PARDO-SUÍÇO - GENÉTICA PARA TODO TIPO DE PECUÁRIA
rev 104 - outubro 2006

Em função do Brasil ser um País continental, com inúmeras variações ambientais e realidades sócio-econômicas, a atividade pecuária precisa de um “jogo de cintura” muito forte para sobreviver. O tipo de gado a ser explorado pode fazer a diferença na hora de fechar as contas no azul ou no vermelho. O Pardo-Suíço é uma das poucas raças puras do mercado que oferecem grande variedade de opções genéticas aos pecuaristas. Há linhagens especializadas para leite, frigorífico e dupla-aptidão, bastante distintas e que nada tem a ver em termos de história de seleção.

Esta multiplicidade de perfis zootécnicos se explica quando conhecemos a origem destes bovinos. Trata-se de uma raça das mais antigas que se tem notícia. Escavações arqueológicas realizadas nos pés dos Alpes mostram ossadas de bovinos semelhantes ao Pardo-Suíço Original de 4.000 aC. Eram animais de tripla-aptidão: carne, leite e tração.

No final do século XIX, esta genética Original vai levada para os EUA e selecionada para a produção leiteira, dando origem ao que intitulamos de linhagem Brown Swiss. Hoje em dia, comparados aos de outras raças especializadas, trata-se de animais bastante longevos, de pé e pernas fortes, grande porte, de grande capacidade par suportar estresse térmico e com alto teor de sólidos no seu leite, o que é grande apelo econômico na pecuária leiteira atual. No Brasil, a raça chegou no início do século XX.

Pardo-Suíço Leite

Entre as atividades rurais, a criação de gado de leite é, provavelmente, a que exige maior dedicação por parte do criador. Trabalho, talento, técnica e treinamento são pré-requisitos para um bom desempenho. A recompensa será, evidentemente, maior se todo esse empenho for dirigido a um rebanho de animais especializados, com características favoráveis à exploração leiteira nos trópicos. Para isso, é preciso que estes bovinos atendam a uma série de requisitos.

O superintendente técnico da Associação Brasileira de Criadores de Gado Pardo-Suíço - ABCGPS, Fernando da Rocha Kaiser, descreve a linhagem leiteira da raça, como um gado caracterizado por animais de grande porte, com pêlo de cor parda variando de muito claro até muito escuro, e pele pigmentada escura. O corpo é amplo, com flancos. Apresenta estrutura óssea sólida, com os melhores aprumos entre todas as raças leiteiras.

Maturidade sexual precoce, fertilidade e longevidade são as características reprodutivas que influenciam a eficiência econômica no rebanho. Dados oficiais da ABCGPS confirmam que as fêmeas da raça apresentam idade no primeiro parto em torno de 30 meses. O período de serviço, definido pelo tempo transcorrido entre o parto e uma cobertura com prenhez, varia de 90 a 100 dias. Mais de 99% dos partos têm curso normal.

O efeito combinado da seleção genética e da melhoria do manejo geral e nutricional vem resultando em médias de produção crescentes e cada vez mais altas. Para se ter uma idéia, em 1995, nas lactações controladas oficialmente, no Brasil, a média produtiva apontava para 19,4 kg/dia per capita. A mesma média, em 1997, foi para 20,4 kg/dia e, hoje, ela já passa dos 21 kg/dia. Esses dados produtivos, porém, sofrem variações em função do manejo e da alimentação do rebanho.

Nos mais de 1,2 mil criadores da raça, há quem utilize regimes de confinamento, semi-intensivo e até extensivo de produção, sempre com respostas favoráveis, guardadas as características de cada projeto pecuário. Kaiser destaca, no entanto, que as lactações das vacas Pardo-Suíço são caracterizadas por uma diferença menor entre o pico e a base de cada lactação, fator que é de extrema importância na hora de compor a quota diária entregue ao laticínio.

O leite é um alimento rico em proteínas, cujo teor pode ser maior ou menor, de acordo com a raça produtora. A vaca Pardo-Suíço produz um leite com alto teor de Kappa-caseína e uma relação de quantidade de proteína/gordura ideal para a produção de produtos lácteos, proporcionando maior rendimento de derivados. Vale lembrar que nos países mais desenvolvidos, a alta quantidade de sólidos do leite é um diferencial de preço bastante importante para o produtor. No Brasil, porém, apenas as bacias leiteiras importantes, esta característica começa a agregar valor ao produto.

A raça Pardo-Suíço é reconhecida em todo o mundo por sua capacidade de adaptação, principalmente nas regiões de clima quente. Esta condição é denominada “tolerância ao calor” e representa um atributo genético da raça. Kaiser explica que os animais pardos possuem um número muito alto de glóbulos vermelhos no sangue, pois são originários de regiões elevadas, onde o oxigênio é rarefeito. Além disso, nos Alpes, a radiação ultravioleta é muito intensa, como também acontece nas regiões tropicais e subtropicais.

A pele totalmente pigmentada do Pardo-Suíço evita doenças relacionadas com a fotossensibilidade. Esta característica de grande resistência ao calor e ao sol escaldante é fundamental para a pecuária que precisa do touro cobrindo a campo, muito praticada nas criações semi-extensivas ou até extensivas, em geral, principalmente nas regiões Centro-Oeste, Norte e Nordeste do Brasil. Em pesquisa realizada pela Universidade do Arizona/EUA, na década de 90, comparando o comportamento reprodutivo de raças leiteiras européias submetidas ao estresse calórico, a raça Pardo-Suíço manteve a taxa de prenhez mesmo sob temperatura de 40ºC.

A capacidade de adaptação do Pardo-Suíço ao clima tropical resulta em maior longevidade, permitindo ao criador obter um número maior de lactações lucrativas. Como há muito tem sido pregado pela maioria dos técnicos envolvidos com a atividade leiteira, o tempo de permanência de uma vaca no rebanho e sua produção vitalícia (total de meses de todas as lactações e média de produção diária) são fatores determinantes no sucesso da exploração leiteira, pois o custo de criação se dilui com os anos de usufruto do animal. Isto implica também em menor pressão na reposição das fêmeas, resultando em maiores excedentes para a comercialização e aumento do faturamento da fazenda.

Dados fornecidos pela associação de criadores da Suíça mostram que o percentual de vacas suíças com quatro ou mais lactações em um mesmo rebanho é de 37,1%, contra 22,2% das holandesas. Em 1996, na Suíça, constatou-se que mais de 20 mil vacas Pardo-Suíço registradas tinham mais de 10 anos de idade. Um outro feito importante é o desempenho da Recordista Mundial de todas as raças, em produção total de leite, que é Pardo-Suíço. Trata-se de Shelburne Dez SF, que em 13 lactações produziu 140.892 kg, a partir dos 25 meses até a idade de 15 anos.

Outro diferencial econômico para o Pardo-Suíço, no Brasil, é a sua utilização de sua genética nos cruzamentos com outras raças. Todo cruzamento sistemático exige raças puras muito bem definidas e, a Pardo-Suíço, é uma das mais antigas e puras que existem, de acordo com órgãos pecuários europeus, como a Interbulls. A sua coloração uniforme, com pele pigmentada, garante maior proteção contra a radiação ultravioleta, impedindo as doenças relacionadas com a exposição ao sol. A resistência ao calor permite que os touros acompanhem os rebanhos zebuínos. Chama a atenção a uniformidade das crias, já na primeira cruza (F1). No Brasil, o Pardo-Suíço é cruzado, basicamente, de quatro maneiras diferentes. Especialistas da raça ligados à ABCGPS estimam que existam, no País, cerca de 1 milhão de cabeças oriundas de cruzamentos com a raça.

Pardo-Suíço com Girolando (three cross): caracterizado por pelagem escura, uniforme e por produzir machos rústicos e fêmeas com maior persistência de lactação, adaptadas à máquina de ordenha. Dados oficiais registram a produção média de leite das vacas three cross de 5.065 kg em lactação de 305 dias; ou seja, 16,61 kg de leite por dia.

Pardo-Suíço com Indubrasil: os produtos deste cruzamento são conhecidos como animais Itapetingas, denominação proveniente de uma cidade do Sul da Bahia, região onde o cruzamento é popular. Estes animais impressionam pelo grande porte e pela boa produção leiteira.

Pardo-Suíço com Guzerá: crias denominadas Lavínias. É outro cruzamento muito realizado no Nordeste. Em média, as fêmeas adultas pesam entre 450 e 550 g.

Pardo-Suíço com Gir: este cruzamento resulta em animais com pelagem mais uniforme, maior estatura, boa produção de leite e em úberes com tetos de tamanho e formato mais desejáveis.

Pardo-Suíço Corte

Com o mesmo sucesso da linhagem Brown Swiss, graças à sua exuberante cobertura muscular e grande habilidade materna, a linhagem Original da raça - que não recebeu genética da seleção norte-americana - tornou-se especializada na produção de carne em várias potências da pecuária mundial, em especial no Canadá, México e EUA. No Brasil, a linhagem está sob a denominação de Pardo-Suíço Corte.

A conformação do Pardo-Suíço Corte, até pela finalidade de exploração ser distinta, é bem diferente do Pardo-Suíço Leite. A linhagem de corte é de porte médio e com grande musculatura proeminente (carcaça frigorífica), bem nos moldes exigidos pela pecuária de corte moderna. Contudo, sua pigmentação de pele e mucosas se apresenta com o mesmo padrão da linhagem leiteira, característica que a habilita na missão de trazer produtividade para os trópicos.

Sua pelagem tem a capacidade de crescer ou de se manter curta, de acordo com as necessidades impostas pelo clima onde se encontra o rebanho. Outro ponto a favor e comum à linhagem leiteira são as pernas fortes, os cascos pretos e os aprumos corretos. Sempre é bom lembrar que, originalmente, esses animais caminhavam em solo pedregoso, de topografia acidentada.

Também aqui, a precocidade sexual é o ponto forte na linhagem. Aos 12 meses, os tourinhos da raça estão com sua libido bastante desenvolvida. Com boa criação, nesta idade já podem servir a campo, nos cruzamentos industriais. Ao contrário de outras raças européias continentais, o touro Pardo-Suíço Corte trabalha no cerrado por várias estações de monta. Estes dados podem ser confirmados pela Associação Brasileira de Criadores da raça, que dispõe de dados obtidos em vários rebanhos do Sudeste e Centro-Oeste do País.

Além de caminhar bem atrás da fêmea zebu, sob sol escaldante, o macho Pardo-Suíço Corte é notável ao imprimir suas virtudes produtivas na F1. A forte heterose e imposição da raça manifestam-se principalmente na hora de apurar a quantidade de leite que as fêmeas passam a oferecer aos bezerros. Isto significa que em uma F2 será ainda mais pesada e sadia, itens indispensáveis na manifestação da precocidade e de outros potenciais genéticos da herança européia.

As novilhas Pardo-Suíço Corte alcançam puberdade aos 346 dias de vida, com taxa de prenhez de 91,6%. Mas, reforçando, além da grande fertilidade e taxa de partos sem assistência de 94,5%, a quantidade de leite das vacas é o grande diferencial. Números apurados pelo Clay Center - Departamento de Produção de Carne do Ministério da Agricultura dos EUA - informam que a produção média de leite das fêmeas estudadas alcançou 2.576 kg em lactação de 200 dias, ou seja, até a desmama (210 dias, em média).

O bom desempenho do Pardo-Suíço Corte é evidenciado em provas oficiais realizadas tanto no Brasil quanto no Exterior. Nos EUA, desde 1989, os machos Pardo-Suíços Corte recebem mais prêmios do que os de qualquer outra raça participante do influente concurso internacional “Max Fulsher”, nas categorias: rendimento de carcaça, olho de lombo, menor camada de gordura externa e marmoreio, maciez e sabor da carne. Lá, os garrotes atingem ponto de abate aos 13 meses com peso de 499kg.

No Brasil, a linhagem foi campeã das provas de ganho de peso do Instituto de Zootecnia de Sertãozinho/SP, nos anos em que participou do certame: em 1994, média de 427,6 kg e recorde individual de 535,8 kg; em 1995, média de 412,6 kg e grupo mais pesado com 460,1 kg; em 1996, média de 420,3 kg e novo recorde individual de 491,2 kg, onde estavam presentes 10 raças, em total de 1.367 animais; e em 1999, com o melhor ganho de peso diário (GPD de 1.123 g) e o melhor peso pós-desmama, padronizado aos 378 dias, na categoria Elite (506,4 kg).

Os estudos de 24 anos realizados pelo Clay Center ainda mostraram que o Pardo-Suíço Corte foi uma das raças que apresentaram um ótimo rendimento médio de carcaça, cerca de 61,2%; além de carne limpa, 67,3%; de percentual de carne de qualidade USDA Choice, 76%, com 0,46 cm de gordura. Já o peso final médio registrado para o abate ficou em 567 kg, com 16,5% de taxa de ossos. Em provas realizadas no Canadá, o Pardo-Suíço Corte apresentou o seguinte resultado: 314 kg aos 200 dias, 608 kg aos 12 meses, ganho de peso médio diário de 1.800 g, circunferência escrotal de 35 cm aos 12 meses, rendimento de carcaça de 63,4% e camada de gordura externa de 3,1 mm.

Os bons indicativos do Clay Center ainda são mais valorizados se observada a performance do Pardo-Suíço Corte quando cruzado com o Zebu. Como anteriormente citado, a raça possui muita força na geração de heterose. O touro imprime com bastante consistência suas características produtivas. Na obtenção da F1, se os garrotes são precoces e pesados, as fêmeas são excelentes reprodutoras, melhorando muito a habilidade materna, em relação às suas mães.

Em testes realizados no Mato Grosso do Sul, em parceria com a Embrapa/CNPGC - Centro Nacional de Pesquisas de Gado de Corte - em 1995, o Pardo-Suíço cruzado com zebu foi o melhor ganhador de peso, com 1.010 g/dia, em regime de pasto. Já na prova realizada pela mesma Embrapa/CNPGC, em 1997, em confinamento, os cruzados apresentaram um peso final médio de 518 kg - ganho de peso médio diário de 1.844 g - com carcaça pesando 286 kg, ou seja, 55,2%. A camada de gordura externa foi de 3mm. Alguns destes animais registraram ganho de peso médio diário acima de 2.000g.

No leite, Pardo-Suíço de Norte a Sul.

Na velha máxima que diz “os números não mentem”, a raça Pardo-Suíço pode ter ser perfil traçado pelo País. O diretor de gado de leite da Associação Brasileira de Criadores de Gado Pardo-Suíço - ABCGPS, José Bráulio de Oliveira Gomes, que é criador e médico veterinário, conhece os vários cenários de exploração da raça, não só como dirigente e técnico, mas também como jurado credenciado da entidade. “Para cada ambiente e realidade empresarial, há uma genética indicada e um caminho bem sucedido para ser trilhado”, afirma Gomes.

Segundo o especialista, o Pardo-Suíço, linhagem leiteira, é uma das poucas raças bovinas européias presente em quase todos os estados da federação. Ficam de fora Roraima, Acre e Amapá, pelo menos oficialmente. Entre machos e fêmeas, a ABCGPS computa 54.316 animais vivos, sendo 23.146 de sócios da entidade e 31.170 de não sócios – 36.426 indivíduos são fêmeas.

O estado com maior volume de reses é São Paulo com mais de 25% deste rebanho, seguido por Minas Gerais e Bahia. A região Nordeste, aliás, nos últimos anos se aproximou bastante do desempenho da região Sudeste. Atualmente, 30% dos criadores sócios da ABCGPS estão na região da seca, contra 33% no Sudeste.

Em 2003, ano de último balanço oficial da ABCGPS, nasceram 4.139 animais POs, 1.207 PCs e 1.143 mestiços, todos registrados. Destes, 1.300 são produtos de transferência de embriões, provenientes de 212 doadoras que produziram média de 6,13 estruturas viáveis (embriões) por coleta. No mesmo período foram comunicadas 11. 378 coberturas.

A Associação Brasileira de Inseminação Artificial – ASBIA, divulgou em seu relatório anual de 2003 que somente a linhagem leiteira do Pardo-Suíço comercializou 79.851 doses de sêmen, sendo 38.986 de material importado. Se somarmos este volume ao de outras opções genéticas da raça, totaliza 121.117 doses. O diretor de gado de leite da ABCGPS informa que quase a totalidade das melhores centrais de inseminação do País dispõe de boa bateria de touros em trabalho.

Gomes, aliás, aponta para uma estabilização do padrão de qualidade dos animais especializados no leite. “As doadoras de embriões da raça são animais classificados no mínimo “muito bom”, recebendo sêmen de touros provados nos Estados Unidos, onde a entidade similar à ABCGPS realiza um importante trabalho de estudo dos seus touros, com sumário extremamente detalhado”, explica.

Assim, as fêmeas Pardo-Suíço no leite chegaram a uma produção média no Brasil, individual, em torno de 7.125 kg, por lactação, em regime de duas ordenhas para 305 dias, para 1.348 vacas controladas. Dentro da apuração, há um número considerável de matrizes em regime de três ordenhas e produção em 365 dias. O teor médio de gordura é de 3,8% ou 274,1 kg.

Além de números é preciso destacar a estrutura que o gado Pardo-Suíço. A raça possui 14 entidades regionais de fomento formadas por criadores entusiasmados e dispostos ao trabalho. A informação pode ser checada visitando as dezenas de exposições que o gado participa em todo o País. Sendo assim, a raça ocupa as principais praças pecuárias, com destaque às mostras nordestinas, onde a raça figura entre as européias, independente do objetivo econômico, que mais cresce.

A Associação Brasileira de Criadores de Gado Pardo-Suíço é um capítulo à parte. Foi uma das primeiras a se informatizar e disponibilizar serviços pela rede mundial de computadores. Ao contrário de similares, sua administração segue firme, acertando o passo com as novas necessidades do mercado e expectativas de seus associados.

Conforme Gomes, “os criadores de Pardo-Suíço têm a seu favor o fato de que o gado é o maior divulgador do seu negócio, por isso, os investimentos de marketing são modestos. Mais cedo ou mais tarde, a produção de animais é vendida, inclusive machos, já que são aproveitados para a cobertura a campo em rebanhos leiteiros zebuínos ou mesmo para a engorda”.

Mas a ABCGPS vem trabalhando firme na questão fomento. Na atual gestão, comandada por José Carlos Leão Barretto de Araújo, a genética da raça deve ser democratizada. A filosofia muda a ótica de que o leite deve ser produzido partindo gado puro e recupera o potencial da base zebu do Brasil, também para expandir a produção leiteira. Aqui, a obtenção de heterose, a exemplo de outras experiências no mundo, é a grande diferença.

Sabendo mais sobre o Pardo-Suíço

O conhecimento da origem de uma espécie e as influências que afetaram sua jornada de seleção através dos séculos é a chave para entender suas características no presente e avaliar sua força como parceira na pecuária moderna.

Escavações realizadas no Lago Suíço, na borda dos Alpes, revelaram esqueletos de animais que viveram em 4.000 anos a.C. As características se assemelham as do Pardo-Suíço atual. Não tão distante, no século XII, relatos descrevem o rebanho do Monastério de Eisiedeln, no Cantão de Schwyz, como “animais muito grandes e de cor parda escura”.

Ao longo dos séculos, a influência da natureza determinou a morfologia e as qualidades básicas desses animais. Diferentes fatores, tais como a qualidade do solo, variações climáticas, topografia montanhosa e pastos entre 700 e 2.000 metros acima do nível do mar, forjaram o Pardo-Suíço robusto e auto-suficiente, verdadeiro produto de sua terra natal. Sua tolerância a grandes variações térmicas possui origem na aridez do verão e na neve do inverno alpino.

A partir do século XIX, os criadores de vários cantões reconheceram a importância da seleção e do acasalamento dirigido como forma de preservação das características da raça e de evolução do rebanho. A seleção de matrizes era baseada em “corpulência, harmonia de conformação e produção de leite”. Nenhum cruzamento com outra raça foi admitido, o que garantiu a pureza racial do Pardo-Suíço.

As primeiras participações da raça em exposições internacionais datam de Paris (França, 1856) e de Londres (Inglaterra, 1862). Segundo crônica da época, os animais oriundos do Cantão Schwyz “foram tocados a pé, até a estação de Basel. De lá foram transportados de trem até seu destino”. Sua presença no exterior causou inesperado sucesso e atraiu a atenção de produtores norte-americanos, que procuravam “uma vaca adaptável com notória produção”. No final do século XIX, os EUA importaram 25 touros e 140 vacas que acabaram formando a base do atual rebanho norte-americano.

Nos EUA, condições favoráveis de manejo e a implantação, já em 1890, de testes de produção, determinaram a seleção, visando prioritariamente a produção de leite. Como conseqüência, as características físicas da vaca mudaram. Ela ganhou mais estatura, uma estrutura óssea mais angulosa, pescoço mais fino e longo, úbere mais amplo com ligamentos mais fortes, tetas de tamanho e formato desejáveis para a ordenha mecânica, além de corpo com menor cobertura muscular, porém, sem comprometimento da sua constituição robusta. O uso da genética norte-americana, por meio da importação de animais e sêmen, teve e tem profundas influências nos rebanhos brasileiros de linhagem leiteira.

O trabalho com a raça no Brasil tem quase um século. As primeiras importações entraram pelo Rio Grande do Sul e Rio de Janeiro, trazendo um gado de dupla aptidão. Mas foi nos últimos 25 anos que a raça começou a repercutir no mercado brasileiro, principalmente com o “boom” da linhagem norte-americana, especializada na produção leiteira e depois, no final da década de 90, da linhagem frigorífica.


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