O
processo é bastante simples. Basta o produtor cortar
o capim na época de excesso de chuvas e guarda-lo em
silos. No entanto, o que se deve fazer é buscar espécies
que ofereçam maior quantidade de matéria-seca
e uma rebrota mais vigorosa, ressalta a pesquisadora que afirma
que a maior parte das forrageiras tropicais, quando manejadas
dentro de conceitos modernos de cultivos de passagem para
uso intensivo, possuem uma elevada capacidade de produção
de matéria-seca, durante o período chuvoso,
muitas vezes superior à capacidade de consumo dos animais.
As forrageiras mais comuns e que podem ser utilizadas na produção
de alimentos são: Braquiária, Braquiarão,
na família dos panicuns Colonião, Tanzânia,
Tobiatã, Mombaça, e Coast Cross, Estrela e Tifton,
entre as gramíneas. Estudos realizados na fazenda experimental
da Embrapa Pecuária Sudeste demonstraram que as pastagens
tropicais têm uma grande capacidade de resposta às
adubações nitrogenadas, muitas, mantendo produção
de até 50 toneladas matéria-seca/ hectare/ ano.
Na hora de escolher a área que será intensificada
é importante que o produtor leve em consideração
o percentual de cobertura das plantas existentes. Senão
ao invés de melhorar a pastagem ele estará adubando
as plantas invasoras, tornando o problema bem mais difícil
de solucionar. Nesses casos é indicado que se faça
uma reforma total da pastagem. Esse manejo apesar de mais
caro garante um retorno na produção de capim
muito maior e duradouro.
O corte é outra etapa que não pode ser descuidada.
O manejo deve ser feito sempre respeitando o número
de dias recomendados para cada planta, evitando as perdas
nutricionais decorrentes do corte tardio da forrageira. As
forrageiras da família dos Panicum maximum, por exemplo,
requerem período de descanso médio de 35 dias.
As braquiárias de 30 dias e as gramíneas, em
geral, de 25 dias.
A freqüência entre cortes precisa ser maior que
a utilizada nos sistemas de pastejo convencional ou rotacionado.
Esse cuidado se deve ao fato das ensiladeiras, usadas no corte
do capim, realizarem um corte bem mais rente ao solo, provocando
um stress maior à planta. Nos sistemas convencionais,
cada piquete é utilizado por um período médio
de 30 dias. Nas áreas usadas para produzir silagem
é indicado que este descanso seja de no mínimo
50 dias.
A relação entre produção de matéria
seca e valor nutricional deve sempre buscar um equilíbrio.
Isso por que na medida que o capim cresce e passa do ponto
considerado ideal para o seu corte ele começa a perder
seu valor nutritivo. Essa balança é que precisa
estar em total equilíbrio, destaca a pesquisadora,
mostrando também, que outra etapa que interfere na
produtividade das forrageiras está ligada ao momento
do corte. A primeira coisa importante é altura do corte
que deve variar entre 10 cm e 15 cm. Esse é um
ponto chave, pois, interfere diretamente na rebrota do capim.
Outro item importante diz respeito à escolha do equipamento
de corte. Algumas máquinas, mais antigas, usam um sistema
de corte que faz o que os técnicos chamam de roçada
do capim, ou seja, não conseguem fazer um corte reto
na planta. Para saber melhor como funciona é só
olhar de perto os brotos que ficam após a passagem
da cortadeira. Nas ensiladeiras que usam sistema de corte
por facas, o talo sofre um corte reto. Já no outro
caso o broto fica todo esfiapado, tornando a rebrota menos
vigorosa, explica Patrícia Santos, que chama atenção
para casos extremos, onde pode ocorrer até a morte
da forrageira.
Produzir
silagem requer cuidados
Um
passo seguinte no processo de produção da silagem
é a armazenagem do alimento dentro dos silos. Essa
é uma etapa onde é comum ocorrerem erros que
podem colocar todo um trabalho a perder, alerta o pesquisador
da área de conservação de forragens da
Embrapa Pecuária Sudeste, André de Faria Pedroso,
que compara o processo de produção da ensilagem
de capim ao da fabricação de alimentos mantidos
sobre conserva, onde a maior preocupação deve
ser o de evitar que o material conservado entre em contato
com o ar.
Segundo Pedroso, são poucos os cuidados que o produtor
rural deve ter na hora de preparar a ensilagem do capim. Isso
tudo, no entanto, vai depender do tipo de silo que será
utilizado. Os modelos mais comuns são aqueles chamados
de silos de superfície, silos trincheira e os silos
bag, ou bolsa, enormes sacos de plásticos
horizontais, que podem armazenar grandes quantidades de material
ensilado.
Um cuidado importante nos dois primeiros casos é com
o tipo de lona que será usada na cobertura do silo.
O técnico indica que o produtor de preferência
para o uso de lonas plásticas de dupla face, aquelas
que têm a parte de dentro preta e a parte externa na
cor branca, explica Pedroso, dizendo que é comum
nas fazendas o uso das lonas pretas convencionais. O
problema é que esse material apresenta menor resistência
à ação do tempo, podendo ressecar e romper-se
com facilidade, devendo ser evitado, completa o pesquisador.
O uso de alguns aditivos, também chamados de inoculantes
de silagem, é recomendado para melhorar o padrão
de fermentação do capim ensilado. Na prática,
isso significa que, o uso de tais elementos, ajuda na elevação
da matéria seca dentro do silo, equilibrando o nível
de acidez dentro da mistura, o que, por sua vez, favorece
o desenvolvimento das bactérias lácticas, benéfica
ao organismo dos animais.
A polpa cítrica peletizada, o fubá de milho,
ou mesmo, o farelo de trigo são alguns tipos de culturas
usadas e que apresentam resultados satisfatórios, observa
o pesquisador que condiciona a escolha do produto ao preço
de cada um no momento do produtor ensilar o material. A proporção
de 10% de aditivo, sobre o volume de material que está
sendo colocado no silo, é considerada suficiente para
que a mistura sofra uma elevação nos seus teores
de matéria seca, para patamares próximos a 28%.
Apesar de não estar dentro do considerado ideal pela
pesquisa é melhor que colocar o capim no silo, sem
nenhum tipo de aditivo, explica Pedroso.
Outros tipos de inoculantes, casos dos bacterianos e alguns
agentes químicos (uréia) podem ser aplicados,
durante o processo de ensilagem da cana-de-açúcar
e do capim forrageiro. O uso seguro desses produtos, entretanto,
depende de uma atenção redobrada do produtor
na hora de comprá-los, alerta Pedroso, dizendo que
a única forma de se defender da pirataria é
procurar sempre trabalhar com produtos de origem conhecida,
de empresas idôneas e que tenham sido aprovados por
instituições de pesquisa. Quando houver
dúvidas é indicado que o produtor busque orientação
técnica especializada, conclui.
Na relação custo x beneficio, diferente do que
muita gente pensa, a silagem de capim pode sair mais cara
ao bolso do produtor se tudo não estiver dentro de
um planejamento, com parâmetros de qualidade e eficiência
muito bem definidos. Dentro da tradição das
fazendas de criação pecuária no Brasil,
a silagem de capim, até pouco tempo, não era
uma pratica muito usual. Normalmente o capim é ensilado
para o aproveitamento de áreas que não estão
ocupadas por animais, ou em áreas específicas
para silagem, com a finalidade de redução de
custos anuais e de riscos.
A silagem feita com milho é superior quando comparada
à silagem produzida coma maioria dos capins. No entanto,
ela também oferece muitos riscos por ser tratar de
uma cultura anual, exigindo que o pecuarista seja também
um excelente agricultor de pastagens.
Cuidados
com alimento estragado
O
alimento se estiver corretamente vedado, pode permanecer por
longos períodos estocado, sem perder nada na sua qualidade
como alimento. A partir do momento que o silo é aberto,
no entanto, todo o cuidado que o criador teve para garantir
a preservação da silagem, passa a não
mais existir, ou seja, a silagem entra em contato com o ar
e começa a estragar. Para evitar que a silagem fornecida
aos animais seja de baixa qualidade, deve-se retirar diariamente
uma fatia de no mínimo 30cm, de espessura de toda a
face exposta da silagem (frente do silo).
A ingestão de alimento estragado pelos animais é
uma grande preocupação do especialista. Uma
experiência real pode ser vivida na estação
experimental, onde um buraco na lona que cobria um pequeno
silo de cana-de-açúcar provocou o apodrecimento
de quase um terço do material ensilado. Todo aquele
material foi inutilizado, explica Pedroso, alertando para
o perigo de ser oferecido aos animais por engano. Questionado
sobre os males que um alimento naquelas condições
poderia trazer à saúde dos animais o técnico
foi enfático ao afirmar que alimento estragado pode
causar morte por intoxicação alimentar.
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