Essa dependência se deve á necessidade de eliminar
ou reduzir para níveis aceitáveis a incidência
de pragas, plantas daninhas e doenças, garantindo,
assim, uma produtividade aceitável e, conseqüentemente,
o retorno econômico da atividade agrícola. No
entanto, tem-se observando, ao longo dos anos, que o uso indiscriminado
dos pesticidas tem levado ao aparecimento de resíduos
desses compostos nos diferentes compartimentos ambientais
( água, solo e ar). Diante desse fato e da periculosidade
que os pesticidas apresentam á saúde humana
e á manutenção da biodiversidade, há
hoje uma urgente necessidade de se intensificarem os estudos
que possibilitem um eficiente monitoramento de possíveis
contaminações do ambiente. Tais estudos são
fundamentais para que se estabeleçam estratégias
visando à redução de riscos de contaminação.
O
consumo de pesticidas no Brasil é de aproximadamente
3,2 Kg de ingrediente ativo por hectare, ocupando, assim,
a décima posição em um ranking liderado
pela Holanda, que consome, aproximadamente, 10 Kg de ingrediente
ativo por hectare. Cerca de 88% do total de pesticidas que
é comercializado no Brasil vai para os Estados de São
Paulo (22%), Paraná (16%), Rio Grande do Sul ( 13%),
Mato Grosso (12%), Minas Gerais ( 10%), Goiás ( 9%)
e Mato Grosso do Sul (¨6%). As culturas de soja, milho,
citros e cana-de-açúcar consomem cerca de 66%
do Total, sendo que apenas a cultura da soja é responsável
pelo consumo de 33% desse montante.
Os
defensivos são comumente aplicados sobre plantas ou
diretamente no solo. Mesmo quando aplicados sobre as plantas,
cerca de 50% do total da dose aplicada poderá como
destino final o solo, independentemente da forma como for
realizada essa aplicação. Após chegar
ao solo, o pesticida pode ter seu destino influenciado por
três formas principais de transporte: volatilização;
lixiviação e escoamento superficial.
A volatização corresponde á transferência
do pesticida do solo para a atmosfera. Os pesticidas mais
voláteis necessitam ser incorporados ao solo para diminuir
sua perda por volatização. Embora o número
de pesticidas voláteis atualmente utilizados na agricultura
seja pequeno, diversos estudos têm mostrando que perdas
por volatilização logo após a aplicação
podem chegar a 90% da dose aplicada. Com relação
á contaminação dos recursos híbridos
(água superficial), a volatilização de
pesticidas possibilita o carreamento desses compostos através
da atmosfera e, posteriormente, sua deposição
nas águas superficiais (rios, lagos, etc.) através
da chuva. Um estudo recente publicado no ano de 2000, envolvendo
10 países europeus, mostrou que, de um total de 99
pesticidas monitorados, 48 pesticidas diferentes foram detectados
na água da chuva. Outra conclusão importante
desse estudo foi que alguns desses pesticidas detectados não
eram utilizados nas áreas agrícolas em que as
amostras da água da chuva foram coletadas, evidenciando
o transporte a grandes distâncias desses compostos pela
atmosfera.
A lixiviação corresponde ao transporte vertical
dos pesticidas no perfil do solo juntamente com a água
da chuva ou irrigação que desce pelos poros.
Esta forma de transporte tem sido apontada como a principal
causadora da contaminação de água subterrâneas
( lençol freático). Estudos têm demonstrado
que, de uma maneira geral, o transporte de pesticidas por
lixiviação chega a 1% da dose aplicada podendo,
em casos excepcionais, chegar a 5%. É importante mencionar
que diversos fatores relacionados ao solo, ao clima á
molécula do pesticida influenciam essa descida no solo.
Por exemplo, solos com maior teor de matéria orgânica
tendem a reter maior quantidade de pesticidas na camada superficial,
diminuindo assim a sua movimentação. Além
disso, solos com maior teor de matéria orgânica
possuem maior atividade microbiana, o que possibilita uma
degradação mais rápida dos pesticidas
pela ação dos microorganismos.
No entanto, alguns pesticidas possuem baixa afinidade com
a matéria orgânica do solo e, portanto, apresentam
alto potencial de lixiviação devido a uma menor
retenção pelo solo. Diante disso, ao se analisar
a possibilidade de contaminação de lençol
freático por pesticidas é necessário
que se leve em conta todos os fatores envolvidos. Estudos
no Brasil para monitoramento da presença de resíduos
de pesticidas no lençol freático ainda são
incipientes. Um amplo monitoramento de resíduos de
pesticidas em água do lençol freático,
realizado pela Agência de Proteção, Ambiental
dos Estados Unidos (EPA) em 1988, relato que 46 diferentes
pesticidas foram encontrados no lençol freático
de 26 Estados americanos. No entanto, desses 46 pesticidas,
32 foram encontrados no lençol freático de 12
Estados, devido á utilização inadequada,
ou seja, violação das restrições
contidas no rótulo do produto. Em 1992, outro monitoramento
foi realizado pela EPA, no qual investigou-se a presença
de resíduos de pesticidas por cinco anos em poços
utilizados para consumo de água pela população
dos 50 estados americanos. Os resultados desse estudo revelaram
que 10,4% dos sistemas de água comunitários
e 4,2% dos poços da área rural estavam contaminados
com a presença de, pelo menos, um pesticida.
O escoamento superficial corresponde ao carreamento dos pesticidas
através da água da enxurrada na superfície
do solo, que poderá ter como destino final os rios
e lagos, ocasionando suas contaminação. Chuvas
mais intensas podem causar substanciais de pesticidas por
escoamento superficial. Estudos têm mostrado que perdas
em torno de 1% a 2% da dose aplicada de um pesticida têm
sido comum, considerando-se apenas uma única chuva.
Medidas que visam diminuir a formação de enxurradas
terão efeito direto na diminuição do
escoamento superficial de pesticidas e, conseqüentemente,
na poluição dos rios e lagos. Um exemplo dessas
medidas na agricultura moderna é a adoção
da prática do Sistema Plantio Direto (SPD), que preconiza
a permanência constante de cobertura vegetal no solo.
No entanto, vale a pena ressaltar que, devido á tendência
do aumento da adoção da prática do SPD,
haverá também uma tendência de aumento
no consumo de herbicidas, já que o SPD ainda é
altamente dependente desse insumo químico.
Embora as três formas principais de transporte de pesticidas
apresentadas nesse texto (lixiviação, volatização
e escoamento superficial) possam parecer independente, não
é bem assim que acontece na prática. Geralmente,
essas formas de transporte estão inter relacionadas.
No entanto, poderá ocorrer o predomínio de uma
dessas formas dependendo do relevo, tipo de pesticida utilizado,
condições climáticas da região
e tipo e manejo do solo.
Em síntese, é evidente a necessidade de priorizar
a conscientização da população
sobre o perigo ambiental do uso indiscriminado de pesticidas,
o que pode levar á contaminação dos recursos
híbridos cada dia mais escassos, reduzindo a disponibilidade
de água potável. Mais ainda, estudos que visem
ao monitoramento da presença de resíduos de
pesticidas em nossos recursos hídricos devem ser priorizados
por nosso governo, com o objetivo de preservar um dos mais
preciosos bens que uma nação possui para garantir
a qualidade de vida de seus cidadãos. Diante dessa
situação, a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária
Embrapa tem se preocupado em estudar os possíveis impactos
das atividades agrícolas na contaminação
dos recursos hídricos na contaminação
dos recursos hídricos por pesticidas, Um exemplo disso
tem sido a aplicação de programas computacionais
que simulam o destino de um pesticida no solo antes mesmos
de sua aplicação. Dessa forma, consegue-se prever
possíveis contaminações de recursos hídricos
que poderiam ocorrer através da utilização
de pesticidas em uma determinada área agrícola.
A Embrapa também preocupa-se em desenvolver tecnologias
de produção que visem minimizar a utilização
de defensivos agrícolas, propiciando o desenvolvimento
de sistemas de produção mais sustentáveis
e que causem menos impacto ao meio ambiente.
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