Em
26 de abril deste ano, Higino abriu as porteiras da Fazenda
Três Mu-chachas (Camapuã/MS - Nordeste) para
um Dia de Campo. No evento, ele apresentou seis lotes de bezerros
em desmama, com resultados que impressionaram a todos, vários
pecuaristas de renome da região, possivelmente, o maior
centro produtor de carne do Centro-Oeste brasileiro.
O
trabalho apresentou desempenhos comparativos de bezerros
até a desmama, em função de dieta
oferecida e da qualidade de conformação.
Dois lotes de fundo do rebanho, um de bezerros e outros
de bezerras, ambos criados sem creep feeding, registraram
peso ajustado médio, na desmama (8 meses de idade,
em média), de 231,1kg e 221,8kg, respectivamente.
Para estes grupos, de criação inferior,
por si só os números já impressionariam;
porém, um outro ainda é mais importante
para o pecua-rista. Trata-se do percentual de peso desmamado
em relação ao peso da mãe, uma fêmea
Nelore comercial de padrão médio, mas com
bom escore corporal. Neste item, esses dois lotes testemunhas
marcaram 61,3% e 58,1%, respectivamente (mães com
peso médio de 382kg fêmeas -, e 377kg - machos).
Outros dois lotes intermediários, mais uma vez
de machos e fêmeas, em separado, porém com
suplementação em creep feeding, também
na desmama pesaram, em média, 265,3kg e 256,3kg,
superando em 15% os dois lotes de fundo, com percentuais
de 64,6% e 63,6% do peso médio de suas mães
(402,9 e 410kg), respectivamente.
Os dois últimos lotes do experimento obedecem às
mesmas características dos dois lotes intermediários,
porém, constituídos pelos melhores bezerros.
O de fêmeas registrou peso médio per capita
de 268,5kg, cerca de 65,4% do peso de suas mães
(410,8kg). Já o de machos, 273,6kg e 68% (mães
com 402,5kg). Em relação aos lotes de fundo,
a diferença de peso é de quase 20%.
Os altos percentuais de peso na desmama em relação
ao peso da mãe são diferenciais econômicos
relevantes. Trata-se de mães de porte médio
que consomem dieta correspondente (menos alimentação
do que animais de porte superior), porém, que criam
muito bem seus bezerros, desmamando-os com um peso que
adianta a recria e encurta o tempo de abate. As 9 mil
cabeças em engorda de Higino gastam, em média,
para alcançarem o mesmo peso de abate, 24 meses
para os animais F1 de outras raças européias
e 36 meses para os azebuados. Contudo, nas projeções
do pecuarista, por este desmame médio pesado, a
F1 do Pardo-Suíço Corte reduzirá
este intervalo de tempo para apenas 20 meses, ou seja,
produzirá carne dentro da categoria novilho precoce,
terminada totalmente a pasto.
Traduzidos para a moeda corrente, a criação
de cada bezerro custou a Três Muchachas cerca de
3,5 arrobas. Considerando um peso de desmama médio
de 260kg, ou seja, 8,5 arrobas, o lucro de obtido por
Higino foi de 5 arrobas, isto é, de R$ 200,00 por
bezerro (R$ 40,00 a arroba).
Os
pilares do trabalho
O produtor acredita que os bons números da criação
de bezerros cruzados devem-se a alguns fatores que julga de
extrema importância para uma pecuária competitiva.
O primeiro deles diz respeito a qualidade das pastagens. O
segundo vai ao encontro da utilização de uma
genética com alto potencial produtivo e dirigida às
condições de produção da fazenda.
O terceiro fator e o menos importante, é um manejo
que preserve a boa saúde das reses e um desenvolvimento
homogêneo das várias categorias de animais envolvidas.
Para Higino, que é engenheiro agrônomo, a qualidade
das pastagens é 70% de um bom trabalho de pecuária.
A Três Muchachas (Camapuã/MS, Nordeste) está
a 546m de altitute, com 1.800mm de chuva por ano. A propriedade
destina à criação de bezerros, 1,6 mil
hectares, divididos em 30 piquetes. Cerca de 90% deles é
formado por capim brizantão. Já o restante,
por tanzânia. Eles comportam 600 matrizes Nelore comerciais,
40 novilhas prenhas e 35 touros Pardo-Suíço
Corte, além de centenas de bezerros.
As pastagens são corrigidas por meio de calagem e fosfatagem
a cada cinco anos de atividade. No seu manejo, nunca é
permitido baixar muito a altura do capim. Desta forma, preservando
a gramínea, dispensa, por exemplo, a adubação
de cobertura. O tempo médio de descanso de cada piquete
é de 32 dias, alternados com quatro ocupados por oito
dias cada. Estes números se alteram na medida em que
há mais chuva ou seca, na temporada. Higino reforma
10% da área de pastagem todo ano.
A suplementação pelo creep feeding também
é um ponto de destaque do trabalho, segundo o pecuarista.
Até os 105 dias de vida, os bezerros recebem 1/2kg
de sal mineral, cada, formulado especificamente para esta
faixa etária e para as condições de pastagem
da propriedade. O ganho de peso diário médio,
do nascimento à desmama (normalmente aos 210 dias),
incluindo machos e fêmeas é de 1kg.
O segundo pilar do trabalho é a qualidade genética
do material utilizado na produção de F1. Tudo
começa com as boas vacas comerciais Nelore da Três
Muchachas, de porte médio, porém de bom potencial
genético. Estabelecida a base materna, o reprodutor
Pardo-Suíço Corte é o diferencial, obedecendo
a uma série de critérios estabelecidos por Higino.
Ele precisa de um animal mais alto, que não arraste
o umbigo e que ande bastante atrás da vacada. Prefere
ainda touros menos tubulares, no que diz respeito à
conformação da carcaça. Para o pecua-rista,
touros mais baixos e muito carregados de carne são
mais preguiçosos e têm seu papel de reprodutor
prejudicado.
Sendo assim, até aqui, Higino tem valorizado o Pardo-Suíço
Corte com um boa percentual de sangue Brown Swiss (Pardo-Suíço
linhagem leiteira), animais que servem como base para a seleção
da linhagem da raça produtora de carne. Sua criação
de Pardo-Suíço Corte, situada em Angélica/MS
(Fazenda Santa Rosa - região Sul), atualmente com 160
animais, conta com 45 vacas proveniente de rebanhos de Santa
Catarina e Rio Grande do Sul, animais com 1/4 de sangue Brown
Swiss que, hoje, são inseminados por material genético
de sangue fechado original (Braunvieh ou Pardo-Suíço
Corte, sem sangue Brown Swiss).
Na Três Muchachas estão organizadas duas estações
de monta por ano: uma que vai de 1º de outubro a 30 de
dezembro e outra de 15 de março a 15 de junho. Desta
forma, a propriedade distribui melhor as parições
e evita partos em dezembro e janeiro, época em que
a chuva atrapalha muito o desenvolvimento dos bezerros recém-nascidos.
As duas estações ainda favorecem no sentido
de entrada de receita, pois permite a oferta de lotes de bezerros
(metade deles, por cria/mês) para a engorda, a cada
dois meses. O sistema também favorece o manejo e diminui
o adensamento da fazenda. Já aos repro-dutores, permite
um descanso de 90 dias a cada igual intervalo de trabalho.
Todo este trabalho de cria de bezerros cruzados, segundo Higino,
deverá ser estendido, fundamentalmente para aumentar
a oferta de produtos. Toda a produção de fêmeas
F1 do ano passado foi comercializada para recepção
de embriões, rendendo R$ 430 por cabeça. Segundo
o pecuarista, enquanto houver demanda para programa de transferência
de embriões, todas as fêmeas cruzadas vão
embora. Quando este contexto mudar, elas receberão
retorno de touro Nelore. Já a produção
de bezerros de 2001, pronta para a engorda, recebeu R$ 330
per capita.
A
engorda
As nove mil reses passam pela engorda em quatro propriedades.
Fazendas Ipacaraí e Santa Helena, em José Bonifácio/SP;
Fazenda Moracha, em Presidente Venceslau/SP; e Palomita, em
Angélica/MS. Ao todo, são destinados 5,9 mil
hectares, resultando numa lotação média
de 0,65UA/ha. A engorda acontece toda a pasto, sem terminação
em confinamento, apenas com suple-mentação mineral.
Como ainda não consegue produzir animais suficientes
para esta etapa, a maior parte do gado é adquirida
de outros criadores, com peso médio variando entre
6 e 10 arrobas, sempre cruzado e conciliando qualidade e preço.
Neste regime de engorda, o ganho de peso diário é
de 400g/dia. Os cruzados europeus chegam ao peso de abate
aos 24 meses, enquanto que os zebus, aos 36 meses e, os F1
de Pardo-Suíço Corte, aos 20 meses. Para Higino,
mais importante, aqui, do que uma prole filha de um grande
produtor de carne, é o resultado do grande choque de
sangue que ele proporcionou, produzindo animais pesados e
de desenvolvimento bastante precoce e econômico.
Ivaris
Junior
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