Erradicação
do Trabalho Infantil) e estão dentro de um perfil de
agricultura familiar não tecnificada, esclarece Ivamberg
Silva, coordenador do Projeto Cabra Escola, falando sobre
os critérios de escolha que priorizam as camadas mais
carentes que comumente são aqueles que têm dificuldades
para adquirir crédito rural junto ás instituições
financeiras.
É importante também que essas famílias
já estejam cadastradas em outros projetos sociais que
atendam a região, no caso do PETI. Pois, é muito
comum o uso da mão-de-obra infantil para complementar
a renda doméstica, afirma. Um estudo feito pela
Universidade Estadual da Bahia (UNEB), com famílias
que completaram dois anos dentro do Cabra Escola, mostrou
um aumento médio na renda de 45%, fato este motivado
pela retomada da produção dentro das pequenas
propriedades rurais que deixam de ser consideradas improdutivas
para se tornarem minifúndios, garantidores de renda
e melhor qualidade de vida às famílias, exclama
Wilson Vasconcelos Dias, coordenador do Programa de Fortalecimento
da Agricultura Familiar do semi-árido baiano.
Vasconcelos fala sobre o conceito do projeto que é
identificar as propriedades de acordo com seu perfil socioeconômico
para depois fazer um diagnóstico das condições
de vida que envolve o ambiente familiar. A partir daí
os técnicos do MOC começam a traçar um
projeto que tem como finalidade reestruturar a parte de infra-estrutura
das propriedades para torná-las mais eficientes nas
condições de clima e solo do semi-árido.
O coordenador disse que um dos principais obstáculos
a transpor é a pouca quantidade de terras e a falta
de recursos para investir em produção, característicos
da região.
Para Luiz Lisboa de Oliveira, técnico extensionista
do MOC, nesses casos, se não dá para ampliar
o volume de terra é preciso potencializar os sistemas
de produção ao máximo. Essa posição
também é defendida pelo coordenador do programa
de agricultura familiar que admite ser muito difícil
para esses produtores ampliar sua renda acima do teto de dois
salários mínimos (R$ 700,00). No entanto, numa
coisa os técnicos são unânimes em admitir
que, só o fato dessas famílias deixarem uma
condição de miséria quase absoluta para
uma situação de renda e alimentação
mais adequadas dentro de suas casas, já os credencia
para que, numa segunda etapa, eles possam se enquadrar em
modelos agrícolas mais sustentáveis. E
isso o Cabra escola tem conseguido, com o apoio da fundação
Pfizer e demais parceiros do projeto, Conclui Ivamberg.
Acabar
com o trabalho infantil é prioridade
Erradicar
o trabalho infantil dentro das comunidades é outra
bandeira defendida pelo projeto e encampada pelas equipes
que trabalham no campo. Nesse quesito o coordenador geral
do projeto é enfático ao dizer que a principal
exigência feita às famílias para se ter
acesso às linhas de financiamento do Cabra Escola é
que todas as crianças, com idade entre sete e quatorze
anos, sem exceção, sejam matriculadas na rede
pública de ensino fundamental.
Numa região onde os índices de analfabetismo,
até pouco tempo, se enquadravam entre os mais altos
do país, a participação de crianças,
jovens e até adultos nas salas de aula, vem crescendo
ano após ano. Tudo isso é graças às
políticas de incentivo, que transfere renda às
famílias, em troca da permanência de suas crianças
dentro das salas de aula, exclama Marta Pereira Bispo Pinto,
diretora do colégio de primeiro grau João Francisco
Pereira, do município de Barrocas, interior da Bahia.
Ela conta que antes de chegada dos programas sociais, à
região era comum ver os jovens maiores de 15 anos,
sem nenhum tipo de ocupação. Hoje, felizmente
isso acabou.
O colégio cuida atualmente de 20 crianças, todas
filhos de produtores rurais, muitos deles cadastrados no Projeto
Cabra Escola. Segundo Elaine Silva Mota monitora do PETI,
um dado positivo é que não existe evasão
de crianças das salas de aula. Isso porque essa é
uma condicionante do programa e as famílias entendem
muito bem e valorizam esse tipo de ação. As
crianças recebem ainda, acompanhamento pedagógico,
material escolar e alimentação diária.
Tudo isso como mais um complemento das ações
do programa que serve também de suporte para outra
luta na região que é acabar com a desnutrição
infantil.
A ação continua de projetos sociais na linha
do Cabra Escola, vêm ajudando a diminuir as mortes por
desnutrição crônica infantil no semi-árido
brasileiro. Esse número caiu significativamente na
última década, mas o índice ainda é
quase três vezes o aceitável pelas organizações
internacionais de saúde, segundo dados auferidos por
pesquisa da Universidade de São Paulo, USP. A pesquisa
envolveu 17 mil crianças com até 5 anos encontrou
um índice de desnutrição de 6,6%. No
ano de 1996, uma pesquisa domiciliar, em todo o Nordeste,
mostrava um índice de 17,9% de desnutrição
crônica.
Famílias
se mostram engajadas
No
sítio da produtora Luiza Santos Cardoso, que fica nas
proximidades do município de Barrocas, BA, o Cabra
Escola já é uma realidade, desde 2004. A família
que, há dez anos, mora na mesma propriedade, vive apenas
do salário do marido, da lavoura de milho que mantém
atrás da casa e do leite tirado do pequeno plantel
de cabras e ovelhas. Dona Luiza conta que uma parte dos animais
foi comprada usando o financiamento do Cabra Escola. Outra
parte ela comprou com dinheiro do PETI, que oferece uma bolsa
de R$ 25,00 às famílias carentes para que as
crianças sejam mantidas na escola. Luiza fala orgulhosa
do Cabra Escola, projeto que para ela trouxe renda extra e
alimento farto na mesa para alimentar os cinco filhos.
A criadora lembra dos tempos difíceis quando as comunidades
não tinha a ajuda dos movimentos sociais e, todo o
leite usado na alimentação dos filhos, vinha
de duas ovelhas que na melhor das hipóteses, dava cinco
litros de leite por dia. O jeito era se virar com outros tipos
de alimentos menos nutritivos mais disponíveis com
maior fartura. Hoje, a criadora tira uma média de 30
litros de leite de cabra por dia, volume que produz até
um excedente que é vendido aos visinhos. Ao todo o
rebanho soma 12 cabras e 1 bode, cuidados com o maior carinho.
Durante o dia os animais ficam soltos no pasto e durante a
noite são recolhidos para um cercado, onde recebem
um volumoso de palma picada ou bagaço de milho. Essa
é também a alimentação dos períodos
de estiagem quando as pastagens desaparecem e só sobrevivem
as espécies mais resistentes, observa Luiz Lisboa do
MOC. O abastecimento de água é mantido por uma
cisterna, construída também com o auxílio
de movimentos sociais.
Maria das Graças, de 14 anos, uma das filhas da dona
Luiza, cursa a sétima série do ensino fundamental.
Sempre depois da aula ela ajuda nos afazeres domésticos
e a cuidar rebanho de caprinos da família. Áurea
Cardoso Pereira de 13 anos cursa a sexta série no mesmo
colégio e também a família na lida diária
do rebanho, adquirido dentro do projeto.
Todos os dias dezenas de crianças e jovens que moram
em áreas mais distantes, pegam o ônibus escolar
para estudar na cidade. Para o coordenador geral do projeto,
o acesso a educação resgatou a esperança
nessas comunidades de uma vida melhor, sem precisam arriscar
a sorte nas grandes cidades, destaca.
Entenda
melhor o projeto
A
equipe de técnicos do Movimento de Organização
Comunitária MOC é responsável por todo
trabalho de extensão rural junto às famílias
participantes do Cabra Escola. A fase inicial consiste na
seleção e capacitação técnica
das famílias, seguida de uma primeira parcela, em dinheiro,
destinada à estruturação da propriedade.
Esse montante que equivale a 40% do valor total dos recursos
gira entre R$ 800,00 e R$ 1.200,00, usado na compra de arames,
sementes, vermífugo, cisternas e uma infinidade de
outros insumos necessários para iniciar uma criação,
explica Luiz Lisboa de Oliveira, extensionista do MOC, para
quem essa etapa funciona como uma espécie de vestibular
que credencia as famílias a receberem o financiamento.
Os recursos levantados pelo MOC através de seus parceiros,
entre eles a Fundação Pfizer, seguem para um
Conselho Gestor de Fundo Rotativo (CONGEFUR) que disponibiliza
esses recursos às onze cooperativas de crédito
que atuam na região. O dinheiro vem na forma de crédito
rural, com juro anual de 3% e prazo para pagamento de oito
anos. Como no semi-árido a ovinocultura de corte e
a caprinocultura são atividades de grande importância
comercial. Ambas se tornaram foco do projeto, explica o coordenador
geral, dizendo que cada família inscrita tem direito
de comprar um lote de três cabras e um reprodutor (bode)
para incluir no plantel.
Um dos fatores condicionantes da rentabilidade no sertão
é o baixo padrão genético dos rebanhos.
Só para se ter uma idéia da situação,
a perda anual de animais jovens nos rebanhos da região
Nordeste é 30%, por baixa resistência genética.
Um dado interessante do projeto mostra que nas comunidades
onde já é feito o trabalho de melhoramento genético,
a mortalidade caiu de 30% para 5% e o rendimento de carcaça
cresceu em mais de 50%. Sendo assim a idéia do
programa também é incorporar animais de genética
superior nos rebanhos, elevando os atuais níveis de
produção de carne, leite e derivados,
pontua Ivamberg Silva.
Feira
de Caprinos do Cabra Escola é sucesso de público
A
segunda fase do projeto acontece na Feira de Ovinos e Caprinos
do Projeto Cabra Escola. As famílias que passam pela
primeira fase de estruturação da propriedade
e têm seu projeto aprovado, conquistam o direito de
adquirir o financiamento junto às cooperativas de crédito
para a compra de animais. O evento que já está
na sua quarta edição reuniu na cidade de Serrinha,
distante 80 quilômetros de Feira de Santana (BA), centenas
de produtores rurais do estado para compra e venda animais.
A raça de Ovinos Santa Inês está entre
as mais procuradas na região. Já na caprinocultura,
as raças Anglo-Nubiana, Saney, Alpina e Canindé,
também são bastante procuradas. O volume de
vendas superior a 800 animais é outros dado que chama
a atenção. Até hoje, o Cabra Escola através
de suas linhas de financiamento já disponibilizou mais
de R$ 650 mil aos produtores para compra de animais. Parte
desses recursos já começa a retornar aos cofres
do programa na forma de pagamento de débitos, destaca
Wilson Dias, que destaca ação dos técnicos
também no acompanhamento da parte gerencial do negócio.
Segundo Dias, muitas propriedades já estão conseguindo
gerar receita suficiente através dos sub-produtos da
caprinocultura para retorno do capital emprestado, mostrando
que uma preocupação da organização
desde o começo sempre foi no sentido de não
deixar que essa ajuda financeira se tornasse puro assistencialismo.
As famílias são trabalhadas para tornarem-se
auto-suficientes no menor tempo possível, conclui
o coordenador.
Este ano, a organização do projeto resolveu
usar como medida de incentivo à aquisição
de animais o frete grátis para produtores que vieram
de regiões muito distantes ao local da feira. Segundo
os organizadores uma velha reclamação dos produtores
para não comprar nas feiras de animais é o custo
elevado do transporte. Como ainda existe uma dificuldade de
entendimento por parte desse produtor, sobre as vantagens
comparativas de comprar animais melhoradores, o projeto resolveu
subsidiar o frete para que isso não serva mais de desculpam,
explica Wilson Dias.
A produtora Josefa de Jesus, que veio do município
de Kijimgue, BA, participa da feira pela primeira e logo de
cara leva para casa quatro cabras e um tourinho. Josefa conta
que tem duas filhas em idade escolar e que foi contemplada
pelo Cabra Escola em 2003. Na época recebeu R$ 1.200,00
que usou na compra de quatro animais, três cabras e
um bode. O mesmo aconteceu com o produtor José Macedo,
que é líder na comunidade Kijimgue e representou
um grupo de 30 produtores. Macedo fala da importância
do Cabra Escola para o desenvolvimento da caprinocultura no
semi-árido. O produtor trabalha com um plantel de 100
cabeças de caprinos e os planos são de ampliar
o negócio em breve.
Organização
comunitária traz resultados
A
realização do ciclo da Agricultura Familiar,
ocorrido entre os dias 03 a 05 de maio, 2006, no município
de Serrinha, BA, teve, além da feira de animais, uma
série de outras atividades que visam o fortalecimento
da agricultura familiar e economia solidária da região
do Sisal. O evento promoveu inúmeros debates, além
do II Congresso de Trabalhadores Rurais e Agricultores Familiares
(FATRES). Na ocasião comunidades representando mais
de 20 municípios, trouxeram artesanatos e produtos
a partir de matérias primas extraídas na região.
Foram mais de 60 comunidades que estiveram presentes ao evento,
levando artesanatos, utensílios, alimentos e uma infinidade
de outros produtos e serviços. A Associação
Comunitária dos Amigos do Centro São João
de Deus, do povoados de Nova Esperança, de Ichú,
BA, trouxe um estande repleto de produtos feitos a partir
de matérias-primas compradas dos agricultores da região.
Maria Dalva de Oliveira Carneiro, atual presidente da entidade
fala do trabalho que é feito junto às comunidades
pobres, nos municípios de Conceição do
Coité, Serrinha, Barrocas e Ichú, atendendo
150 famílias que moram na região sisaleira da
Bahia.
Além do sabonete feito a base de leite de cabra produto
que é considerado carro chefe ns vendas o leite de
cabra também é usado na fabricação
biscoitos, muito apreciados na região, conta Kátia
Marciana Carneiro de Almeida, agente de desenvolvimento solidário
responsável por coordenar grupos de produção
na região de Ichú. A comunidade levou também
produtos de confecção feitos a partir de palha
de sisal e fio de algodão, duas culturas comuns na
região. Dalva explica que todo o processo é
feito dentro da própria comunidade, usando mão-de-obra
dos moradores. Para a associação fornece gratuitamente
cursos de capacitação técnica para 40
jovens que aprendem a trabalhar na tecelagem, produzindo tapetes,
redes de dormir, tecidos, bolsas e uma infinidade de outros
produtos. Para a presidente da comunidade as feiras são
uma oportunidade única para as comunidades levarem
seus produtos ao conhecimento do público urbano. Isso
faz toda a diferença para realizar bons negócios,
ela diz.
A produtora Maria Zélia Santana de Jesus, também
da comunidade de Nova Esperança levou artesanatos feitos
usando material reciclado, aprendizado que, segundo ela, foi
obtido nas muitas oficinas oferecidas às famílias
pobres da região. Elediva de Oliveira Gonçalves
funcionária da Associação de Pequenos
Agricultores, da região de Valente, BA, trouxe, doce
de leite, iogurte, queijos, tudo feito a partir do leite de
cabra comprado das famílias de pequenos produtores
da sua região. A procura é crescente, ela diz,
inclusive, nos grades centros de comércio da região.
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