O
Brasil prepara-se para colher a provável segunda maior safra de café
da história. A produção estimada em torno de 40 milhões
de sacas de 60 quilos, supera a marca da safra passada, 28,1 milhões de
sacas. O cenário, porém, não se mostra muito otimista, já
que os preços do café revelam-se em baixa.
Na verdade,
as expectativas para a melhoria dos preços concentram-se a partir do próximo
ano. A opinião técnica está divida. Enquanto pesquisadores
da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) acreditam que
o mercado absorva a oferta, técnicos do Instituto de Economia Agrícola
(IEA) apostam na retração da cultura, com medidas de arranquio de
pés mais antigos.
Segundo série histórica do Instituto
Brasileiro do Café (IBC), as maiores safras foram produzidas em 1961
39,6 milhões de sacas, 1965 37 milhões de sacas, e 1987,
42,9 milhões de sacas. Mais: a produção brasileira da cultura
registrou aproximadamente 24 milhões de sacas anuais, na década
de 90, o que significou 23% da oferta mundial, que alcançou 104 milhões
de sacas.
Celso Luis R. Vegro, pesquisador da área café
do IEA, explica que o Brasil é o maior produtor mundial de café
desde o início do século passado. Ocupa a primeira posição
também como exportador de café verde (beneficiado) e solúvel,
além de ser o segundo maior mercado consumidor. Os brasileiros consomem
próximos a 13 milhões de sacas de café por ano. O maior consumo
mundial. Estados Unidos, chega a 18 milhões de sacas de café.
O Brasil produz café arábico (Coffea arabica), de melhor qualidade,
aroma e paladar, o que torna um café fino, e café canephora (Coffea
canaphora) ou robusta, com sabor mais adstringente, mais áspero, usado
normalmente para misturas com o arábico. Minas Gerais lidera a produção
no país e concentra na arábica. As principais regiões são
o Triângulo Mineiro, a antiga Zona da Mata e o Jequitinhonha. Já
o Espírito Santo reúne a produção de arábica
no sul e robusto no norte do Estado. Em São Paulo, o plantio da arábica
restringe-se a Mogiana Paulista, à Paulista e ao sudoeste. O norte e o
norte velho do Paraná concentram o plantio do arábica. Em Rondônia,
a produção é totalmente de robusta. E na Bahia, divide-se
entre arábica, na Chapada Diamantina, e robusta, no litoral cacaueiro.
Ele explica que esse ranking é mantido há alguns anos.
A única modificação surgiu há quatro ou cinco nos,
quando o Espírito Santo superou a produção paulista, atraída
por culturas mais rentáveis como a cana-de-açúcar e a laranja,
além da pecuária.
A exemplo de outras culturas, o café
é cultivado em grandes e pequenas propriedades. Nas regiões
de Serra impera a agricultura familiar, assegura Vegro. Já nas áreas
de planalto e chapada, a agricultura empresarial. Por exemplo, no Triângulo
Mineiro, o cultivo é mecanizado, enquanto no sul de Minas, a agricultura
é familiar.
Vegro afirma que o cultivo do café sofreu evolução
ao longo do tempo. Nesse rol figuram novas variedades, espaçamento, mecanização
e a pesquisa do genoma do café, ainda em estudos coordenadas por técnicos
do Instituto Agronômico de Campinas (IAC) mais o aumento da produtividade
por área, maior densidade no cultivo, e aprimoramento das técnicas
de manejo. Ainda assim, não se espera plantio explosivo, como aconteceu
em 1995 assegura Vegro. A perspectiva é de retração
no plantio, com arranquio de culturas antigas.
João Batista
R. Sampaio, pesquisador de café da embrapa/Cerrados, lembra que o café
arábica apresenta melhor qualidade, menor teor de cafeína e características
genéticas para auto fecundação, o que garante maiores índices
de produção e produtividade. Mais: adapta-se à seca e registra
cultivares resistentes às doenças ferrugem do cafeeiro (Hemileia
vastatix).
Hoje, o estande tradicional, com 1666 plantas por ha, pode
sofrer adensamento para 5 mil ou 10 mil plantas. A produtividade brasileira varia
de 900 kg/ha, média atual, de café limpo ou beneficiado a 6 mil
kg/ha.
Já o canephora ou robusta prefere regiões de baixa
altitude, é mais resistentes à seca e produz café de qualidade
inferior, que se adaptam bem às misturas com outros tipos. O norte do Brasil,
em especial Acre, Rondônia e Amazonas, mostram-se regiões mais adaptáveis
para essa espécie. O Espírito Santo, por exemplo, é líder
em produção e exportação brasileiras. Sampaio afirma
que 70% da produção brasileira são de arábica e os
restantes 30%, de robusta.
O arábica estende-se também
para a região dos Cerrados, incluindo Goiás, Distrito Federal e
sudoeste da Bahia, assim como o robusta. Naquela região, apesar da baixa
fertilidade natural do solo, a baixa umidade relativa do ar garante um produto
de qualidade. Ajuda também o relevo levemente ondulado, ideal para a mecanização
e plantio em sistema empresarial.
Ao longo dos anos, o café teve
expansão moderada, segundo Sampaio, quase sempre motivada por demanda interna
e projetos de governos estaduais. Por exemplo, em micro regiões de Pernambuco,
do Ceará e no sudoeste baiano. Paralelamente, intensifica-se a procura
por cultivo produzido em micro regiões, o que permite atender melhor conotações
ecológicas, sociais, ausência de agrotóxicos e benefícios
para o produtor. É bastante comum o pedido de exportadores por café
do cerrado, por exemplo, explica Sampaio. O café produz integralmente
a partir do quarto ano de plantio. No primeiro ano, produz entre 5% e 10%. No
segundo sobe para entre 15% e 20%. No terceiro para 60%. E, finalmente, no quarto
para 560. Naturalmente, a tecnologia de plantio ajuda a manter esses índices.
O pesquisador lembra a necessidade de considerar os vários segmentos que
contribuem para isso, como o segmento plantio, que engloba produção
de mudas, escolha de variedades, preparo do solo e plantio.
Já
o segmento manejo da cultura inclui controle fitossanitário e demais cuidados.
E, finalmente, a fase pré e pós - plantio. No segmento produção
de mudas, por exemplo, é importante verificar a escolha de área,
além de calagem, adubação, espaçamentos, irrigações,
somados a tratos culturais, adubações anuais e colheita, quando
a planta apresentar 95% dos grãos cereja, isto é, na cor de cereja
ou amarelos, o que significa que estão maduros.
O plantio do café,
sequeiro ou irrigado, deve ocorrer sempre no início das chuvas. E a colheita,
no início do período seco, dependendo também do cultivar.
A cultura é atacada por doenças como a, ferrugem do cafeeiro, requeima
(Phoma ssp), corresponde (Cercospora coffeícola) e atracnose. E pragas
como bicho mineiro (Perileucoptera coffella), cigarras (Carineta fasciculata,
Fidicina drewseni, Fidicina pullata, Fidicina mannifera, Quesada gigas, Quesada
sodalis) e nematóides (Meloidogyne exigua, Meloidoyne coffeicola, Meloidogyne
incognita).
Na opinião de Sampaio, nos últimos 10 anos,
a tecnologia contribuiu para a melhoria da cultura. Ele aponta as pesquisas de
bases genéticas feitas pelo IAC, IAPAR e pela Universidade de Viçosa
mais Epaming. A isso pode ser somado, o aprimoramento de espaçamento já
que hoje se usa o cultivo adensado ou superadensado com sucesso.
Antigamente,
o plantio girava em torno de 2 mil plantas em 3,5m, hoje, cultivam-se 5 mil plantas
ocupam espaçamento de 2m entre linhas e 1m entre plantas. Ou, ainda, 2m
entre linhas e 0,5m entre plantas, para 10 mil pés.
Colaboram
também cultivares resistentes à ferrugem do cafeeiro, doença
que interfere no custo da produção. E a secagem e o beneficiamento
com secadores que usam vapor como fonte de energia.
Sampaio afirma que,
atualmente, os produtores de café mantêm propriedade que oscilam
entre até 20ha, principalmente no sul de Minas Gerais, e acima de 50 ha,
quando a predominância é de cultivo empresarial. |