O
custo do tratamento fitossanitário foi reduzido, especialmente,
pela diminuição do uso de inseticidas e de todas
as despesas relacionadas à operação de
máquinas e equipamentos necessários à
sua aplicação. Além da redução
dos custos, os cálculos do Cepea consideraram também
mais duas situações, nas quais há elevações
de 5% e 10% da produtividade sobre os valores adotados nos
cenários de referência.
Isso
foi feito pelo fato de que ganhos de produtividade foram notados
tanto no Brasil, nos resultados experimentais, como em outros
países, em condições de campo.
Na
média ponderada das simulações, os resultados
variaram de uma elevação de US$ 20,6 no valor
da margem bruta de produção (Receita menos o
Custo Operacional Total) para o caso de variedades resistentes
à doença azul, sem considerar aumentos de produtividade,
até US$ 157,91/ha para o caso de variedades susceptíveis
à doença azul, considerando-se elevação
de produtividade de 10%. Esses valores correspondem a elevações
na margem bruta de produção de 7,1% e 44,8%,
respectivamente. A doença azul é uma virose
transmitida pelo pulgão e sua incidência exige
mais aplicações de inseticidas. Nesse caso,
pode não haver diminuição do número
de aplicações que o transgênico poderia
proporcionar.
Quanto à redução potencial no uso de
defensivos agrícolas, os resultados mostram que a utilização
da tecnologia em 10% da área cultivada total do Brasil
em 2000/2001 teria gerado uma economia de 190.600 litros de
inseticidas diversos, valor que passaria para 952.900 litros
se a área fosse de 50%, e para 1,33 milhões
de litros de defensivos agrícolas diversos se a tecnologia
Bollgard tivesse sido utilizada em 70% daquela área.
Sob utilização da tecnologia em 560 da área,
a redução no uso de defensivos agrícolas
atingiria a marca de 1,9 milhão de litros.
A se manter a tendência observada no período
recente, entretanto, com o aumento da área de algodão
principalmente no estado do Mato Grosso, esses valores poderiam
ser encarados como limites inferiores, uma vez que os cultivos
daquela região são os que apresentariam maiores
reduções no uso de defensivos agrícolas
pelo uso da técnica.
Além da redução no uso de defensivos
agrícolas propriamente dita, haveria ainda a redução
na quantidade de embalagens destes produtos a serem descartadas,
com benefícios tanto econômicos quanto ambientais
correspondentes.
Outro aspecto a ser considerado ao dispensar o uso de pulverizações
contra algumas pragas, seria o elemento de redução
do risco de produção na atividade. A determinação
do momento correto da aplicação de inseticidas
e a execução das operações são
essenciais no controle de pragas. A possibilidade de se detectar
tardiamente as pragas, ou de surgirem dificuldades no seu
controle, especialmente em grandes áreas como as que
estão se firmando nas novas regiões produtoras,
é um elemento importante na administração
de risco por parte dos produtores.
Dessa forma, a tecnologia reduziria o risco da atividade.
Diminuiria também o número de decisões
a serem tomadas pelos produtores no que diz respeito ao controle
de pragas, permitindo aos cotonicultores e técnicos
dedicarem mais tempo às demais atividades necessárias
para a condução das culturas.
A tecnologia seria importante também para os pequenos
produtores, que se utilizam de equipamentos deficientes de
controle de pragas, dada a falta de maquinários adequados
para a aplicação de defensivos. Além
disso, pequenos produtores não contam, em geral, com
técnicos de campo para levantamento de infestação
de pragas, nem de assistência técnica como no
caso das grandes propriedades. Assim, a redução
no manuseio de inseticidas também poderia ajudar a
diminuir os sérios problemas de intoxicação
pelo mau uso de produtos químicos na agricultura.
Desvantagens
O
sistema apresenta, porém, algumas desvantagens. Um
dos pontos prioritários é a sua ineficiência
em relação a algumas pragas típicas da
cultura do algodão no Brasil. O algodão transgênico
é eficiente contra a lagarta rosada (Pectinophora gossypiella),
o curuquerê do algodoeiro (Alabama argillacea) e a lagarta
da maçã (Heliothis virescens), em condições
nacionais, que são as principais pragas em outros países
produtores, especialmente nos EUA, onde a tecnologia surgiu.
Ocorre que no Brasil, dada sua grande diversidade biológica,
há essas três, mas também outras pragas
importantes sobre as quais o sistema não é eficiente,
em especial contra o bicudo (praga tradicional do algodoeiro)
e a lagarta spodoptera sp (uma das principais pragas do milho).
Dessa forma, o produtor volta a precisar de várias
pulverizações para controlar essas pragas. Além
do mais, utilizando inseticidas para controlar essas duas
(principalmente o bicudo), o produtor, conseqüentemente,
irá controlar aquelas três que seriam controladas
pela planta transgênica - e, portanto, não precisaria
dessa tecnologia.
É preciso destacar que a infestação de
pragas é diferente de região para região,
o que representa resultados distintos do uso dessa teccologia
no país. No Centro-Oeste, por exemplo, onde o bicudo
ainda não chegou, o resultado da tecnologia deve ser
superior.
Entre as ressalvas à tecnologia, é preciso destacar
também o custo da tecnologia da semente transgênica,
que, nesse estudo, não está incluído
pelo fato de que a semente ainda não está disponível
comercialmente.
Metodologia
A
avaliação econômica do uso da tecnologia
Bollgard foi feita a partir de planilhas de custo de produção
elaboradas para as principais regiões produtoras de
algodão no Brasil - os estados de Mato Grosso, Goiás,
Bahia, Ceará, São Paulo, Minas Gerais e Paraná.
A definição das planilhas-padrão para
cada região se deu com base nos sistemas de produção
típicos de cada uma, considerando-se também
os produtos mais citados nas pesquisas de campo.
Para os estados do Mato Grosso, Minas Gerais e Bahia, foram
analisados sistemas de produção para variedades
sensíveis e resistentes à doença azul.
Para os demais estados, admitiu-se que praticamente todo o
algodão utilizado é de variedades resistentes
à doença azul. Para o estado da Bahia, analisaram-se
adicionalmente sistemas de produção para algodão
irrigado e de sequeiro.
O critério de custo de produção utilizado
no estudo foi o de Custo Operacional Total (COT). Por esse
critério, estão computados os custos variáveis
(insumos, mão-de-obra, combustíveis e manutenção
de equipamentos), o custo do financiamento do capital de giro,
mais a depreciação de máquinas e equipamentos
e o custo do benefício.
Não estão inclusos, portanto, a remuneração
de fatores fixos diversos, como a remuneração
da terra, depreciação de instalações
diversas, remuneração e o custo oportunidade
do empresário, bem como outros custos fixos e semi-fixos,
notadamente os administrativos. Não está ainda
considerado o custo da tecnologia, que deverá ser agregado
ao COT para efeito de análise de rentabilidade da tecnologia.
Sendo assim, para a simulação das variedades
geneticamente modificadas, considerou-se o custo das sementes
transgênicas como sendo igual ao das sementes tradicionais.
Também não foram levados em conta eventuais
custos com a instalação de refúgios para
manejo de resistência.
Uma vez estabelecidas as planilhas de custo de produção
para cada região, realizou-se uma simulação
dos efeitos da introdução da tecnologia. Com
base nos resultados de trabalhos experimentais, admitiu-se
que a tecnologia estaria disponível nas variedades
atualmente em uso pelos agricultores.
A simulação foi realizada retirando-se dos sistemas
de referência os custos dos tratamentos específicos
para as pragas às quais o produto é resistente.
Assim, o custo de cada tratamento foi reduzido pelo montante
relativo aos defensivos agrícolas empregados, bem como
por todas as despesas relacionadas à operação
de máquinas e equipamentos necessários à
aplicação dos mesmos.
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