A
produtividade média do feijão no Estado do Paraná
é de 878 kg/ha. Em algumas propriedades essa média
subiu para 1.806 mil kg/ha, na safra de 2001, e chegou a atingir
a marca de 2.096 kg/ha em unidades demonstrativas. O mérito
dos resultados deve-se ao Projeto Centro Sul de Feijão
e Milho, que integra o Projeto Grãos, no Paraná.
Trata-se
de uma iniciativa da Empresa de Assistência Técnica
e Extensão Rural (Emater) do Paraná e da empresa
Syngenta Proteção de Cultivos, especializada
em agroquímicos.
O
projeto nasceu há seis anos, mas tomou forma em 99.
Atualmente, reúne 34 municípios, localizados
na área entre a divisa do Paraná com São
Paulo e com Santa Catarina; 37 técnicos, entre agrônomos
e técnicos agrícolas; e aproximadamente 1,9
mil produtores rurais.
Marco Antonio B. Borges, agrônomo da Emater-PR e implementador
do processo Feijão na região Centro-Sul daquele
Estado, explica que o objetivo do projeto consiste em transformar
os produtores em plantadores profissionais do produto. "O
produtor de feijão é meio largado e pensa apenas
na subsistência", conta. E acrescenta "quem
pensa assim, vai sair do mercado".
Em 99, o projeto reuniu 28 municípios da mesma região
e 37 técnicos. Em 2000, saltou para 34 municípios
e manteve o número de técnicos e 40 grupos de
produtores, com 20 produtores por grupo. No ano seguinte,
aumentou para 50 grupos. E, neste ano, para 55 grupos. O número
de produtores permanece sempre o mesmo por grupo.
Na região, o plantio da safra das águas ocorre
em agosto e a colheita em novembro/dezembro. E a da seca,
com plantio em setembro/outubro e colheita em janeiro. O Grupo
de Discussão ou Resultado como é denominado
cada grupo só recebe produtores que plantem sempre.
Não há interesse em receber plantadores ocasionais.
Em cada grupo há uma unidade demonstrativa, ou seja,
1 ha que recebe toda a programação do projeto.
Os demais produtores detêm até 50 ha cada, com
área média de 18 ha dedicada ao projeto e plantio
de feijão em torno de 5 ha. Na unidade demonstrativa,
que concentra as atividades, acontecem, em média e
durante o desenvolvimento da cultura, 23 cursos, 40 dias de
campo, 64 reuniões técnicas, 45 excursões
e 3 encontros. A atividade é complementada com uma
semana de campo na Universidade de Ponta Grossa.
Os cursos têm três dias de duração
e abordam o ciclo da cultura, como preparo de solo, sementes,
plantio, tratos culturais, tratamentos químicos, regulagem
de máquinas, plantio, pulverização e
colheita. Esses dias podem ser seguidos ou parcelados. O curso
é dado por um ou dois técnicos da Emater.
Durante os meses de maio, junho e julho, em que não
há cultura instalada, os produtores recebem informações
sobre gestão agrícola e comercialização.
Os temas abordam os itens fora da porteira. É uma forma
de preparar o produtor para o mercado. "O produtor de
feijão é bom para plantar e um fiasco para vender",
garante Borges.
Para combater isso, contribui o trabalho em grupo. Anteriormente,
as informações eram passadas para o grupo como
um todo. Hoje, há uma seleção. E, uma
espécie de contrato verbal, que implica em fazer bem
feito. Exatamente por isso, os grupos discutem tecnologia
e dificuldades.
Os grupos também se integram no Pronaf e no programa
Paraná 12 meses. Neste, com auxílio do Banco
Mundial, recebem programa de ajuda na compra de equipamentos.
Hoje, a totalidade das unidades demonstrativas e 60% dos grupos
de produtores trabalham com plantio direto. O programa do
Banco Mundial favorece os pequenos produtores.
Borges explica que os que possuem até 15 ha, recebem
560 de ajuda em qualquer equipamento para o programa. Para
os que detêm até 30 ha, 70% de auxílio.
Até 50 ha, 50% de ajuda. Para produtores com mais de
50 ha, não há auxílio. Outra parceria
é firmada com a empresa Syngenta, que convida palestrantes
e fornece agroquímicos para as unidades demonstrativas,
cujos insumos são ganhos pelo proprietário da
área para os testes. A unidade demonstrativa muda de
área a cada safra.
Os técnicos do projeto, os produtores e os profissionais
da Syngenta avaliam o volume de produtos usados na unidade
demonstrativa. Por exemplo, se são recomendadas três
aplicações para combate a doenças, aplica-se
a primeira. Se não houver condição favorável
para o surgimento da doença, não se aplicam
as demais. Borges garante o interesse no cuidado com segurança
para os produtores e para o consumidor final do produto, além
da preservação do meio ambiente.
Para controle do projeto, em 99, foram distribuídos
questionários para checar o perfil dos produtores,
com questões como tecnologia empregada, analise de
solo, plantio, colheita e histórico da propriedade.
Em 2001, foi feita a primeira avaliação, quando
a produtividade média dos grupos saltou de 966 kg/ha
para 1.806 kg/ha. Já a produtividade das unidades demonstrativas
atingiu 2.096 kg/ha.
O custo também se tornou compensador. Quando a média
era de 966 kg/ha, o produtor tinha custo entre R$ 450,00/500,00/ha,
com margem bruta de R$ 200,00/250,00/ha. Com a produtividade
saltando para 2.096 kg/ha, o custo foi para R$ 705,00/ha e
margem bruta de R$ 632,00/ha. O feijão é cultura
de risco, mas com o uso de tecnologia e novas variedades torna-se
mais resistente.
Borges assegura que com melhor arquitetura da planta, isto
é, plantas mais altas e vagens mais distantes do solo,
a diversificação climática e os tratamentos
químicos são melhor aceitos. Mais ainda: recomenda
ao produtor escolher boas sementes; quando não for
possível comprar, fazer catação e tratamento;
usar plantio direto; plantio em época correta; cultura
sempre no limpo, evitar mato e competição; tratamento
contra pragas e doenças conforme orientação
técnica; colheita na época certa com produto
na maturação fisiológica.
Esses cuidados podem ser observados e discutidos na semana
de campo, sempre no início de dezembro. A semana é
realizada na Fazenda Escola Capão da Onça da
Universidade de Ponta Grossa. Ali, a Emater-PR e a Syngenta
montam um campo para demonstrar variedades, tratamentos e
aplicação de defensivos, entre outros temas.
Por ali circulam 1,5 mil produtores.
A
proposta do Projeto Centro-Sul de Feijão e Milho é
incrementar a tecnologia na cultura do feijão e quando
gerar poupança permitir a possibilidade de introduzir
outras culturas como alternativas de renda e menor risco.
Por exemplo, a olericultura, a suinocultura e a bovinocultura.
Na verdade, quatro grupos estão ampliando as atividades
desde o ano passado, com olericultura e gado de leite.
Outra parceria está sendo estudada. Trata-se da possibilidade
de firmar acordos com empresas que empacotam feijão.
Na opinião de Borges, a cultura do feijão será
bem-sucedida sempre que o produtor obedecer às normas
necessárias. "Os cuidados reduzem em 90% as chances
de perda da lavoura", afirma. Ele aposta na ampliação
de área com feijão naquele Estado.
Antonio
Marques de Souza Neto, técnico de suporte ao mercado
da Syngenta Proteção de Cultivos, também
acredita no aumento da área de feijão no Paraná.
Parceira da Emater-PR, a empresa ajuda a desenhar o treinamento
dos técnicos da Emater-PR, o uso correto de defensivos
e o descarte de embalagem, proteção ao meio
ambiente, a programação dos dias de campo, além
de fornecer todo o material usado nas unidades demonstrativas
de feijão, como produtos químicos, sementes
e fertilizantes e incluir nove agrônomos no projeto.
Ele conta que o objetivo que une as duas empresas consiste
em introduzir o plantio direto, mostrar o uso correto de defensivos
e elevar a produtividade da cultura, mais o uso de produtos
mais seguros e qualidade final do produto.
Cecília
Teixeira
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