Mas a confirmação do caminho certeiro e do potencial
da raça Caracu está refletida na grande aceitação
dos produtos da fazenda e, fundamentalmente, nos números
alcançados no Teste de Performance aplicado aos animais
Mariópolis. A avaliação mensura desde
crescimento (ganho de peso), precocidade sexual (perímetro
escrotal), carcaça (escores visuais de conformação,
precocidade, musculosidade e aprumos) até adaptabilidade,
um critério que, segundo o professor Danie Bosman,
também apresenta variabilidade genética. Aliás,
o sul-africano no é incisivo em afirmar que o "plantel
Marióplis apresenta um enorme potencial para beneficiar
a pecuária brasileira em todos os aspectos".
O
teste almeja obter um melhoramento genético que se
traduza em produtividade. Até aqui, os ganhos têm
sido expressivos em todas as características. O peso
à desmama, por exemplo, registrou avanço de
650g ao ano, em média; enquanto que o peso ao sobreano,
de 800g. Este desempenho é possível observando
com rigidez o comportamento dos animais envolvidos no teste.
Busca-se
baixo peso ao nascimento com ótimo crescimento até
a desmama, quando os machos deverão ter pelo menos
50% do peso de suas mães e as fêmeas, 40%. Visualmente,
avalia-se a musculosidade e os aprumos; além disso,
a precocidade no acabamento da carcaça.
Nos
itens de fertilidade do teste, que é aplicado pelos
técnicos do Núcleo de Zootécnica e por
Bosman, também visualmente é avaliado o comportamento
na desmama e aos 13 meses de idade, buscando-se que novilhas
e touros estejam prontos para a vida reprodutiva aos 14 meses
de vida. No caso de machos, mede-se a circunferência
escrotal e procede-se os exames andrológicos, além
da presença de forte libido. Mas a adaptabilidade dos
animais também é fundamental para o bom desempenho
dos produtos Mariópolis. Por estar no Brasil há
quase 500 anos, o Caracu pode ser considerado um "Bos
taurus" adaptado ou, como Maria Lúcia observa,
"o mais brasileiro dos europeus". Para conservar
esta adaptabilidade, monitora-se constantemente a resistência
a hecto-parasitas, através de medições
da espessura do couro e de contagem de carrapatos.
Mas engana-se quem achar que os animais Mariópolis
respondem apenas à bateria de avaliações
aplicadas pela fazenda. Em 2000 e 2001, alguns machos do plantel
participaram das provas da CAT - Centro de Avaliação
e Comercialização de Touros, figurantes entre
as mais importantes do País para apurar o melhoramento
genético que a pecuária de corte brasileira
procura. Entre os grandes reprodutores que a CAT revelou,
os animais caracu da Mariópolis figuraram entre o grupo
"Top Class", sendo que um deles, Festim da Mariópolis,
foi deslocado para coleta de sêmen na central Lagoa
da Serra. Apesar de reconhecer o valor da vitrine, Maria Lúcia
não conseguiu disponibilizar animais para a prova de
2002. Porém, ela avisa que concentrará esforços
para participar do certame do próximo ano.
A
dieta
Apesar da topografia bastante acidentada, os quase 860 animais
Caracu da Mariópolis são mantidos em regime
de pastejo rotacionado. As áreas formadas de Tanzânia,
brizantha e tífton (em menor oferta), são adubadas,
anualmente, segundo análises de solo. No verão,
o rodízio procura explorar mais os piquetes de Tanzânia,
pois a gramínea oferece mais proteínas no período
das chuvas. Já a brizantha fica para o inverno, por
apresentar mais massa e segurar de forma mais positiva seu
teor protéico na seca. Em algumas áreas, a fazenda
ainda dispõe de um capim nativo consorciado com soja
perene e estilozantis, uma leguminosa. Durante as chuvas,
a propriedade ainda ensila capim napiê e camerum, para
servir de reforço na seca.
Até a desmama que ocorre aos sete meses de idade, serve-se
sal proteinado específico para a faixa etária,
em sistema de creep feeding. A iniciativa prepara e acelera
a maturação do rúmen dos bezerros, permitindo
proceder uma desmama menos traumática. Após
a desmama, os animais seguem para o Teste de Performance.
Os machos reprovados em pré-seleção são
vendidos castrados para a engorda; já as fêmeas,
tomam vários destinos, porém sem registros.
No teste, as reses são suplementadas. Inicialmente
e gradativamente, introduz-se quantidades de cana-de-açúcar
picada. Posteriormente, de refinazil e, finalmente, de farelo
de soja, sempre complementado com sal mineral específico.
Passados 30 dias no regime, as quantidades oferecidas passam
a ser de acordo com a resposta do ganho de peso diário.
Os machos, por exemplo, superam 1.000g/dia (GP). Todos os
animais permanecem separados por lotes de idade.
As fêmeas contam com a mesma dieta, porém em
volumes menores, já que não se pretende um ganho
de peso diário acima 700g. A monta acontece aos 14
meses, também por animais jovens. São elas que
na seca são suplementadas por silagem de capim. Já
as adultas, somente se apresentarem um escore corporal aquém
do desejado. As fêmeas primíparas e as de reconcepção
dispõem dos melhores pastos da Mariópolis. Com
esta dieta alimentar, em 2002, o plantel de fêmeas apontou
fantásticos 95% de taxa de prenhez média; sendo
que, somente a das novilhas, foi 97%.
Tais índices são motivos de admiração
de vários e importantes técnicos da pecuária
brasileira. Cláudio Haddad, professor da ESALQ-USP,
por exemplo, é um deles. Ele destaca "a dedicação
de Maria Lúcia e Dario, bem como de toda a equipe operacional
e técnica, como responsável por levantar um
dos mais modernos plantéis de Bos taurus adaptados
aos trópicos"; e também seu orgulho, por
ter participado desta jornada. "A fazenda Mariópolis
é um exemplo marcante de sucesso em pouco tempo",
finaliza Haddad. Vale lembrar que a Fazenda Mariópolis
é unidade demonstrativa do Programa Boi Verde da Tortuga
e é fazenda piloto da Allflex, tendo seu rebanho todo
rastreado e certificado.
E o reconhecimento também do mercado ao trabalho da
Mariópolis é uma realidade. Em 19 de outubro
último, a fazenda realizou seu segundo leilão
com casa cheia: vários compradores e algumas das mais
importantes estrelas da pecuária nacional. Sessenta
e seis animais faturaram R$ 176,8 mil, alcançando média
geral de R$ 2,7 mil. Os machos da safra 2001, num total de
23 cabeças, foram os mais valorizados, merecendo cotação
média de R$ 3,2 mil. Maria Lúcia mostrou-se
satisfeita com os negócios, principalmente, considerando-se
o mercado atual e os problemas de câmbio. "Em reais,
nós conseguimos crescer, em relação a
2001", conclui.
|