O
cálculo é resultado de um estudo feito pela
Agroconsult, consultoria especializada em pesquisas da atividade
do agronegócio, por encomenda da Associação
Nacional para Difusão de Adubos (ANDA). O problema
é grave e, ao contrário de que diz o governo,
não está equacionado, diz George Wagner
Bonifácio e Sousa, vice-presidente da ANDA e presidente
da Associação dos Misturadores de Adubos (AMA),
enfatizando que o nível de estrangulamento financeiro
do produtor pode comprometer a próxima safra. Tudo
se encaminha para uma catástrofe, completa.
De acordo com André Pessoa, diretor da Agroconsult
e autor do estudo, o endividamento está concentrado
especialmente na soja e afeta mais os produtores dos estados
de Mato Grosso, Goiás e Rio Grande do Sul.
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Em razão dessa dívida, a ANDA já reviu
sua estimativa para o próximo ano o consumo
de adubo, que na safra 2004/2005 foi de 20 milhões
de toneladas, deve recuar para 19,2 milhões na próxima.
Resumidamente, as principais causas que resultaram nesse
endividamento foram: defasagem cambial, ferrugem na soja e
os dois anos de sérios problemas climáticos
que afetaram, sobretudo o Rio Grande do Sul, analisa
Eduardo Daher, diretor executivo da ANDA.
O que deixa as lideranças dos segmentos de adubos,
sementes e defensivos ainda mais angustiadas é que
a esse endividamento com o setor privado, os produtores acumulam
ainda a dívida de custeio estimada pela Agroconsult
em cerca de R$ 6,7 bilhões , e cuja renegociação
está atualmente em análise pelos bancos oficiais.
Os bancos determinaram o prazo de 30 de setembro para dar
uma resposta se as dívidas serão ou não
renegociadas. A indústria de adubos está
numa situação muito crítica, pois essa
atividade não pode ficar na dependência de saber
se vai ou não ter como receber para começar
a entregar o produto que adubará a próxima safra.
Nossa atividade demanda uma logística muito bem planejada
para que o adubo chegue na lavoura no tempo certo, desabafa
George Wagner, da AMA.
O que as lideranças do segmento reivindicam é
uma maior agilidade do governo no equacionamento do problema.
Até agora, segundo George Wagner, essa agilidade não
tem ocorrido. Ele informa que dos R$ 4 bilhões que
o governo anunciou como aporte de recurso do FAT (Fundo de
Amparo ao Trabalhador) para o segmento no último pacote
agrícola, até a semana passada, apenas R$ 600
milhões haviam efetivamente sido liberados. Esse dado
foi apresentado, na semana passada, pela direção
da ANDA ao Ministro da Agricultura, Luis Carlos Guedes Pinto.
O que o setor necessita é menos discurso,
diz Pessoa.
Passada essa situação emergencial, o consultor
da Agroconsult salienta que três providências
são decisivas para equacionar de vez o problema de
financiamento do setor agrícola. As providências
são: equacionar de vez uma subvenção
de prêmio de um seguro agrícola; criar um fundo
de catástrofe efetivo e que tenha aporte de recursos
suficiente para o porte da agricultura brasileira coisa
de R$ 4 bilhões, segundo seus cálculos
e cuidar dos graves problemas de infra-estrutura (portos,
ferrovias, rodovias, etc) que ainda agravam ainda mais o setor.
Além disso, segundo Pessoa, é necessária
a criação de um modelo de financiamento para
o setor que passe por soluções como hedge e
uma desburocratização na liberação
de recursos que já existem. O que a cadeia do
agronegócio precisa é ser valorizada enquanto
principal sustentáculo do crescimento econômico
do País nos últimos anos, enfatiza George
Wagner. Nesse sentido, o primeiro ponto é o governo
reconhecer que o problema do endividamento existe, que é
grave e que necessita ser enfrentado de frente.
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