Os
grandes laticínios já realizam de três
a quatro análises mensais, o que dá maior
segurança ao produtor e garantia de um leite de qualidade
ao consumidor. O leite de boa qualidade envolve sanidade
do gado, higiene antes, durante e depois da ordenha. As
análises de bactérias, células somáticas
e resíduos antibióticos do leite, feito nos
laboratórios são o que determinam hoje o grau
de qualidade e que indicam que, muitas vezes, vale mais
a higiene do que o nível de tecnificação
da propriedade, comenta o médico veterinário,
José Bráulio de Oliveira Gomes, responsável
pelos animais da Fazenda Limoeiro, em Itu, SP.
Um dos parâmetros adotados pela Normativa 51 para
medir a qualidade do leite, a CCS Contagem de Células
Somáticas, revela uma preocupação mundial
da pecuária leiteira e pode vir a contribuir para
minimizar um problema sério no Brasil: a mastite
bovina. Essa doença não pode ser erradicada,
mas precisa ser controlada, alerta Roberto Raia, médico
veterinário e pesquisador do Napgama - Núcleo
de Pesquisa em Glândula Mamária e Qualidade
do Leite, ligado a USP.
De acordo com dados da Embrapa Gado de Leite, no Reino Unido
estima-se perdas em decorrência da mastite clínica
da ordem de 168 milhões de libras, mais de R$ 800
milhões. A mastite é um processo inflamatório
na glândula mamária. Diversas causas determinam
esta inflamação, podendo ser fisiológica
no pós-parto, traumática por pisoteio ou por
picada de insetos, mas a mais comum é a infecciosa,
causada por microorganismos, como por exemplo: bactérias.
A mastite gera no local grande concentração
de células de defesa, que, por sua vez, acabam indo
para o leite. Embora sua presença em pequenas quantidades
seja absolutamente normal, quanto mais células somáticas
no leite mais avançada estará a doença
no animal. O processo inflamatório altera as características
do leite. Uma alteração importante é
a diminuição da caseína, fundamental
na fabricação de queijos, diz Raia.
Segundo eles, a mastite bovina é hoje um dos problemas
mais sérios encontrados na pecuária leiteira.
Num processo mais intenso, denominado de mastite clínica,
as alterações são visíveis.
O úbere pode ficar inchado, dolorido e quente. O
leite apresenta desde grumos finos até pus ou sangue.
Em um processo mais suave, chamado de mastite subclínica,
as alterações não são visíveis.
Nesse caso, somente pode ser detectada por testes de campo
e análises laboratoriais, principalmente pelo exame
de contagem de células somáticas (glóbulos
brancos) no leite, conta o veterinário.
O
Controle
A
base de controle da mastite está na prevenção,
que significa redução das possibilidades de
infecção. Os microrganismos causadores
da mastite podem atingir a glândula saudável,
por exemplo, durante a ordenha, através do equipamento
de ordenha, da mão do ordenhador ou da toalha utilizada
para secar. A bactéria pode passar de um animal com
mastite para outro saudável, neste caso ela pode
ser classificada como contagiosa. A bactéria que
causa a mastite também pode estar presente nas fezes,
na lama, na lagoa por onde o animal passa, neste caso ela
é denominada ambiental, conta Raia.
Por todos os motivos, explicam os especialistas, um diagnóstico
rápido e seguro das causas da doença, com
a indicação de tratamento no prazo mais curto
possível, é de grande importância quando
se considera as perdas econômicas em cada dia de produção
de um ou mais animais da propriedade. Em muitas fazendas,
a mastite só merece atenção e tratamento
quando é visível (clínica) acometendo
vacas em lactação, determinando prejuízos
pela queda na produção e descarte de leite
devido ao tratamento com antibiótico. Por isso, é
fundamental a adoção de um planejamento no
controle de mastite. Em todo o caso, é mais barato
prevenir do que tratar, argumenta.
O programa de prevenção e controle de mastite
da Embrapa Gado de Leite orienta os produtores a fazer análises
visuais diariamente do primeiro jato de leite do animal.
Além do tratamento imediato e adequado dos casos
clínicos, nas ocorrências mais severas é
recomendado o descarte de vacas, inclusive para evitar a
contaminação de outros animais. A mastite
aguda chega rapidamente, causa febre no animal e em muitos
casos provoca a morte, conta José Bráulio.
Mas, há casos em que o controle pode evitar prejuízos,
inclusive de pequenos e médios estabelecimentos,
como a Fazenda Limoeiro, de propriedade de William Labaki,
que beneficia leite de 37 animais da raça Jersey,
e obtém resultados de análises que lhe permitem
repassar o leite para o laticínio, na fabricação
de queijo fino, um mercado exigente.
Como
fazer um diagnóstico seguro
Existem
vários testes para se diagnosticar a mastite. Como
explica o médico veterinário José Bráulio
Gomes, os testes de campo são aqueles que podem ser
utilizados diariamente no momento da ordenha. O ordenhador
começa com o procedimento de higiene do úbere,
realizando pré dip, sendo os mais usados à
base de iodo. O próximo passo é a ferramenta
que vai identificar a mastite. Com uma pequena quantidade
de leite é feito o teste da caneca telada ou da caneca
com fundo preto, que evidencia grumos mais finos. Um outro
teste que também pode ser utilizado a campo é
o CMT (california mastitis test).
Como o veterinário explica, este procedimento tem
grande valia para o diagnóstico da mastite, pois
é fácil e rápido de realizar. Esta
prova juntamente com a prova de CCS (contagem de células
somáticas) pode fornecer dados que permite avaliar
a evolução da doença. De acordo com
o Bráulio, a contagem de células somáticas
ou contagem de glóbulos brancos no leite tem sido
muito utilizada para avaliar as mastites sub clínicas.
Um aumento na contagem dos glóbulos brancos no leite
pode significar a presença de um processo infeccioso
ativo.
Os testes de cultura e antibiograma nos dão
uma noção bastante importante e segura em
relação ao tipo de tratamento mais adequado
a ser utilizado nas mastites causadas pelos diferentes agentes
bacterianos. Assim podemos encontrar o antibiótico
mais eficiente para cada caso. Outros testes permitem também
a indicação de uma análise de proteína
e gordura de leite, na qual vai indicar a melhor forma de
cuidar da parte nutricional do animal, assim como o melhor
antibiótico e o mais adequado ao tratamento da doença.
Tratamento
Geralmente,
o melhor tratamento para a mastite em pequenas propriedades,
aconselham os especialistas, é a orientação
de médico veterinário no diagnóstico
e o tratamento com antibióticos. Hoje, existem diversos
medicamentos utilizados no tratamento de mastite. A mastite
clínica é tratada imediatamente após
o diagnóstico, por outro lado, a mastite subclínica
pode ser tratada no período seco. Não
raro temos que secar uma vaca com mastite clínica
para conseguir sucesso no tratamento. O tratamento de vacas
no período seco reduz tanto o número de infecções
durante a fase seca quanto o de novas infecções
no início da lactação. O momento em
que úbere descansa é preciso fazer as aplicações
dos antibióticos. O procedimento é esgotar
totalmente o úbere. Em seguida aplicar, em cada teto,
antibiótico de longa ação, separar
o animal dos demais, recomenda-se acompanhar possíveis
edemas (inchaços) do úbere por cerca de cinco
dias. Em alguns casos, explica, o organismo do animal
reage por si só a possível contaminação,
são casos em que um primeiro exame mostra pequenos
traços de mastite, porém nas semanas
subseqüentes o problema não mais aparece. No
entanto, o produtor precisa ficar atento a possível
diminuição na produção de leite,
que pode estar sinalizando que um processo inflamatório
começou a se instalar.
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