TOMATE - MAIS PÉS EM MENOS ESPAÇO
rev 104 - outubro 2006

Um novo sistema de plantio de tomates, chamado de superadensamento, promete mudanças significativas na produção.

Comparado ao cultivo convencional, o novo modelo permite melhor aproveitamento da área cultivada (de 13 para 44 mil pés por hectare), redução dos custos com mão-de-obra (um trabalhador a cada 13 mil pés), melhor qualidade de frutos (95% da colheita no padrão 2A) e produtividade elevada (10 a 14 mil caixas/ha).

Muitas variedades foram testadas no projeto, mas os autores observam que o tomate híbrido Miramar, da Seminis, tem se destacado, seguido por TY Fanny.

“É importante, na hora de escolher a cultivar, buscar aquelas com menor área foliar e maior capacidade de calibre de frutos, além de resistência às principais doenças da cultura, como Nematóide, Fusarium e Verticilium”, orienta o técnico agrícola e produtor Ananias Spessemille, um dos responsáveis pelo desenvolvimento do novo sistema.
 
Um sistema inédito e eficiente

A principal diferença do sistema superadensado está no distanciamento entre as plantas - que é de apenas 15 cm - e no número de plantas por hectare (44 mil plantas). Esse modelo é inédito no Brasil, explica o agrônomo Sergio Maruitti, lembrando que “a condução dos tomateiros é feita por fitilhos e é possível cultivar 44 mil pés de tomate por hectare e apenas um homem pode cuidar de 13 mil plantas, enquanto no sistema de plantio convencional são cultivados 13 mil plantas/ha e é necessário um trabalhador para cada 3 mil pés”. No sistema de adensamento convencional, já adotado em algumas regiões, o espaçamento é de 1.4 m entre fileiras e 0.3 m entre plantas, com até 24 mil plantas por hectare.

Embora o espaçamento entre plantas seja de 0.15 m, o espaçamento entre as fileiras se mantém o mesmo (1.60m), variando de acordo com a mecanização usada. As plantas são conduzidas com a guia principal e capadas com 6 cachos, sendo estes raleados com 5 frutos. Este procedimento permite obter mais frutos do tipo 2A (boca 6), chegando a produzir até 95 % dos frutos nesse padrão, segundo informação dos autores do projeto.

O potencial produtivo varia entre 10 e 14 mil caixas por hectare, sendo que a média nacional é de até 5 mil cx/ha. O custo de produção do superadensado é superior em cerca de 30% se comparado ao plantio tradicional. Mas no final das contas a mudança compensa o custo por caixa produzida, explica Ananias: “para a produção convencional de 5 mil caixas em um hectare, gasta-se uma média de R$ 28 mil, enquanto no novo sistema a produção de 10 mil cx/ha custa R$ 36 mil”. O sistema foi desenvolvido em 2004 numa propriedade rural de Marechal Floriano (região serrana do ES) e os resultados observados durante dois anos.

Quando o modelo do sistema foi projetado, ele previa a adoção de novas tecnologias pelos produtores de pequeno e médio porte, como o uso de fitilho para condução em substituição ao bambú e o sistema de irrigação localizada, por gotejamento. Quando o produtor migra para o sistema superadensado, ele automaticamente já adota essas duas técnicas também. E os benefícios são grandes, lembra o agrônomo Sérgio, “porque com o fitilho diminui a contaminação de materiais levados de um plantio a outro (bambú), reduzindo as murchas provocadas por doenças bacterianas (cancro) e fúngicas como Fusarium, Verticilium e outras”. Acrescenta ainda que a irrigação localizada ajuda a reduzir os danos mecânicos e, com menor molhamento foliar, diminui também a incidência de doenças foliares como alternaria, requeima e, principalmente, bactérias.

Cerca de 80% dos municípios do Espírito Santo vivem da agricultura e, destes, 75% produzem tomate. É considerado um dos Estados mais tecnificados do setor de tomaticultura, segundo o administrador rural e técnico agrícola Ananias Spessemille Viçosi. E foi em função da tecnologia disponível que ele resolveu pesquisar formas de reduzir a área de plantio sem perder a produtividade e otimizar a mão-de-obra na cultura.

Estes dois itens – área disponível para plantio e custo de mão-de-obra – eram a principal preocupação do setor na região. Ananias é produtor de tomate, junto com seu pai, há mais de 20 anos. A pesquisa foi sistematizada quando o engº. agrº. Sergio Yoshiari Maruitti se juntou ao projeto, tornando-se produtor também.

O resultado, avaliado em dois anos de observação no campo, é a nova técnica de cultivo superadensada que mostrou ser possível economizar espaço na lavoura, triplicar a produtividade e ainda diminuir a incidência de doenças. A técnica recebeu o nome de Sistema Marumille (composição dos nomes dos sócios envolvidos no projeto) e está sendo adotada por técnicos e produtores locais e de outros estados.
 
Outras regiões já adotaram

Desde que ouviram falar nos resultados positivos do projeto Marumille, outros produtores se mostraram interessados em conhecer o sistema. Por isso, os sócios Ananias (que trabalha na Sogimas Distribuidor de Produtos Agrícolas) e Sérgio (diretor estratégico da Campo Verde, revenda de Produtos Agropecuários) passaram a organizar eventos onde orientam a adoção da nova técnica de cultivo. Agricultores de São José de Ubá (RJ), Iapú (MG), Santa Teresa, Laranja da Terra, Alfredo Chaves e Venda Nova do Imigrante (ES) já implantaram em suas propriedades. Para o tomaticultor Paulo Cebin, de Alfredo Chaves, o sistema de super adensamento foi desenvolvido com inteligência: “visitei um plantio experimental adotei imediatamente, pois é moderno e lucrativo."


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