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CAPIM - SILAGEM GARANTE ALIMENTO QUANDO FALTA PASTO
rev 100 - junho 2006

Uma alternativa para o pecuarista atravessar essas fases críticas do ano, onde a falta de pasto é uma realidade inevitável, é armazenar alimentos na forma de silagem. As forrageiras tropicais, de modo geral, são bastante utilizadas como volumoso dentro das fazendas de criação, no entanto, nada impede que estas sejam também ensiladas e servidas aos animais durante o período seco.

A maior parte dessas espécies, entretanto, não possui duas características que são desejadas para a melhor conservação do material ensilado, que seriam: o maior teor (ou porcentagem ou nível) de matéria-seca e de carboidratos solúveis, diz Patrícia Menezes Santos, pesquisadora da área de forragicultura da Embrapa Pecuária Sudeste, de São Carlos (SP), mostrando que esses elementos são encontrados nas culturas do milho e sorgo, por conseqüência as mais usadas na produção de silagem atualmente.

O processo é bastante simples. Basta o produtor cortar o capim na época de excesso de chuvas e guarda-lo em silos. No entanto, o que se deve fazer é buscar espécies que ofereçam maior quantidade de matéria-seca e uma rebrota mais vigorosa, ressalta a pesquisadora que afirma que a maior parte das forrageiras tropicais, quando manejadas dentro de conceitos modernos de cultivos de passagem para uso intensivo, possuem uma elevada capacidade de produção de matéria-seca, durante o período chuvoso, muitas vezes superior à capacidade de consumo dos animais.

As forrageiras mais comuns e que podem ser utilizadas na produção de alimentos são: Braquiária, Braquiarão, na família dos panicuns Colonião, Tanzânia, Tobiatã, Mombaça, e Coast Cross, Estrela e Tifton, entre as gramíneas. Estudos realizados na fazenda experimental da Embrapa Pecuária Sudeste demonstraram que as pastagens tropicais têm uma grande capacidade de resposta às adubações nitrogenadas, muitas, mantendo produção de até 50 toneladas matéria-seca/ hectare/ ano.

Na hora de escolher a área que será intensificada é importante que o produtor leve em consideração o percentual de cobertura das plantas existentes. Senão ao invés de melhorar a pastagem ele estará adubando as plantas invasoras, tornando o problema bem mais difícil de solucionar. Nesses casos é indicado que se faça uma reforma total da pastagem. Esse manejo apesar de mais caro garante um retorno na produção de capim muito maior e duradouro.

O corte é outra etapa que não pode ser descuidada. O manejo deve ser feito sempre respeitando o número de dias recomendados para cada planta, evitando as perdas nutricionais decorrentes do corte tardio da forrageira. As forrageiras da família dos Panicum maximum, por exemplo, requerem período de descanso médio de 35 dias. As braquiárias de 30 dias e as gramíneas, em geral, de 25 dias.

A freqüência entre cortes precisa ser maior que a utilizada nos sistemas de pastejo convencional ou rotacionado. Esse cuidado se deve ao fato das ensiladeiras, usadas no corte do capim, realizarem um corte bem mais rente ao solo, provocando um stress maior à planta. Nos sistemas convencionais, cada piquete é utilizado por um período médio de 30 dias. Nas áreas usadas para produzir silagem é indicado que este descanso seja de no mínimo 50 dias.

A relação entre produção de matéria seca e valor nutricional deve sempre buscar um equilíbrio. Isso por que na medida que o capim cresce e passa do ponto considerado ideal para o seu corte ele começa a perder seu valor nutritivo. Essa balança é que precisa estar em total equilíbrio, destaca a pesquisadora, mostrando também, que outra etapa que interfere na produtividade das forrageiras está ligada ao momento do corte. A primeira coisa importante é altura do corte que deve variar entre 10 cm e 15 cm. “Esse é um ponto chave, pois, interfere diretamente na rebrota do capim”.

Outro item importante diz respeito à escolha do equipamento de corte. Algumas máquinas, mais antigas, usam um sistema de corte que faz o que os técnicos chamam de roçada do capim, ou seja, não conseguem fazer um corte reto na planta. Para saber melhor como funciona é só olhar de perto os brotos que ficam após a passagem da cortadeira. Nas ensiladeiras que usam sistema de corte por facas, o talo sofre um corte reto. Já no outro caso o broto fica todo esfiapado, tornando a rebrota menos vigorosa, explica Patrícia Santos, que chama atenção para casos extremos, onde pode ocorrer até a morte da forrageira.

Produzir silagem requer cuidados

Um passo seguinte no processo de produção da silagem é a armazenagem do alimento dentro dos silos. Essa é uma etapa onde é comum ocorrerem erros que podem colocar todo um trabalho a perder, alerta o pesquisador da área de conservação de forragens da Embrapa Pecuária Sudeste, André de Faria Pedroso, que compara o processo de produção da ensilagem de capim ao da fabricação de alimentos mantidos sobre conserva, onde a maior preocupação deve ser o de evitar que o material conservado entre em contato com o ar.

Segundo Pedroso, são poucos os cuidados que o produtor rural deve ter na hora de preparar a ensilagem do capim. Isso tudo, no entanto, vai depender do tipo de silo que será utilizado. Os modelos mais comuns são aqueles chamados de silos de superfície, silos trincheira e os silos “bag”, ou bolsa, enormes sacos de plásticos horizontais, que podem armazenar grandes quantidades de material ensilado.

Um cuidado importante nos dois primeiros casos é com o tipo de lona que será usada na cobertura do silo. O técnico indica que o produtor de preferência para o uso de lonas plásticas de dupla face, “aquelas que têm a parte de dentro preta e a parte externa na cor branca”, explica Pedroso, dizendo que é comum nas fazendas o uso das lonas pretas convencionais. “O problema é que esse material apresenta menor resistência à ação do tempo, podendo ressecar e romper-se com facilidade, devendo ser evitado”, completa o pesquisador.

O uso de alguns aditivos, também chamados de inoculantes de silagem, é recomendado para melhorar o padrão de fermentação do capim ensilado. Na prática, isso significa que, o uso de tais elementos, ajuda na elevação da matéria seca dentro do silo, equilibrando o nível de acidez dentro da mistura, o que, por sua vez, favorece o desenvolvimento das bactérias lácticas, benéfica ao organismo dos animais.

A polpa cítrica peletizada, o fubá de milho, ou mesmo, o farelo de trigo são alguns tipos de culturas usadas e que apresentam resultados satisfatórios, observa o pesquisador que condiciona a escolha do produto ao preço de cada um no momento do produtor ensilar o material. A proporção de 10% de aditivo, sobre o volume de material que está sendo colocado no silo, é considerada suficiente para que a mistura sofra uma elevação nos seus teores de matéria seca, para patamares próximos a 28%. Apesar de não estar dentro do considerado ideal pela pesquisa é melhor que colocar o capim no silo, sem nenhum tipo de aditivo, explica Pedroso.

Outros tipos de inoculantes, casos dos bacterianos e alguns agentes químicos (uréia) podem ser aplicados, durante o processo de ensilagem da cana-de-açúcar e do capim forrageiro. O uso seguro desses produtos, entretanto, depende de uma atenção redobrada do produtor na hora de comprá-los, alerta Pedroso, dizendo que a única forma de se defender da pirataria é procurar sempre trabalhar com produtos de origem conhecida, de empresas idôneas e que tenham sido aprovados por instituições de pesquisa. “Quando houver dúvidas é indicado que o produtor busque orientação técnica especializada”, conclui.

Na relação custo x beneficio, diferente do que muita gente pensa, a silagem de capim pode sair mais cara ao bolso do produtor se tudo não estiver dentro de um planejamento, com parâmetros de qualidade e eficiência muito bem definidos. Dentro da tradição das fazendas de criação pecuária no Brasil, a silagem de capim, até pouco tempo, não era uma pratica muito usual. Normalmente o capim é ensilado para o aproveitamento de áreas que não estão ocupadas por animais, ou em áreas específicas para silagem, com a finalidade de redução de custos anuais e de riscos.

A silagem feita com milho é superior quando comparada à silagem produzida coma maioria dos capins. No entanto, ela também oferece muitos riscos por ser tratar de uma cultura anual, exigindo que o pecuarista seja também um excelente agricultor de pastagens.

Cuidados com alimento estragado

O alimento se estiver corretamente vedado, pode permanecer por longos períodos estocado, sem perder nada na sua qualidade como alimento. A partir do momento que o silo é aberto, no entanto, todo o cuidado que o criador teve para garantir a preservação da silagem, passa a não mais existir, ou seja, a silagem entra em contato com o ar e começa a estragar. Para evitar que a silagem fornecida aos animais seja de baixa qualidade, deve-se retirar diariamente uma fatia de no mínimo 30cm, de espessura de toda a face exposta da silagem (frente do silo).

A ingestão de alimento estragado pelos animais é uma grande preocupação do especialista. Uma experiência real pode ser vivida na estação experimental, onde um buraco na lona que cobria um pequeno silo de cana-de-açúcar provocou o apodrecimento de quase um terço do material ensilado. Todo aquele material foi inutilizado, explica Pedroso, alertando para o perigo de ser oferecido aos animais por engano. Questionado sobre os males que um alimento naquelas condições poderia trazer à saúde dos animais o técnico foi enfático ao afirmar que alimento estragado pode causar morte por intoxicação alimentar.


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