Por
conta dessa realidade que afeta diretamente à cadeia
agroindustrial, de uns anos para cá a consciência
ecológica se tornou tema recorrente nas mesas de discussões
dos especialistas, em varias partes do mundo.
O conceito de produção orgânica que prega
o mínimo de intervenção do homem dentro
das áreas de cultivo já é um indicativo
de que as coisas começaram a mudar no campo e pegando
carona nessa filosofia um grupo de produtores rurais da região
do Vale do Ribeira, próximo ao litoral Sul do estado
de São Paulo, já quase na divisa com o litoral
do Paraná, estão dando um exemplo de consciência
ambiental, aderindo a um sistema de manejo agroecológico
para seus bananais.
O fruto que é tradicional em todo o vale durante século
vem sendo explorado dentro de métodos convencionais,
modelo que é condenado pelos ambientalistas, ainda
mais numa área de Mata Atlântica, onde a necessidade
de preservação é total e isso pode causar
danos à flora e a fauna local que podem ser irreparáveis
no futuro, afirma Edegar de Oliveira Rosa, Engenheiro agrônomo
e responsável pela parte de orgânicos da Organização
Internacional Agropecuária, (OIA), certificadora que
atua em conjunto com outras empresas na certificação
dos produtores do baixo e alto Vale do Ribeira. Ele diz que
o conceito de agrofloresta é bastante acertado, sobretudo,
para regiões onde a mata se mostra abundante e a necessidade
de preservação fundamental. A folhagem
funciona como um excelente adubo orgânico natural, basta
o produtor aprender a manejar corretamente, enfatiza
o técnico da certificadora.
Os produtores antigos da região e que praticam a agrofloresta
contam que a falta de interesse dos outros produtores, está
ligada a facilidade que a produção convencional
oferece. Para o empresário Joacir Rossi, sócio
na União Eco industrial Cajati, que recebe o nome de
Simplesmente Banana, observa que quando o produtor
deixa de usar um herbicida para dissecar o mato, o manejo
se torna mais trabalhoso. A roçada é feita
apenas com o uso da enxada, facão ou até mesmos
com as mãos, lembra. E, não é só
isso. Para começar a ter um retorno na sua produção,
o agricultor tem de esperar um tempo maior. E, nesses casos,
o imediatismo, que não é diferente das grandes
cidades, acaba pesando na hora de escolher o modelo de produção
a ser utilizado.
Agora para quem deseja optar por uma produção
agrícola mais saudável, os entrevistados são
unânimes: a gama de tecnologias disponíveis para
uso no manejo desde o trato do solo, sem precisar usar fontes
de adubação com alta solubilidade até
o controle de pragas e doenças do banal é enorme.
Produtores
seguem normas a risca
No
Sítio Lavras o produtor rural Juvenal Pereira de Moraes,
administra uma plantação de bananas, junto com
outro sócio, o produtor Joaquim Clementino Neto, no
sistema agroecológico. Lá o conceito de preservação
da natureza é levado muito a sério, em alguns
momentos quase como uma filosofia de vida. A propriedade,
que recebe o nome da cidade, onde está localizada,
possui uma área de 25 alqueires, aproximadamente e
fica dentro do Parque Estadual do Jacupiranga, segunda maior
reserva ambiental do estado de São Paulo, com uma área
aproximada de 150 mil hectares de Mata Atlântica, totalmente
preservada.
Filho de produtores de banana da região desde antes
da área se tornar de preservada pelo Ministério
do Meio Ambiente, Juvenal parece trazer no sangue o amor pela
natureza e por cada palmo de terra da sua propriedade. O manejo
do bananal, explica ele, é todo dentro das normas do
sistema de produção orgânica - que tem
na agrofloresta uma de suas vertentes que foi regulamentada
pela portaria nº 07 de 1999, do Ministério da
Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA).
O manejo como numa lavoura comum começa com o manejo
do solo. Para garantir o aporte de nitrogênio necessário
o agricultor pode se valer de varias fontes, explica Joaquim
que é o responsável em fazer o manejo diário
de todo bananal. A adubação verde através
de cobertura vegetal é o ponto forte da propriedade
que mantém uma enorme variedade de espécies
vegetais.
Na eventual falta de algum nutriente, outras fontes são
utilizadas, porém nada pode fugir às normas
do manejo biológico, conforme mostra o agrônomo
da OIA. Ele mostra que nesses casos existem adubos naturais,
como a torta de mamona e o esterco feito a partir de compostos
orgânicos que dão excelentes resultados. O Fósforo
(P), outro importante macro nutrientes é encontrado
em rochas fosfóricas como o fosfato de Araxá,
por exemplo. Já o Potássio (K) é um pouco
mais complicado, ele explica, mas pode ser obtido nas cinzas
de compostos vegetais como cana-de-açúcar ou
lenha comum mesmo.
O produtor Joaquim bate o tempo todo na tecla da cobertura
vegetal. Para ele quanto mais mato houver em volta do bananal
melhor. Esse trabalho, no entanto, precisa ser consciente
e é fundamental manter uma variedade de espécies
vegetais numa mesma área de preferência espécies
que possam ser exploradas comercialmente. Essa diversidade
de plantas é que melhora as condições
gerais do terreno, evitando a erosão. No sitio Lavras,
o bananal fica quase todo numa área bastante acidentada
perto de uma encosta, por isso lá ele optam por espécies
de raiz mais cumprida. A relação de espécies
plantadas no meio da lavoura é bastante ampla. São
mini lavouras de mamona, palmito, laranja, tangerina, limão,
cana-de-açúcar, castanha do Pará, além
de plantas medicinais cultivadas e nativas da região.
Juvenal conta que a roçada completa do bananal é
feita pelo menos uma vez por ano e isso é uma necessidade.
As culturas ficam divididas por glebas para facilitar o acesso.
Tudo é feito sem o auxílio de maquinários
ou de produtos químicos, observa o produtor. A trabalheira
é grande explica o lavrador Joaquim, mas todo esforço
é recompensado pela satisfação de oferecer
um produto limpo ao mercado e pelo preço diferenciado
que eles recebem dos empresários locais, por cada cacho
de banana colhido que, em alguns casos, pode chegar três
vezes mais que o convencional.
Manejo
do fruto garante qualidade
Além
dos cuidados com o terreno a conservação dos
frutos também requer alguns cuidados e esses começam
logo na floração. Um primeiro paço é
a colocação de um saco plástico em volta
do cacho, manejo que segundo o lavrador é necessário
para a padronização dos cachos, além
de evitar o aparecimento de manchas escuras na casca da banana,
provocadas por uma lesma que se alimenta dos frutos que ficam
expostos ao tempo. A proteção serve também
para evitar ataques de passarinho e morcegos que vivem na
região.
O manejo de pragas e doenças, no sistema agroecológico,
é outro fato que chama a atenção, pela
criatividade do agricultor de aliar técnicas agrícolas
com uma enorme dose de criatividade. O controle feito sobre
uma praga conhecida como broca, e/ou moleque da bananeira,
que pode causar sérios danos ao bananal se não
tratada adequadamente é feito através da aplicação
de um produto natural chamado pelos produtores de Boveria.
Esse produto chamado comercialmente de Boveril WP age no controle
biológico das fêmeas da espécie que, após
colocarem seus ovos na base da bananeira, promovem o nascimento
de inúmeras larvas. As larvas penetram na planta formando
galerias, enfraquecendo-a e impossibilitando com isso a rebrota.
Segundo os próprios produtores a eficácia do
produto é bastante grande. Só que para ampliar
ainda mais o controle sobre a broca eles desenvolveram um
método auxiliar que tem o poder de enganar suas presas.
Como o agente causador da contaminação é,
basicamente, as fêmeas adultas do inseto e que elas
precisam voar até bananal para botar seus ovos eles
pensaram que uma isca funcionária muito bem como armadilha,
explica Juvenal. E foi exatamente isso que os produtores fizeram.
Um pedaço do tronco da bananeira que é cortada
após a retirada do cacho é posta sobre uma segunda
parte e, no meio desse sanduíche é colocada
uma quantidade do produto Boveril WP. Como os insetos que
chegam dão logo um jeito de entra na primeira bananeira
que avistam a contaminação e grande. O resultado
está na ação que o produto tem sobre
as fêmeas de inibir seu ciclo reprodutivo. Com isso
as populações diminuíram bastante e hoje
a broca não causa mais problemas, explica.
Agora, nos casos de grandes populações a aplicação
no bananal deve acontecer três vezes ao mês, durante
a fase critica da infestação e diminuir na medida
que a população de insetos for se exaurindo
até a proporção de três insetos
por pé explica, o proprietário do Sitio Lavras.
Outras pragas como, o Mal do Panamá, a Sigatoka Amarela
e a Sigatoka Negra, são combatidas através da
rotação anual de culturas e da própria
floresta, que cria uma proteção natural. Em
casos extremos de focos de Sigatoka eles aplicam um óleo
agrícola adicionado ao biofertilizante, pratica que
consta nas normas da certificadora, lembra o produtor.
Fonte
de riqueza da região
Os
primeiros registros mostram que a banana tem suas origens
na Índia e sua chegada ao país se deu pelas
mãos dos primeiros comerciantes árabes, ainda
durante o período colonial. Hoje, o Brasil já
detém a segunda maior produção mundial
da fruta e a região Sudeste tem forte participação.
Para as comunidades de ribeirinhos e quilombolas,
que há séculos vivem do comércio da fruta,
a banana é a principal fonte de riqueza. Hoje, o comércio
se estende às margens da rodovia Regis Bitencourt,
responsável pela ligação entre as regiões
Sul e Sudeste do País. De acordo com o proprietário
da empresa Simplesmente Banana, um ferrenho defensor da produção
orgânica e da agroecologia, a produção
de banana é a principal fonte de sustento dessas famílias
e responsável por fazer girar grande parte da economia
local.
Juvenal destina 50% da sua produção para venda
direta in-natura e diz que muitas vezes a demanda supera a
oferta. O produtor que chega a colher 110 pencas de banana
por semana, mantém cinco tipos diferentes de banana,
desde de a nanica, prata e maça que são as mais
conhecidas até as variedades ouro e banana da terra,
espécies mais exóticas.
Os produtores dizem que o apoio dos empresários da
região está sendo determinante para o andamento
do negócio. O motorista carreteiro Darci Guarda de
Porto Alegre, RS, diz que toda vez que passa pela BR-116,
mesmo quando está com a carga atrasada, dá uma
paradinha para comprar um cacho de banana. Quando perguntado
sobre a qualidade da fruta, o motorista responde quase que
sem pestanejar: É muito boa!. Muitos motoristas
param e levam em grandes quantidades, dos mais diferentes
tipos. Para Juvenal, a liberação da certificação
e do selo de produto orgânico, vai melhorar bastante
o comércio nos bolsões, além de trazer
um retorno maior aos empresários que hoje investem
na idéia.
Indústria
aposta na banana agroecológica
O
conceito de produção orgânica que ganha
adeptos em todo o país tem agroecologia uma vertente
de grande importância e que começa também
a se tornar interessante para empresários que vislumbra
um futuro lucrativo para esse tipo de fruta no mercado interno
e de exportação. A União Eco Industrial
Cajati, SP, que recebe o nome do município onde está
localizada, mantém sua produção de doces
de banana, toda ela mantida pela banana agroecológica
produzida pelos agricultores do Vale do Ribeira.
De acordo com Joacir Rossi, sócio proprietário
na empresa, o próprio nome Simplesmente Banana
dá uma idéia da filosofia de rege o negócio.
O projeto teve início, em 2001, e hoje mantém
sua linha de produção dentro dos rígidos
padrões exigidos pelas certificadoras. As normas abrangem
a sanidade, a preservação ambiental, mas, principalmente
o consumidor final, enfatiza o proprietário.
A banana assim que chega até a fábrica segue
para uma estufa onde é conservada em temperatura apropriada
aguardando o momento de ser processada. Antes de ser cozida
em dois tachos enorme a fruta passa por uma dupla lavagem.
Após realizado o cozimento, o doce descansa por um
período antes de seguir para o corte. Tudo é
feito com o mínimo contato, justamente para minimizar
os riscos, lembra Fabiane Jesus de Almeida, assistente administrativa
da empresa. A preocupação com a assepsia envolve
também os funcionários que trabalham com roupas
especiais e equipamento de proteção individual.
A Simplesmente Banana possui uma linha de doce em tabletes
de 100 gramas, pacotes de balas de 50 e 100 gramas, além
dos doces comercializados à granel. A empresa já
conta com clientes no estado de São Paulo e no Paraná,
incluindo, grandes redes de supermercados e casas especializadas.
Ao todo, são mais de 50 pontos de comércio,
número que se depender do entusiasmo dos produtores
e da vontade do seu proprietário para realizar negócios
deve se ampliar certamente.
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