Essa carga fica evidente quanto o secretário nacional
de Política Agrícola, Ivan Wedekin, diz que
o superávit da balança comercial do agronegócio,
estimado em US$ 30 bilhões, para daqui a sete anos,
"pode ocorrer já no Governo Lula". Numa analogia,
até grosseira, a afirmação remete para
a pergunta feita por Garrincha ao técnico da seleção
brasileira de futebol, Zezé Moreira, quando explicava
suas táticas para vencer o oponente: "Isso está
combinado com o time adversário?".
Em
palestra durante evento promovido pela BM&F (Bolsa de
Mercadorias & Futuros), no início de abril último,
em São Paulo, o secretário deixou claro que
as bases para atingir esse objetivo estão implantadas,
pois o agribusiness cresceu "8,4%, no ano passado",
cravando em R$ 424,3 bilhões, conforme estudos da CNA
- Confederação Nacional da Agricultura.
O
programa Moderfrota "renovou 30% do acervo de tratores
e outros 30% de colheitadeiras". Nas operações
de preparo da terra, o plantio direto "já atinge
15 milhões de hectares, poupando capital e o meio-ambiente".
Meta
de 120 milhões de toneladas é viável
Na
área de investimentos, prossegue, existem fortes atrativos,
a ponto de "grandes produtores norte-americanos estarem
comprando terras no Brasil", para o plantio de soja.
Isso, pelo menos foi o que alegaram, justificando as aquisições
pelo baixo custo da produção. No plano de safra,
para o secretário, "é viável fixar
a meta de 120 milhões de toneladas de grãos,
o que não será difícil obter, pois já
estamos em 112 milhões/t". Ele entende que o "cenário
é positivo, os preços ajudam e a redução
dos estoques mundiais cria um clima favorável. São
situações que possibilitam o País colocar
os excedentes - a que preço for". Nem a invasão
do Iraque, pêlos Estados Unidos, preocupa, pois "se
houver impacto, será pequeno".
De
fato, as condições existentes são propícias
a um incremento substancial das próximas safras, seja
em termos de clima, que até agora tem ajudado bastante,
como em questões relacionadas ao uso de tecnologia.
A produtividade da agricultura brasileira tem mostrado ganhos
significativos e fazem com que a CNA preveja, nesta temporada,
um crescimento de 4,9% para o VBP - Valor Bruto da Produção,
que deverá atingir R$ 137,2 bilhões, contra
os R$ 131,2 bilhões do período passado, tendo
como base o desempenho de 25 produtos.
O
secretário deixa entender que o agronegócio
navega por um mar de almirante, embora com perspectivas de
alguma tempestade, se forem levados em conta os "desafios"
que podem ameaçar a calmaria vigente e, por isso, têm
de ser superados. Esses obstáculos formam um grupo
que o secretário chamou de "10 C's": crédito,
capital humano, cidadania, custo interno, conservação,
coordenação, carga fiscal, conhecimento, comércio
e condução do mundo. Esses inconvenientes, para
Wedekin, são transponíveis, pois "os produtores
brasileiros são viciados em riscos. Nem poderia ser
diferente, pois a taxa básica de juros está
em 26,5 %". Mas tem que ser assim ". A saída,
acrescenta, "é melhorar o crédito rural.
Buscar e criar novos mecanismos para uma distribuição
mais eficaz do sistema creditício".
Cuidados
para não 'queimar' o seguro
Uma
alternativa aponta, seria um "fundo de investimento.
Afinal, o produtor não tem de ser 560 dono do seu
negócio". Frisa que "é preciso mais
dinheiro, além de simplificar o acesso e ampliar a
participação do universo de agricultores familiares
nos financiamentos". É necessário, ainda,
"uma revisão nos preços mínimos,
bem como elaborar novos instrumentos que auxiliem e dêem
fluxo livre à comercialização, inclusive
usando recursos de companhias privadas, com o apoio do Tesouro.
O governo passa por dificuldades que o impedem de dar liquidez
a todos os segmentos na safra. Enfim, é imperativa
a modernização do comércio de produtos
agrícolas".
Wedekín
defende, também, a busca por alternativas ao seguro
rural. É urgente "a realização de
trabalhos intensos, mas com muita calma, para não queimar
esse setor no Brasil". Outro aspecto que também
pede reformulações rápidas, está
relacionado com a inexistência de informações
"precisas e exatas sobre a produção e o
mercado". Os números, observa "são
muito desencontrados".
Quanto
ao abastecimento interno, o secretário reconhece que
"a renda dos consumidores está estagnada"
e isso provoca um represamento na demanda. Esse, porém,
é um problema que o atual governo prometeu se esforçar
na busca de uma solução, já que envolve
a segurança alimentar. A respeito, disse que o "Mapa
(Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento),
está integrado ao fome zero".
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