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PRODUTOR DEVE EVITAR CONTAMINAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA
rev 70 - outubro 2003

Essa dependência se deve á necessidade de eliminar ou reduzir para níveis aceitáveis a incidência de pragas, plantas daninhas e doenças, garantindo, assim, uma produtividade aceitável e, conseqüentemente, o retorno econômico da atividade agrícola. No entanto, tem-se observando, ao longo dos anos, que o uso indiscriminado dos pesticidas tem levado ao aparecimento de resíduos desses compostos nos diferentes compartimentos ambientais ( água, solo e ar). Diante desse fato e da periculosidade que os pesticidas apresentam á saúde humana e á manutenção da biodiversidade, há hoje uma urgente necessidade de se intensificarem os estudos que possibilitem um eficiente monitoramento de possíveis contaminações do ambiente. Tais estudos são fundamentais para que se estabeleçam estratégias visando à redução de riscos de contaminação.

O consumo de pesticidas no Brasil é de aproximadamente 3,2 Kg de ingrediente ativo por hectare, ocupando, assim, a décima posição em um ranking liderado pela Holanda, que consome, aproximadamente, 10 Kg de ingrediente ativo por hectare. Cerca de 88% do total de pesticidas que é comercializado no Brasil vai para os Estados de São Paulo (22%), Paraná (16%), Rio Grande do Sul ( 13%), Mato Grosso (12%), Minas Gerais ( 10%), Goiás ( 9%) e Mato Grosso do Sul (¨6%). As culturas de soja, milho, citros e cana-de-açúcar consomem cerca de 66% do Total, sendo que apenas a cultura da soja é responsável pelo consumo de 33% desse montante.

Os defensivos são comumente aplicados sobre plantas ou diretamente no solo. Mesmo quando aplicados sobre as plantas, cerca de 50% do total da dose aplicada poderá como destino final o solo, independentemente da forma como for realizada essa aplicação. Após chegar ao solo, o pesticida pode ter seu destino influenciado por três formas principais de transporte: volatilização; lixiviação e escoamento superficial.

A volatização corresponde á transferência do pesticida do solo para a atmosfera. Os pesticidas mais voláteis necessitam ser incorporados ao solo para diminuir sua perda por volatização. Embora o número de pesticidas voláteis atualmente utilizados na agricultura seja pequeno, diversos estudos têm mostrando que perdas por volatilização logo após a aplicação podem chegar a 90% da dose aplicada. Com relação á contaminação dos recursos híbridos (água superficial), a volatilização de pesticidas possibilita o carreamento desses compostos através da atmosfera e, posteriormente, sua deposição nas águas superficiais (rios, lagos, etc.) através da chuva. Um estudo recente publicado no ano de 2000, envolvendo 10 países europeus, mostrou que, de um total de 99 pesticidas monitorados, 48 pesticidas diferentes foram detectados na água da chuva. Outra conclusão importante desse estudo foi que alguns desses pesticidas detectados não eram utilizados nas áreas agrícolas em que as amostras da água da chuva foram coletadas, evidenciando o transporte a grandes distâncias desses compostos pela atmosfera.

A lixiviação corresponde ao transporte vertical dos pesticidas no perfil do solo juntamente com a água da chuva ou irrigação que desce pelos poros. Esta forma de transporte tem sido apontada como a principal causadora da contaminação de água subterrâneas ( lençol freático). Estudos têm demonstrado que, de uma maneira geral, o transporte de pesticidas por lixiviação chega a 1% da dose aplicada podendo, em casos excepcionais, chegar a 5%. É importante mencionar que diversos fatores relacionados ao solo, ao clima á molécula do pesticida influenciam essa descida no solo. Por exemplo, solos com maior teor de matéria orgânica tendem a reter maior quantidade de pesticidas na camada superficial, diminuindo assim a sua movimentação. Além disso, solos com maior teor de matéria orgânica possuem maior atividade microbiana, o que possibilita uma degradação mais rápida dos pesticidas pela ação dos microorganismos.

No entanto, alguns pesticidas possuem baixa afinidade com a matéria orgânica do solo e, portanto, apresentam alto potencial de lixiviação devido a uma menor retenção pelo solo. Diante disso, ao se analisar a possibilidade de contaminação de lençol freático por pesticidas é necessário que se leve em conta todos os fatores envolvidos. Estudos no Brasil para monitoramento da presença de resíduos de pesticidas no lençol freático ainda são incipientes. Um amplo monitoramento de resíduos de pesticidas em água do lençol freático, realizado pela Agência de Proteção, Ambiental dos Estados Unidos (EPA) em 1988, relato que 46 diferentes pesticidas foram encontrados no lençol freático de 26 Estados americanos. No entanto, desses 46 pesticidas, 32 foram encontrados no lençol freático de 12 Estados, devido á utilização inadequada, ou seja, violação das restrições contidas no rótulo do produto. Em 1992, outro monitoramento foi realizado pela EPA, no qual investigou-se a presença de resíduos de pesticidas por cinco anos em poços utilizados para consumo de água pela população dos 50 estados americanos. Os resultados desse estudo revelaram que 10,4% dos sistemas de água comunitários e 4,2% dos poços da área rural estavam contaminados com a presença de, pelo menos, um pesticida.

O escoamento superficial corresponde ao carreamento dos pesticidas através da água da enxurrada na superfície do solo, que poderá ter como destino final os rios e lagos, ocasionando suas contaminação. Chuvas mais intensas podem causar substanciais de pesticidas por escoamento superficial. Estudos têm mostrado que perdas em torno de 1% a 2% da dose aplicada de um pesticida têm sido comum, considerando-se apenas uma única chuva. Medidas que visam diminuir a formação de enxurradas terão efeito direto na diminuição do escoamento superficial de pesticidas e, conseqüentemente, na poluição dos rios e lagos. Um exemplo dessas medidas na agricultura moderna é a adoção da prática do Sistema Plantio Direto (SPD), que preconiza a permanência constante de cobertura vegetal no solo. No entanto, vale a pena ressaltar que, devido á tendência do aumento da adoção da prática do SPD, haverá também uma tendência de aumento no consumo de herbicidas, já que o SPD ainda é altamente dependente desse insumo químico.

Embora as três formas principais de transporte de pesticidas apresentadas nesse texto (lixiviação, volatização e escoamento superficial) possam parecer independente, não é bem assim que acontece na prática. Geralmente, essas formas de transporte estão inter relacionadas. No entanto, poderá ocorrer o predomínio de uma dessas formas dependendo do relevo, tipo de pesticida utilizado, condições climáticas da região e tipo e manejo do solo.

Em síntese, é evidente a necessidade de priorizar a conscientização da população sobre o perigo ambiental do uso indiscriminado de pesticidas, o que pode levar á contaminação dos recursos híbridos cada dia mais escassos, reduzindo a disponibilidade de água potável. Mais ainda, estudos que visem ao monitoramento da presença de resíduos de pesticidas em nossos recursos hídricos devem ser priorizados por nosso governo, com o objetivo de preservar um dos mais preciosos bens que uma nação possui para garantir a qualidade de vida de seus cidadãos. Diante dessa situação, a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária Embrapa tem se preocupado em estudar os possíveis impactos das atividades agrícolas na contaminação dos recursos hídricos na contaminação dos recursos hídricos por pesticidas, Um exemplo disso tem sido a aplicação de programas computacionais que simulam o destino de um pesticida no solo antes mesmos de sua aplicação. Dessa forma, consegue-se prever possíveis contaminações de recursos hídricos que poderiam ocorrer através da utilização de pesticidas em uma determinada área agrícola.

A Embrapa também preocupa-se em desenvolver tecnologias de produção que visem minimizar a utilização de defensivos agrícolas, propiciando o desenvolvimento de sistemas de produção mais sustentáveis e que causem menos impacto ao meio ambiente.


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