Durante
muito tempo a apicultura comercial no Brasil se desenvolveu
de forma migratória, época que os apicultores
viajavam grandes distâncias atrás de floradas
melhores. Esses deslocamentos causavam um enorme transtorno
não só para os apicultores que ficavam na estrada
por dias, mais também para as colméias que enfrentavam
longas jornadas na carroceria dos caminhões em estradas
muitas vezes cheias de buracos. Além disso, o apicultor
tinha que arcar com os gastos que hoje, eles reconhecem, não
eram poucos.
Por
causa desses e de outros motivos, como o próprio tempo
que eles eram obrigados a ficar longe da família, nos
últimos tempos os apicultores da região Sudeste
estão mudando seus hábitos. Hoje já é
comum encontrar propriedades que trabalham os enxames no sistema
de manejo fixo ou semi-fixo, com produtividade igual ou até
superior, observa o apicultor Marcos Tavolaro, de Brotas,
SP, que mantém um plantel que ultrapassa as 400 colméias.
Seu plantel ele divide em mais de 20 propriedades.
O apicultor explicar que a região, rica em vegetação
nativa, além de uma grande quantidade de lavouras de
laranja e eucalipto, proporciona uma extração
regular ao longo de todo ano.
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Além disso, durante uma época, ele diz contar
com a florada do cipó uva, uma espécie nativa
e que oferece um mel claro e de sabor excelente. O máximo
que o apicultor se desloca com suas abelhas é 100 quilômetro
de onde está a sua propriedade.
Tavolaro que também desenvolve um trabalho forte de
comercialização com o mel que produz, inclusive,
para o mercado externo fala da procura pelo mel de cana-de-açúcar,
produto que até pouco tempo era considerado de segunda
linha e que hoje é muito procurado pela indústria
de alimentos. Algumas semanas antes dessa entrevista ele conta
ter negociado uma quantidade grande de mel de cana por um
preço apenas 30% abaixo dos méis de laranjeira,
eucalipto e o mel silvestre, produtos considerados nobres.
Para ele, a cana abriu uma nova perspectiva para o apicultor
produzir na região sudeste. A quantidade de lavouras
de cana-de-açúcar que existem no interior paulista
e o corte que coincide com uma época de escassez de
floradas, são fatos que vêem a calhar para que
as abelhas na parem sua produção, ele
exclama. Isso acaba com que acaba com sazonalidade do
setor, problema que por décadas inviabilizou a apicultura
fixa conclui.
Manejo
das colméias requer atenção
O
apicultor Frederico Kraft, sócio na criação,
fala que hoje apicultor nenhum pode deixar a colméia
improdutiva. A mentalidade, segundo ele, é usar ao
máximo o potencial das colméias. Só que
para isso o manejo dos apiários precisa ser feito de
forma preventiva. Kraft é responsável em manejar
as colméias é diz que pelo menos uma vez por
semana, visita o apiário para averiguara as condições
gerais das colméias. Caso seja identificado algum problema
a caixa é retirada da produção para ser
tratada. Assim que a anormalidade é verificada essa
colméia é levada para um local, dentro da propriedade,
onde recebe um acompanhamento especial.
Neste local, a colméia passa por um tratamento que
tem como objetivo melhorar as condições de produção
das abelhas. As abelhas recebem uma suplementação
a base de água e açúcar cristal, durante
um período que serve para fortalecimento do enxame.
Esse trabalho os apicultores chamam de transformação
de açúcar, em cera e abelha.
A cada dois ou três dias o técnico visita as
colméias para por comida e para dar uma olhada nos
quadros onde a rainha faz a postura. Outra coisa que é
observada é como as abelhas estão trabalhando
na fabricação de cera. Caso a colméia
não reaja, eles adotam outras medidas. A rainha
é preservada até o fim máximo. Somente
quando o tratamento não dá resultado é
que nós a trocamos por uma outra mais saudável,
explica o criador.
Os enxames que já recuperam uma população
de abelhas considerada satisfatória, volta para as
floradas, onde começam novamente a produzir, dando
início à outra etapa do programa que é
o de transformar pólen e néctar, em mel. Uma
colméia considerada saudável tem uma população
oscilando entre 40 e 60 mil abelhas, explica Kraft. Sua produção
por florada, que dura em média 60 dias, é de
60 a 70 quilos de mel. Só que para conseguir esse resultado
é preciso fazer o acompanhamento da colméia,
principalmente, com a alimentação do enxame
para que as abelhas possam responder no período de
florada. O potencial de um enxame não é
medido pela quantidade de mel que ele produz e sim pela quantidade
abelhas que ele tem,destaca o apicultor.
O manejo durante a produção também é
importante e requer uma série de cuidados. Como as
caixas são deixadas em propriedades de terceiros é
comum animais silvestres ou mesmo formigas atacarem as colméias.
Em fazendas de pecuária o gado costuma se coçar
nas caixas e sempre acabam derrubando uma tampa. Além
disso, por incrível que pareça tem o risco de
ocorrerem furto de colméias, alerta. Por isso os criadores
fazem um alerta para os iniciantes. No caso de o apicultor
arrendar a propriedades ou alugar um espaço para as
colméias em propriedades de terceiros, que ele procure
pessoas conhecidas, nunca um estranho. Os cuidados com a segurança
pessoal como o Equipamento de Proteção Individual
(EPI) e o fumegador, também não podem faltar.
O manejo de pragas e doenças na apicultura é
relativamente simples e isso porque a linhagem predominante
no país Apis Melífera, desenvolveu
uma resistência imunológica bastante grande.
O único problema que está afetando as abelhas
no interior paulista atualmente é um cipó, conhecido
como Barba-timão, que possui um nectar tóxico
e que nas fases de baixa florada, as abelhas acabam colhendo.
A mortalidade nos enxames causada pelo barba-timão
é grande o que, em alguns casos, causa um problema
estrutural nas colméias, explica o Tavolaro. Com
a morte das larvas, esse material orgânico fica todo
dentro da caixa. Com o tempo ele apodrece e atrai uma quantidade
enorme de moscas. Como a abelha é extremamente limpa,
com o tempo o enxame acaba abandonado a caixa.
Uma linhagem que está sendo testada nos enxames com
sucesso são as abelhas higiênicas. Isso acontece
porque nesses enxames, as operarias fazem a remoção
das larvas mortas, evitando o problema, explica o criador.
Os irmãos Nilson e Nércio Parasi, apicultores
há mais de 20 anos na região de Brotas, tocam
com o auxilio da família um contingente de 1.100 colméias.
No ano passado, a colheita foi de 32,5 toneladas de mel, produção
que eles esperam superar em 2006. Na Chácara Santa
Luzia e Nossa Senhora Aparecida, os apiários são
manejados de forma bastante simples. No beneficiamento, a
estrutura conta com uma mesa desoperculadora, que serve para
extrair o mel dos favos, além de uma centrifuga e alguns
tanques onde o mel descansa antes de ser acondicionado em
latas de 18 quilos ou potes que são vendidos no varejo.
Nelson conta que as 600 colméias que ele administra
dão a ele um rendimento médio mensal de R$ 3
mil. O mesmo acontece na casa do senhor Nilton. A maior parte
do mel é vendido nos latões a um preço
médio de R$ 80,00 a R$ 90,00. O custo de produção
gira em torno de 20% desse valor. Nilton explica que para
obter essa rentabilidade é preciso que o serviço
seja feito pela família. Caso tenha que contratar mão-de-obra
de terceiros esse rendimento diminui bastante, ressalta Nilton.
Marcos Tavolaro diz que o trabalho realizado junto às
comunidades de pequenos produtores ainda é muito na
linha da comercialização. A falta de um programa
de extensão rural é apontado pelo produtor como
o principal gargalo para o desenvolvimento da apicultura na
região. A verba do Feap - Fundo de Expansão
do Agronegócio Paulista, está servindo para
revitalizar o setor. Tem muito produtor que tinha um negócio
pequeno e que hoje através desse fundo ampliaram seu
negócio. A APACAME - Associação Paulista
de Apicultores Criadores de Abelhas Melíferas Européias,
através da sua presidência, desenvolveram um
modelo de projeto para 30 colméias, pronto para ser
implementado. Tavolaro mostra que, mesmo para quem quer iniciar
na atividade, o custo para montar um apiário não
é tão absurdo. A atividade funciona muito bem
para produtores rurais que já têm seu negócio
implantado e querem dar uma melhorada na sua renda. O custo
médio de cada colméia - que consiste na caixa
de fundo, ninho, alguns quadros e duas ou três melgueiras
- está entre R$ 70,00 e R$ 100,00. Isso multiplicado
por 60 colméias que é o mínimo indicado
para uma produção inicial dá no máximo
R$ 6 mil. Com o restante do equipamento, que inclui mesa desoperculadora,
centrifuga, EPI, o custo vai ser de R$ 8 mil no total, aproximadamente.
Os apicultores reconhecem que para se iniciar na atividade
é um pouco mais difícil, no entanto, comparando
com outras atividades que depende de um capital investido
muito maior, a apicultura até que é bem atraente.
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