Desde
que chegaram os primeiros animais à fazenda Pau DAlho,
que fica na cidade de Tietê, SP, no ano de 1965, que
a raça Santa Gertrudes faz parte dos sonhos e aspirações
do casal Carson e Ellen Geld. O antigo desejo de tocar o próprio
projeto de criação pecuária, realizado
assim que eles adquiriram a fazenda, encontrou, a princípio,
muita dificuldade, pois, a propriedade pouco tinha a oferecer
a não ser um solo degradado pela exploração
no cultivo do café.
Não se deixando abater o casal tratou logo de arregaçar
as mangas e mudar a realidade do lugar. Com a chegada do primeiro
touro da fazenda Angélica, de Americana, SP e de um
lote de fêmeas ½ sangue e ¾ sangue do
criatório King Ranch, pai da raça nos EUA, a
fazenda iniciou, ainda que de forma modesta, seu trabalho
de seleção com o Santa Gertrudis.
O objetivo da criação sempre foi o de produzir
reprodutores para melhorar a qualidade do gado azebuado que
vivia na região, lembra José Arnaldo Amstalden,
superintendente técnico da Associação
Brasileira de Santa Gertrudis e um admirador do trabalho da
família Geld.
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Arnaldo
fala que, por ser uma raça desenvolvida com a finalidade
de produzir carne, os animais Santa Gertrudis logo de cara
se destacaram. A precocidade sexual das fêmeas e a resistência
dos machos aos problemas da criação a campo
foi um fato que chamou atenção dos criadores
da região.
Na época, era comum uma novilha apresentar cio aos
24 meses e parir já depois dos trinta. Hoje essa realidade
é bem diferente. As fêmeas apresentam cio logo
aos 12 meses e sua cobertura dificilmente ultrapassa os 14
meses. O plantel atual da fazenda é de 120 matrizes,
que garantem uma venda de 30 touros por ano entre compras
na fazenda e participação em leilões
da raça. Para acelerar a produção, a
inseminação artificial já é uma
rotina no criatório. O sêmen vem de touros das
principais linhagens dos Estados Unidos e o repasse, embora
o índice de prenhez gire em torno dos 85%, é
feito com touros produzidos na fazenda, como Dakota da Pau
DAlho, animal de excelente conformação
e muito eficiente na cobertura a campo.
A seleção da Pau Dalho é uma das
mais antigas e tradicionais da raça no país
e a genética do criatório é disseminada
por todo o país, destaca Carson Geld, que aos 77 anos,
e se recuperando de um sério problema de saúde,
mostra muita disposição para levar a frente
seu negócio de sucesso. Idealizador do concurso Novilha
do Futuro, evento considerado um marco dentro da raça
pela contribuição que oferece ao melhoramento
genético dos animais, não confere a si mesmo
ou louros pelo sucesso: Eu apenas fui buscar conhecimentos
novos fora do país e trouxe para implementar na minha
criação.
Dona Ellen é o braço forte do marido na condução
da fazenda. Jornalista de formação e escritora,
ela lançou dois livros que ilustram um pouco a trajetória
da família Geld nesta enriquecedora experiência
de criação e toda a história vivida por
eles. Em poucas palavras, a criadora define o que é
o projeto da fazenda Pau Dalho e o concurso Novilha
do Futuro para ela e seu marido: Para dizer a verdade,
o concurso é parte de um sonho nosso, perpétuo
de fazer tudo o que te convém, do jeito que achar certo.
Apesar das dificuldades e das incertezas que a vida no campo
sempre apresentaram, dona Ellen se orgulha de poder ter criado
seus filhos na fazenda, tirando seu sustento daquelas terras.
Ao falar do esposo, ela o define como um homem de grandes
idéias. Um exemplo disso foi o desenvolvimento do capim
Tifton 85 POI, criado a partir de um punhado de mudas que
o criador trouxe de uma de suas viagens aos campos experimentais
nos Estados Unidos e que plantou na fazenda. Depois de 20
anos de árduo trabalho de pesquisa e melhoramento,
aquelas mudas se transformaram numa produção
comercial de feno altamente rentável, que divide espaço
na propriedade com a criação de gado.
As atenções do casal agora estão voltadas
para a preparação do Concurso e Leilão
Novilha do Futuro, marcado para o dia 1º de Abril, na
própria fazenda. Realizado há 22 anos, sempre
no início de abril, o concurso atrai interessados em
todo o país. De acordo com José Arnaldo, superintendente
técnico da associação, a proposta original
é mostrar a eficiência reprodutiva e precocidade
da raça. Para isso as novilhas que participam do julgamento
precisam ter idade entre 16 e 20 meses, com prenhez confirmada,
e previsão de parto para os 24 meses. Arnaldo diz que,
historicamente, as fêmeas que participam do evento chegam
a fazenda com peso perto de 450 quilos. Segundo ele, isso
mostra a velocidade de ganho de peso delas mesmo vivendo em
condição de pasto, destaca.
Estão sendo esperados este ano 15 criatórios
da raça, que devem reunir cerca de 25 animais. A maior
parte dos criadores é do estado de São Paulo,
mas já tem fazendas de outros estados confirmadas.
O julgamento este ano será feito pelo também
criador Luiz Bannwart, um dos maiores especialistas em Santa
Gertrudis que, aos 84 anos é um dos responsáveis
por fazer a raça reconhecida nacionalmente, destaca
dona Ellen. O leilão, que é realizado logo após
a premiação, abre a temporada de remates este
ano, gerando grande expectativa.
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