sim, muita dedicação, se quiser ter
retorno bom e rápido, aponta.
Segundo Tiacinelli, o custo médio de ração
é de R$ 1,80 o quilo. Para se produzir uma tonelada
de camarão, gasta-se, em média 1,5 tonelada
de ração. Pelos cálculos do proprietário,
um hectare rende, em média, de 1.500 a 1.600 quilos
em uma safra (produção). Isso significa uma
renda entre R$ 15 mil e R$ 20 mil por hectare. O pequeno
produtor não precisa gastar muito com as instalações.
Além disso, podem-se criar camarão com outros
peixes, como já acontece com alguns de nossos parceiros
que realizam o policultivo e ainda possuir várias outras
fontes de renda complementares, conclui.
No ano passado, os parceiros produziram quatro a cinco toneladas
de camarão, que atenderam à demanda dos turistas
que visitaram o sítio e a venda do comércio
local. Hoje, o preço do quilo do camarão da
Malásia varia de R$ 8 a R$ 13 reais, dependendo do
tamanho, para um custo operacional de R$ 6 reais.
Atualmente, o Brasil é o segundo maior produtor
mundial de camarões de cativeiro, sendo o sexto maior
produtor de camarão-da-Malásia. Com a produção
brasileira de camarão de água doce atual em
torno de 500 toneladas por ano, não conseguimos suprir
nem 30% do mercado interno, restando ainda muito espaço
para novos produtores. E o a procura do mercado está
aumentando, principalmente, por ser o camarão de água
doce de cativeiro, um produto de qualidade.
Estratégia
da Criação
Existem
cerca de 200 espécies de camarões de água
doce no mundo. Mas poucos se prestam à exploração
comercial. Desde a sua introdução no Brasil,
em 1977, o camarão da malásia (Macrobrachium
rosenbergii), também chamado de lagostim de água
doce e gigante da malásia, é a espécie
mais procurada para cultivo. Com sabor levemente adocicado
e cabeça grande (que corresponde a quase 60% do corpo),
este crustáceo ainda não tem seu mercado consolidado
no País. Por isto, algumas medidas estão
sendo feitas para valorizar a apresentação do
produto, diz.
O camarão-da-Malásia é um animal de cativeiro,
de origem controlada, e que pode ser cultivado em todas as
regiões brasileiras, principalmente nas regiões
mais quentes. Alimenta-se de ração específica
para camarões e está pronto para abate entre
quatro a seis meses. O fator mais importante na engorda do
camarão é, sem dúvida, a água,
que precisa de renovação diária de 5%
a 10% do seu volume total. Segundo o criador, o povoamento
do camarão, principalmente no Estado de São
Paulo, ocorre de setembro a dezembro, para fazer a despesca
de março a abril. Em regiões mais quentes, como
o Norte e Nordeste, o povoamento pode ser feito o ano todo.
No Sítio Caminho das Águas, há uma estufa
berçário com plástico para estocar as
pós-larvas. Cerca de 100 mil larvas são
suficientes para 1 hectare de tanque, completa a bióloga
responsável pela propriedade, Adriana Adad. As pós-larvas,
que têm de 1,0 a 1,2cm (0,02g), por exemplo, são
adaptadas à água doce na propriedade. Com isto,
o produtor já recebe um animal adaptado à água
doce. As pós-larvas normalmente são embaladas
e transportadas em sacos plásticos de 60 litros com
1/3 de água e 2/3 de oxigênio puro, contendo
até três milheiros por embalagem (viagens curtas).
A adaptação dos animais no viveiro final é
realizada de forma gradual, durante um período de 30
a 40 minutos. Para transporte por períodos mais longos
(de 12 a 24 horas), as embalagens são acondicionadas
em caixas de isopor e a temperatura da água é
rebaixada para 18 a 20ºC.
O sistema adotado na propriedade, e normalmente praticado
em outras, é o semi-intensivo, com viveiros de fundo
natural, retangulares, providos de monge e circulação
de água. Aliado a uma temperatura entre 25°C e
31°C, sendo toleráveis temperaturas até
17°C por períodos mais curtos, como todo camarão
de água doce, o M. rosenbergii é rastejante
e prefere lugares sem a incidência de luz solar direta.
Melhoramento
do Camarão
A
proliferação do Camarão-da-Malásia
ocorre naturalmente em rios, lagos e reservatórios
que se comunicam com águas salobras, onde o desenvolvimento
larval se completa; podendo atingir 32cm de comprimento e
500 gramas de peso (comercialmente entre 15 e 50 gramas).
Na natureza sua dieta é bem diversificada, consumindo
vermes, moluscos, larvas e insetos aquáticos e vegetais,
como algas, plantas aquáticas, folhas tenras, sementes
e frutas.
Um dos principais obstáculos para o desenvolvimento
de criações comerciais de camarões de
água doce ainda é a obtenção,
por parte dos produtores, das pós-larvas no tempo certo
durante todo o ano. Mas em busca de melhoramento, o proprietário
do Caminho das Águas, montou a quatro quilômetros
da propriedade um laboratório, que fica as margens
da represa de Itupararanga, em Piedade (SP). O laboratório
é subterrâneo, tudo para controlar a temperatura
da água (que deve ficar acima dos 25ºC). Lá,
acontece todo o processo de reprodução com a
supervisão de biólogos. Uma parte muito
delicada da criação. A água nos tanques
passa por filtros e recebe oxigênio o tempo todo,
esclarece o proprietário.
O M. rosenbergii, ou melhor, o camarão de água
doce possui um ciclo de vida dividido em quatro fases distintas:
ovo, larva, pós-larva e adulto. Na sala de reprodução,
por exemplo, as matrizes e os reprodutores (que são
selecionados pelos tamanhos, pesos e características
dominantes) ficam em tanques. Normalmente, são sete
fêmeas para cada macho. O período de reprodução
é de 43 dias, sendo 19 dias de gestação.
Após esta fase, a desova das matrizes que liberam de
10 a 20 mil ovas, é transferida para tanques com águas
salobras (mistura da água doce com a água do
mar). Só assim é possível desenvolver
a reprodução, diz.
No laboratório também é feita a engorda
em tanques de terra. Para atingir o ponto de abate (20 g,
em média), o camarão consome ração
equivalente a uma vez e meio o peso dele. De acordo com os
estudos do Centro de Tecnologia em Aqüicultura e Meio
Ambiente do Espírito Santo (CTA-ES), pelo sistema tradicional,
obtém-se produtividade média de 2 toneladas/hectare/ano.
Um sistema de criação mais sofisticado (multifásico,
que envolve a fase de berçário e a de engorda)
permite produtividade média de 3,6 toneladas/hectare/ano,
chegando-se em alguns casos a até 5 toneladas/hectare/ano.
Preço
Atrativo
Os
preços internos praticados atualmente são atrativos,
valendo para o produtor na faixa de R$ 6,00 a R$ 14,00 por
kg (preço médio de R$ 10,50 por kg), dependendo
do peso médio do camarão. De acordo com o CTA-
ES, Centro de Tecnologia em Aqüicultura e Meio Ambiente,
alguns produtores têm seus nichos de mercado, conseguindo
preços diferenciados. Sinal claro de que o produto
camarão de água doce tem sua importância
e valor. É importante citar que o custo de produção
tem uma variação de R$ 5,50 a R$ 7,00 - nos
moldes de cultivos adotados atualmente, representando lucros
para o produtor da ordem de 60% a 90%. Segundo o estudo da
Sebrae-ES, parceria do CTA-ES, em algumas condições
se pode alcançar 200%, dependendo das condições
de cultivo e período do ano, como na Semana Santa,
em que os preços dos pescados normalmente se elevam.
Curso de
Cultivo de Camarões de Água Doce
O
Caminho das Águas trabalha há mais de 10 anos
com o camarão-da-malásia, estando envolvido
em todas as etapas do cultivo, desde a produção
de pós-larvas até a comercialização
final do animal adulto congelado. Sendo uma referência
no assunto, o Sítio periodicamente realiza cursos e
palestras, visando orientar produtores e aqueles que ainda
pretendem se iniciar no ramo. Para quem pensa em construir
tanque, um bom tamanho é 2.500m² (85x30), mas
tanques de outros tamanhos podem ser utilizados (por exemplo,
500m², 1.500m²). A criação do
camarão-da-Malásia em tanque-rede, piscina,
tanque de fibra ou caixa d´água não é possível.
O valor médio para escavação de
um hectare de tanques varia de R$ 20.000 a R$ 30.000.
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