Esse reconhecimento também propicia uma demanda que
possibilita o surgimento de nichos de mercado que, consolidados,
favorecem a conquista de novos espaços e atrai a adesão
de outros segmentos.
Esse
crescimento, em torno de 50% ao ano, embute um potencial para
a inclusão de diversas categorias de produtores e só
não é maior devido á existência
de alguns obstáculos. Entre eles, a dificuldades de
dimensionamento do setor, seja em escala regional, nacional
ou internacional. As informações sobre alimentos
orgânicos são esparsas e dispersas, calcadas,
principalmente, em dados fornecido por agências certificadoras,
evidenciando a ausência de um trabalho sistematizado.
Um
estudo elaborado pela engenharia agrônoma e pesquisadora
do IEA- Instituto de Economia Agrícola, de São
Paulo, Maria Célia Souza, mostra que o entrave não
se limita a dados estatísticos. A ele somam-se a falta
de crédito, pesquisa, política agrícola
específica, armazenagem e até mesmo um esquema
mais eficiente de divulgação e comercialização
do produto, inclusive ressaltado informações
sobre os impactos da agricultura convencional e os benefícios
da produção orgânica como fator de menor
agressão ao meio ambiente e vantagens sociais.
Isso
é muito precário. Apesar das barreiras, a agricultura
orgânica mostra um movimento expansionista e não
há um consenso sobre esse comportamento. Para uns,
os produtores pioneiros ingressaram no setor em troca de benefícios
não-pecuniários, crença e estilo de vida.
Para outros, o aumento de área de cultivo ocorreu pela
busca do lucro. Os vieram mais tarde, segundo Souza, entraram
por perceberem ganhos potenciais e cultivam áreas maiores
dos que as primeiras fazendas, cujos objetivos aproximaram-se
mais de um ideal.
Pequenos
formam a maioria
Porém,
acrescenta, a possibilidade de um retorno maior que o investimento,
no curto prazo, não se ajusta ao horizonte de um período
mais longo da agricultura orgânica e, tampouco, dos
sistemas sustentáveis de produção. Os
investidores imediatistas, preocupados em vantagens rápida,
não se mantêm na atividade, pois perdem o componente
ético, filosófico e conceitual que predomina
no ramo.
Entretanto,
esse aspecto aliado aos riscos, não bloqueiam novas
adesões, sobre tudo em hortaliças e legumes.
Há uma estimativa de que 90% dos agricultores orgânicos,
do País, sejam pequenos e ligados a associações
e movimentos sociais. Os 10% restantes são vistos como
grandes produtores e estão, geralmente, vinculados
a empresas privadas. A produção familiar totaliza
70% da safra orgânica, com mais expressão na
região Sul. O Sudeste abriga a maior parte dos grandes
proprietários.
No
Estado de São Paulo, ainda conforme Souza, existiram
mil das 14.866 unidade de produção cerca de
6,7% e aproximadamente 30 mil hectares (10,8%) dos 275,5 mil/ha
utilizados pelo sistema. Em termos de produtores certificados,
prossegue, existem, no Brasil, 7.06 mil, inclusive em processo
de certificação. A extensão sob manejo
orgânico e conversão seria o equivalente a 0,08%
do espaço total ocupado pela agricultura. Para alguns,
essa área seria de 269,7 mil hectares. Cerca de 43%
dessa terra é usada por pastagens e a área média
das fazendas é de 38,2 ha.
Para
Souza, a produção orgânica, hoje, é
um pouco mais que residual. Esse fato é um indicado
do enorme potencial de crescimento, até porque essa
expansão pode contemplar setores pouco explorados,
como a fruticultura, cereais e os derivados de carne e leite.
Atualmente, ainda há dificuldades técnicas para
produção de frutas e produtos de origem animal,
principalmente pela falta de matéria prima e legislação
adequada para produção em pequena escala.
Pouco
contanto exige maior intermediação
Os
produtos in natura têm uma comercialização
mais expressiva e mostram que há possibilidade de intensificar
a participação da agroindústria, inclusive
para ampliar a oferta de gênero manufaturas ou processados.
Além disso, as condições climáticas
do Brasil favorecem a abundância de produtos tropicais
destinados á exportação para o Japão,
países europeu e da América do Norte. Em suma,
facilitam uma posição de destaque ao produto
brasileiro no mercado internacional.
Da
mesma forma, as empresas certificadas que industrializam orgânicos
são poucas. As estimativas apontam um mínimo
de 27 a um máximo de 127 companhias, no País,
que beneficiam, sobretudo, café solúvel, torrado
e moído, açúcar, suco de laranja, castanha
de caju e óleos vegetais. Entre os orgânicos
exportáveis, os principais são a soja, café,
cacau, açúcar mascavo, castanha de caju, óleos
essenciais, óleo de palma, frutas tropicais, palmito,
guaraná e arroz.
Sob
a ótica comercial, Souza afirma que quanto menos direta
for a relação entre produtores e consumidores,
maior será a necessidade de instrumentos formais de
certificação. Essa exigência tem permitido
o surgimento de inúmeras agências certificadoras,
tanto nacionais quanto estrangeiras, cujo interesse em se
instalar no País sinaliza o grande potencial de crescimento
desse mercado, seja interna ou externamente. Em São
Paulo, as duas agências mais conhecidas são Associação
de Agricultura Orgânica e o Instituto Biodinâmico.
Há vinte anos, conta Souza, poucos acreditam que a
produção orgânica pudesse sobreviver num
cenário de economia de mercado. A implantação
de métodos próprios de cultivo implica conhecimento
e investimento no agroecossistema, nas suas mais diversas
variações, formando uma barreira ao ingresso
na atividade. Isso tende a retardar a expansão desse
tipo de lavoura em função da lenta e incipiente
geração e difusão de tecnologias específicas
para os produtores. Esse quadro contribui para uma oferta
reduzida de gêneros no aspecto volume, e para a manutenção
de preços elevados ou peço prêmio, como
diz a pesquisadora.
Europeus
subsidiam conversão
Para
ela, essa situação ainda deverá perdurar
por algum tempo, pois a entrada no segmento representa um
fator limitante para transformação do sistema
agrícola convencional para outro mais sustentável.
Essa transição, ainda que temporária,
expõe o investidor a circunstâncias delicadas,
em termos de renda. Isso, num país como o Brasil, assume
grande relevância, pois o agricultor banca integralmente
- todos custos, sem qualquer tipo de apoio, enquanto países
da União Européia têm metas e subsídios
para o período de conversão.
No Brasil, até 199, não havia regras para a
produção de orgânicos. A regulamentação
surgiu com a instrução normativa 7/99, do Ministério
da Agricultura, que ditas princípios de produção,
tipificação e certificação de
qualidade para os produtos de origem animal e vegetal, além
do processamento, envase, distribuição e identificação.
Antes, as orientações eram dadas pelo CNPO -
Comitê Nacional de Produtos Orgânicos, em âmbito
nacional.
O instrumento também define o orgânico como um
produto, agrícola ou industrial, que adota tecnologias
que otimizem o uso de recursos naturais e sócio-econômicos
respeitando a integridade cultural e tendo por objetivo a
auto-sustentação no tempo e no espaço,
a maximização dos benefícios sociais,
a minimização da dependência de energias
não renováveis e a eliminação
do emprego de agrotóxicos e outros insumos artificiais
tóxicos, organismos geneticamente modificados/transgênicos,
ou radiações ionizantes em qualquer fase do
processo de produção, armazenamento e de consumo,
e entre os mesmos privilegiado a preservação
da saúde ambiente e humana, assegurando transparência
em todos os estágios da produção e da
transformação.
A instrução também orienta e baixa critérios
para conversão, uso de máquinas, garantida de
fertilidade do solo, manejo de pragas, doenças e plantas
invasoras, além de fornecer uma lista de adubos e condicionantes
de solo permitidos, que podem ser produzidos tanto fora como
dentro da unidade de produção. Para os produtos
de origem animal, detalha as condutas desejadas, as técnicas
permitidas e as proibidas. Relacionada os insumos que podem
ser adquiridos fora da propriedade, medidas de higiene e desinfecção
dos animais, uso de aditivos, normas para armazenagem e distribuição,
pessoa jurídica, sem fins lucrativos, com sede no território
nacional e credenciada junto ao Colegiado Nacional.
Três anos depois, em 2002, o Ministério da Agricultura
publica a instrução normativa 6/02, aprovado
o glossário de termos empregados no credenciamento,
certificação e inspeção da produção
orgânica, determinando critérios de credenciamento
das certificadoras, além das diretrizes para procedimento
de inspeção e certificação no
País.
A pesquisadora relata, com relação aos insumos,
que os destinados á atividade agro-relacionado com
o aumento da oferta de produtos. Para Souza, o aprimoramento
institucional, seja na construção da legislação,
nortear prioridades de investimento e gerar instrumentos de
apoio ao crescimento desse segmento. Falta, também,
um levantamento sistematizado de informações
de mercado, que forneceria subsídios importantes sobre
o que e como produzir, acesso e exigências dos padrões
de países importadores, entre outras.
Souza entende que o comércio de orgânicos é
um mercado interessante, pois mostra taxas de crescimento
que variam de 5% a 40%, conta com uma demanda cativa que aumenta
o consumo em países como Austrália, Japão,
Estados Unidos e da União Européia. Para ela,
a busca por alimentos saudáveis, com origem em sistemas
mais sustentáveis é uma tendência que
se fortalece e se consolida, âmbito mundial. Ocorrências
como o mal da vaca louca e as intoxicações com
dioxina, entre outras anomalias causadas pela alimentação,
reforçam a necessidade de rever os padrões convencionais
de produção, em nome da segurança e da
salubridade alimentar, conclui.
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