De
posse da família Vilela há mais de 50 anos e
tradicional na exploração leiteira e do café,
a terceira geração de proprietários abriu
áreas de reflorestamento, engorda de gado de corte,
cultivo da palmeira real para a obtenção de
palmito e a produção de mudas de árvores
nativas. Este leque de atividades trouxe um importante complemento
de receita para o caixa da fazenda.
No
setor cafeicultor, a Bela Vista vem fugindo dos baixíssimos
preços, investindo na produção de bebida
tipo exportação. No reflorestamento, a produção
de eucalipto para lenha e mourões traz grande expectativa
a longo prazo. Já a engorda de gado de corte, Alberte
Vilela destinou áreas com excedentes de pastagens para
garantir renda mais a médio prazo. Quanto ao leite,
as contas se equilibram a partir da exploração
de uma raça pura, a Pardo-Suíça, cuja
venda de animais é bastante aquecida.
Mas
a atividade que encontra maior entusiasmo, no momento, principalmente
nos filhos Ricardo e Érika Vilela é sem dúvida
o cultivo de árvores nativas. O trabalho surgiu a partir
de uma parceria entre a Bela Vista e a Asas Produções,
uma empresa da capital mineira que há mais de 10 anos
vem desenvolvendo projetos de educação ambiental,
junto a escolas primárias e secundárias. O projeto
denominado "Plantando o Futuro" (www.plantandoofuturo.com.br),
leva as mudas de árvores até as crianças
e adolescentes. As escolas as recebem e aplicam uma série
de atividades pedagógicas relacionadas ao tema.
Logo, como o projeto visa atender escolas de todo o Brasil,
a demanda por espécies que possam se desenvolver em
qualquer região do território é muito
grande. No primeiro ano de cultivo, a Bela Vista instalou
viveiros de Ipê Roxo, Ipê Rosa, Aroeira do Sertão,
Cedro Rosa, Jacarandá do Campo e Pau-Viola. Estas espécies
são as mais representativas da flora brasileira e,
algumas delas, como a Aroeira do Sertão, produzem madeira
de muita resistência, de modo que sua procura é
muito grande. Atualmente, o corte desta variedade é
proibido.
Um
outro filão importante para as mudas de espécies
nativas é a recuperação de áreas
degradadas. Contatos iniciais com empresas mineradoras, siderúrgicas,
cerâmicas e prefeituras de Minas Gerais revelam grande
receptividade ao projeto, segundo relato de Ricardo Vilela:
"a demanda neste setor é enorme, sendo que, para
o reflorestamento, o ideal é a utilização
de espécies nativas conhecidas como pioneiras, que
se desenvolvem mais rapidamente em áreas desmatadas.
A consciência de preservação ambiental
é hoje uma realidade em vários setores da economia.
Basta apenas um fôlego financeiro, que deverá
vir quando o País voltar a crescer, para que o reflorestamento
passe a ser uma atividade intensa", explica.
O
cultivo
As
sementes das espécies nativas são obtidas junto
ao IPEF (Instituto de Pesquisa e Estudo Florestal) da USP
de Piracicaba (Universidade de São Paulo - Campos de
Piracicaba/SP) e no Instituto Florestal de São Paulo.
As duas instituições são conceituados
bancos de sementes, que podem germinar em estufas ou casas
de vegetação. Elas são colocadas em canteiros
germinadores compostos por moinha de carvão e areia
fina lavada. Após brotarem, são transplantadas
para tubetes com 2 a 5cm de altura, determinados de acordo
com a espécie em questão.
Após
40 dias do transplante, em média, as mudas devem ser
espaçadas para evitar o estiolamento, ou seja, crescimento
exagerado dos entre-nós, causado por competição
pela incidência de luz. Durante toda esta etapa, as
irrigações são feitas três vezes
ao dia com microaspersores. As adubações com
NPK começam a partir do surgimento do segundo par de
folhas nas mudas e são procedidas a cada 15 dias.
No
viveiro, algumas espécies, como o Ipê Rosa, não
se desenvolvem bem se as temperaturas e a umidade forem elevadas.
Para ela, portanto, indica-se cobertura com sombrite 50%.
Já ao ar livre, as mudas chegam pouco antes de atingirem
ponto ideal de comercialização, onde permanecem
expostas ao tempo, porém irrigadas. Só que,
a partir daí, as regas são mais espaçadas
de modo a se promover a rustificação das plantas,
que precisam desta característica para suportar bem
o transporte e o plantio. As mudas destinadas ao projeto "Plantando
o Futuro" são comercializadas em tubetes e vão
para o Brasil inteiro por Sedex. Já as que vão
para o reflorestamento, a acomodação é
feita em saquinhos plásticos com dimensão de
10x20cm. Neste ponto, elas estão com altura média
de 30cm.
As
maiores dificuldades de todo o processo estão na conciliação
de algumas variáveis, tais como, quantidade de mudas,
prazo de entrega, tamanho das mudas, época do ano e
a falta de informações, pois a cultura de árvores
nativas está muito longe de ter sido estudada à
exaustão. Apenas centros especializados, como o da
CEMIG e algumas universidades, detêm conhecimento suficiente
para se empreender um projeto de sucesso. Contudo, superadas
as dificuldades iniciais, já no segundo ano de trabalho,
Ricardo Vilela garante que as mudas produzidas pela Bela Vista
são de grande qualidade e contam com a satisfação
dos clientes. As descobertas são tão boas que
a família promete duplicar o porte do negócio
já no próximo ano.
Instalações
e investimentos
A
Fazenda Bela Vista destinou uma área de 2.500m2 para
o cultivo de mudas, sendo 300m2 para estufa, 250m2 para viveiros
com sombrites, 80m2 de galpão como depósito
de materiais, 80m2 de pátio murado e cimentado para
mistura de substratos, enchimentos de saquinhos e tubetes.
O restante da área é utilizada para a rustificação
e passagem. A idéia é ter mais um turno de produção,
por ano, já que as escolas não precisam receber
mudas exatamente no começo do verão, como acontece
com as empresas de reflorestamento. Para dobrar a capacidade
de produção, Érika Vilela, engenheira
agrônoma responsável pelo projeto, afirma que
será necessário duplicar a área de viveiro
e de rustificação, pois o atual espaço
da estufa já é suficiente. Ao todo, quatro pessoas
são mobilizadas para o manejo, que ainda inclui 30
mil mudas de Palmeira Real que serão plantadas na própria
Bela Vista, visando à produção de palmito
nobre.
Os
investimentos para o cultivo de mudas somam R$ 41 mil, sendo
que a estufa consumiu R$ 15 mil e o galpão e pátio
R$ 12 mil. Tanto a estufa quanto os viveiros sofrem uma depreciação
de 25% ao ano. Mas o restante das instalações,
de apenas 5%. As mudas são comercializadas por R$ 0,50
a unidade. O custo de produção de cada uma varia
entre R$ 0,30 e R$ 0,40, dependendo da espécie. A margem
mínima de lucro de 10% é o grande incentivador
da família Vilela, que ainda tem em Alberte Vilela,
a segunda geração, o diretor de todos os negócios.
O
cultivo da Palmeira Real
Após
um primeiro ano de experiência, quando foram encontradas
algumas dificuldades na confecção das mudas
de palmeira real, principalmente no baixo percentual de germinação
e no ataque de fungos, Ricardo e Érika já estão
mais confiantes, pois estão dominando melhor o processo
e produzindo qualidade, com exemplares bem desenvolvidos e
portes uniformes. O projeto visa o plantio de 10ha de palmeira,
por ano. Após três anos sucessivos de plantio
já será possível promover os cortes.
Em 10ha é possível acomodar 100 mil plantas.
As
sementes de palmeira real foram adquiridas em Santa Catarina,
local onde a espécie se desenvolve com grande potencial
e qualidade. A Bela Vista pretende verticalizar o processo
e, inclusive, instalar uma indústria de conservas nos
próximos dois anos. O objetivo é desovar uma
produção de 10 mil vidros de palmito por mês.
O rendimento bruto esperado é de R$ 20 mil por hectare
nos primeiros três anos de corte, sendo que o custo
já jornada é de R$ 4 mil por hectare. Cada muda
sai por R$ 0,25 e os Vilela também esperam comercializá-la
já no final deste ano. A Palmeira Real também
é uma espécie de valor ecológico, pois
ela compete diretamente com a Juçara (espécie
nativa da Mata Atlântica, ameaçada de extinção
e objeto de extrativismo ilegal), em sabor e qualidade de
fibras.
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