Isso provavelmente se deve ao fato de mais de 90% do sistema
de pecuária no Brasil, ser constituído sobre
o sistema de pastagens extensivas. Os animais são criados
em grandes áreas, o que tornando-os mais suscetível
a ação desses parasitas esternos. Todos os anos
esses agentes causam juntos, um déficit produtivo de
aproximadamente US$ 1bilhão. Dinheiro este, que poderia
estar sendo aplicado tanto par empregar novas tecnologias
para aumento da produtividade, como para melhoria na renda
do pequeno e médio produtor.
Os
ecto-parasitas, entre as muitas espécies que atacam
os rebanhos de Norte a Sul do país, causam diferentes
tipos de danos aos animais infectados. Os prejuízos
mais diretos são causados pela própria relação
de parasitismo que estes estabelecem com o hospedeiro. O setor
coureiro é um dos que mais sofrem perdas pela ação
direta dos carrapatos, bernes e bicheiras. De acordo com pesquisadores
da Embrapa gado de corte, de Campo Grande (MS). A má
qualidade dos couros produzidos na região Centro Oeste
do país, principalmente no estado do Mato Grosso do
Sul, é uma situação que vem perdurando
há algum tempo. Os couros de primeira e segunda classe,
não existem desde 1988 e, os de terceira, desde 1995.
Isso se deve em parte a má aplicação
das técnicas de manejo e controle de pragas utilizada
nas fazendas da região, abrindo fortes precedentes
para a formação de grandes infestações.
Já
os problemas ocasionados de forma indireta por esses organismos,
podem ser evidenciados, tanto na aparente diminuição
do potencial produtivo dos animais, como nas doenças
que são transmitidas por via da inoculação
de microrganismos durante o processo de parasitismo. Segundo
a médica veterinária Márcia Cristina
de Sena Oliveira, pesquisador da Embrapa Pecuária Sudeste,
de São Carlos (SP), no caso específico do carrapato
Boophilus Microplus - o carrapato do boi - além dele
ser a única espécie que parasita os rebanhos
de bovinos no país, é hoje, o principal agente
transmissor da Tristeza Parasitária Bovina (TPB). A
veterinária explica que apesar dessa doença
possuir apenas uma denominação, ela é
causada por três microorganismos diferentes, sendo duas
espécies de protozoários do gênero Babesia:
Babesia bovis e Babesia bigemina, causadores da Babesiose,
e uma denominada Anaplasma marginale responsável pelo
desenvolvimento da anaplasmose. A tristeza parasitária
dos bovinos compreende um conjunto de doenças que clinicamente
caracterizam-se por apresentar nos animais um quadro de febre
alta, anemia hemolítica, hemoglobinúria e icterícia,
podendo levá-los á morte nos casos mais graves.
Esses microorganismos atuam na célula hemácias
destruindo-as liberando no organismo substância extremamente
tóxicas. A Babesia bovins por sua vez, provoca um quadro
clínico mais grave e de caráter mais agudo,
podendo ocorrer sintomas nervosos devido a multiplicação
das babésias nos capilares cerebrais. Já com
a Babésia bigemina, essa leva o paciente a um quadro
de caráter mais crônico acompanhado de hemoglobinúria,
presença de hemoglobina na urina, o que pose ser evidenciado
pela mudança na coloração que torna-se
de cor mais escura, explica.
Originário dos países do continente Asiático
esse artrópode pertence a família Ixodidae e
foi introduzido no Brasil pelos colonizadores portugueses,
há cerca de 500 anos. Essa espécie caracteriza-se
por parasitar um único animal durante toda sua vida.
Além de não apresentar uma segmentação
corporal definida e possuir três pares de patas quando
larvas e quatro quando ninfas e adultos.
Seu ciclo de vida começa quando as fêmeas adultas
(Teleógenas), engurjitadas de sangue do hospedeiro,
caem no solo e realizam a posturas de seus ovos. Esse processo
tem em média uma duração de 15 dias,
mas, em condições de climas frios, podem perdurar
por todo o período de inverno, podendo em alguns casos
transcorrer mais de 100 dias, entre a postura e a eclosão
das larvas. Cada fêmea deposita entre 2 e 3 mil ovos,
que se desenvolvem em meio ás pastagens.
Essa primeira fase da vida dos carrapatos é denominada
como fase livre, ou seja, as larvas concentram uma grande
quantidade de nutrientes extraídos da mãe e,
portanto, não dependem de um hospedeiro para sobreviver.
Já a segunda fase do processo de desenvolvimento tem
início próximo ao 15º dia de vida e é,
segunda a pesquisadora, de grande importância para o
desenvolvimento da espécie, pois é quando os
indivíduos, deixam o estado livre e passam á
condição de parasitas hematófagos. A
definição do sexo também é realizada
nessa fase, sendo que as fêmeas possuem um papel bem
mais complexo que os machos. Ao redor do 21º dia de Fêmea
já fecundada pelo macho, continua seu repasto de sangue
até cair novamente no solo, por volta do 31º dia,
iniciando assim um novo ciclo. O macho por sua vez permanece
durante toda a fase parasitária circulando no animal,
se alimentando do sangue e realizando o trabalho de fecundação
da fêmeas.
Do ponto de vista epidemiológico, as diversas regiões,
podem ser classificadas da seguinte forma: áreas de
estabilidade ou instabilidade enzoótica. As regiões
onde as condições climática não
favorecem o desenvolvimento dos carrapatos são denominadas
de instabilidade enzoótica. Essa áreas dependem
de uma atenção dependem de uma atenção
especial, pois a falta dos carrapatos podem levar os animais
a perda da imunidade aos agentes transmissores da TPB. Essa
imunidade é segundo a pesquisadora da Embrapa, de importância
vital e deve ser estimulada através da exposição
dos animais ao pasto. A média explica que a principal
via infestações são as pastagens que
concentram cerca de 90% de toda a população
de carrapatos. Os outros 10% são as larvas que conseguem
subir pelas folhas das pastagens e se prender ao animal tornando-o
hospedeiro. Esses também são responsáveis
por realizar o ciclo de reprodução, perpetuando
a espécie.
Esse estimulo a criação de anticorpos deve ser
estimulado desde que os animais é bezerro, pois isso
ajuda diminuir o número de mortes na propriedade por
Babesioses e anaplasmoses. As infestações que
ocorrem desde os primeiros meses de vida estimulam o aparecimento
de sólida imunidade, conclui a pesquisadora.
Os carrapatos encontram no clima tropical, as condições
ideais para seu desenvolvimento, e isso devido a facilidade
de adaptação a ambientes quentes com bastante
incidência de chuva o que provoca bastante umidade.
As temperaturas ao redor dos 27º C com umidade de 70%
são consideradas ideais pelos especialistas par o seu
desenvolvimento. Dessa maneira o tipo de vegetação
utilizada é muito importante, levando-se em conta que
os pastos mais altos atuam protegendo as larvas dos carrapatos
dos raios solares, fase na qual eles estão mais vulneráveis.
Algumas forrageira agem como escudo de proteção
para larvas dessas espécie, portanto, o monitoramento
nas áreas de pastagens ajuda bastante conter as infestações
durante os meses de chuva. Os ovos são muito sensíveis
a temperaturas abaixo de 15ºC, no entanto, as larvas
podem sobreviver por até 3 meses nas pastagens, sem
perder seu poder infestante. Assim com condições
de clima favoráveis e hospedeiros disponíveis,
esses parasita se estabelecem com muita facilidade no rebanho,
o que sobre certos aspectos é desejável, conclui.
Por esse motivo os programas de controle devem ser observados,
sobre a ótica de se manter uma população
em número adequado, garantindo assim, a imunidade constante
de rebanho. Outro ponto relevante e, observando pela pesquisadora,
está relacionando a aparente resistência de animais
de origem Zebuínas ao ataque dos carrapatos. A suscetibilidade
dos animais varia também entre raças e dentro
de raças. Dessa maneira dento de um rebanho vão
ter sempre animais com maior infestação que
outros, no entanto, na prática é difícil
eliminá-los, já que apresentam na maioria das
vezes características produtivas positivas, observa.
Já o parasita do berne possui um ciclo evolutivo um
pouco diferenciado, pois sua forma de contaminar o rebanho,
se dá por via da mosca Dermatobia hominis. Para realizar
a postura de seus ovos, que em média varia entre 300
á 400 por ninhada, as fêmeas utilizam outra espécie
de mosca, também bastante conhecida. A Stomoxys calcitrans,
conhecida popularmente como mosca, dos estábulos ou
mosca doméstica é utilizada como transportadora
dos ovos até o hospedeiro, que na grande maioria das
vezes é o boi, mas pode vir a ser também outros
animais, inclusive o homem. Segundo dados da Embrapa essa
mosca pode ser encontrada em todas as regiões do país
e na sua fase larval denomina-se berne.
O ciclo evolutivo da mosca ocorre totalmente na zona rural
e divide-se em duas fases distintas. A fase doméstica
que é realizada entre os bovinos ou eventuais vetores
de seus ovos, através do contato direto com animais.
Nesta fase pode observar um número grande de animais
com alto grau de infestações. Já a fase
de bosque desenvolvendo se com menor aproximação
com os bovinos e os índices de infestação
apresentam resultados bastante reduzidos.
Os prejuízos causados a pecuária se traduzem
pela queda na produção, pois os animais são
extremamente exigidos, sofrendo perdas drásticas no
seu potencial. Não se tem dados preciso sobre os danos
pelo berne, mas, sabe-se que são de grande monta. Animais
infestados com uma população entre 20 a 40 bernes
chegam a perder de 9 a 14% de seu peso. Entre os animais de
aptidão leiteira essa perda pode atingir até
25% da produção de leite por dia no animal.
O ônus gerado pela ação da mosca Dematóbia
hominis á pecuária brasileira ultrapassa os
US$ 3,6 milhões anuais.
Para a pesquisadora da Embrapa Pecuária Sudeste, o
trabalho de controle, em ambos os casos, deve ocorrer através
de um esquema previamente estabelecido. Esses métodos
precisam ser delineados para atender cada sistema de produção
e não devem basear-se somente no uso de carrapaticidas
e inseticidas. Escolher o melhor produto por meio de testes
laboratoriais, deve ser feito somente, quando há resistência
por parte do parasita. A veterinária lembra que todas
as etapas do manejo, incluindo alimentação,
saúde do rebanho, controle e rotação
das pastagens, são pré requisitos básicos
para um bom sistema de produção.
Outro aspecto considerado importante no tratamento, dessas
pragas, diz respeito aos diferentes níveis de resistência,
apresentados por esses agentes, durante seu ciclo de vida.
Como as fêmeas adultas são mais resistentes ao
princípio ativo dos medicamentos recomenda-se tratamentos
com banhos de carrapaticida em intervalos regulares. Essa
aplicação deve ser feita antes que os parasitas
atinjam um estágio adulto de desenvolvimento. Desta
forma consegue-se que não ocorram carrapatos sobreviventes.
Para realização de um controle estratégico
dos carrapatos recomenda-se que aplicação dos
farmacos ocorra em quantidade de 4 a 5 banhos, em intervalos
de 21 dias. Assim é possível manter a estabilidade
enzoótica da propriedade evitando mortalidade dos animais,
conclui.
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