O
ciclo de prosperidade da agricultura familiar é bem
simples: os órgãos de pesquisa e universidades
destinam um espaço cada vez maior dentro de seu leque
de trabalho às pesquisas voltadas para os pequenos;
os órgãos de extensão rural se encarregam
de levar as novas técnicas e conceitos de produção
até as porteiras; programas especiais de crédito
(como o Pronaf, por exemplo) garantem o capital necessário
para a implantação dos projetos; as cooperativas
e, recentemente, a ajuda de órgãos como a Conab
facilitam o escoamento da produção; e, por fim,
o mercado ao redor se aquece.
Para se ter uma idéia, o crescimento das atividades
de produção em pequenas e médias propriedades
vem garantindo a manutenção de setores importantes
que, até pouco tempo atrás tinham seu crescimento
totalmente vinculado à produção de grãos
e outras grandes lavouras. É o caso, por exemplo, dos
fabricantes de máquinas e equipamentos. O mercado total
de tratores produzidos no Brasil cresceu 9,2% entre janeiro
e outubro deste ano, se comparado ao mesmo período
de 2005, segundo a Anfavea Associação
Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores. A
performance positiva deveu-se, entretanto, a um segmento bem
específico e, até pouco tempo, marginal: o segmento
de tratores com até 55 cc de potência cresceu
impressionantes 49,2%, com a comercialização
de 1.873 máquinas. Só a Yanmar Agritech, fabricante
de tratores e micro tratores voltados à agricultura
familiar, sediada em Indaiatuba, no interior de São
Paulo, comercializou 962 máquinas de janeiro a outubro,
o que representa 51,4% desse mercado. O crescimento da empresa
no período em relação ao ano passado
foi de 28,3%.
Em disparidade a esses números, as indústrias
que desenvolvem e comercializam tratores de grande porte para
a agricultura tiverem consideráveis quedas durante
o período. A Crise industrial ceifou empregos, sobretudo
no RS. Até agora o ramo de máquinas agrícolas
já demitiu 8 mil dos seus 30 mil trabalhadores. A maioria
das grandes indústrias desse segmento parou ou está
parando completamente. As exportações foram
reduzidas a zero. Empresas como a John Deere e a Massey Ferguson,
por exemplo, chegaram, este ano, a fechar temporariamente
algumas de suas linhas de montagem de colheitadeiras e de
tratores de maior porte.
O
outro lado da moeda
Para
o gerente nacional de vendas da Yanmar Agritech, Nelson Watanabe,
essa expansão nas vendas de tratores de pequeno porte
se deve a uma junção de fatores positivos. A
liberação dos recursos do Pronaf, o bom desempenho
da agricultura familiar e as boas safras de cafés e
de frutas estão entre as principais delas. Hoje
a agricultura familiar possui um papel muito importante no
cenário brasileiro. São esses os consumidores
que têm feito com que o setor de máquinas agrícolas
cresça. Para esses produtores, a mecanização
traz ganhos palpáveis. A maioria das grandes indústrias
de tratores está se dando conta disso e passou a desenvolver
projetos para esse público, comentou Watanabe.
Há alguns anos, os tratores de baixa potência
tinham uma participação de cerca de 5% no montante
total de vendas de máquinas agrícolas. Hoje
esses tratores participam com 10,8% do mercado.
Facilidade
para negociar a produção
Outro
ponto crucial no fortalecimento da agricultura familiar é
criar mecanismos que garantam aos pequenos, facilidade para
negociar seus produtos e força para não sucumbir
às exigências de um mercado muitas vezes desleal.
Nesse sentido, os agricultores familiares ganharam recentemente
mais um aliado. A partir deste mês, a Conab passa a
disponibilizar o seu Sistema Eletrônico de Comercialização
(SEC) para a realização de leilões privados.
Os produtores poderão negociar diretamente por meio
das bolsas de mercadorias de todo o Brasil e encontrar melhores
preços no mercado. No primeiro leilão dessa
modalidade serão ofertadas 138,9 toneladas de castanha
do Brasil de uma cooperativa do Acre.
Segundo o diretor de Logística e Gestão Empresarial
da Conab, Sílvio Porto, a medida vai beneficiar os
agricultores familiares, assentados da reforma agrária
e agro extrativistas que possuem produtos de qualidade e em
quantidade. Estes passam a ter acesso a mercados mais
complexos e competitivos, em todo o país, diz
ele.
Para participar, os agricultores precisam estar ligados a
cooperativas ou associações. É necessário
também que o produto esteja armazenado e identificado,de
acordo com as normas oficiais de classificação.
A partir daí, as organizações poderão
demandar o serviço da Companhia.
Indústrias - O Sistema de Comercialização
também está disponível para os grandes
produtores, cooperativas, indústrias e comerciantes
interessados em realizar esse tipo de leilão. As negociações
entre vendedores e compradores são independentes e
desvinculadas da Conab, que é responsável apenas
pela divulgação do edital, execução
e divulgação das operações.
Com essa nova modalidade, 0,3% das comissões pagas
às bolsas pelos arrematantes serão destinadas
à estatal. Uma das vantagens para os lançadores
privados é a melhor divulgação de suas
ofertas, o que pode garantir um preço mais vantajoso.
Setor precisa de Políticas específicas
A
Agricultura Familiar, enquanto sujeito do desenvolvimento,
é ainda um processo em consolidação.
Segundo o Secretário da Agricultura Familiar, Valter
Bianchini, o seu fortalecimento e valorização
dependem de um conjunto de fatores econômicos, sociais,
políticos e culturais que necessitam serem implementados
de uma forma articulada por uma diversidade de atores e instrumentos.
Ele acrescenta que o papel do Estado e das políticas
públicas cumprem um papel fundamental. Quanto mais
estas políticas conseguirem se transformar em respostas
à estratégia geral de desenvolvimento com sustentabilidade
e, ao mesmo tempo, às demandas concretas e imediatas
da realidade conjuntural, mais adequadamente cumprirão
o seu papel.
Nesse sentido, o acompanhamento da conjuntura de mercado
das mais importantes cadeias produtivas, muito embora não
deva ser o fator determinante para a elaboração
das políticas públicas, assume uma importância
fundamental para a sua definição, adequação
e redimensionamento, especialmente para aquelas relacionadas
aos diversos instrumentos da política agrícola.
Ou seja, a concretização dos diversos instrumentos
da política agrícola deve considerar a realidade
concreta da dinâmica em que as diversas cadeias produtivas
se inserem a cada momento, afetadas por outros fatores que,
em sua maioria, independem da dinâmica da própria
cadeia e que, muitas vezes, provocam mudanças extremamente
rápidas, afirma.
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