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SELEÇÃO 1 - RENTÁVEL PARA O GRANDE E O PEQUENO PRODUTOR
rev 50 - fevereiro 2002

Experiências dos criadores que optaram pela raça mostra que o mercado do Canchim é economicamente promissor não apenas para quem já é tradicional criador, mas também para quem se considera um iniciante.

Considerado expert na raça, que cria desde 71, Francisco Jacintho da Silveira, seu Chichico, não hesita em confirmar a escolha pelo Canchim como a busca por algo mais moderno em zootecnia. Ele conta que naquela época era criador de Nelore a atraído por experiências norte-americanas na formação do Santa Gertrudis e nos trabalhos realizados na Fazenda Canchim, da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), optou pela raça.

Aos 82 anos e ex-proprietário de diversas fazendas, formadas por ele próprio e já aos herdeiros, para que aprendam a administrá-las antes de sua morte, Silveira explica que alguns conceitos mostram-se essenciais para o sucesso dos produtores na criação do Canchim.

Ele se lembra que há 20 anos a vacinação dos animais restringia-se á vacina contra brucelose, que era endêmica. “Hoje, várias doenças causam aborto e esterilidade. Daí, a necessidade de se estabelecer um calendário de vacinação”, garante. A isso deve ser somada a importância de se oferecer aos animais sal mineral adequado á composição do capim produzido na propriedade, para evitar quedas de produtividade.

Silveira assegura que a prática da inseminação artificial revela-se fundamental para a obtenção do progresso zootécnico. “É impraticável manter 10 ou 20 touros premiados numa propriedade”, exemplifica. Na opinião dele, o índice de fertilidade é o principal item a ser alcançado em uma criação.

Isso exige acompanhamento, cuidados de alimentação, especialmente na seca, e manutenção apenas dos animais com alta fertilidade. Outro dado importante consiste na redução do intervalo entre partos. Na opinião dele, o período entre 13/14 meses é considerado bom.

Estudioso e admirador confesso de zootecnia, ele afirma que, ao longo dos anos, o Canchim apresentou evolução. Trata-se, inicialmente, de uma raça com animais grandes. Há 20 anos. porém, o objetivo almejado por criadores era a transformação para animais de médio porte.

Silveira relata um experiência realizada em uma estação experimental em Nebraska, nos Estados Unidos, onde, apos 10 anos de avaliação contínua de diversas raças criadas no mesmo pasto, com touros a campo, comprovou-se que os animais de tamanho médio revelaram-se mais férteis e mais produtivos. Em contrapartida, os animais maiores exigiam assim, emagreciam.

Os criadores de Canchim entenderam a necessidade da mudança. Hoje, a média de peso para touro em exposição gira em torno de 1.000 kg, enquanto no campo alcança 800 kg. Já as vacas em exposição pesam em média 600 kg e, entre 450 kg e 50 kg, no campo.

Durante os últimos 10 anos, os índices de ganho de peso dos touros também mostram sinais de evolução mostram sinais de evolução. E a Associação Brasileira de Criadores de Canchim (ABCCAN), por meio de circulares e comentários de juizes busca conformação moderna, ou seja, quarto dianteiro mais delicado e aumento de carne no quarto traseiro, item mais valorizado por frigoríficos.

Com amplo leque de atividades junto á raça, que inclui atuação como ex-presidente da ABCCAN, entre 73 e 79, diretor do setor de pecuária de corte da Federação de Agricultura do Estado de São Paulo (Faesp), entre 69 e 75, juiz da raça e produtor orientado por pesquisadores da Escola Superior de Agricultura “ Luiz de Queiroz” desde 43, Silveira não hesita em afirmar que “a raça se confirma conforme é usada”, E acrescenta” o Canchim tem lugar tranqüilo como boi de corte e de plantel”.

A afirmação baseia-se também na experiência da Estância Santa Ana, uma das propriedades doadas, onde 10 mil fêmeas recebem touros Canchim e Nelore na estação de monta. O produtor conta o índice de fertilidade dos machos aponta resultados médios iguais para as duas raças.

Agrônomo, filho e neto de pecuaristas, avô de 17 netos com um bisneto, Silveira nasceu em Barretos e mudou-se para Presidente Prudente, em 47. Ele e pai formaram a Fazenda Vista Bonita, em Sandovalina, próxima a Presidente Prudente, São Paulo, também doada, onde são mantidas 1,500 reses, incluindo 500 vacas, em 6,5 mil ha.

Para ele, esta constitui-se na melhor experiência de sua vida, quando “durante 15 anos convivi com 300 famílias que plantavam algodão em parceria na propriedade”. Entusiasmado, garante que “Canchim pode ás vezes, ir mais devagar, mas sempre para frente”.

Considerando-se ainda uma discípulo do trabalho desenvolvido por Chichico, embora já some 14 anos de dedicação ao Canchim e venha colhendo um resultado nas pistas de fazer inveja a qualquer canchinzeiro, Irineu Lopes Machado, titular da Ilma Agropecuária da Ilma Agropecuária, situada em Angatuba, SP, toca em suas várias propriedades juntamente com os filhos André e Adriano, um trabalho de criação e seleção de Canchim que começou com um lote de 50 vacas adquiridas por ele do dono da marca FJ: “Meu primeiro contato com o Canchim foi recheado de admiração e entusiasmo. Admiração pela forma com que seo Chichico concebe e administra sua seleção de Canchim e entusiasmo por ter tido a sensação de encontrar a solução para nosso projeto”, conta Irineu, já possuidor há época de uma vacada base Nelore, e desapontado com testes realizados por ele com outras raças de origem européia.

Procurando adquirir todas as boas opções de sangue disponíveis e partindo para a formação de uma linhagem próprias bem definida, Irineu chegou a um padrão que vem lhe rendendo premiações de peso, como Grandes Campeonatos Nacionais em diversos animais de sua criação. Basta constatar que no ranking do Canchim a Ilma Agropecuária sangrou-se nos dois últimos anos Melhor Criadora, sendo que 2000 ela também ficou com o título de Melhor Expositora. “Isso atesta a seriedade com que desenvolvemos nosso trabalho. O rigor na seleção em fazer animais sempre melhoradores reflete-se não apenas nas pistas de julgamento, mas também nos preços alcançados por nossos animais em diversos leilões, como Jane da Ilma, recordista de preço entre fêmeas da raça, negociada por R$ 72 mil no leilão do ano passado”, afirma Adriano Machado”, filho de Irineu e responsável pelo gerenciamento técnico da criação. Além do Canchim, carro chefe dos negócios da família, a Ilma investe também na cria, recria e engorda de bezerros Nelore e cruzados Canchim em propriedades próximas a Angatuba, e na produção agrícola em Paranapanema, onde os produtos principais são algodão, feijão e milho de pipoca, numa área de cerca de 425 ha. “Mantemos os animais de elite concentrados em duas de nossas propriedades. Nossa time de exposições hoje reúne 25 animais, isso de um plantel de aproximadamente 750 matrizes registradas”, informa Adriano, lembrando que a qualidade da raça fica bem caracterizada na propriedade onde mantém o gado comercial: “Os cerca de 300 cruzados Canchim que terminamos em nossa fazenda de recria mostram vantagem, alcançando o peso de abate mais rápido e também mostrando rendimento de carcaça acima da média.

Bom para os iniciantes

Enfático, Durval Bacellar, proprietário da Fazenda Paraízo, com 360 ha, em São Carlos, São Paulo, onde mantém 250 animais registrados, dos quais 140 matrizes, garante que “o Canchim é a solução para o gado nacional”. Criador da raça há três anos, ele explica que a opção pelo Canchim foi quase geográfica afinal a fazenda faz divisa com a Fazenda Canchim, da Embrapa.

Anteriormente, ele criava animais para cruzamento industrial. Aconselhado por pesquisadores da Embrapa, resolveu agregar valor ao rebanho. Começou o descarte de animais de corte e substituição por animais Canchim, para comercializar como produtores. Ao mesmo tempo, ampliou os cuidados de manejo.

Ele confessa que a experiência inicial foi complexa e marcada por erros. Recorreu, então, á ABCCAN. O Salto nos resultados do primeiro para o segundo ano mostrou-se animador. Adotou também prática de inseminação artificial. Atualmente, todas as fêmeas são inseminadas. Há apenas um touro para repasse.

Ao longo do tempo, adquiriu animais de qualidade genética comprovada. Hoje, o objetivo da Paraízo consiste em oferecer animais rústicos e precoces criados a campo. “O Brasil não é São Paulo”, afirma. “Daí, a necessidade dessas qualidades”.

Bacellar explica que os animais da propriedade não recebem suplementação. E os resultados são obtidos a campo. Para isso, a propriedade mantém um programa forte de adubação e o pasto, composto por brachiaria brizantha e tanzânia, permanece constantemente adubado.

A Fazenda Paraízo abriga também uma granja com 23 mil aves, que produz entre 30 e 40 toneladas mensais de adubo orgânico. O esterco é aplicado no pasto, já que não se usa proteína animal para alimentar os animais. Dessa forma, o programa da propriedade consiste em rotação e adubação de pasto e animais a campo. Os animais que não se adaptam são descartados.

Bacellar explica que a propriedade não possui cochos e suplementação só é oferecida a animais doentes. No período das águas, os animais, são mantidos nos campos de tanzânia, que representam 30% da área de pastos. Já na seca vão para as áreas de brachiaria brizantha, que se espalham pelo restante da área.

Criador teórico confesso, explica já que a esposa, Beatriz Franco de Lacerda Bacellar, é quem “põe a mão na massa. Ela é quem acompanha o dia-a-dia da fazenda e dos animais”. Este é o primeiro ano em que a propriedade enfrentará o mercado.

As perspectivas são animadoras. Espera resultados em um ou dois anos e o total de 150 a 200 matrizes, mais um rol de compradores em torno da região de São Carlos. Espera também ajudar a ampliar a divulgação do Canchim.

Animado com as decisões da ABCCAN dos últimos anos, como a apresentação do novo padrão racial, Bacellar afirma que a raça manteve-se no sétimo lugar entre as mais vendidas em 200 a apresenta valor de mercado mais expressivo, o que atrai novos associados.

“Há dois anos, um touro era comercializado por médias em torno de R$ 1 mil. Hoje, a média saltou para R$ 1,8 mil”, assegura. Somam-se a esse fato fatores como a estabilidade da média nos leilões, o aumento do número de animais registrados e a procura de sêmen Canchim por parte das centrais de inseminação.

Dessa forma, o futuro da raça revela-se animador. “O Canchim tem condições de se mesclar com outras raças, especialmente o Nelore, para a formação do F1”, garante. Mais: compõe também um importante ingrediente na composição do three-cross ao lado de um animal Nelore e outro de sangue europeu.

A evolução da raça e preços associado ao crescimento do número de exposições e leilões e maior dedicação por parte dos criatórios também entusiasma José Modolim. Proprietário da Fazenda Paraíso, em São Miguel Arcanjo, São Paulo, ele possui 420 cabeças de Canchim PO, das quais 310 matrizes, entre 15/20 machos prontos, 20 bezerros e o restante em bezerras, distribuídas dos 300 ha.

Criador da raça desde 93/94, antes dedicava-se a animais pé-duro”, hoje vende animais para criatórios. A boa performance de touros Canchim mais a visita a criatórios e exposições motivou a escolha pela mudança do plantel. A exemplo de Bacellar, o início foi complexo. Entre 97 e 98, Modolin optou por assessorias técnicas, com alterações na alimentação dos animais a campo e suplementação. Atualmente, os pastos mais antigos são formados por brachiaria decumbers e brachiaria humidicola e os novos, por tanzânia. Mais: a rotação, que antes era cada sete/oito dias, foi reduzida para um/dois dias em pastos de um ha.

A profissionalização continuou em 99/2000, quando a propriedade adotou a técnica de inseminação artificial. Hoje, 80% do plantel é inseminado e a exceção acontece nas coberturas de matrizes por touros premiados. Também em 2000, o produtor acrescentou o uso de creep-feeding, para todos os bezerros. Modolim explica que “antes, o desmame ocorria aos seis meses, com média de peso de 180 kg/animal.. Com o creep-feeding, o tempo aumentou para sete/oito meses e o peso, para 280/290 kg/animal”.

No final de 2001, a fazenda integrou o plano de qualidade total para a área rural, idealizado pelo Sindicato Rural de São Miguel Arcanjo e Secretaria de Agricultura de São Paulo. Nele, todos os funcionários recebem noções de comportamento apresentadas no termo De Olho, cuja letra “d” significa descarte, a letra “o” organização, “l” limpeza, “h” higiene e “o” organização mais uma vez. Na prática, isso representou produtos identificados, limpeza e organização.

Ainda nesse ano, o produtor montou o primeiro planejamento qüinqüenal para a fazenda. “Quando se trabalha com terra, os planos devem ser a médio e longo prazos”, afirma. Conforme esse planejamento, o ponto de equilíbrio será alcançado em 2004. “Se for preciso, é possível rotas de mudanças”.

Na opinião dele, o sucesso da Fazenda Paraíso pode ser resumido em duas atividades básicas. A primeira, adotar cuidados em todas as fases de criação do gado puro. E a segunda, deixar de encarar a propriedade como local para finais de semana e profissionalizá-la.

Entusiasmado com desempenho da raça, associou-se aos produtores Irineu Lopes Machado e Luiz Adelar Scheuer para um leilão a ser realizado em 23 de março, na Fazenda Santo Antonio, no km 211,5 da Raposo Tavares, quando serão ofertados 20 touros, 80 matrizes e bezerros meio sangue. “O Canchim adapta-se do Rio Grande do Sul ao Pará”, garante. A partir de agora, com um trabalho de divulgação mais intenso das qualidades da raça as perspectivas crescem.


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