Desde
1993, quando foram adquiridos os primeiros animais, Maria
Lúcia e Dario de Abreu Pereira, acreditaram numa virada
e na ascensão das raças adaptadas no cenário
pecuário brasileiro. De acordo com o proprietário
da fazenda Mariópolis, se a raça não
oferecer adaptabilidade ás condições
tropicais, se não ganhar peso rapidamente e se não
gerar, pelo menos uma cria por ano, dificilmente vai conseguir
trazer algum resultado satisfatório. O Brasil é
um país continental e os produtores tem de analisar
as dezenas de opções de raças disponíveis
no mercado. O choque de sangue, ou heterose, é maravilhoso,
pois une no produto resultante, as características
mais importantes das duas raças. No entanto, é
preciso ter cuidado, e buscar saber perfeitamente o que se
deseja, evitando assim surpresas indesejáveis, conclui.
A
partir de 1997, a preocupação do criatório
em profissionalizar suas atividades intensificou-se. Foi,
preciso, então, buscar o apoio de uma equipe de técnicos
e consultores especializados para um melhor planejamento das
funções. Vieram fazer parte da família
Mariópolis o núcleo de zootecnia de Ribeirão
Preto (SP), o consultor sul africano, Dani Bosman e, o professor
Cláudio Haddad da (Esalq/ USP/ Piracicaba, SP), que
passaram a assessorar o projeto. A partir daí, a realização
de testes periódicos de performance no animais, tornou-se
uma constante no dia-a-dia da Fazenda Mariópolis. A
pecuarista fala sobre a importância de se manter um
sistema de gerenciamento das ações na propriedade,
voltando á maximizar resultados, porém, diz
que é fundamental investir em capacitação
profissional dentro da fazenda. Todos os técnicos envolvidos
no projeto Mariópolis, realizam dinâmicas com
os 17 funcionários da fazenda, no sentido de torná-los
capazes de executar tarefas técnicas no manejo com
animais enfatiza.
Gabriel
Santos da Silva, administrador da fazenda, conta os primeiros
resultados começaram a surgir em meados de 1999, com
o lançamento do primeiro sumário de touros provados
da raça Caracú. De lá para cá,
todos os anos, cerca 120 animais, passaram pelo teste de performance
realizado na propriedade. Silva explica que são colocados
cerca de 25 tourinhos, todos da mesma categoria, em piquetes
de 1 a 3 hectares, com um cocho coletivo no meio. Os animais
são alimentados da forma mais rústica possível,
pois desta forma diz ele, é possível avaliar
o desempenho dos animais, sem o uso de aditivos alimentares
Com uma ração balanceada a base de cana-de-açúcar,
farelo de soja e refinazil (Glúten de Milho). Em média
são produzidos anualmente cerca de 400 toneladas de
silagem que ficam armazenados em silos do tipo trincheira.
A maior parte do Volumoso é composto por capineiras
da espécie elefante e paraíso, ambos nativos
da região. O rebanho que não participa dos testes,
é mantido em pastagem de Tanzânia e Braquiária
brizanta, observa.
No
teste de performance, os animais ficam confinados por um período
de 120 dias, com início próximo aos 13 meses
e meio de vida. O consultor Dani Bosmam, especialista mundial
em raças adaptadas, é o responsável pela
avaliação funcional dos machos, como resistência
ao calor e ação de carrapatos. Além da
adaptabilidade dos touros. São realizadas medições
de perímetro escrotal, musculosidade, desempenho em
reprodução, aprumos, cascos, estrutura, comprimento,
altura, espessura do couro. A cada 30 dias são realizados
novas medições, totalizando 4 ao longo do confinamento.
Essas medições somam notas de 1 a 9, sendo que
os animais acima de 7 na avaliação, são
considerados TOP.
Os tourinhos classificados, passam por uma segunda avaliação,
desta vez, realizada, individualmente, e acompanhadas por
Dani Bosmam diz que, a maioria dos pecuaristas, criam gado,
mais não conhecem o suficiente sobre o animal. E isso,
não ocorre só no Brasil, na África do
Sul também existe muita desinformação.
É preciso, avaliar cada animal, individualmente, em
sua performance, para assim, passar a conhecer melhor o seu
rebanho, desta forma será possível ir até
o rebanho do vizinho, extrair de lá, o melhor para
incorporar ao seu plantel, conclui.
A média de ganho de peso dos machos que participam
do teste é de 1,4 Kg. dia, Já com as fêmeas,
o técnico explica que essa relação do
ganho de peso, deve ser mais moderada, variando entre 600
e 700 gramas/dia. Isso ocorre, porque, o acumulo de gordura
no órgão reprodutor das novilhas pode prejudicá-las,
no início da fase de reprodução explica.
O acompanhamento no que se refere a mineralização
dos animais, é feito através do programa Boi
Verde da Tortuga Cia Zootécnica Agrária. Oswaldo
de Souza Garcia, diretor de pesquisa e desenvolvimento de
produtos da empresa, fala sobre a necessidade de se oferecer
uma dieta aos animais que contenha energia, proteínas,
minerais, vitaminas e água em quantidade suficiente,
pois, somente assim será possível, extrair do
animal, o melhor de seu potencial genético. Garcia
fala ainda sobre, a questão do manejo da sanidade,
como dois fatores importantes para reduzir perdas de produção
no rebanho. O estresse dos bovinos é, atualmente, um
agente causador de perdas dentro da atividade pecuária,
e isso, se resolve com medidas simples como, planejamento
e treinamento de mão de obra na propriedade, conclui.
O Núcleo de Zootecnia responsável pelo programa
de melhoramento genético, trabalha o rebanho no sistema
de monta natural, mais também utiliza modernas práticas
como inseminação artificial, transferência
de embriões e fertilização in vitro (FIV).
As novilhas de 14 meses, pesando entre 300 e 350 quilos, já
participam da estação de monta natural que deve
começar em novembro próximo e se estender até
janeiro de 2004. Os tourinhos jovens ficam em piquetes com
15 novilhas em média, atingindo um índice de
prenhez de aproximadamente 68%. Já os touros adultos,
recebem em média 40 fêmeas vacas acima de 24
meses, e os índices prenhez das fêmeas, registrados
na última estação de monta ultrapassou
os 96%. Resultado que segundo Alexandro de Caprio, diretor
do Núcleo de Zootecnia é muito difícil
de ser superado.
Caprio fala sobre a importância de se criar um programa
de melhoramento genético realizado através de
um sistema coerente com a produção da fazenda.
O criador que realiza a DEP nos animais, utiliza esses resultados
na gestão de sua fazenda. Essa é a diferença
de quem faz melhoramento por filosofia ou apenas quer pagar
uma onda de mercado. O técnico observa, ainda que a
safra de animais deste ano da Mariópolis, apresenta
resultados acima dos registrados nos últimos anos.
A musculosidade dos animais tem melhoramento a cada nova geração.
Hoje os testes são finalizamos com os animais pesando
em média 390 Kg., e isso, é simplesmente, utilizar
genética adequada ao sistema de produção
da fazenda.
O plantel de Caracú da fazenda possui atualmente cerca
de 900 cabeças. todos identificados e rastreados eletronicamente
pela Allflex do Brasil empresa parceira do projeto Mariópolis.
O sistema de rastreabilidade por brinco eletrônico utilizando
desde 2001, vem de acordo com o administrador da fazenda.
trazendo inúmeros benefícios. E isso por oferecer
segurança e agilidade na coleta de dados do rebanho.
Para Vincent L´Henaff responsável técnico
da empresa, o sistema de rastreamento via GPS, é bastante
eficaz, pois, possibilita aos técnicos, realizar o
trabalho de acompanhamento do rebanho em menos tempo, e com
uma margem de segurança superior ao método convencional.
O fruto do trabalho realizado por Maria Lúcia, em frente
dos negócios da fazenda, fica evidenciado através
da expansão comercial que seu gado conquistou em nível
de pecuária nacional. Hoje os animal da Mariópolis
são vendidos para criatórios da Bahia, romaria,
Mato Grosso do Sul, Goiás, além de todo o estado
de São Paulo. Os Bons resultados com o Caracú
estimularam a fazenda a iniciar dois novos projetos. Um teve
início em 2002, com a aquisição de um
lote de animais da raça Bosnmara. Oriundos da África
do Sul, esses animais apresentam uma adaptabilidade muito
boa ás condições brasileiras, diz a criadora.
Um segundo trabalho, também, bastante recente, vem
sendo desenvolvido com a raça Senepol do Caríbe.
Maria Lúcia fala que o projeto foi iniciado este ano
e, ainda, não possui resultados. A mesma filosofia
que sempre norteou o trabalho da Mariópolis com a raça
Caracú, estará presente no trabalho realizado
com as novas raças.
Apresentação
de Resultados
Os
resultados do trabalho de seleção da fazenda
Mariópolis puderam ser apreciados nos dias 25 e 26
de outubro, na sede da fazenda em Itapira (SP). O dia de Campo
denominado, 1º encontro Mariópolis de Adaptados,
antecedeu a realização da terceira edição
do leilão Mariópolis. O evento reuniu, segundo
os organizadores, mais de 450 pessoas, na sua grande maioria
pecuaristas, além de representantes da empresas parceiras
e pesquisadores dos principais órgãos e institutos
de pesquisa agropecuária do país órgãos
e institutos de pesquisa agropecuária do país
e do exterior. Foram dois dias de intensa programação,
onde, temas ligados á cadeia produtiva da carne foram
debatidos a exaustão. Ao longo do primeiro dia foram
programados seminários e mesas redondas. Na pauta do
encontro, estavam os principais assuntos ligados á
atividade, fundamentais para garantir o sucesso nos projetos
pecuários como, suplementação mineral,
escolha de pastagens, avaliações genéticas,
bem-estar animal, gestão de propriedade, estrutura
e qualidade da carne. De acordo com a proprietária
da Fazenda Mariópolis, apesar da maior parte do temas
discutidos no encontro, fazerem parte do cotidiano das propriedades
brasileiras. É muito comum, encontra pecuaristas com
problemas sérios no rebanho, ocasionados pela falta
de conhecimento da atividade. O objetivo do encontro é
trazer aos pecuaristas informações técnicas
para auxiliá-los no dia a dia. Dessa forma é
possível alavancar os ganhos da propriedade, sem que
isso signifique elevação de custo ao criador.
No sábado dia 25, os visitantes, puderam participar
de dinâmicas de campo, oferecidas pelas empresas que
são parceiras do projeto. A Gerdau, divisão
de Produtos Agropecuários, realizou através
de sua equipe de técnicos e representantes de vendas,
dinâmicas ensinando como produzir uma cerca de qualidade,
com pouco gasto pelo produtor. Celso Silva, técnico
especializado em cerca realizou uma simulação,
onde situações reais e corriqueiras na fazenda
eram apresentadas. Silva fala sobre a precariedade das fazendas
brasileiras, no que se refere a cercas de má qualidade.
O técnico diz que, hoje, cerca de 70% das propriedades
brasileiras, possuem um sistema de cerca regular, e a utilização
dessas técnicas, além de oferecer maior segurança,
possui um custo reduzido.
O circuito realizado na fazenda, apresentou ainda, o sistema
de rastreamento via coleta eletrônica de dados dos animais.
Vicent L`Henaff da Allflex do Brasil sistema de identificação
Animal, diz que as vantagens são muitas de se utilizar
um sistema de identificação por chip eletrônico.
O brinco eletrônico dura a vida inteira do animal, pois,
não é necessário realizar troca de bateria,
explica o técnico. Henaff fala sobre a abrangência
das ondas de rádio possuem uma freqüência
de 20 a 30 cm. Isso impede que ocorra problemas de cruzamento
de informação entre animais próximos.
O sistema de brinco por código de barra, ainda é
muito usado nas propriedades, porém, sua utilização
em sistemas de pastejo extensivos, não é muito
recomendado, sendo mais útil em sistemas de confinamento,
conclui.
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