sobre o solo para manutenção e/ou melhoria das
suas propriedades físicas, químicas e biológicas.
Neste sentido, o plantio da mandioca com cobertura morta representa
uma alternativa importante para os produtores, principalmente
quando o solo é arenoso ou muito arenoso.
Visando avaliar o efeito do cultivo de mandioca em plantio
direto das ramas sob diferentes espécies de cobertura
do solo foram desenvolvidos estudos pela Embrapa Agropecuária
Oeste envolvendo diversos parâmetros fitotécnicos
da cultura, além do monitoramento das alterações
nos atributos físicos, químicos e biológicos
do solo.
Os estudos foram conduzidos no Município de Glória
de Dourados, MS (22o 22S e 54o 30W, 400 m de altitude),
num Argissolo Vermelho, de textura arenosa. O clima da região
é do tipo Aw, com estação chuvosa no
verão, seca no inverno e precipitação
anual média de 1450 mm.
A cultura da mandioca (variedade Fécula Branca, espaçamento
0,7 x 0,9 m) foi estabelecida em maio/2003. As avaliações
foram realizadas, durante três anos, numa área
dividida em quatro talhões distintos, sendo três
destes ocupados com as coberturas de mucuna (1.800m2), sorgo
(1.500m2) e milheto (1.500m2) e outro preparado no sistema
convencional (2.000m2), envolvendo arações e
gradagens. Uma área adjacente, com mata nativa, foi
utilizada como referencial, para comparação
dos atributos físicos, químicos e biológicos
(parâmetros microbiológicos e macrofauna edáfica).
Os atributos físicos foram avaliados em duas épocas
(maio de 2003 e agosto de 2004), sendo efetuadas as coletas
de amostras deformadas e indeformadas, na profundidade 0-10
cm, com cinco repetições para cada sistema de
manejo. As amostras deformadas foram coletadas para a determinação
de diâmetro médio ponderado de agregados, enquanto
as indeformadas foram retiradas para as determinações
de densidade de solo, macroporosidade, microporosidade e porosidade
total. Os resultados mostraram que os efeitos dos sistemas
de manejo nas propriedades físicas do solo foram verificados
apenas na fase inicial do estabelecimento da cultura da mandioca.
Nessa fase, verificou-se que o sistema de manejo que sofreu
maior mobilização de solo (convencional) apresentou
uma diminuição na densidade do solo e incrementos
na sua porosidade total, especialmente, na macroposidade,
quando comparado aos valores verificados nos sistemas sem
mobilização (plantio direto).
Quanto aos parâmetros microbiológicos, os valores
mais elevados de C da biomassa microbiana, de modo geral,
foram verificados no sistema sob mata nativa, seguindo-se
os sistemas sob coberturas de sorgo, mucuna e milheto e sob
preparo convencional, respectivamente. As taxas de respiração
específica (quociente metabólico) mostraram-se
mais reduzidas no sistema sob cobertura de mucuna, indicando
uma biomassa mais eficiente, com menores perdas de C-CO2.
Além disso, os valores do quociente microbiano, expressos
pela relação entre o C microbiano e o C orgânico
total do solo, indicaram que o sistema plantio direto, com
diferentes espécies de cobertura do solo, podem proporcionar
uma maior dinâmica da matéria orgânica
do solo.
De maneira geral, a densidade, a riqueza de grupos da macrofauna
edáfica e a matéria orgânica do solo foram
mais elevadas nos sistemas com as espécies de cobertura
(mucuna, sorgo e milheto) do que no sistema convencional de
cultivo de mandioca. O impacto negativo sobre a macrofauna
edáfica do solo em sistema de cultivo convencional
tem sido reportado por diversos autores, ocorrendo principalmente
em função do revolvimento do solo e ausência
de cobertura.
Verificaram-se correlações positivas entre a
serapilheira e a densidade e riqueza da macrofauna e entre
a serapilheira e os teores de matéria orgânica
do solo, demonstrando a importância da manutenção
constante da cobertura sobre o solo, a qual serve de abrigo
e alimento para a comunidade invertebrada.
Estes estudos permitiram concluir que, de maneira geral, a
comunidade da macrofauna do solo respondeu bem aos impactos
causados pelo manejo, refletindo as alterações
que ocorrem em curto espaço de tempo. Além disso,
a estrutura da comunidade da macrofauna (densidade e riqueza
de organismos) mostrou-se eficiente nos estudos propostos,
podendo atuar como um bom indicador para avaliação
da qualidade dos solos submetidos a diferentes sistemas de
manejo.
A colheita da mandioca das parcelas experimentais foi realizada
aos 18 meses após o plantio. Para as avaliações
fitotécnicas, foram delimitadas, aleatoriamente, áreas
contendo 16 plantas em cada talhão, descartando-se
quatro linhas da bordadura. Entre as principais variáveis
avaliadas, incluíram-se a produção de
matéria seca de raízes, a porcentagem de amido
produzida, o peso de raízes (produtividade) e o índice
de colheita da cultura da mandioca.
Em relação à matéria seca das
raízes e porcentagem de amido, os menores valores foram
verificados no sistema sob preparo convencional do solo, não
sendo detectadas diferenças significativas entre os
sistemas com as diferentes coberturas vegetais. Quanto ao
peso das raízes de mandioca (produtividade), o sistema
sob cobertura de milheto proporcionou os valores mais elevados,
sendo significativamente superiores ao sistema sob preparo
convencional e semelhante aos demais sistemas sob as outras
espécies de cobertura. De modo geral, o manejo do solo
utilizando as diferentes espécies vegetais como cobertura
nos cultivos de mandioca sob plantio direto proporcionou melhorias
em todas as características fitotécnicas da
cultura.
(*)
Fábio Martins Mercante, Engenheiro Agrônomo e
Ph.D., é pesquisador da Embrapa Agropecuária
Oeste
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