A
primeira descrição deste parasita em bovinos
ocorreu em 1989, por Dubey et al. A partir de então,
muitos trabalhos têm sido publicados sobre o assunto,
enfocando a importância econômica da doença
em bovinos, principalmente, como causadora de abortos.
O
hospedeiro definitivo do protozoário é o cão,
mas, recentemente, descobriu-se que também a raposa
o é. O hospedeiro definitivo infectado com cistos do
Neospora caninum eliminam oocistos pelas fezes. Estes, possuem
dois esporócitos com quatro esporozóitos no
seu interior. Tais características evidenciam sua semelhança
com o oocisto do Toxaplasma gondii.
Esclarece,
assim, que a infecção dos bovinos é devido
a ingestão de alimentos contaminados pelos oocistos
eliminados pelo hospedeiros definitivos (cães e raposas),
que realizam a reprodução sexuada, formando
um zigoto que segrega uma membrana cística e, assim,
elina os oocistos para o meio ambiente através das
fezes.
Quando
infectados, os bovinos, a transmissão ocorre via congênita
(transplacentária), única forma demonstrada
até o momento. Este modo de transmissão é
responsável pela perpetuação nos rebanhos,
fato comprovado pela alta taxa de infecção de
bezerros, filhos de mães infectadas. Se a infecção
fosse pós-natal, por fezes ou alimentos, a prevalência
esperada em vacas mais velha seria maior, uma vez que estes
animais estão sujeitos a um maior período de
exposição. Porém, não há
um aumento de soroprevalência relacionado com a idade
dos animais. A falta de um efeito da idade da mãe na
soro-positividade pré-colostral e a soprevalência
constante nos rebanhos sugere que a transmissão congênita
é a principal via de transmissão. Desta forma,
são necessários estudos para caracterizar e
quantificar riscos de infecção pós-natal.
Em animais infectados é possível encontrar a
presença de formas do ciclo da Neospora caninum (taquizoitos)
em muitas células nervosas, macrófagos, fibro-blastos,
células endoteliais dos tubos renais e hepatócitos.
O taquizoito penetra na célula por invasão ativa
e torna-se intracelular dentro de cinco minutos em contato
com a célula do hospedeiro. Estes localizam-se no citoplasma
da célula, dentro do vacúolo parasitóforo.
Nos tecidos, os cistos apresentam-se em forma ovalada e tem
sido observados nos tecidos nervosos (cérebro, medula
espinhal, nervos) e retina.
Em animais inoculados, experimentalmente, a Neospora caninum
é infectante por via subcutânea, intraperitonial,
intra-muscular, intravenosa e oral. Seus cistos podem sobreviver
até 14 dias a 4ºC, mas não são infectantes
após congelamento a 20ºC negativos, por um dia.
A Neospora cainum é capaz de produzir lesões
neuróticas, visíveis macrocospicamente, em poucos
dias, causadas pela multiplicação ativa de taquizoítos.
Pode produzir severas doenças neuromusculares em bovinos
e, provavelmente, em outros hospedeiros, destruindo grande
número de células nervosas, incluindo nervos
craniais e espinhais, interferindo na condutibilidade das
células afetadas. Os cistos são, freqüentemente,
circunscritos por uma zona de reação do hospedeiro.
Embora o tempo de duração do cisto nos tecidos
não seja conhecido, sabe-se que são viáveis
em cérebro de camundongos infectados experimentalmente,
por no mínimo um ano. A administração
de corticóides exógenos pode exacerbar a neosporose.
O único sinal clínico da neosporose observada
em bovinos é o abortamento. Não há dados
sobre o período de incubação, fatores
afetando a susceptibilidade e ocorrência estacional
de abortos.
Os sintomas mais comuns da neosporose são:
Abortamento em qualquer época da gestação,
fetos podem morrer no útero,
reabsorção fetal,
mumificação fetal,
fetos autolisados,
natimortos,
Nascimento vivo seguido de morte,
nascimento vivo, clinicamente, um animal normal, porém
cronicamente infectado,
nascimento de bezerros com sinais neurológicos:
* encefalomielite,
* paralisias,
* ataxia motora
(incoordenação motora)
* exoftalmia ou
olhos de aparência simétrica
* Defeitos congênitos
bezerros deformados
* A maioria dos bezerros com neosporose morrem nas quatro
primeiras semanas de vida.
A Neospora cainum pode ser a causa de abortamentos na mesma
vaca, embora a freqüência de abortos repetidos,
devido a neosporose confirmada, não seja conhecida.
O quadro abaixo mostra a prevalência dos animais soropositivos
com abortamento, na região de Itapetininga/SP, em estudo
realizado no período compreendido entre 1998 e 2001:
134 soros bovinos examinados de animais que abortaram
Neospora spp IBR/BVD
Leptospirose
86 animais reagentes vacinados
64,1% (reagentes)
O
abortamento ocorre em qualquer período da gestação,
porém, neste levantamento, a incidência maior
ocorreu no período entre o quarto e o sexto meses de
gestação.
Diagnóstico: Os meios utilizados são
histológicos ou imunoistológicos, imunofluorescência
indireta (IFI), imunoenzimático (ELISA), PCR.
Material utilizado para exame: Soro bovino - as amostras
devem ser colhidas até 90 dias após o abortamento
(depois deste prazo, o nível de anticorpos cai drasticamente).
Feto abortado - deve ser encaminhado resfriado.
Tratamento: Não existe tratamento para neosporose
até o momento, entretanto, alguns protocolos e testes
vacinais já estão sendo usados nos Estados Unidos.
Zoonose: Não há evidência do leite
ou carne de animais infectados, transmitiresm a neospora spp
ao homem.
Como
evitar uma propagação maior da neosporose?
1)
Evitar que os cães contaminados defequem nos depósitos
de alimentos e bebedouros.
use as vantagens de depósitos fechados
cubra os silos com lonas plásticas após sua
abertura.
2) Educar a população a castrar os cães
nas fazendas e vizinhanças.
castrar cães que não são necessários
à procriação orientar seus vizinhos
que mantenham seus cães nas suas propriedades
Comunicar as autoridades locais (vigilância sanitária)
sobre a presença de cães sem dono.
3) Todo feto abortado e restos placentários deverão
obrigatoriamente ser enterrados, para prevenir o consumo pelos
cães.
Conclusão
Sabemos
que a globalização das bactérias, vírus,
protozoários e outros microrganismos patogênicos,
isolados ou associados, seja a causadora de grandes prejuízos
à pecuária mundial.
Associada a problemas nutricionais, estresse, os animais de
alta produção acabam mais susceptíveis,
indicando, com isso, uma baixa resistência imunológica
(imunossupressão).
Nesses
casos, encontraremos altos índices de retenção
de placenta, atonia uterina, endometrites, retornos de cio,
mastites contagiosas ou ambientais, altas contagens de células
somá-ticas, problemas de cascos e outras infecções
graves ou banais, encontradas na maioria das propriedades
rurais.
Acreditamos que muitos dos modelos atuais de produção
devam ser repensados e estudados com critério, para
que tenhamos animais com maior repetibilidade de resistência
às infecções.
Referências:
Fundamentação Teórico-Metodológica,
Instituto Biológico/São Paulo
Parasitology Vol. 19, Nº 4, april de 1997
Veterinary Record, may 15, 1999
Veterinary Record, november 25, 1995
Ivaris
Junior
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