Os dados são fornecidos por Walane M. P. de Mello Ivo,
pesquisadora da Embrapa Tabuleiros Costeiros, em Rio Largo,
Alagoas, que acredita na necessidade de o país estender
seu comércio à Ásia, em especial, à
China, em razão da grande população daquele
país.
A
Índia divide com o Brasil a liderança mundial
na produção de açúcar, com os
mesmos números. O segundo lugar cabe à Austrália
e Tailândia, ambos com seis milhões de toneladas;
seguidos por México, com cinco milhões de toneladas;
Cuba, com quatro milhões de toneladas; e África
do Sul, com três milhões de toneladas.
Walane
afirma que, conforme textos internacionais, o Brasil detém
o menor custo de produção, o que torna o produto
competitivo. Colaboram também pesquisas que mostram
que numa mesma extensão de área com plantio
de cana e de beterraba, a produção de açúcar
a partir da cana é maior.
Ela
explica a necessidade de o Brasil procurar ampliar mercado
com a Ásia. Pesquisas mostram que, entre 1970 e 1995,
a União Européia produzia menos de que consumia.
Desde 1976, porém, a produção de açúcar
à base de beterraba cresceu. Começou, então,
a exportação do produto, cenário que
se revela até hoje. Já o mercado norte-americano
importa açúcar. Mas as importações
diminuem ano a ano.
Já
o cenário interno aponta a produção de
cana distribuída ao longo do país. Na safra
2001/2002, por exemplo, São Paulo liderou com 176 milhões
de toneladas; seguido por Alagoas, com 23,805 milhões
de toneladas; Paraná, com 22,868 milhões de
toneladas; Pernambuco, com 14,364 milhões de toneladas;
e Minas Gerais, com 12,230 milhões de toneladas.
Na
opinião de Walane, a explicação para
a produção paulista é simples. Sabe-se
que São Paulo foi o pólo introdutor da cana
no Brasil. A isso pode ser somado o fato de possuir áreas
maiores com o cultivo, ter vocação climática,
solos apropriados, tecnologia adotada com maior rapidez e
gerenciamento profissional das propriedades.
A
pesquisadora explica que, no Nordeste, há o problema
da precipitação pluviométrica e o fato
de os engenhos, em muitas situações, possuírem
administração familiar. Mas as perspectivas
para o cultivo no país são boas. Verifica-se
expansão de áreas em Minas Gerais e no Paraná.
No Nordeste, o plantio da cana de ano, denominação
para a cultura que é plantada e colhida em um ano,
ocorre entre setembro e fevereiro e a colheita, de setembro
a março. Já a cana de um ano e meio é
plantada entre junho e setembro e colhida de setembro a março.
No Sudeste, a cana de ano é plantada de agosto a outubro
e colhida de abril a outubro/novembro. E a cana de um ano
e meio, plantada de outubro a abril e colhida de abril a outubro/novembro.
Gramínea (Saccarum officinarum L.) originária
da Ásia, a cana-de-açúcar foi introduzida
no Brasil por Martim Afonso de Souza, por volta de 1530, em
São Vicente, litoral de São Paulo, e, quase
simultaneamente, em Pernambuco. Transformou-se no principal
produto agrícola brasileiro durante 150 anos, período
denominado ciclo da cana, imediatamente anterior ao ciclo
do ouro. A cultura renasceu no começo do século
XIX.
A planta prefere clima tropical, livre de geadas e com temperaturas
médias entre 20 e 24 graus. Walane garante que a cana
suporta temperaturas entre 10 e 15 graus, mas mostra redução
no crescimento. O solo ideal deve ser profundo, bem estruturado,
com fertilidade de média para alta, acidez de média
para fraca, livre de impedimentos de drenagem e topografia
que garanta mecanização.
A precipitação pluviométrica ideal é
de 1.200 mm por ano, com período seco na maturação.
Essa situação é encontrada em São
Paulo. Já no Nordeste, aumenta a demanda por tecnologia
relacionada à irrigação, em busca de
competitividade com o Sudeste. Em Alagoas, por exemplo, existem
pontos com tecnologia avançada.
A maior parte da irrigação é composta
por aspersão, por meio de pivô central, pivô
linear e irrigação autopropelido em barra. Quase
a totalidade da área irrigada é atendida por
esses sistemas. Recentemente, foi introduzido o sistema de
irrigação localizada por gotejamento enterrado,
isto é, irrigação por baixa pressão
mas contínua. Hoje, quase todas as usinas possuem uma
área irrigada dessa forma. Trata-se, no entanto, de
tecnologia incipiente na região Nordeste.
A produtividade média brasileira da cana alcança
60/70 mil kg/ha. No Sudeste, salta para 80 mil kg/ha. E no
Nordeste, oscila entre 50/60 mil kg/ha. Walane afirma que,
em certa regiões de Alagoas, a irrigação
garante médias de 120 mil kg/ha. Lembra que o cultivo
da cana com irrigação por aspersão não
é contínuo. "Os produtores usam a irrigação
nos momentos mais críticos e fazem rodízio para
garantir o nível de produtividade competitivo com o
do Sudeste", conta.
As variedades mais usadas no Brasil são a RB72454,
com origem no Planalsucar, e ocupa 20% da área culivada
no país; SP801842, com origem na Coopersucar, 10% da
área; RB855536, origem na Rede Interuniversitária
para o Desenvolvimento Sucroalcooleiro (Ridesa), 9% da área;
SP813250, origem na Coopersucar, 8% da área; RB835486,
da Ridesa, 7% da área; e SP791011, com origem na Coopersucar,
6% da área.
Atualmente, o cultivo da cana é bastante mecanizado.
As fases de prepara de solo, adubação, aplicação
de herbicidas, sulcamento e plantio são feitos por
máquinas. Waldene afirma, porém, que, em muitas
regiões do Nordeste e outras áreas do país,
o plantio é quase sempre manual.
Sensível, a cana é atacada por pragas e doenças
ao longo do ciclo vegetativo. Uma das principais doenças
que ocorrem nos cultivos é a escalcadura das folhas.
O mal é causado pela bactéria Xantomonas albilíneans,
e na fase aguda apresenta sintomas como queima de folhas,
folhas enroladas no cartucho e folhas total ou parcialmente
secas. A transmissão acontece por toletes ou podões.
E o controle é feito com variedades resistentes e mudas
selecionadas.
Outra doença importante é o carvão, causada
pelo fungo Ustilago scitaminea, cujo sintoma é o apêndice
terminal com aparência de chicote, de onde se desprende
um pó preto. Os toletes e o vento são os transmissores.
E o combate deve ser feito com variedades resistentes e o
tratamento dos toletes em água quente a 52 graus por
45 minutos.
As principais pragas são a broca-da-cana (Diatraea
sacharalis) e cigarrinha-da-folha (Mahanarva posticata) e
cigarinha-das-raízes (Mahanarva fimbriolata). A broca-da-cana
causa perda de peso, brotação lateral e entrenós
atrofiados em canas adultas. O combate é feito por
meio de controle biológico com moscas parasitas e vespas.
Já o ataque de insetos adultos da cigarrinha-da-folha
e da cigarrinha-das-raízes na forma de sugar a seiva
infectam substâncias que provocam a queima das folhas.
Os colmos definham e os internódios ficam mais curtos.
O combate deve ser químico. Mas há também
controle biológico, com fungo.
Na opinião de Walane, os produtores de cana no Nordeste
caracterizam-se por serem produtores familiares, com tradição
de pai para filho. Atualmente, no entanto, muitas das usina
adotam modelos de gestão mais profissionais, com a
contratação de técnicos especializados.
Paralelamente, os produtores mostram-se interessados em novas
tecnologias, cuja absorção é rápida.
"Eles são ágeis na resolução
de problemas e apostam no alto nível da tecnologia.
Mesmo com profissionais contratados, o dono faz questão
de participar do negócio com atenção",
garante ela.
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