Os 10% da produção de equivalente de arcaça/ano
exportados representam entre 14 e 15% das cabeças abatidas
durante todo o ano.
Ou
seja, se forem abatidas 40 milhões de cabeças/ano,
cerca de 6 milhões serão destinadas às
exportações. Isso significa que pelo menos 500
mil animais terão de estar disponíveis por mês
nos abatedouros dos frigoríficos que trabalham com
a exportação da carne bovina.
Nelson
Pineda, diretor da Associação Brasileira dos
Criadores de Zebu (ABCZ), diz que, se esse raciocínio
for seguido, levando em conta que as 830 mil cabeças
disponíveis estejam dentro das especificações
exigidas pelo Sisbov (Sistema de Identificação
e Certificação de Origem Bovina e Bubalina),
o Brasil tem como atender o mercado internacional por apenas
um mês e meio.
Perigo
De
acordo com Pineda, se a rastreabilidade do nosso rebanho bovinos
não avançar rapidamente, o Brasil corre sério
risco de ser rebaixado de categoria na OIE (Organização
Internacional de Epizootias). "Perderemos a credibilidade,"
afirma Pineda. Ele explica que o governo dederal deve criar
mecanismos pelos quais o produtor possa ser beneficiado pela
rastreabilidade.
Para
implantação do sistema, cada animal poderá
custar em torno de R$ 8,00. "Isso assusta o produtor.
Ele não vê porque aderir ao sistema", ressalta
o diretor da ABCZ, defendendo a idéia de que se os
frigoríficos pagassem R$ 1,00 a mais por arroba, cada
boi geraria o equivalente a R$ 16,00 a mais no preço
final. "Bastaria repassar o preço ao consumidor
ou mesmo que os frigoríficos ganhassem um pouco menos,"
afirma.
Nelson
Pineda entende que o caminho para que a rastreabilidade no
Brasil dê realmente certo é fazer uma "mesa
redonda" entre frigoríficos, produtores e o Ministério
da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) para
negociar um repasse ao produtor, que seja justo e não
prejudique os envolvidos na cadeia produtiva. Atualmente,
a tonelada da carne de bovinos brasileiros vendida no exterior
é barata. De acordo com Pineda, ela representa valores
em torno de U$ 1.500. "Para que o processo funcione é
preciso convencer todos os envolvidos de que é necessário
ganhar menos, para posteriormente faturar mais," explica.
Aumento
da oferta interna
Se
a oferta de carne para o mercado interno aumentar, com a não
exportação do produto, o preço pago pelo
boi ao pecuarista será ainda menor. Isso acarretaria,
segundo Pineda, os mesmos problemas enfrentados atualmente.
"Todos ganhariam ainda menos," diz.
Para
um país cuja balança comercial tem alcançado
sucessivos superávits, com grande participação
do agronegócio nas exportações, deixar
de exportar carne nesse momento pode gerar um retrocesso econômico.
Quanto
às empresas certificadoras pelo MAPA para atuar na
rastreabilidade, de acordo com Pineda elas atendem ao mercado,
mas o problema é a falta de adesão dos pecuaristas.
"O produtor fala: não vou entrar na rastreabilidade
até que me mostrem que vou lucrar. Precisamos modificar
esse cenário. Para isso, precisamos de transparência
e honestidade entre frigoríficos e produtores,"
afirma.
Ele
compara: No exterior, mais especificamente na França,
são feitas reuniões para se discutir o preço
da carne. O lucro é dividido entre todos os que participam
da cadeia produtiva. Chega de o produtor ser o único
a pagar a conta.
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