E a estimativa para este ano gira em torno de 35,500 milhões
de toneladas. A Conab (Companhia Nacional de Abastecimento)
aposta em 40,600 milhões de toneladas, para 2003. Já
o USDA, órgão que eqüivale ao Ministério
da Agricultura dos Estados Unidos, estima a safra em 35,500
milhões de toneladas.
As
oscilações de produção são
explicadas por fatores como preço e mercado, conforme
Jason de Oliveira Duarte, pesquisador de economia aplicada
da Embrapa Milho e Sorgo.
O
técnico afirma que o preço do milho mostra-se
intimamente ligado ao preço da soja, o que determina
as opções de plantio a cada ano. Para isso basta
um cálculo. Se o preço da soja estiver entre
1,8 ou 2 vezes mais alto que o do milho, a opção
é pela soja. Caso contrário, pelo milho.
Esse
cálculo explica os números de 1999 e 2002. Duarte
afirma que hoje aves e suínos fazem pressão
por oferta. Sabe-se que 70% da produção é
ofertada para alimentação animal. Mais ainda:
a Abmilho e a União Brasileira de Avicultura (UBA)
garantem que a oferta deste ano não é suficiente
para a demanda. Como conseqüência, verifica-se
redução de plantel e abate antes do prazo.
Duarte
afirma que a demanda interna é de 37,5 milhões
de toneladas. E o Brasil não se classifica entre os
grandes importadores do cereal. Em 2000, por exemplo, importou
2,135 mil toneladas. No ano seguinte, 568 toneladas. E, neste
ano, a previsão é de 700 toneladas. As importações
provêm 80% da Argentina e 20% dos Estados Unidos.
As
exportações também oscilam. Em 2000,
somaram 6,699 mil de toneladas. No ano seguinte, 5,629 milhões
de toneladas. E, a expectativa para este ano, de 2,450 milhões
de toneladas. Os preços mostram-se animadores, tanto
no mercado interno como no externo. Contribui também
para o sucesso, o fato de o Brasil não possuir milho
transgênico e ofertar milho de qualidade.
Duarte
lembra que as produções argentina e norte-americana
revelam dureza de grão e coloração diferenciada.
Portanto, o Brasil deve manter os nichos de mercado que conseguiu,
como os países da Europa e da Ásia. Auxiliam
também o recorde de exportação de frango
para países do Oriente Médio, agora em outubro,
e a demanda do mercado interno.
O governo acredita no crescimento da safrinha do milho em
área e também em produtividade, o que significa
menor déficit de oferta. Convém lembrar que
a safrinha depende de condições climáticas.
Atualmente, a falta de chuva já afetou o plantio de
soja. Portanto, haverá atraso na safrinha do próximo
ano.
Para Duarte, em 2003 deve haver problemas de oferta. Já
em 2004, a previsão é de que aumente a área
de milho e também a produtividade, com o incremento
da atuação do governo, cooperativas, institutos
de pesquisa e extensão rural.
Convém lembrar que 65% da produção brasileira
de milho é atribuída à agricultura familiar.
Já 10% dos produtores comerciais respondem por 65%
do milho produzido no Brasil. A produtividade média
brasileira é de 3,3 kg/ha, enquanto a produção
comercial atinge entre 8 mil e 9 mil kg/ha.
Os Estados do Paraná, São Paulo, Goiás,
Oeste do Minas Gerais, Triângulo Mineiro, Sul de Minas,
Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Santa Catarina e Rio Grande
do Sul concentram alta produtividade.
Conforme trabalho da agrônoma Rossana C.B. de Godoy,
o milho (Zea mays) é uma gramínea originária
da América, distribuída entre o Canadá
e Argentina, com aproximadamente quatro mil anos de cultivo.
Em termos de produção, é a segunda espécie
mais cultivada no mundo, depois do arroz. Os Estados Unidos
respondem por 41% do total da produção mundial;
seguidos pela China, com 18%; União Européia,
com 7%; e Brasil, com 6%.
Os Estados Unidos mostram-se também os maiores consumidores
do cereal, além do excedente de 15% para exportação,
o que o transforma no maior exportador mundial. Já
a China consome 20% do milho produzido no mundo.
A agrônoma lembra que o principal destino do milho é
a alimentação animal, que absorve, em média,
65% do total produzido. Portanto, a demanda do cereal mostra-se
ligada às cadeias pecuaristas, à avicultura
e à suinocultura.
Na safra recorde brasileira, que totalizou 41,541 milhões
de toneladas, o consumo animal respondeu por 63,5%. Desse
total, 32,4% foram absorvidos pela avicultura; 20,7%, pela
suinocultura; 6,7% pela pecuária; e 3,7%, por outros
animais.
Ainda do total, a indústria respondeu por 10%; o consumo
humano por 3,6%; perdas e sementes, por 0,6%; exportação,
por 13,6%; e outros, por 8,7%.
José Carlos Cruz, pesquisador da Embrapa Milho e Sorgo,
acredita que, futuramente, o milho seja cultivado em áreas
mais tecnificadas, com melhor potencial genético e
mecanização.
Isso deve resolver o problema de baixa produtividade, que
ainda existe no Brasil. A média brasileira é
de 3.300 kg/ha. Certas regiões, como Paraná,
Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e São
Paulo obtêm médias de 4.000/5.000/kg/ha.
"Hoje, a produtividade deixa a desejar", explica.
Lembra, porém, que muitos produtores alcançam
10 mil kg/ha. Como conseguem? Cruz assegura que obedecem às
normas técnicas. Mais: convém lembrar que, no
Centro Sul, um dia de atraso no plantio corresponde à
perda de 30 kg/ha/dia.
Além da época de plantio, cabe ao produtor escolher
o uso de sementes adequadas. Afinal, sabe-se que 50% do rendimento
da cultura deve-se à semente. E 50% ao manejo. O local
de plantio também é importante. Em áreas
com mais de 700 m de altitude, a produção aumenta
entre 15% e 20%. O milho é ideal para plantio direto
e rotação de cultura.
Em trabalho publicado por uma equipe de técnicos da
Embrapa, Cruz explica que no mercado existem variedades e
híbridos. Em todas as regiões do país
existem variedades apropriadas para sistemas de produção
de menor custo e, especialmente, para agricultura de subsistência.
Já os híbridos - híbridos simples, híbridos
triplos e híbridos duplos são materiais predominantes
e mais caros no mercado. Trata-se de opção para
aprimorar os sistemas de produção e o potencial
genético das sementes. Os simples lideram o mercado,
seguidos por triplos e duplos.
Outro fator importante no plantio do milho é o estande,
ou seja, a densidade do plantio. Com relação
à cultivar, a densidade poderá variar em função
do porte, da arquitetura da planta, da resistência ao
acamamento e ao quebramento e da finalidade a que se destina
o plantio.
As cultivares mais precoces, de menor porte e mais eretas
permitem o uso de densidades mais elevadas e espaçamento
mais estreito. As variedades são indicadas para plantios
com densidades variando de 40 mil a 50 mil plantas por ha.
Entre os híbridos, a densidade recomendada varia de
40 mil a 70 mil plantas por ha. As faixas de densidades mais
freqüentes recomendadas para híbridos duplos,
triplos e simples são, respectivamente, 45 a 50, 50
a 55 e 50 a 60 mil plantas/ha.
O plantio da safra normal ocorre a partir de agosto/setembro
no Rio Grande do Sul e se estende até novembro no Centro-Oeste,
em razão das condições climáticas.
No NE varia de região para região, especialmente
entre fevereiro e junho.
Já a safrinha, plantada entre fevereiro e abril, espalha-se
pelo Paraná, São Paulo, Mato Grosso, Mato Grosso
do Sul, Goiás e Minas Gerais. O plantio é limitado
pela geada no Sul do país e por falta de água
no Centro-Oeste.
A colheita normal ocorre 120 dias após o plantio, mesmo
tempo que vale para a safrinha. Atualmente, o mercado possui
206 cultivares diferentes. As precoces dominam, com 63%; seguidas
pelas superprecoce, com 20%; e normal, com 17%. A regiões
Sul, Sudeste e Centro-Oeste respondem por 77% da área
plantada e 92% da produção.
Cruz afirma que o quadro das doenças mostra-se agravado
nos últimos anos. Isso se deve ao aumento das áreas
com safrinha, ao milho irrigado e ao plantio em áreas
não adequadas. Portanto, ao fato de algumas áreas
terem milho o ano todo.
As principais doenças são a pinta branca, ferrugem
branca, ferrugem comum, e ferrugem polisora, cercosfora, enfezamento
e manchas foliares. O milho é atacado por pragas como
lagarta-do-cartucho e lagarta elasmo. As plantas daninhas
ocorrem ao longo do país e o cultivo deve estar livre
delas. O correto é limpar após seis/sete semanas
de plantio e manter controle químico e ou mecânico.
Conforme trabalho publicado por Antonio M. Coelho e Gonçalo
E. de França, ambos pesquisadores da Embrapa Milho
e Sorgo, as necessidades nutricionais de qualquer planta são
determinadas pela quantidade de nutrientes extraídos
durante seu ciclo. A extração do nitrogênio,
fósforo, potássio, cálcio e magnésio
aumenta linearmente com o aumento na produção.
A maior exigência do milho refere-se a nitrogênio
e potássio, seguindo-se cálcio, magnésio
e fósforo.
Em relação aos micronutrientes, as quantidades
exigidas são muito pequenas. No entanto, a deficiência
de um deles pode ter tanto efeito na desorganização
de processos metabólicos quanto a deficiência
de um macronutriente. Daí, a importância de adubação
correta.
Cruz lembra que a colheita mecanizada deve ser feita quando
o milho atinge de 18% a 20% de umidade. Já quando plantio
é manual, situação mais comum nas pequenas
propriedades, é possível deixar a cultura ente
um e três meses a mais no campo. O milho, quando maduro,
tem a espiga dobrada, o que significa proteção
contra insetos e chuvas.
Já em relação a armazenagem, ele explica
que o cereal é sensível a traças, carunchos
e roedores. Convém armazenar e usar inicialmente espigas
mal empalhadas e, mais tarde, as bem empalhadas. Realizar
expurgo a cada três meses para combate às traças
e carunchos. Cruz lembra que a cultura é suporte para
produção de suínos e aves. "Portanto,
o milho é bastante importante para a agricultura brasileira",
assegura.
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