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NÚMEROS COMANDAM A SELEÇÃO
rev 71 - novembro 2003

Desde 1993, quando foram adquiridos os primeiros animais, Maria Lúcia e Dario de Abreu Pereira, acreditaram numa virada e na ascensão das raças adaptadas no cenário pecuário brasileiro. De acordo com o proprietário da fazenda Mariópolis, se a raça não oferecer adaptabilidade ás condições tropicais, se não ganhar peso rapidamente e se não gerar, pelo menos uma cria por ano, dificilmente vai conseguir trazer algum resultado satisfatório. O Brasil é um país continental e os produtores tem de analisar as dezenas de opções de raças disponíveis no mercado. O choque de sangue, ou heterose, é maravilhoso, pois une no produto resultante, as características mais importantes das duas raças. No entanto, é preciso ter cuidado, e buscar saber perfeitamente o que se deseja, evitando assim surpresas indesejáveis, conclui.

A partir de 1997, a preocupação do criatório em profissionalizar suas atividades intensificou-se. Foi, preciso, então, buscar o apoio de uma equipe de técnicos e consultores especializados para um melhor planejamento das funções. Vieram fazer parte da família Mariópolis o núcleo de zootecnia de Ribeirão Preto (SP), o consultor sul africano, Dani Bosman e, o professor Cláudio Haddad da (Esalq/ USP/ Piracicaba, SP), que passaram a assessorar o projeto. A partir daí, a realização de testes periódicos de performance no animais, tornou-se uma constante no dia-a-dia da Fazenda Mariópolis. A pecuarista fala sobre a importância de se manter um sistema de gerenciamento das ações na propriedade, voltando á maximizar resultados, porém, diz que é fundamental investir em capacitação profissional dentro da fazenda. Todos os técnicos envolvidos no projeto Mariópolis, realizam dinâmicas com os 17 funcionários da fazenda, no sentido de torná-los capazes de executar tarefas técnicas no manejo com animais enfatiza.

Gabriel Santos da Silva, administrador da fazenda, conta os primeiros resultados começaram a surgir em meados de 1999, com o lançamento do primeiro sumário de touros provados da raça Caracú. De lá para cá, todos os anos, cerca 120 animais, passaram pelo teste de performance realizado na propriedade. Silva explica que são colocados cerca de 25 tourinhos, todos da mesma categoria, em piquetes de 1 a 3 hectares, com um cocho coletivo no meio. Os animais são alimentados da forma mais rústica possível, pois desta forma diz ele, é possível avaliar o desempenho dos animais, sem o uso de aditivos alimentares Com uma ração balanceada a base de cana-de-açúcar, farelo de soja e refinazil (Glúten de Milho). Em média são produzidos anualmente cerca de 400 toneladas de silagem que ficam armazenados em silos do tipo trincheira. A maior parte do Volumoso é composto por capineiras da espécie elefante e paraíso, ambos nativos da região. O rebanho que não participa dos testes, é mantido em pastagem de Tanzânia e Braquiária brizanta, observa.

No teste de performance, os animais ficam confinados por um período de 120 dias, com início próximo aos 13 meses e meio de vida. O consultor Dani Bosmam, especialista mundial em raças adaptadas, é o responsável pela avaliação funcional dos machos, como resistência ao calor e ação de carrapatos. Além da adaptabilidade dos touros. São realizadas medições de perímetro escrotal, musculosidade, desempenho em reprodução, aprumos, cascos, estrutura, comprimento, altura, espessura do couro. A cada 30 dias são realizados novas medições, totalizando 4 ao longo do confinamento. Essas medições somam notas de 1 a 9, sendo que os animais acima de 7 na avaliação, são considerados TOP.

Os tourinhos classificados, passam por uma segunda avaliação, desta vez, realizada, individualmente, e acompanhadas por Dani Bosmam diz que, a maioria dos pecuaristas, criam gado, mais não conhecem o suficiente sobre o animal. E isso, não ocorre só no Brasil, na África do Sul também existe muita desinformação. É preciso, avaliar cada animal, individualmente, em sua performance, para assim, passar a conhecer melhor o seu rebanho, desta forma será possível ir até o rebanho do vizinho, extrair de lá, o melhor para incorporar ao seu plantel, conclui.

A média de ganho de peso dos machos que participam do teste é de 1,4 Kg. dia, Já com as fêmeas, o técnico explica que essa relação do ganho de peso, deve ser mais moderada, variando entre 600 e 700 gramas/dia. Isso ocorre, porque, o acumulo de gordura no órgão reprodutor das novilhas pode prejudicá-las, no início da fase de reprodução explica. O acompanhamento no que se refere a mineralização dos animais, é feito através do programa Boi Verde da Tortuga Cia Zootécnica Agrária. Oswaldo de Souza Garcia, diretor de pesquisa e desenvolvimento de produtos da empresa, fala sobre a necessidade de se oferecer uma dieta aos animais que contenha energia, proteínas, minerais, vitaminas e água em quantidade suficiente, pois, somente assim será possível, extrair do animal, o melhor de seu potencial genético. Garcia fala ainda sobre, a questão do manejo da sanidade, como dois fatores importantes para reduzir perdas de produção no rebanho. O estresse dos bovinos é, atualmente, um agente causador de perdas dentro da atividade pecuária, e isso, se resolve com medidas simples como, planejamento e treinamento de mão de obra na propriedade, conclui.

O Núcleo de Zootecnia responsável pelo programa de melhoramento genético, trabalha o rebanho no sistema de monta natural, mais também utiliza modernas práticas como inseminação artificial, transferência de embriões e fertilização in vitro (FIV). As novilhas de 14 meses, pesando entre 300 e 350 quilos, já participam da estação de monta natural que deve começar em novembro próximo e se estender até janeiro de 2004. Os tourinhos jovens ficam em piquetes com 15 novilhas em média, atingindo um índice de prenhez de aproximadamente 68%. Já os touros adultos, recebem em média 40 fêmeas vacas acima de 24 meses, e os índices prenhez das fêmeas, registrados na última estação de monta ultrapassou os 96%. Resultado que segundo Alexandro de Caprio, diretor do Núcleo de Zootecnia é muito difícil de ser superado.

Caprio fala sobre a importância de se criar um programa de melhoramento genético realizado através de um sistema coerente com a produção da fazenda. O criador que realiza a DEP nos animais, utiliza esses resultados na gestão de sua fazenda. Essa é a diferença de quem faz melhoramento por filosofia ou apenas quer pagar uma onda de mercado. O técnico observa, ainda que a safra de animais deste ano da Mariópolis, apresenta resultados acima dos registrados nos últimos anos. A musculosidade dos animais tem melhoramento a cada nova geração. Hoje os testes são finalizamos com os animais pesando em média 390 Kg., e isso, é simplesmente, utilizar genética adequada ao sistema de produção da fazenda.

O plantel de Caracú da fazenda possui atualmente cerca de 900 cabeças. todos identificados e rastreados eletronicamente pela Allflex do Brasil empresa parceira do projeto Mariópolis. O sistema de rastreabilidade por brinco eletrônico utilizando desde 2001, vem de acordo com o administrador da fazenda. trazendo inúmeros benefícios. E isso por oferecer segurança e agilidade na coleta de dados do rebanho. Para Vincent L´Henaff responsável técnico da empresa, o sistema de rastreamento via GPS, é bastante eficaz, pois, possibilita aos técnicos, realizar o trabalho de acompanhamento do rebanho em menos tempo, e com uma margem de segurança superior ao método convencional.

O fruto do trabalho realizado por Maria Lúcia, em frente dos negócios da fazenda, fica evidenciado através da expansão comercial que seu gado conquistou em nível de pecuária nacional. Hoje os animal da Mariópolis são vendidos para criatórios da Bahia, romaria, Mato Grosso do Sul, Goiás, além de todo o estado de São Paulo. Os Bons resultados com o Caracú estimularam a fazenda a iniciar dois novos projetos. Um teve início em 2002, com a aquisição de um lote de animais da raça Bosnmara. Oriundos da África do Sul, esses animais apresentam uma adaptabilidade muito boa ás condições brasileiras, diz a criadora. Um segundo trabalho, também, bastante recente, vem sendo desenvolvido com a raça Senepol do Caríbe. Maria Lúcia fala que o projeto foi iniciado este ano e, ainda, não possui resultados. A mesma filosofia que sempre norteou o trabalho da Mariópolis com a raça Caracú, estará presente no trabalho realizado com as novas raças.

Apresentação de Resultados

Os resultados do trabalho de seleção da fazenda Mariópolis puderam ser apreciados nos dias 25 e 26 de outubro, na sede da fazenda em Itapira (SP). O dia de Campo denominado, 1º encontro Mariópolis de Adaptados, antecedeu a realização da terceira edição do leilão Mariópolis. O evento reuniu, segundo os organizadores, mais de 450 pessoas, na sua grande maioria pecuaristas, além de representantes da empresas parceiras e pesquisadores dos principais órgãos e institutos de pesquisa agropecuária do país órgãos e institutos de pesquisa agropecuária do país e do exterior. Foram dois dias de intensa programação, onde, temas ligados á cadeia produtiva da carne foram debatidos a exaustão. Ao longo do primeiro dia foram programados seminários e mesas redondas. Na pauta do encontro, estavam os principais assuntos ligados á atividade, fundamentais para garantir o sucesso nos projetos pecuários como, suplementação mineral, escolha de pastagens, avaliações genéticas, bem-estar animal, gestão de propriedade, estrutura e qualidade da carne. De acordo com a proprietária da Fazenda Mariópolis, apesar da maior parte do temas discutidos no encontro, fazerem parte do cotidiano das propriedades brasileiras. É muito comum, encontra pecuaristas com problemas sérios no rebanho, ocasionados pela falta de conhecimento da atividade. O objetivo do encontro é trazer aos pecuaristas informações técnicas para auxiliá-los no dia a dia. Dessa forma é possível alavancar os ganhos da propriedade, sem que isso signifique elevação de custo ao criador.

No sábado dia 25, os visitantes, puderam participar de dinâmicas de campo, oferecidas pelas empresas que são parceiras do projeto. A Gerdau, divisão de Produtos Agropecuários, realizou através de sua equipe de técnicos e representantes de vendas, dinâmicas ensinando como produzir uma cerca de qualidade, com pouco gasto pelo produtor. Celso Silva, técnico especializado em cerca realizou uma simulação, onde situações reais e corriqueiras na fazenda eram apresentadas. Silva fala sobre a precariedade das fazendas brasileiras, no que se refere a cercas de má qualidade. O técnico diz que, hoje, cerca de 70% das propriedades brasileiras, possuem um sistema de cerca regular, e a utilização dessas técnicas, além de oferecer maior segurança, possui um custo reduzido.

O circuito realizado na fazenda, apresentou ainda, o sistema de rastreamento via coleta eletrônica de dados dos animais. Vicent L`Henaff da Allflex do Brasil sistema de identificação Animal, diz que as vantagens são muitas de se utilizar um sistema de identificação por chip eletrônico. O brinco eletrônico dura a vida inteira do animal, pois, não é necessário realizar troca de bateria, explica o técnico. Henaff fala sobre a abrangência das ondas de rádio possuem uma freqüência de 20 a 30 cm. Isso impede que ocorra problemas de cruzamento de informação entre animais próximos. O sistema de brinco por código de barra, ainda é muito usado nas propriedades, porém, sua utilização em sistemas de pastejo extensivos, não é muito recomendado, sendo mais útil em sistemas de confinamento, conclui.


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