FAMILIAR - A VEZ DOS PEQUENOS!
rev 106 - dezembro 2006

Com mais investimento, acesso à tecnologia e suporte na comercialização em alguns setores, a agricultura familiar vem ganhando corpo e solidificando sua participação dentro do agronegócio brasileiro.

Com acesso facilitado a linhas de crédito, contando com orientação especializada e conhecendo novas tecnologias, os pequenos produtores brasileiros vão aos poucos se tornando mais profissionais, competitivos e, através do trabalho cooperado, ganhando força dentro do agronegócio brasileiro. Essa verdadeira revolução pela qual passam as pequenas e médias atividades agrícolas e pecuárias do Brasil vem transformando o jeito de pensar daqueles que vivem da agricultura familiar. Hoje, o pequeno produtor rural está tão exigente quanto o grande produtor, quando o assunto é rentabilidade e eficiência de produção.

O ciclo de prosperidade da agricultura familiar é bem simples: os órgãos de pesquisa e universidades destinam um espaço cada vez maior dentro de seu leque de trabalho às pesquisas voltadas para os pequenos; os órgãos de extensão rural se encarregam de levar as novas técnicas e conceitos de produção até as porteiras; programas especiais de crédito (como o Pronaf, por exemplo) garantem o capital necessário para a implantação dos projetos; as cooperativas e, recentemente, a ajuda de órgãos como a Conab facilitam o escoamento da produção; e, por fim, o mercado ao redor se aquece.

Para se ter uma idéia, o crescimento das atividades de produção em pequenas e médias propriedades vem garantindo a manutenção de setores importantes que, até pouco tempo atrás tinham seu crescimento totalmente vinculado à produção de grãos e outras grandes lavouras. É o caso, por exemplo, dos fabricantes de máquinas e equipamentos. O mercado total de tratores produzidos no Brasil cresceu 9,2% entre janeiro e outubro deste ano, se comparado ao mesmo período de 2005, segundo a Anfavea – Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores. A performance positiva deveu-se, entretanto, a um segmento bem específico e, até pouco tempo, marginal: o segmento de tratores com até 55 cc de potência cresceu impressionantes 49,2%, com a comercialização de 1.873 máquinas. Só a Yanmar Agritech, fabricante de tratores e micro tratores voltados à agricultura familiar, sediada em Indaiatuba, no interior de São Paulo, comercializou 962 máquinas de janeiro a outubro, o que representa 51,4% desse mercado. O crescimento da empresa no período em relação ao ano passado foi de 28,3%.

Em disparidade a esses números, as indústrias que desenvolvem e comercializam tratores de grande porte para a agricultura tiverem consideráveis quedas durante o período. A Crise industrial ceifou empregos, sobretudo no RS. Até agora o ramo de máquinas agrícolas já demitiu 8 mil dos seus 30 mil trabalhadores. A maioria das grandes indústrias desse segmento parou ou está parando completamente. As exportações foram reduzidas a zero. Empresas como a John Deere e a Massey Ferguson, por exemplo, chegaram, este ano, a fechar temporariamente algumas de suas linhas de montagem de colheitadeiras e de tratores de maior porte.

O outro lado da moeda

Para o gerente nacional de vendas da Yanmar Agritech, Nelson Watanabe, essa expansão nas vendas de tratores de pequeno porte se deve a uma junção de fatores positivos. A liberação dos recursos do Pronaf, o bom desempenho da agricultura familiar e as boas safras de cafés e de frutas estão entre as principais delas. “Hoje a agricultura familiar possui um papel muito importante no cenário brasileiro. São esses os consumidores que têm feito com que o setor de máquinas agrícolas cresça. Para esses produtores, a mecanização traz ganhos palpáveis. A maioria das grandes indústrias de tratores está se dando conta disso e passou a desenvolver projetos para esse público”, comentou Watanabe. 

Há alguns anos, os tratores de baixa potência tinham uma participação de cerca de 5% no montante total de vendas de máquinas agrícolas. Hoje esses tratores participam com 10,8% do mercado.

Facilidade para negociar a produção

Outro ponto crucial no fortalecimento da agricultura familiar é criar mecanismos que garantam aos pequenos, facilidade para negociar seus produtos e força para não sucumbir às exigências de um mercado muitas vezes desleal. Nesse sentido, os agricultores familiares ganharam recentemente mais um aliado. A partir deste mês, a Conab passa a disponibilizar o seu Sistema Eletrônico de Comercialização (SEC) para a realização de leilões privados. Os produtores poderão negociar diretamente por meio das bolsas de mercadorias de todo o Brasil e encontrar melhores preços no mercado. No primeiro leilão dessa modalidade serão ofertadas 138,9 toneladas de castanha do Brasil de uma cooperativa do Acre.

Segundo o diretor de Logística e Gestão Empresarial da Conab, Sílvio Porto, a medida vai beneficiar os agricultores familiares, assentados da reforma agrária e agro extrativistas que possuem produtos de qualidade e em quantidade. “Estes passam a ter acesso a mercados mais complexos e competitivos, em todo o país”, diz ele.

Para participar, os agricultores precisam estar ligados a cooperativas ou associações. É necessário também que o produto esteja armazenado e identificado,de acordo com as normas oficiais de classificação. A partir daí, as organizações poderão demandar o serviço da Companhia.

Indústrias - O Sistema de Comercialização também está disponível para os grandes produtores, cooperativas, indústrias e comerciantes interessados em realizar esse tipo de leilão. As negociações entre vendedores e compradores são independentes e desvinculadas da Conab, que é responsável apenas pela divulgação do edital, execução e divulgação das operações.

Com essa nova modalidade, 0,3% das comissões pagas às bolsas pelos arrematantes serão destinadas à estatal. Uma das vantagens para os lançadores privados é a melhor divulgação de suas ofertas, o que pode garantir um preço mais vantajoso.

Setor precisa de Políticas específicas

A Agricultura Familiar, enquanto sujeito do desenvolvimento, é ainda um processo em consolidação. Segundo o Secretário da Agricultura Familiar, Valter Bianchini, o seu fortalecimento e valorização dependem de um conjunto de fatores econômicos, sociais, políticos e culturais que necessitam serem implementados de uma forma articulada por uma diversidade de atores e instrumentos.

Ele acrescenta que o papel do Estado e das políticas públicas cumprem um papel fundamental. Quanto mais estas políticas conseguirem se transformar em respostas à estratégia geral de desenvolvimento com sustentabilidade e, ao mesmo tempo, às demandas concretas e imediatas da realidade conjuntural, mais adequadamente cumprirão o seu papel.

“Nesse sentido, o acompanhamento da conjuntura de mercado das mais importantes cadeias produtivas, muito embora não deva ser o fator determinante para a elaboração das políticas públicas, assume uma importância fundamental para a sua definição, adequação e redimensionamento, especialmente para aquelas relacionadas aos diversos instrumentos da política agrícola. Ou seja, a concretização dos diversos instrumentos da política agrícola deve considerar a realidade concreta da dinâmica em que as diversas cadeias produtivas se inserem a cada momento, afetadas por outros fatores que, em sua maioria, independem da dinâmica da própria cadeia e que, muitas vezes, provocam mudanças extremamente rápidas”, afirma.


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