Dados
estimativos da Conab Cia . Nacional de Abastecimento,
indicam que, neste ano, o Brasil vai produzir 2,7 milhões
de toneladas de trigo. Esse volume mostra um crescimento de
66,7% sobre a colheita anterior (2001), que foi de 1,6 milhões/t.
Porém, o País consome cerca de 10 milhões
de toneladas, sendo obrigado a buscar no mercado externo algo
entre 7 e 9 milhões/t, para suprir a demanda, com gastos
aproximados de US$ 1 bilhão.
A indústria paulista de moagem é responsável
por 30% do grão processado no País, pois o Estado
de São Paulo concentra os principais segmentos da cadeia
produtiva do trigo, como panificação, pastífícios,
bolachas e biscoitos entre outros. Contrastando com essa demanda,
a produção tritícola em terras paulista
é muito baixa, pois a área de plantio está
em torno de 14 mil hectares e a safra, quando é boa,
bate em 16,2 mil toneladas, conforme dados do IEA- Instituto
de Economia Agrícola.
Essa baixa produção, aquém das reais
necessidades, é atribuída á existência
de uma desmotivação dos agricultores, que alegam
haver uma política inadequada para esse tipo de cereal.
Além disso, Argentina, Canadá e Estados Unidos
exportam o produto a preços bem acessíveis,
quase que consolidando o desinteresse. Além do trigo,
os engenheiros agrônomos do IEA, José Roberto
da Silva e Sebastião Nogueira Júnior, fizeram
um trabalho mostrando os pontos de estrangulamento
da aveia, cevada, centeio e triticale. Para eles, esses entraves
estão relacionados com a falta de divulgação
das práticas culturais, produtividade, oferta de semente,
custo de produção, rentabilidade e informações
de mercado, sobretudo preços.
Cereais
alternativos têm viabilidade econômica
Mesmo
com os obstáculos, eles afirmam que o trigo ocupa a
maior área de plantio das culturas de inverno, cerca
de 1,5 milhão/ha, contra 220,9 mil de aveia, 150,2
mil de cevada e 6,9 mil hectares de centeio. Notam, ainda,
que São Paulo sequer figura nas estatísticas
do IBGE sobre aveia, cevada e centeio que, também,
são desconsiderados nos levantamentos realizados pela
CATI (Coordenadoria de Assistência Técnica Integral).
Não obstante, essas lavouras têm as mesmas exigência
de solo e clima semelhantes ás do trigo e o plantio
poderia ser ampliado, pois há um estoque razoável
de pesquisa conduzido pólo Instituto Agronômico
contemplando esses cereais.
Com relação ao trigo, os agrônomos afirmam
que o Rio Grande do Sul é o maior produtor do País,
responsável por 55,8% da safra nacional, superando
o Paraná que perdeu essa hegemonia devido a ocorrência
de geada. Na colheita de 2000, 56,89% do volume de aveia produzido
tiveram origem no Paraná. Os gaúchos, por sua
vez, produziram 72,57% da cevada e 85,03% do centeio, no mesmo
período.
Silva e Nogueira afirmam que a cevada é a quarta cultura
do mundo, superada apenas pelo arroz, milho e trigo, com um
volume de 138,8 milhões de toneladas, conforme estatísticas
de 1998, da FAO. O Canadá é o maior produtor
mundial e, junto com a Alemanha e a Espanha, respondem por
quase 1/3 do total. A participação do Brasil,
acrescentam, ainda é insignificante, embora
a produção interna venha ocorrendo sistematicamente
nos Estados sulinos, em substituição ao
trigo.
Grande
produtor de cerveja, mas importa malte.
O
IBGE, em 2000, estava prevendo uma safra de 336,8 mil toneladas,
numa área de 150,3 mil hectares, correspondendo a uma
produtividade média, de 2,441 kg/ha, bem abaixo de
países produtores importantes. As produtividades médias
da Alemanha e da França estavam em 5,7 mil kg/ha e
6,2 mil kg/ha, na ocasião. O preço mínimo
da cevada cervejeira foi de R$ 169,54/t nas regiões
Centro-Oeste, Sudeste e Sul, valor idêntico ao concedido
para o trigo.
O malte, no entanto, é importado em maiores qualidade
do produto do exterior. Isso, de certa forma, inibe
a expansão da atividade no Brasil, embora o País
seja importante na produção mundial de cerveja.
Existe alguma iniciativa de algumas cervejaria, com o objetivo
de suprir parte da demanda, mas ocorre em pequena escala.
O Brasil, acrescentam, consome, anualmente, 1 milhão/t
de malte, das quais apenas 270 mil toneladas são
produzidas internamente. Embora haja um grande espaço
a ser conquistado, a limitação fica por
conta da capacidade industrial. Daí os elevados
volumes de importação e a evasão de dívidas,
de US$ 175 milhões, em 2000, segundo a Conab.
Lembram, ainda, que a recente implantação da
Matéria do Vale, em Taubaté (SP), a partir de
uma associação de capitais chileno e brasileiro,
abre boas perspectivas para a cultura, em São
Paulo.
Para amenizar as dificuldades da cultura, Nogueira e Silva
afirmam que cabe ao setor de pesquisa dar uma contribuição
para o desenvolvimento de variedades que proporcionem elevado
teor de malte, pois se trata de uma atividade nova no Estado
e com poucas informações disponíveis,
sobretudo de ordem econômica como custos de produção
agrícola e industrial.
Aveia
e triticale, alternativas ao milho da ração
Com
relação á aveia, dizem que o produtor,
há algum tempo, era utilizado no consumo humano. Atualmente,
sua destinação principal é o arraçamento
animal, sobretudo para cavalos de corrida. Pode substituir
o milho na elaboração de rações
e ainda apresenta amplas possibilidades para o uso na
alimentação humana, devido ao apelo anticolesterol.
Essa cultura não apresenta grandes exigências
quanto ao solo, podendo ser estabelecida tanto no plantio
convencional como no direto. Mas a lavoura é
atacada por uma série de doenças, principalmente
a ferrugem. A colheita pode ser feita com os mesmos equipamentos
utilizados para o trigo, desde que adaptados.
A aveia ocupa o sétimo lugar entre os principais cereais
produzidos no mundo, com 25,8 milhões de toneladas,
segundo dados da FAO. A Federação Russa é
o principal produtor, seguido do Canadá e dos Estados
Unidos. A participação do Brasil é muito
pequena, cerca de 194 mil toneladas, numa área de 221,9
mil hectares, com rendimento médio de quase 1,3 mil
kg/ha. Nos principais produtores, esse rendimento bate em
2,3 mil kg/ha.
Também para essa cultura, os agrônomos sugerem
que o setor de pesquisa desenvolva variedades mais resistentes
á ferrugem e avalie quais entraves dificultam o benefício
industrial da aveia, sobretudo em termos de capacidade instalada
ou equipamentos utilizados. A tecnologia industrial, indicam,
é pouco divulgada e a produção
está concentrada em poucas empresas.
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os entraves, desafio à pesquisa
Quanto
ao triticale, afirmam que o cereal é um híbrido
que combina a rusticidade do centeio com a qualidade do trigo.
É cultivado principalmente para alimentação
animal, substituindo o centeio em solos pobres. Pode, ainda,
ser usado na panificação, misturando com o trigo.
No Brasil, essa lavoura é explorada em áreas
ocupadas com trigo e corresponde, em termos de preço,
a 90% do seu valor.
Silva e Nogueira assinalam que alguns aspectos negativos,
em comparação ao trigo, inibem a ampliação
dessa cultura. Entre eles, apontam o peso hectolitro mais
baixo, que implica menor rendimento industrial e incidência
de doenças, além do desconhecimento de ouras
tecnologia (secagem e armazenagem). Essa planta é pouco
conhecida no Brasil e não existe dados disponíveis
de produção, consumo, preços e comercialização.
Isso também acontece em nível mundial,
observam.
O setor de pesquisa, nessa área, ainda é incipiente,
embora seja conhecida a resistência desse cereal á
seca, o que é uma vantagem. No geral, é uma
atividade com potencial para suprir o segmento de rações,
em eventuais problemas de abastecimento de milho.
Com exceção do trigo, esses cereais alternativos
são cultivados em áreas pontuais e com pouca
expressão, diante das principais atividades agrícolas
estaduais e nacionais. Os obstáculos existentes á
ampliação dessas lavouras devem ter uma solução
a partir dos centros de pesquisas, no sentido de colocar á
disposição dos agricultores inovações
tecnológicas que viabilizem a competitividade dos produtores
frente aos oriundos do exterior ou de outros Estados.
Lembram, ainda que no conceito da FAO, os cereais secundários
pouco representam, mesmo em termos mundiais, frente
ás culturas do arroz, milho e trigo que, juntos, respondem
por 85% da produção de grãos, no planeta,
finalizam.
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