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PROJETO PROGREDIR - O “EMPURRÃO QUE FALTAVA”!
rev 96 - fevereiro 2006

Por volta de 1883, alguns escravos trouxeram do Rio de Janeiro para uma fazenda localizada em uma província de São Paulo, uma estátua de São Francisco Xavier. Construíram lá, uma capela que se tornou uma referência e parada obrigatória de tropeiros vindo de Minas Gerais, para negociar na região. Basicamente, este foi o início da história do distrito de São Francisco Xavier, localizado no município de São José dos Campos, a 138 km de São Paulo. O distrito, que hoje congrega os status de pequeno vilarejo, rodeado de grandes fazendas e pequenas propriedades, que ainda junta a pecuária leiteira com a agricultura familiar, é considerado APA – Área de Proteção Ambiental – desde 2002. São Francisco Xavier que faz parte da bacia hidrográfica do Rio Paraíba do Sul, possui leis rigorosas que atrelam a ocupação do solo à preservação ambiental. Além disto, o distrito se tornou um ponto turístico indicado para os “amantes” de esportes radicais, por causa das montanhas, declives acentuados, das florestas tropicais, rios e corredeiras que compõem a paisagem da região.

Mas, não é só isto. Hoje, pode se falar que o Distrito de São Francisco Xavier escreve outra história, ou melhor, os pequenos produtores rurais, que lá vivem.

Há aproximadamente três meses, eles ganharam a oportunidade de investirem melhor em suas terras, produzindo mais e aproveitando cada área da propriedade.

Um dos mais recentes produtores, a participar deste roteiro, foi Gilson de Carvalho, mais conhecido como Gilson Bambuira (professor e músico). Na “Chácara da Música”, o espaço para o cultivo da horta orgânica ainda é pequeno (média de dois alqueires), pois o objetivo inicial era produzir apenas para o sustento da família. Mas, recentemente, com o apoio do “Programa Progredir” o professor mudou a realidade da pequena chácara, onde vive com a família: “A intenção agora é tornar a horta orgânica a principal fonte de geração de renda da propriedade”, diz.

O Programa Progredir está mudando a vida e o sustento de muitos produtores. O projeto, coordenado pelo Pró-Terra (ONG formada por ambientalistas e cientistas) e patrocinado pela Fundação Monsanto, entra no seu terceiro mês de implantação, contabilizando 34 produtores rurais cadastrados. Produtores que recebem orientações sobre alternativas e técnicas de cultivo e gerenciamento de suas propriedades.

Através de coordenadores e voluntários, que estão visitando as propriedades rurais para fazer uma avaliação das atividades econômicas desenvolvidas em cada uma delas, o Programa tem como objetivo coletar informações que vão subsidiar o trabalho de orientação dos produtores rurais sobre cuidados com o solo, preservação da vegetação, da natureza, criação de animais e produção de alimentos. “Hoje, o Programa Progredir é algo significativo e importante para a região e para os agricultores que vivem da terra, principalmente por incentivar a todos a trabalharem juntos como uma cooperativa, orientando e buscando a melhor forma de comercialização e produção. O Programa mostra qual caminho a seguir. Aqui, eles não ‘dão o peixe, mas a vara para pescar’”, argumenta o professor Gilson de Carvalho.

Na “Chácara da Música”, a assistência do projeto foi fundamental para produtor começar a atender o mercado do próprio distrito, que possui hoje uma grande demanda graças às pousadas e restaurantes, frutos gerados pelo ecoturismo local.

No pequeno espaço, ao lado da área preservada, o professor Gilson já colhe espinafre, brócolis, couve de bruxelas, jiló, alface, repolho, salsinha, tudo derivado de uma horta orgânica. “Criamos também a oportunidade das pessoas virem colher aqui na horta, e conhecer o que o projeto esta fazendo por nós”.

Além do curso de capacitação e de horta orgânica proporcionados pelo SENAR – Serviço Nacional de Aprendizagem Rural – o produtor se orgulha em mostrar a pequena estufa que fez, com o apoio do programa, utilizando material da própria propriedade. “Com isto, o nosso objetivo é possuir mudas de qualidade e, conseqüentemente plantas com mais chance de produzir no futuro, melhorando assim, a produção e tornando a comercialização mais eficaz”, ressalta Gilson de Carvalho.

Para a coordenadora e ecóloga do “Programa Progredir”, Marilene Mesquita Silva, um dos objetivos do projeto é que os produtores possam dar continuidade na produção e se tornar independente. “Nossa intenção é verificar qual é seu maior interesse. A idéia não é mudar nada, é apenas desenvolver aquilo que o produtor já tem. Por isto, o sucesso do Progredir é o resultado da boa receptividade e da cooperação da população rural de São Francisco Xavier. Para isto, trabalhamos com pessoas que estão engajadas no projeto para que com o tempo elas sirvam de multiplicadores, ou seja, mostrem aos outros, o que é possível fazer”, relata Marilene.

As ações do Programa

Segundo a coordenadora do programa, o grande desejo do produtor rural é obter mais informações para facilitar o trabalho no campo. “Ele quer saber como produzir mais, como tornar sua terra mais rentável, como diminuir os custos de produção. Estamos disponibilizando este suporte técnico a eles, pautando-os também sobre a importância do desenvolvimento sustentável e, sobretudo, a preservação ambiental”, afirma Marilene.

Atualmente, dentre as principais atividades econômicas dos produtores cadastrados no Progredir destacam-se a pecuária, a agricultura – destaque para a produção de shitake - a criação de abelhas, a produção de rapadura e melaço e a piscicultura.

Outro exemplo de ação do Programa Progredir é nos 64 alqueires arrendados, há quatro anos pela Dona Marina Fonseca Formitano. Para ela, o “Progredir” chegou em boa hora. Com uma área de apenas dois alqueires, Dona Marina divide espaço entre a criação de trutas (espécie de peixe que sobrevive em água doce e muita fria), com uma área de pesque-pague e um restaurante, que garante, todo o mês a renda da família e ainda gera empregos diretos na propriedade. As terras de Dona Marisa hoje também fazem parte do cadastro do “Progredir” e recentemente, recebeu a visita dos técnicos para fazer algumas melhorias e fornecer orientações valiosas, que já começaram a serem aplicadas. De acordo com o técnico agropecuário do “Progredir”, Artênio Sérgio Pinto Arce, na propriedade são vendidas trutas “in natura”, e trutas para a engorda, e ainda o peixe é o prato principal do restaurante que diariamente recebe muitos turistas. “Agora, ela só espera o financiamento, que por intermédio do “Progredir”, pode ajudá-la na melhoria e na estrutura do pequeno restaurante e dos tanques, para que assim mais turistas possam vir”, conta o técnico.

“Com a ajuda pessoal do progredir espero conseguir logo”, relata dona Marina - que já pensa em expandir a área para cultivar uma horta orgânica, para atender a demanda do restaurante.

São Francisco das Esperanças

Pode se falar que tão importante como estimular, reestruturar e promover o desenvolvimento rural do distrito, o Programa Progredir também esta realizando milagres. Quando se iniciaram os trabalhos, um dos beneficiários do Programa também foi a única cooperativa de leite do distrito. Hoje, com 40 integrados, a Cooperativa Agropecuária dos Produtores de Leite de São Francisco Xavier, ganhou força e está sobrevivendo através do Programa. De acordo com José Mauro da Silva, 43 anos, presidente da cooperativa, a ajuda foi muito importante, principalmente depois das novas normas que apareceram no setor e que desfavoreceram o pequeno produtor. “Com a cooperativa se organizando e o programa apoiando, eles tiveram a oportunidade de reestruturarem. Unidos, deram o passo importante: a compra de um tanque de resfriamento (providencia dos técnicos do Programa Progredir) onde hoje é armazenado o leite, que depois é levado para uma grande cooperativa de São José dos Campos”, conta a coordenadora Marilene Mesquita.

Além de agregar valor, o produto não corre mais o risco de estragar. Com a média de 40 litros, eles hoje que contam com a estrutura de dois caminhões e podem produzir até 100 litros de leite resfriado. “O custo total do tanque foi dividido entre os produtores. Aqui, é um por todos e todos por um. Se tivermos lucros todos têm, se há prejuízo, todos pagam juntos”, comenta o presidente da cooperativa Mauro da Silva.

Além de aumentar a produtividade, eles agora estão melhorando a produção. Com o Programa, os pequenos produtores de leite já aprenderam a fazer silagem e a campineira para manter o gado alimentado nos meses de seca. Na avaliação de Silvio Cesar Schmidt, agrônomo que integra a equipe do Programa, é necessário repassar aos produtores da região informações básicas sobre a sua própria atividade econômica até chegar o momento de abordar assuntos mais complexos como, por exemplo, técnicas avançadas de produção e genética. “Estamos fazendo um trabalho inicial, levantando as principais carências de informação dos produtores rurais da região. Comecei falando sobre higiene e sanidade, assuntos fundamentais nas propriedades que visitei”, diz Sílvio.

Grandes Parcerias

A Fundação Monsanto - fundo mundial de apoio a iniciativas sociais e ambientais nos países em que a empresa atua - aprovou para três anos, o patrocínio de US$ 161 mil dólares para o “Programa Progredir”, que visa reestruturar e promover o desenvolvimento rural de São Francisco Xavier. “O Programa nos empolgou porque reúne duas características que a Fundação Monsanto considera muito importantes e procura sempre incentivar: levar informação para o pequeno agricultor, normalmente carente de assistência agronômica e gerencial, e o incremento de boas práticas ambientais. Além disso, é uma excelente oportunidade para estreitar o relacionamento com a comunidade agrícola de São Francisco Xavier, vizinha da primeira fábrica inaugurada pela Monsanto no País, em São José dos Campos, que completará 30 anos em 2006”, ressalta Cristina Rappa, representante da Fundação Monsanto no Brasil. Ela ainda lembra que há uma perspectiva de crescimento. “Com certeza, a meta é alcançar 100 produtores cadastrados ainda neste ano”, diz Cristina.

Para o coordenador-executivo do Pró-Terra (Ong - que coordena o trabalho da equipe que fica em São Francisco Xavier), Benito Iglesias, a principal missão é de trabalhar em prol do desenvolvimento do agronegócio brasileiro, respeitando seus aspectos ambientais, sociais e éticos. “Acreditamos que todas as técnicas agrícolas (convencional, orgânica, hidropônica, biotecnologia e silvicultura) são necessárias e complementares, desde que se respeite o meio ambiente e que sejam baseadas em estudos técnico-científicos. Acreditamos também assegurar no futuro que os produtores e a população local façam uso adequado da terra e apliquem as orientações fornecidas pelos técnicos do Projeto, de forma a reduzir a degradação ambiental, assegurando a sustentabilidade e a continuidade do desenvolvimento para as próximas gerações, melhorando a qualidade de vida do distrito”, acrescenta.

Já para Nelson José da Costa, voluntário do projeto e morador de São Francisco Xavier, a grande perspectiva futura do “Programa Progredir” é estimular a produção agrícola sustentável no município através e, principalmente, dos jovens e da orientação técnica para um uso sustentável da terra. “Será possível com isto, melhorar a qualidade de vida no distrito, evitar o êxodo rural e fixar o homem no campo, assegurando a ele sustentabilidade e desenvolvimento de suas terras”, diz.


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