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MASTITE - INIMIGO DO ÚBERE E DA PRODUÇÃO
rev 97 - março 2006

A Mastite bovina continua sendo fator limitante da produção leiteira em muitas propriedades no Brasil, surgindo como o mais freqüente causador de prejuízos aos produtores de leite.

A produção de leite no Brasil sofreu nos últimos anos uma verdadeira reviravolta. E isso não ocorreu por acaso. Com a chegada da Instrução Normativa 51, muitos produtores tiveram que se adequar às novas normas. E com isto, nos últimos anos, até mesmo institutos de pesquisa, como a Embrapa, vêm sendo bastante solicitados por associações de produtores e cooperativas interessadas em melhorar a qualidade do produto, tanto para cumprir a norma, como para sobreviver a adoção de preços em função da qualidade do produto, feita por vários laticínios.

Na realidade, hoje, a instrução determina, entre outros fatores, a realização de análises periódicas do leite e níveis máximos permitidos de contaminação microbiológica e por resíduos de antibióticos, além de percentuais mínimos de sólidos totais (que envolve gordura, proteína e lactose). Pelas normas, o leite de cada propriedade deve ser analisado pelos menos uma vez ao mês.

Os grandes laticínios já realizam de três a quatro análises mensais, o que dá maior segurança ao produtor e garantia de um leite de qualidade ao consumidor. “O leite de boa qualidade envolve sanidade do gado, higiene antes, durante e depois da ordenha. As análises de bactérias, células somáticas e resíduos antibióticos do leite, feito nos laboratórios são o que determinam hoje o grau de qualidade e que indicam que, muitas vezes, vale mais a higiene do que o nível de tecnificação da propriedade”, comenta o médico veterinário, José Bráulio de Oliveira Gomes, responsável pelos animais da Fazenda Limoeiro, em Itu, SP.

Um dos parâmetros adotados pela Normativa 51 para medir a qualidade do leite, a CCS – Contagem de Células Somáticas, revela uma preocupação mundial da pecuária leiteira e pode vir a contribuir para minimizar um problema sério no Brasil: a mastite bovina. “Essa doença não pode ser erradicada, mas precisa ser controlada”, alerta Roberto Raia, médico veterinário e pesquisador do Napgama - Núcleo de Pesquisa em Glândula Mamária e Qualidade do Leite, ligado a USP.

De acordo com dados da Embrapa Gado de Leite, no Reino Unido estima-se perdas em decorrência da mastite clínica da ordem de 168 milhões de libras, mais de R$ 800 milhões. “A mastite é um processo inflamatório na glândula mamária. Diversas causas determinam esta inflamação, podendo ser fisiológica no pós-parto, traumática por pisoteio ou por picada de insetos, mas a mais comum é a infecciosa, causada por microorganismos, como por exemplo: bactérias. A mastite gera no local grande concentração de células de defesa, que, por sua vez, acabam indo para o leite. Embora sua presença em pequenas quantidades seja absolutamente normal, quanto mais células somáticas no leite mais avançada estará a doença no animal. O processo inflamatório altera as características do leite. Uma alteração importante é a diminuição da caseína, fundamental na fabricação de queijos”, diz Raia.

Segundo eles, a mastite bovina é hoje um dos problemas mais sérios encontrados na pecuária leiteira. “Num processo mais intenso, denominado de mastite clínica, as alterações são visíveis. O úbere pode ficar inchado, dolorido e quente. O leite apresenta desde grumos finos até pus ou sangue. Em um processo mais suave, chamado de mastite subclínica, as alterações não são visíveis. Nesse caso, somente pode ser detectada por testes de campo e análises laboratoriais, principalmente pelo exame de contagem de células somáticas (glóbulos brancos) no leite”, conta o veterinário.

O Controle

A base de controle da mastite está na prevenção, que significa redução das possibilidades de infecção. “Os microrganismos causadores da mastite podem atingir a glândula saudável, por exemplo, durante a ordenha, através do equipamento de ordenha, da mão do ordenhador ou da toalha utilizada para secar. A bactéria pode passar de um animal com mastite para outro saudável, neste caso ela pode ser classificada como contagiosa. A bactéria que causa a mastite também pode estar presente nas fezes, na lama, na lagoa por onde o animal passa, neste caso ela é denominada ambiental”, conta Raia.

Por todos os motivos, explicam os especialistas, um diagnóstico rápido e seguro das causas da doença, com a indicação de tratamento no prazo mais curto possível, é de grande importância quando se considera as perdas econômicas em cada dia de produção de um ou mais animais da propriedade. “Em muitas fazendas, a mastite só merece atenção e tratamento quando é visível (clínica) acometendo vacas em lactação, determinando prejuízos pela queda na produção e descarte de leite devido ao tratamento com antibiótico. Por isso, é fundamental a adoção de um planejamento no controle de mastite. Em todo o caso, é mais barato prevenir do que tratar”, argumenta.

O programa de prevenção e controle de mastite da Embrapa Gado de Leite orienta os produtores a fazer análises visuais diariamente do primeiro jato de leite do animal. Além do tratamento imediato e adequado dos casos clínicos, nas ocorrências mais severas é recomendado o descarte de vacas, inclusive para evitar a contaminação de outros animais. “A mastite aguda chega rapidamente, causa febre no animal e em muitos casos provoca a morte”, conta José Bráulio.

Mas, há casos em que o controle pode evitar prejuízos, inclusive de pequenos e médios estabelecimentos, como a Fazenda Limoeiro, de propriedade de William Labaki, que beneficia leite de 37 animais da raça Jersey, e obtém resultados de análises que lhe permitem repassar o leite para o laticínio, na fabricação de queijo fino, um mercado exigente.

Como fazer um diagnóstico seguro

Existem vários testes para se diagnosticar a mastite. Como explica o médico veterinário José Bráulio Gomes, os testes de campo são aqueles que podem ser utilizados diariamente no momento da ordenha. “O ordenhador começa com o procedimento de higiene do úbere, realizando pré dip, sendo os mais usados à base de iodo. O próximo passo é a ferramenta que vai identificar a mastite. Com uma pequena quantidade de leite é feito o teste da caneca telada ou da caneca com fundo preto, que evidencia grumos mais finos. Um outro teste que também pode ser utilizado a campo é o “CMT” (california mastitis test).

Como o veterinário explica, este procedimento tem grande valia para o diagnóstico da mastite, pois é fácil e rápido de realizar. Esta prova juntamente com a prova de CCS (contagem de células somáticas) pode fornecer dados que permite avaliar a evolução da doença. De acordo com o Bráulio, a contagem de células somáticas ou contagem de glóbulos brancos no leite tem sido muito utilizada para avaliar as mastites sub clínicas. Um aumento na contagem dos glóbulos brancos no leite pode significar a presença de um processo infeccioso ativo.

“Os testes de cultura e antibiograma nos dão uma noção bastante importante e segura em relação ao tipo de tratamento mais adequado a ser utilizado nas mastites causadas pelos diferentes agentes bacterianos. Assim podemos encontrar o antibiótico mais eficiente para cada caso. Outros testes permitem também a indicação de uma análise de proteína e gordura de leite, na qual vai indicar a melhor forma de cuidar da parte nutricional do animal, assim como o melhor antibiótico e o mais adequado ao tratamento da doença”.

Tratamento

Geralmente, o melhor tratamento para a mastite em pequenas propriedades, aconselham os especialistas, é a orientação de médico veterinário no diagnóstico e o tratamento com antibióticos. Hoje, existem diversos medicamentos utilizados no tratamento de mastite. A mastite clínica é tratada imediatamente após o diagnóstico, por outro lado, a mastite subclínica pode ser tratada no período seco. “Não raro temos que secar uma vaca com mastite clínica para conseguir sucesso no tratamento. O tratamento de vacas no período seco reduz tanto o número de infecções durante a fase seca quanto o de novas infecções no início da lactação. O momento em que úbere descansa é preciso fazer as aplicações dos antibióticos. O procedimento é esgotar totalmente o úbere. Em seguida aplicar, em cada teto, antibiótico de longa ação, separar o animal dos demais, recomenda-se acompanhar possíveis edemas (inchaços) do úbere por cerca de cinco dias”. Em alguns casos, explica, o organismo do animal reage por si só a possível contaminação, são casos em que um primeiro exame mostra pequenos “traços” de mastite, porém nas semanas subseqüentes o problema não mais aparece. “No entanto, o produtor precisa ficar atento a possível diminuição na produção de leite, que pode estar sinalizando que um processo inflamatório começou a se instalar”.


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