Atrair
novos criadores para aumentar a produção de animais para abate não
é mais a única preocupação dos estrutiocultores. Com
o início dos abates em série, é chegado o momento de popularizar
o consumo da carne e criar novos canais de comercialização para
os produtos derivados do avestruz.
Com um plantel estimado atualmente
em torno de 60 mil animais, a estrutiocultura nacional começa a assimilar
sinais de mudança. Depois dos primeiros anos após a introdução
mais contundente da criação de avestruzes no país, um dilema
parece se impôr diante dos criadores: levar à frente a reprodução
pura e simplesmente de avestruzes (ofertando mais e mais animais ao mercado) ou
avançar a uma nova fase e compartilhar a criação com a produção
de carne )e mesmo de couro) para o mercado nacional e internacional? Sem dúvida,
um complicado jogo de muitas peças, a medida que esta passagem para uma
nova etapa requer uma série de ajustes tais como a divulgação
massiva da carne de avestruz entre a população e que ao final
se traduz em gastos econômicos. Quem parece não ter mais dúvida
sobre inevitabilidade desta nova fase é o criador Robson Muniz, da ave
Etruthio. Tanto não tem dúvida como já têm bem planejado
o futuro próximo, preparando-se para ingressar firmemente no mercado de
carnes. Convicto, Muniz não teme errar ao dar a sentença: daqui
a dois anos o mercado vai saturar e todos nós corremos um sério
risco.
Criador desde 1998, Muniz firmou uma parceria com o grupo
espanhol El Monte, única empresa na Europa que possui abatedouros para
avestruzes. A parceria leva o nome de Struthio Group. Os primeiros passos da parceria
ocorreram já em 2000, quando em junho daquele ano Muniz importou 1 tonelada
de carne de avestruz vindos diretamente dos frigoríficos do grupo El Monte,
com o objetivo de apresentar a carne aos consumidores dos principais centros econômicos
do país. A minha intenção naquele momento foi a de
importar para divulgar a carne até porque eu não tinha como
divulgar a carne abatendo animais aqui, conta.
Os planos da Struthio
Group estão delineados, resumidamente, da seguinte forma: criar núcleos
de produção e viabilizar contratos de vendas de carnes para o mercado
europeu; a seguir, formar uma carteira de vendas para a Europa de 200 a 300 toneladas/ano
a partir de 2003. A estratégia inclui ainda o abastecimento de carne no
mercado nacional em torno de 5 toneladas mês. Este é o nosso
objetivo, mas de início certamente vamos atender apenas a uma porcentagem
deste total, esclarece Muniz, que saliente como um dos principais atrativos
para os criadores a garantia de venda da produção. Atualmente com
um criatório em torno de 3 mil animais, localizado no estado de Ceará,
Muniz espera até o final de 2002 a conclusão de um abatedouro com
toda a tecnologia do grupo El Monte. Eu encaro o avestruz como um animal
pecuário, destinado à produção de carne.
E está na hora de muitos criadores começarem a perceber isto, pois
senão muita gente vai perder tudo o que investiu, concluiu. Para
Maurício Lupfieri, da Aravestruz, a primeira etapa da estrutiocultura no
Brasil foi marcada pelo criador com perfil de comerciante, na grande maioria,
interessado apenas na venda de animais vivos e nos rendimentos de curto prazo.
Não havia interesse em pensar uma cadeia produtiva para a estrutiocultura
Sediada em Araçatuba, a Aravestruz atualmente fornece carne para 20 lojas
da cadeia de supermercados Pão de Açúcar e espera totalizar
até o final de 2002 cerca de 70 pontos de venda de carne de avestruz na
cidade de São Paulo. O primeiro abate realizado pela empresa ocorreu em
março de 2001, necessidade de introduzir à criação
uma nova visão mais adequada aos moldes da pecuária nacional. com
um plantel estimado em cerca de 4.500 animais, a Aravestruz inaugurou um frigorífico
próprio em abril de 2002 e atualmente realiza de 2 a 3 abates por semana.
Embora tenhamos uma capacidade para 250 animais por dia, estamos trabalhando
com apenas 10% do potencial. Portanto,vamos trabalhar com uma margem limitada
de fornecedores neste momento inicial, explica Maurício.
Retomando a questão da transição de uma de uma fase a outra
na estrutiocultura brasileira, Giovanni Costa, da Avestruz & Cia, que terceiriza
um abatedouro na região de Jaguariuna, atenta para o aspecto delicado desta
passagem. Vamos deixar o Brasil de lado e pensarmos no caso dos Estados
Unidos; lá eles planejaram mal o processo e demoram muito para iniciar
o abate. A conseqüência foi a perda de muitos animais. Nós estamos
indo no mesmo caminho, mas em tempo de corrigirmos o rumo, alerta.
Com plantel com 56 trios e quartetos, a Avestruz & Cia, iniciou os abates
em março deste ano e o sucesso inicial, segundo Giovanni, se deveu à
boa adaptação do frigorífico escolhido. Tal como no caso
a Aravestruz, fornecimento de animais para abate ainda é muito limitado.
É preciso fomentar a formação de plantel exclusivamente
para abate, pois o potencial dos abatedouros é enorme. Temos demanda mundial
por carne de avestruz, principalmente na Europa, finaliza Giovanni. |