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PECUÁRIA DE CORTE - PADRINHOS DO SANTA GERTRUDIS BRASILEIRO
rev 97 - março 2006

Desde que chegaram os primeiros animais à fazenda Pau D’Alho, que fica na cidade de Tietê, SP, no ano de 1965, que a raça Santa Gertrudes faz parte dos sonhos e aspirações do casal Carson e Ellen Geld. O antigo desejo de tocar o próprio projeto de criação pecuária, realizado assim que eles adquiriram a fazenda, encontrou, a princípio, muita dificuldade, pois, a propriedade pouco tinha a oferecer a não ser um solo degradado pela exploração no cultivo do café.

Não se deixando abater o casal tratou logo de arregaçar as mangas e mudar a realidade do lugar. Com a chegada do primeiro touro da fazenda Angélica, de Americana, SP e de um lote de fêmeas ½ sangue e ¾ sangue do criatório King Ranch, pai da raça nos EUA, a fazenda iniciou, ainda que de forma modesta, seu trabalho de seleção com o Santa Gertrudis.

O objetivo da criação sempre foi o de produzir reprodutores para melhorar a qualidade do gado azebuado que vivia na região, lembra José Arnaldo Amstalden, superintendente técnico da Associação Brasileira de Santa Gertrudis e um admirador do trabalho da família Geld.

Arnaldo fala que, por ser uma raça desenvolvida com a finalidade de produzir carne, os animais Santa Gertrudis logo de cara se destacaram. A precocidade sexual das fêmeas e a resistência dos machos aos problemas da criação a campo foi um fato que chamou atenção dos criadores da região.

Na época, era comum uma novilha apresentar cio aos 24 meses e parir já depois dos trinta. Hoje essa realidade é bem diferente. As fêmeas apresentam cio logo aos 12 meses e sua cobertura dificilmente ultrapassa os 14 meses. O plantel atual da fazenda é de 120 matrizes, que garantem uma venda de 30 touros por ano entre compras na fazenda e participação em leilões da raça. Para acelerar a produção, a inseminação artificial já é uma rotina no criatório. O sêmen vem de touros das principais linhagens dos Estados Unidos e o repasse, embora o índice de prenhez gire em torno dos 85%, é feito com touros produzidos na fazenda, como Dakota da Pau D’Alho, animal de excelente conformação e muito eficiente na cobertura a campo.

A seleção da Pau D’alho é uma das mais antigas e tradicionais da raça no país e a genética do criatório é disseminada por todo o país, destaca Carson Geld, que aos 77 anos, e se recuperando de um sério problema de saúde, mostra muita disposição para levar a frente seu negócio de sucesso. Idealizador do concurso Novilha do Futuro, evento considerado um marco dentro da raça pela contribuição que oferece ao melhoramento genético dos animais, não confere a si mesmo ou louros pelo sucesso: “Eu apenas fui buscar conhecimentos novos fora do país e trouxe para implementar na minha criação”.

Dona Ellen é o braço forte do marido na condução da fazenda. Jornalista de formação e escritora, ela lançou dois livros que ilustram um pouco a trajetória da família Geld nesta enriquecedora experiência de criação e toda a história vivida por eles. Em poucas palavras, a criadora define o que é o projeto da fazenda Pau D’alho e o concurso Novilha do Futuro para ela e seu marido: “Para dizer a verdade, o concurso é parte de um sonho nosso, perpétuo de fazer tudo o que te convém, do jeito que achar certo”. Apesar das dificuldades e das incertezas que a vida no campo sempre apresentaram, dona Ellen se orgulha de poder ter criado seus filhos na fazenda, tirando seu sustento daquelas terras.

Ao falar do esposo, ela o define como um homem de grandes idéias. Um exemplo disso foi o desenvolvimento do capim Tifton 85 POI, criado a partir de um punhado de mudas que o criador trouxe de uma de suas viagens aos campos experimentais nos Estados Unidos e que plantou na fazenda. Depois de 20 anos de árduo trabalho de pesquisa e melhoramento, aquelas mudas se transformaram numa produção comercial de feno altamente rentável, que divide espaço na propriedade com a criação de gado.

As atenções do casal agora estão voltadas para a preparação do Concurso e Leilão Novilha do Futuro, marcado para o dia 1º de Abril, na própria fazenda. Realizado há 22 anos, sempre no início de abril, o concurso atrai interessados em todo o país. De acordo com José Arnaldo, superintendente técnico da associação, a proposta original é mostrar a eficiência reprodutiva e precocidade da raça. Para isso as novilhas que participam do julgamento precisam ter idade entre 16 e 20 meses, com prenhez confirmada, e previsão de parto para os 24 meses. Arnaldo diz que, historicamente, as fêmeas que participam do evento chegam a fazenda com peso perto de 450 quilos. Segundo ele, “isso mostra a velocidade de ganho de peso delas mesmo vivendo em condição de pasto”, destaca.

Estão sendo esperados este ano 15 criatórios da raça, que devem reunir cerca de 25 animais. A maior parte dos criadores é do estado de São Paulo, mas já tem fazendas de outros estados confirmadas. O julgamento este ano será feito pelo também criador Luiz Bannwart, um dos maiores especialistas em Santa Gertrudis que, aos 84 anos é um dos responsáveis por fazer a raça reconhecida nacionalmente, destaca dona Ellen. O leilão, que é realizado logo após a premiação, abre a temporada de remates este ano, gerando grande expectativa.


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