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FERRUGEM AVANÇA!
rev 95 - janeiro 2006

Por isso, produtores de soja, órgãos de pesquisa e empresas de defensivos se mobilizam para tentar conter o crescimento e combater os prejuízos causados pela doença.

O Sistema de Alerta da Embrapa Soja já recebeu cerca de 250 confirmações de focos de ferrugem feitas por laboratórios integrantes do Consórcio Antiferrugem, iniciativa público-privada capitaneada pelo Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento. De Mato Grosso do Sul continuam chegando relatos de ocorrência nas cidades de Sidrolândia, São Gabriel do Oeste, Dourados, Ponta Porã, Deodápolis e Maracaju, mostrando que as condições climáticas continuam favorecendo o desenvolvimento da doença.

“As condições climáticas estão normais para o desenvolvimento ferrugem, porém não para uma disseminação explosiva. As chuvas estão esparsas, porém há bastante orvalho até 9 horas da manhã. Estamos fazendo treinamentos e orientando os produtores controlar a doença quando necessário”, explica Edson Borges, da Fundação MS. Já foram registrados 92 focos da doença no estado.

No Paraná, estado onde já foram confirmados 64 focos, as últimas ocorrências estão na região de Palotina, Apucarana, Itambé e Londrina. “As chuvas que estão ocorrendo no norte do Paraná favorecem o desenvolvimento da ferrugem, por isso é bom estar atento nas vistorias às lavouras”, aconselha Ademir Henning, pesquisador da Embrapa Soja. Vilhena (RO), Silvânia (GO), Ribeirão Corrente (SP), Miguelópolis (SP), Guará (SP) também tiveram a ferrugem confirmada pelas instituições credenciadas.

A ferrugem asiática da soja é uma doença bastante agressiva, mas se manejada adequadamente tem controle. “Com monitoramento e precisão no diagnóstico, é possível evitar redução de produtividade, elevação do custo de produção ou mesmo aplicações desnecessárias de fungicidas no meio ambiente”, explica o pesquisador.
O diagnóstico da ferrugem asiática ainda é um desafio para muitos técnicos e produtores. No ano passado, os laboratórios integrantes do Consórcio Antiferrugem analisaram aproximadamente 26 mil amostras com suspeita da doença e apenas 30% tiveram a confirmação da presença do fungo nas folhas.

“A ferrugem pode ser facilmente confundida com a pústula bacteriana, porém todas cultivares brasileiras registradas no Ministério da Agricultura são resistentes a essa doença. Já as sementes clandestinas não possuem a mesma garantia, por isso o risco de confundir é maior. Ambas as doenças provocam saliência nas folhas, porém a pústula deixa um halo claro ao redor da mancha”, orienta.

O treinamento também é importante para aprender a diferenciar os sintomas da ferrugem, do crestamento foliar e da mancha parda. “Essas doenças também podem ser confundidas se, em sua observação, não for utilizada uma lupa de, pelo menos, 20 x de aumento”, adverte o pesquisador.

Prejuízo certo

O principal dano ocasionado por essa doença é a desfolha precoce, que impede a completa formação dos grãos, com conseqüente redução da produtividade. O nível de dano que a doença pode ocasionar depende do momento em que ela incide na cultura, das condições climáticas favoráveis à sua multiplicação após a constatação dos sintomas iniciais, da resistência/ tolerância e do ciclo da cultivar utilizada.

A primeira constatação da ferrugem asiática, causada pelo fungo Phakopsora pachyrhizi, em lavouras no Brasil ocorreu na safra 2001/02 e rapidamente espalhou-se pelas principais regiões produtoras, em função da eficiente disseminação pelo vento. O principal dano ocasionado por essa doença é a desfolha precoce, que impede a completa formação dos grãos, com conseqüente redução da produtividade. O nível de dano que a doença pode ocasionar depende do momento em que ela incide na cultura, das condições climáticas favoráveis à sua multiplicação após a constatação dos sintomas iniciais, da resistência/ tolerância e do ciclo da cultivar utilizada. Reduções de produtividade próximas a 70% podem ser observadas quando comparadas áreas tratadas e não tratadas com fungicidas.

O período mínimo de molhamento necessário para ocorrer infecção foi estimado em 6 horas, para temperaturas entre 20 – 25oC e aumenta para temperaturas superiores e inferiores. A ferrugem é considerada uma doença políciclica, ou seja, o fungo é capaz de ter várias gerações num único ciclo do hospedeiro. Temperaturas que favorecem o crescimento e desenvolvimento de plantas de soja também favorecem o desenvolvimento da ferrugem. Temperaturas inferiores a 15oC ou superiores a 30oC, associadas com condições secas, retardam o desenvolvimento da ferrugem.

O desenvolvimento de cultivares resistentes tem sido dificultado pela variabilidade genética do fungo. Na safra 2001/02, cultivares que haviam sido selecionados com resistência completa tiveram sua resistência quebrada com isolados do fungo provenientes do Mato Grosso. Na ausência de cultivares resistentes, medidas de manejo como a utilização de cultivares de ciclo precoce e semeaduras no início da época recomendada, monitoramento constante da lavoura associado ao controle químico com fungicidas têm sido recomendadas para diminuir os danos que essa doença pode causar. A aplicação do fungicida deve ser feita após os sintomas iniciais da doença na lavoura ou na região ou preventivamente.

A decisão sobre o momento de aplicação (sintomas iniciais ou preventiva) deve ser técnica, levando em conta os fatores necessários para o aparecimento da ferrugem (presença do fungo na região, idade das plantas e condição climática favorável), a logística de aplicação (disponibilidade de equipamentos e tamanho da propriedade), a presença de outras doenças e o custo do controle. O atraso na aplicação, após constatados os sintomas iniciais, pode acarretar em redução de produtividade, caso as condições climáticas favoreçam o progresso da doença. O número e a necessidade de re-aplicações vão ser determinados pelo estádio em que for identificada a doença na lavoura e pelo período residual dos produtos.

Governo libera R$ 200 milhões para combate

A partir do início de janeiro, os produtores do Centro-Oeste já podem procurar as agências do Banco do Brasil para obter financiamentos da linha emergencial de custeio para prevenção e controle da ferrugem asiática da soja. No mês passado, o Conselho Deliberativo do Fundo do Centro-Oeste (Condel/FCO) aprovou a liberação de R$ 200 milhões para essas operações, que devem ser realizadas até 28 de fevereiro.

De acordo com a SPA, o limite de crédito por beneficiário da linha emergencial de custeio para prevenção e controle da ferrugem asiática da soja é de R$ 140 mil, correspondendo a cerca de mil hectares. A operação vencerá em 31 de outubro, e a amortização é semelhante ao custeio alongado: parcelas iguais e sucessivas, sendo a primeira 60 dias após a colheita. Os juros anuais são os seguintes: 6% para miniprodutores, 8,75% para pequenos e médios, 10,75% para grandes. Há um bônus de adimplência de 15% para os juros.

A linha emergencial aprovada pela FCO foi regulamentada pelo Mapa, em parceria com o BB, Condel/FCO e os estados de Goiás, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul. Com a liberação do financiamento para prevenção e controle da ferrugem asiática da soja, o governo federal garante aos agricultores suporte financeiro para que possam erradicar a doença, detectada nas lavouras brasileiras da oleaginosa a partir de 2002.

Principal item da pauta de exportações do agronegócio nacional, o complexo soja tem um prejuízo estimado de US$ 2 bilhões/ano com a ferrugem asiática. Do total, US$ 1,2 bilhão representa perdas diretas – lavouras destruídas – e outros 800 milhões estão relacionados aos custos do controle da doença, segundo o fiscal agropecuário André Peralta, da Divisão de Prevenção e Controle de Pragas do Mapa. Na safra 2004/05, o país perdeu 4,5 milhões de toneladas de por causa da ferrugem asiática.


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