A
intenção do patriarca do grupo, o empresário
Otaviano Piveta, ex-prefeito de Lucas do Rio Verde e ex-Secretário
de Desenvolvimento Rural de Mato Grosso, é de que as
pessoas que trabalham para ele se sintam satisfeitas. Otaviano
diz que todo investimento em boas práticas agrícolas
vale a pena, porque isso se reflete no futuro.
Esse pensamento parece ser absorvido por cada um dos 900 funcionários
que trabalham fixo nas fazendas, mais os temporários,
que durante a colheita elevam esse número para mais
de 1.200 trabalhadores. Anderson Souza Figueiredo, que é
o coordenador de meio ambiente do grupo e responsável
pela implantação do protocolo nas fazendas do
grupo, fala que é impressionante o comprometimento
dos funcionários. Isso acontece porque eles se
sentem também donos do negócio.
O Grupo Vanguarda mantém sua sede na cidade de Nova
Mutum, a 270 quilômetros de Cuiabá, e é
responsável pela administração da Fazenda
Ribeiro do Céu e de outras sete fazendas, todas na
região do médio norte matogrossense. O complexo
de 33 mil hectares, plantados com soja no verão, algodão,
girassol e milho-safrinha durante o inverno, está com
80% das suas operações informatizadas.
O faturamento do grupo, que este ano pode chegar a cifra de
US$ 80 milhões, é graças a uma política
de gestão estratégica que não deixa margem
para o desperdício, exclama o diretor executivo do
grupo, que lembra do tempo em que reduzir gastos não
era uma preocupação da agricultura. Ele fala
do tempo que o acompanhamento das lavouras era feito por caminhonetes
antigas, movidas a diesel, que consumiam três vezes
mais combustível do que os carros e motos usados hoje.
A nova forma de administração buscou um entendimento
bem mais apurado do processo produtivo, com equipes que monitoram
todas as operações, do plantio ao carregamento
do caminhão. O processo de mudança, no entanto,
só foi possível porque inúmeras reuniões
com funcionários e representantes de fornecedores foram
feitas para discutir caminho para diminuir os gastos sem que
a produção fosse prejudicada.
Houve casos de empregados que foram demitidos porque se negavam
a aceitar os novos padrões da empresa. Mas, tudo é
uma questão de decisão, enfatiza Buss. A agricultura
se tornou empresarial e não oferece mais margem para
erros na condução dos negócios. A diminuição
das margens entre custo de produção e preço
de venda é o principal motivo que levou o grupo a repensar
sua forma de gestão. Com a soja hoje sendo vendida
a R$ 17,00 a saca de 50 Kg, algo próximo a US$ 8,00,
somente controlando os números o produtor consegue
resultados.
Gestão
eficiente é ponto forte
O
diferencial buscado pelo grupo para ampliar sua margem de
lucro foi a aplicação de duas safras anuais,
o que praticamente dobrou o faturamento. O planejamento deste
ano prevê, além do plantio da soja, que é
precedida pelo algodão, o uso de algumas culturas novas.
Em parte da área de soja já está sendo
plantado o milho e o girassol, que também entra como
opção. Essa diversificação é,
na opinião do gerente da unidade Ribeiro do Céu,
Adir Freo a fórmula da sustentabilidade na agricultura
moderna.
O aproveitamento das terras é total. A área
cultivada este ano deve chegar a 64.000 hectares, que serão
divididos da seguinte forma: 27.000 hectares para a soja,
12.000 para o algodão, 6.000 de milho e 1.200 de girassol.
As demais áreas são de arrendamento, ou que
estão sendo incorporadas ao grupo. Num primeiro momento,
a certificação é para apenas uma parte
da soja e do milho. Como a produção do grupo
é toda convencional, a intenção é
certificar todos os 33 mil hectares do complexo Ribeiro do
Céu, destaca o coordenador ambiental. Outras unidades
também estão nos planos para certificações
futuras, caso da fazenda Santa Margarida, incorporada recentemente
ao grupo.
A previsão de colheita para a soja, cultura que ocupa
70% da área produtiva é de 3,3 toneladas por
hectare. O algodão, que começou a ser plantado
em fevereiro e deve ser colhido a partir de junho, também
já tem colheita estimada em 3,45 toneladas por hectare.
Essa média, somada as demais culturas como girassol
e milho, deve chegar num total 3,84 toneladas por hectare,
com uma produção total de 392 mil toneladas
para safra 2005/06.
A rentabilidade por cada hectare plantado é superior
a US$ 1.100,00. Freo chama a atenção para o
fato desse número ser quase o dobro da média
das propriedades de soja da região, que dificilmente
ultrapassam os US$ 500,00/ha. O baixo aproveitamento das áreas
de plantio é apontado por ele como principal responsável,
haja vista que as terras são as mesmas e o clima também.
O modelo de agricultura praticado nas fazendas da região
norte do país é arcaico.
Apenas com uma gestão mais criteriosa a diminuição
nos custos de produção muitas vezes é
superior a 50%. Para fazer esse acompanhamento, uma vez por
mês, os 25 supervisores se reúnem para apresentar
seus rendimentos e discutir novas idéias que podem
ser colocadas em prática. Na opinião do consultor
de meio ambiente Anderson Souza Figueiredo, responsável
por coordenar a implantação do protocolo EurepGap
no grupo Vanguarda, o salto de eficiência na gestão
da empresa foi dado há pouco mais de dois anos com
a informatização da administração.
O programa Logix, que teve um custo de R$ 1 milhão
ao grupo, foi um investimento que, segundo os representantes
da empresa, valeu cada centavo. Hoje todos os dados sobre
uso de produtos, serviços, máquinas, entrada
e saída de mãos-de-obra são lançados
diretamente no sistema, que faz a auto-gestão de uma
forma eficiente, rápida e com risco zero de erro, destaca
o gerente.
O primeiro passo rumo a rastreabilidade total da fazenda foi
o mapeamento da área e a subdivisão em talhões
de 220 hectares. Com isso, o monitoramento ficou ainda mais
facilitado. O controle fitosanitário, por exemplo é
feito por uma equipe de três engenheiros agrônomos
que, a cada três dias, visitam as áreas de cultivo
para um levantamento dos níveis de infestação
de pragas, doenças e plantas daninhas. Com essas informações
no sistema, são tomadas as decisões sobre a
aplicação de defensivos ou herbicidas, conforme
a necessidade verificada, explica Isaias Frederico Altoe,
engenheiro agrônomo do grupo.
Altoe fala que o Logix, e mais recentemente o GatecAgro, programa
que contempla o primeiro, são responsáveis por
acelerar o fluxo de informações internas entre
os agentes. Segundo ele, com a agilidade das informações
é possível gerar uma receita no sistema, por
exemplo, discriminando o tipo de produto, a dosagem e o talhão
que a aplicação deve ser feita e a partir daí
o encarregado do setor toma as providências. O
mesmo acontece nas outras etapas de cultivo, como aplicação
de adubos e eventuais correções de solo. A colheita
é outra etapa monitorada pelo programa que possui um
sistema de classificação por grau de umidade,
avaria e quantidade de impurezas.
No final, o sistema gera um relatório que mostra qual
o talhão onde a cultura foi colhida, o tipo de produto,
o volume de área, a produtividade, descontando os itens
acima relacionados, para se obter um número real sobre
a produção. Freo simula uma situação
onde uma colheita de 100 quilos de soja é feita com
20% de umidade. Na verdade a produção real nesse
caso não será de 100 quilos e sim de 80 quilos,
pois os outros 20% são água, que não
pode ser contabilizada. O mesmo acontece com as avarias e
as impurezas dos grãos.
Infra-estrutura
de produção impressiona
A
estrutura montada para armazenar os grãos e a logística
é um ponto que chama atenção pela grandiosidade
das instalações. Além dos silos gigantes
e dos galpões com capacidade para 50 mil toneladas
de grão, o entre e sai de caminhões é
constante. Durante a colheita, diariamente cerca de 60 caminhões
saem da Ribeiro do Céu, carregados de grãos
para algum porto ou para os armazéns de grandes empresas
pelo país.
De acordo com o gerente da fazenda no início do ano,
quando é o pico da colheita da soja, esse número
chega a 150 caminhões/dia. A grandiosidade das operações
não é diferente no campo. São 19 plantadeiras,
que já vêem acopladas ao trator, 12 pulverizadores
terrestres e três aviões, que trabalham o dia
inteiro na aplicação de defensivos e herbicidas
nas lavouras. A colheita também conta com uma frota
de peso. As 16 colheitadeiras, em dias de sol e temperaturas
elevadas trabalham sem descanso para dar conta da quantidade
de soja que precisa ser colhida. Além do maquinário
próprio, o grupo ainda aluga colheitadeiras para os
períodos considerados críticos, onde há
a urgência de colher, para não se perder o prazo
de plantio da outra cultura. Freo observa que a média
de trabalho de uma colheitadeira na região é
de 600 horas por ano. Na Ribeiro do Céu esse número
é pelo menos seis vezes maior. O gerente da unidade
diz que seria perfeitamente possível usar colheitadeiras
comuns sem ar condicionado, que custam menos e dão
o mesmo rendimento. Mas, é filosofia da empresa prezar
pelo bem estar dos empregados. A resposta, diz ele, vem em
eficiência produtiva.
O pessoal de apoio que se movimenta em carros, caminhões
e motos dentro da lavoura usa um moderno sistema de comunicação
por rádio transmissão. Enquanto andam pela fazenda,
por diversas vezes, os funcionários identificam e solucionam
problemas à distância. As equipes se comunicam
a todo momento e o gerente acompanha tudo pelo rádio,
que carrega sempre para onde quer que ele vá.
Recursos
humanos tem atenção especial
Outro
ponto estratégico na administração é
a preocupação com o bem estar dos colaboradores.
O estado do Mato Grosso que é marcado por denuncias
de exploração da mão-de-obra no campo
e que recentemente foi alvo de uma operação
que envolveu vários ministérios e a polícia
federal, encontrando inúmeras irregularidades, o grupo
Vanguarda busca dar o exemplo.Todos os funcionários
fixos são registrados e a mais recente conquista deles
é o acordo coletivo de trabalho que o grupo firmou
com a Federação dos Trabalhadores na Agricultura
(FETAGRI) e com Sindicato Rural de Nova Mutum, MT para definir
as condições de trabalho de seus colaboradores.
Além da média salarial de R$ 1.180,00, remuneração
que se coloca entre as mais altas do setor na região,
a empresa está firmando um plano de cargo e salários
que estabelece que, todo trabalhador que ingressar no grupo
a partir de agora terá seu desempenho avaliado pelo
menos duas vezes por ano. Se atingir as metas estabelecidas
pela empresa receberá aumento salarial e promoção
para outras funções.
De acordo com o coordenador de recursos humanos do grupo Francione
Santos, na prática, essa normas já estavam funcionando.
A diferença é que agora o acordo tem a aprovação
das entidades representativas e do Ministério do Trabalho.
O acordo também preserva direitos já adquiridos
como: banco de horas, piso mínimo de R$ 400,00, garantia
de moradia aos colaboradores, garantia de creches aos filhos,
programa de prevenção de acidente e manutenção
da saúde e garantia de treinamento através de
parcerias entre clientes e fornecedores para atualização
profissional.
Adilson Rogério Moreira Kanrek, técnico de segurança
do trabalho da fazenda Ribeiro do Céu, fala que a segurança
do trabalhador é uma preocupação constante
da diretoria. Para isso o controle sobre o uso de Equipamento
de Proteção Individual (EPI), as normas internas
para se evitar acidentes e, principalmente, para manuseio
de produtos químicos são discutidas sistematicamente.
Outra preocupação é com a moradia dos
trabalhadores. Para isso foram construídos alojamentos
de alvenaria com capacidade para abrigar 400 homens. Roberto
Vieira é técnico agrícola e há
um ano trabalha na Ribeiro do Céu. O jovem, que está
no seu primeiro emprego, elogia bastante a qualidade das instalações.
Carlos Wernss Almeida, operador de secadora, está na
fazenda há quatro anos. Ele já trabalhou em
outras propriedades e fala da vantagem que é poder
trabalhar numa empresa que tem essa preocupação
com a qualidade de vida dos trabalhadores.
Além dos alojamentos, a fazenda possui ainda uma vila
de 24 casas, onde moram algumas famílias de trabalhadores.
É o caso do casal Lauri Ademir Wagner e Neuza Wagner,
que há 2,5 trabalham e vivem na vila. Lauri que trabalha
como coordenador administrativo da Ideal Porc, divisão
de suinocultura do grupo, fala que é muito bom poder
trabalhar e morar dentro da fazenda. O relacionamento entre
as famílias é bastante amigável, destaca
Neuza, que até colabora com algumas ações
sociais dentro da comunidade.
Duas vezes por semana, na parte da tarde, os colonos assistem
a uma sessão de cinema, que sempre traz novidade. Todos
os domingos o padre vem da cidade para ministrar a missa,
já que grande parte dos moradores são famílias
de migrantes do Rio Grande do Sul, de religião católica.
A fazenda conta ainda com um campo de futebol, um mini auditório,
que também serve de sala de recreação
e existe projeto para construção de uma piscina.
O que para muitos pode parecer regalia, para os gestores do
grupo é ação estratégica para
manter a unidade entre empresa e trabalhadores.
A creche mantida pelo grupo dentro da fazenda cuida de 10
crianças, filhos de funcionários, que recebem
educação inicial já a partir dos dois
anos de vida até a fase pré-escolar. Vanessa
Cássia Nogueira é pedagoga e responsável
por desenvolver o trabalho com as crianças na creche.
Ela diz que dentro da filosofia do grupo a educação
é primordial e disso seu Otaviano não abre mão.
Assim que as crianças atingem idade para o ensino fundamental,
elas seguem para estudar na cidade. Todos os dias um ônibus
faz o percurso entre Nova Mutum e a fazenda. Está nos
planos do empresário construir também uma escola
dentro da Ribeiro do Céu para facilitar a vida dos
jovens. Dentro das normas do protocolo Eurepgap, a educação
é um ponto muito importante, explica o coordenador
de implantação do grupo.
A alimentação é outro ponto importante
dentro das normas de bem estar humano. E nesse quesito, ninguém
pode reclamar. A fazenda mantém uma equipe de 14 pessoas
trabalhando em três turnos na cozinha para garantir
sempre refeições frescas e saudáveis
aos empregados. Silvana de Fátima Liberalesso é
a coordenadora desse trabalho e diz que, num dia, chega servir
mais de 1.500 refeições entre café da
manhã, almoço e jantar. Os cuidados com a higiene
na alimentação e com o ambiente onde serão
feitas as refeições é uma exigência
das normas para garantir alimentos saudáveis dentro
de um ambiente também limpo e agradável que
não coloque em risco a saúde dos trabalhadores,
destaca o coordenador de implantação do Eurepgap.
A padaria, que é mantida ao lado da cozinha é
outra novidade que a fazenda oferece aos seus trabalhadores.
De lá, saem todos os dias diversos tipos de pães,
além de bolos, biscoitos e salgados que são
servidos nas refeições. Toda a parte de padaria
e confeitaria é produzida na própria fazenda,
destaca a coordenadora da cozinha. Esse trabalho garante
a diversidade da mesa na hora do café da manhã
que recebe um público bastante grande e variado.
Como o respeito ao meio ambiente e aos recursos naturais da
propriedade sempre foi uma preocupação do proprietário,
para tender as exigências bastaram alguns ajustes. A
fazenda possui três nascentes de rios preservadas e
áreas de mata de transição entre o cerrado
e floresta amazônica. Entre os projetos está
a recuperação da fauna local, que apresenta
alguns animais com alto risco de extinção. A
caça de animais silvestres durante muito tempo foi
permitida na região. Somente agora as autoridades estão
fazendo uma melhor fiscalização, explica Figueiredo.
Nas terras da Ribeiro do Céu sempre foi proibido caçar
qualquer tipo de animal silvestres que vivem nas áreas
próximas à plantação. Entretanto,
é difícil coibir a ação de estranhos,
que também acabam tendo acesso a fazenda, exclama.
O melhoramento no programa de resíduos da fazenda está
entre as prioridades para este ano. Já está
sendo implantado um sistema de bio-digestores que vai trabalhar
essa parte e ainda produzir energia suficiente para abastecer
a fazenda. Na questão das embalagens de produtos químicos,
o grupo busca fechar um acordo com o Instituto Nacional de
Processamento de Embalagens Vazias, Inpev, de São Paulo
para implantação do selo Campo Limpo nas propriedades
do grupo.
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