Experiências
dos criadores que optaram pela raça mostra que o mercado
do Canchim é economicamente promissor não apenas
para quem já é tradicional criador, mas também
para quem se considera um iniciante.
Considerado expert na raça, que cria desde 71, Francisco
Jacintho da Silveira, seu Chichico, não hesita em confirmar
a escolha pelo Canchim como a busca por algo mais moderno
em zootecnia. Ele conta que naquela época era criador
de Nelore a atraído por experiências norte-americanas
na formação do Santa Gertrudis e nos trabalhos
realizados na Fazenda Canchim, da Empresa Brasileira de Pesquisa
Agropecuária (Embrapa), optou pela raça.
Aos 82 anos e ex-proprietário de diversas fazendas,
formadas por ele próprio e já aos herdeiros,
para que aprendam a administrá-las antes de sua morte,
Silveira explica que alguns conceitos mostram-se essenciais
para o sucesso dos produtores na criação do
Canchim.
Ele se lembra que há 20 anos a vacinação
dos animais restringia-se á vacina contra brucelose,
que era endêmica. Hoje, várias doenças
causam aborto e esterilidade. Daí, a necessidade de
se estabelecer um calendário de vacinação,
garante. A isso deve ser somada a importância de se
oferecer aos animais sal mineral adequado á composição
do capim produzido na propriedade, para evitar quedas de produtividade.
Silveira assegura que a prática da inseminação
artificial revela-se fundamental para a obtenção
do progresso zootécnico. É impraticável
manter 10 ou 20 touros premiados numa propriedade, exemplifica.
Na opinião dele, o índice de fertilidade é
o principal item a ser alcançado em uma criação.
Isso exige acompanhamento, cuidados de alimentação,
especialmente na seca, e manutenção apenas dos
animais com alta fertilidade. Outro dado importante consiste
na redução do intervalo entre partos. Na opinião
dele, o período entre 13/14 meses é considerado
bom.
Estudioso e admirador confesso de zootecnia, ele afirma que,
ao longo dos anos, o Canchim apresentou evolução.
Trata-se, inicialmente, de uma raça com animais grandes.
Há 20 anos. porém, o objetivo almejado por criadores
era a transformação para animais de médio
porte.
Silveira relata um experiência realizada em uma estação
experimental em Nebraska, nos Estados Unidos, onde, apos 10
anos de avaliação contínua de diversas
raças criadas no mesmo pasto, com touros a campo, comprovou-se
que os animais de tamanho médio revelaram-se mais férteis
e mais produtivos. Em contrapartida, os animais maiores exigiam
assim, emagreciam.
Os criadores de Canchim entenderam a necessidade da mudança.
Hoje, a média de peso para touro em exposição
gira em torno de 1.000 kg, enquanto no campo alcança
800 kg. Já as vacas em exposição pesam
em média 600 kg e, entre 450 kg e 50 kg, no campo.
Durante os últimos 10 anos, os índices de ganho
de peso dos touros também mostram sinais de evolução
mostram sinais de evolução. E a Associação
Brasileira de Criadores de Canchim (ABCCAN), por meio de circulares
e comentários de juizes busca conformação
moderna, ou seja, quarto dianteiro mais delicado e aumento
de carne no quarto traseiro, item mais valorizado por frigoríficos.
Com amplo leque de atividades junto á raça,
que inclui atuação como ex-presidente da ABCCAN,
entre 73 e 79, diretor do setor de pecuária de corte
da Federação de Agricultura do Estado de São
Paulo (Faesp), entre 69 e 75, juiz da raça e produtor
orientado por pesquisadores da Escola Superior de Agricultura
Luiz de Queiroz desde 43, Silveira não
hesita em afirmar que a raça se confirma conforme
é usada, E acrescenta o Canchim tem lugar
tranqüilo como boi de corte e de plantel.
A afirmação baseia-se também na experiência
da Estância Santa Ana, uma das propriedades doadas,
onde 10 mil fêmeas recebem touros Canchim e Nelore na
estação de monta. O produtor conta o índice
de fertilidade dos machos aponta resultados médios
iguais para as duas raças.
Agrônomo, filho e neto de pecuaristas, avô de
17 netos com um bisneto, Silveira nasceu em Barretos e mudou-se
para Presidente Prudente, em 47. Ele e pai formaram a Fazenda
Vista Bonita, em Sandovalina, próxima a Presidente
Prudente, São Paulo, também doada, onde são
mantidas 1,500 reses, incluindo 500 vacas, em 6,5 mil ha.
Para ele, esta constitui-se na melhor experiência de
sua vida, quando durante 15 anos convivi com 300 famílias
que plantavam algodão em parceria na propriedade.
Entusiasmado, garante que Canchim pode ás vezes,
ir mais devagar, mas sempre para frente.
Considerando-se ainda uma discípulo do trabalho desenvolvido
por Chichico, embora já some 14 anos de dedicação
ao Canchim e venha colhendo um resultado nas pistas de fazer
inveja a qualquer canchinzeiro, Irineu Lopes Machado, titular
da Ilma Agropecuária da Ilma Agropecuária, situada
em Angatuba, SP, toca em suas várias propriedades juntamente
com os filhos André e Adriano, um trabalho de criação
e seleção de Canchim que começou com
um lote de 50 vacas adquiridas por ele do dono da marca FJ:
Meu primeiro contato com o Canchim foi recheado de admiração
e entusiasmo. Admiração pela forma com que seo
Chichico concebe e administra sua seleção de
Canchim e entusiasmo por ter tido a sensação
de encontrar a solução para nosso projeto,
conta Irineu, já possuidor há época de
uma vacada base Nelore, e desapontado com testes realizados
por ele com outras raças de origem européia.
Procurando adquirir todas as boas opções de
sangue disponíveis e partindo para a formação
de uma linhagem próprias bem definida, Irineu chegou
a um padrão que vem lhe rendendo premiações
de peso, como Grandes Campeonatos Nacionais em diversos animais
de sua criação. Basta constatar que no ranking
do Canchim a Ilma Agropecuária sangrou-se nos dois
últimos anos Melhor Criadora, sendo que 2000 ela também
ficou com o título de Melhor Expositora. Isso
atesta a seriedade com que desenvolvemos nosso trabalho. O
rigor na seleção em fazer animais sempre melhoradores
reflete-se não apenas nas pistas de julgamento, mas
também nos preços alcançados por nossos
animais em diversos leilões, como Jane da Ilma, recordista
de preço entre fêmeas da raça, negociada
por R$ 72 mil no leilão do ano passado, afirma
Adriano Machado, filho de Irineu e responsável
pelo gerenciamento técnico da criação.
Além do Canchim, carro chefe dos negócios da
família, a Ilma investe também na cria, recria
e engorda de bezerros Nelore e cruzados Canchim em propriedades
próximas a Angatuba, e na produção agrícola
em Paranapanema, onde os produtos principais são algodão,
feijão e milho de pipoca, numa área de cerca
de 425 ha. Mantemos os animais de elite concentrados
em duas de nossas propriedades. Nossa time de exposições
hoje reúne 25 animais, isso de um plantel de aproximadamente
750 matrizes registradas, informa Adriano, lembrando
que a qualidade da raça fica bem caracterizada na propriedade
onde mantém o gado comercial: Os cerca de 300
cruzados Canchim que terminamos em nossa fazenda de recria
mostram vantagem, alcançando o peso de abate mais rápido
e também mostrando rendimento de carcaça acima
da média.
Bom
para os iniciantes
Enfático,
Durval Bacellar, proprietário da Fazenda Paraízo,
com 360 ha, em São Carlos, São Paulo, onde mantém
250 animais registrados, dos quais 140 matrizes, garante que
o Canchim é a solução para o gado
nacional. Criador da raça há três
anos, ele explica que a opção pelo Canchim foi
quase geográfica afinal a fazenda faz divisa com a
Fazenda Canchim, da Embrapa.
Anteriormente, ele criava animais para cruzamento industrial.
Aconselhado por pesquisadores da Embrapa, resolveu agregar
valor ao rebanho. Começou o descarte de animais de
corte e substituição por animais Canchim, para
comercializar como produtores. Ao mesmo tempo, ampliou os
cuidados de manejo.
Ele confessa que a experiência inicial foi complexa
e marcada por erros. Recorreu, então, á ABCCAN.
O Salto nos resultados do primeiro para o segundo ano mostrou-se
animador. Adotou também prática de inseminação
artificial. Atualmente, todas as fêmeas são inseminadas.
Há apenas um touro para repasse.
Ao longo do tempo, adquiriu animais de qualidade genética
comprovada. Hoje, o objetivo da Paraízo consiste em
oferecer animais rústicos e precoces criados a campo.
O Brasil não é São Paulo,
afirma. Daí, a necessidade dessas qualidades.
Bacellar explica que os animais da propriedade não
recebem suplementação. E os resultados são
obtidos a campo. Para isso, a propriedade mantém um
programa forte de adubação e o pasto, composto
por brachiaria brizantha e tanzânia, permanece constantemente
adubado.
A Fazenda Paraízo abriga também uma granja com
23 mil aves, que produz entre 30 e 40 toneladas mensais de
adubo orgânico. O esterco é aplicado no pasto,
já que não se usa proteína animal para
alimentar os animais. Dessa forma, o programa da propriedade
consiste em rotação e adubação
de pasto e animais a campo. Os animais que não se adaptam
são descartados.
Bacellar explica que a propriedade não possui cochos
e suplementação só é oferecida
a animais doentes. No período das águas, os
animais, são mantidos nos campos de tanzânia,
que representam 30% da área de pastos. Já na
seca vão para as áreas de brachiaria brizantha,
que se espalham pelo restante da área.
Criador teórico confesso, explica já que a esposa,
Beatriz Franco de Lacerda Bacellar, é quem põe
a mão na massa. Ela é quem acompanha o dia-a-dia
da fazenda e dos animais. Este é o primeiro ano
em que a propriedade enfrentará o mercado.
As perspectivas são animadoras. Espera resultados em
um ou dois anos e o total de 150 a 200 matrizes, mais um rol
de compradores em torno da região de São Carlos.
Espera também ajudar a ampliar a divulgação
do Canchim.
Animado com as decisões da ABCCAN dos últimos
anos, como a apresentação do novo padrão
racial, Bacellar afirma que a raça manteve-se no sétimo
lugar entre as mais vendidas em 200 a apresenta valor de mercado
mais expressivo, o que atrai novos associados.
Há dois anos, um touro era comercializado por
médias em torno de R$ 1 mil. Hoje, a média saltou
para R$ 1,8 mil, assegura. Somam-se a esse fato fatores
como a estabilidade da média nos leilões, o
aumento do número de animais registrados e a procura
de sêmen Canchim por parte das centrais de inseminação.
Dessa forma, o futuro da raça revela-se animador. O
Canchim tem condições de se mesclar com outras
raças, especialmente o Nelore, para a formação
do F1, garante. Mais: compõe também um
importante ingrediente na composição do three-cross
ao lado de um animal Nelore e outro de sangue europeu.
A evolução da raça e preços associado
ao crescimento do número de exposições
e leilões e maior dedicação por parte
dos criatórios também entusiasma José
Modolim. Proprietário da Fazenda Paraíso, em
São Miguel Arcanjo, São Paulo, ele possui 420
cabeças de Canchim PO, das quais 310 matrizes, entre
15/20 machos prontos, 20 bezerros e o restante em bezerras,
distribuídas dos 300 ha.
Criador da raça desde 93/94, antes dedicava-se a animais
pé-duro, hoje vende animais para criatórios.
A boa performance de touros Canchim mais a visita a criatórios
e exposições motivou a escolha pela mudança
do plantel. A exemplo de Bacellar, o início foi complexo.
Entre 97 e 98, Modolin optou por assessorias técnicas,
com alterações na alimentação
dos animais a campo e suplementação. Atualmente,
os pastos mais antigos são formados por brachiaria
decumbers e brachiaria humidicola e os novos, por tanzânia.
Mais: a rotação, que antes era cada sete/oito
dias, foi reduzida para um/dois dias em pastos de um ha.
A profissionalização continuou em 99/2000, quando
a propriedade adotou a técnica de inseminação
artificial. Hoje, 80% do plantel é inseminado e a exceção
acontece nas coberturas de matrizes por touros premiados.
Também em 2000, o produtor acrescentou o uso de creep-feeding,
para todos os bezerros. Modolim explica que antes, o
desmame ocorria aos seis meses, com média de peso de
180 kg/animal.. Com o creep-feeding, o tempo aumentou para
sete/oito meses e o peso, para 280/290 kg/animal.
No final de 2001, a fazenda integrou o plano de qualidade
total para a área rural, idealizado pelo Sindicato
Rural de São Miguel Arcanjo e Secretaria de Agricultura
de São Paulo. Nele, todos os funcionários recebem
noções de comportamento apresentadas no termo
De Olho, cuja letra d significa descarte, a letra
o organização, l limpeza,
h higiene e o organização
mais uma vez. Na prática, isso representou produtos
identificados, limpeza e organização.
Ainda nesse ano, o produtor montou o primeiro planejamento
qüinqüenal para a fazenda. Quando se trabalha
com terra, os planos devem ser a médio e longo prazos,
afirma. Conforme esse planejamento, o ponto de equilíbrio
será alcançado em 2004. Se for preciso,
é possível rotas de mudanças.
Na opinião dele, o sucesso da Fazenda Paraíso
pode ser resumido em duas atividades básicas. A primeira,
adotar cuidados em todas as fases de criação
do gado puro. E a segunda, deixar de encarar a propriedade
como local para finais de semana e profissionalizá-la.
Entusiasmado com desempenho da raça, associou-se aos
produtores Irineu Lopes Machado e Luiz Adelar Scheuer para
um leilão a ser realizado em 23 de março, na
Fazenda Santo Antonio, no km 211,5 da Raposo Tavares, quando
serão ofertados 20 touros, 80 matrizes e bezerros meio
sangue. O Canchim adapta-se do Rio Grande do Sul ao
Pará, garante. A partir de agora, com um trabalho
de divulgação mais intenso das qualidades da
raça as perspectivas crescem.
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