A
produção leiteira não é uma atividade
econômica diferente das outras. Como qualquer uma delas,
hora expande, hora estanca, hora retrai. Em tempos de crise
é preciso adequar-se para não morrer.
Como esta afirmação, Newton Souza Filho explica
seus movimentos dentro da Lagoa do Ouro, fazenda situada no
município de Jequié/BA. A propriedade é
um dos mais importantes celeiros genéticos da raça
Pardo-Suíça do seu Estado. Nas famílias
das melhores vacas baianas encontra-se animais de afixo ouro,
marcados pela excelente conformação e alta produtividade
adaptada ás condições ambientais do Nordeste.
Newton iniciou sua pecuária com a raça em 1984,
tempo em que bons animais, habilitados geneticamente para
suas respectivas explorações, recebiam preços
dolarizados, dificilmente abaixo da casa dos US$ 5 mil; hoje,
R$ 12 mil atualmente, este valor, dentro do setor leiteiro,
é pago apenas por animais de exceção.
Na época, a Lagoa do Ouro buscou animais em Minas gerais,
São Paulo e até nos Estados Unidos, formando
um base de plantel similar a dos melhores criatórios
da raça em todo o Brasil. O contexto permitia que os
investimentos em genética, instalações
e manejo retornassem rapidamente. Muitos patrimônios
foram levantados desta forma. Mas o Real chegou e, com ele,
a terra e o gado passaram a valer o que produzem. No caso
específico do leite, a liqüidez passou a ser bastante
apertada e somente possível se num projeto eficiente.
Hoje, uma boa vaca comercial não passa de US$ 800,
uma quantia que provoca um breve sorriso no rosto de Newton,
mas que não esmorece seu trabalho: Valores como este
muitas vezes não pagam a boa criação
do animal, porém temos que produzir de um jeito ou
de outro, buscando repostas efetivas para a redução
de custos e conseqüente lucro, ratifica.
A parte o realismo dos tempos atuais, a região de Jequié
ainda sofre concorrência dos safristas produtores
de leite por ocasião do período das águas,
quando o pasto está verde. Neste época, o preço
do produto cai ainda mais e, praticamente, inviabiliza a produção
profissionalizada, fundamentada em dieta de qualidade para
plena manifestação do potencial produtivo das
matrizes. Não vale a pena dar comida para o gado,
explica Newton.
A pergunta, então, é: como sobreviver? Na época
da safra, Newton promove uma redução abrupta
da produção, vendendo boa parte de suas fêmeas
em lactação por ocasião das águas.
De forma programada, uma nova geração (novilhas)
chegará parindo nos meses de maio e junho, época
de pasto seco em que os safristas estão se despedindo
dos laticínios. Na última entressafra, o produtor
chegou a receber R$ 0,50 por litro de leite da Lagoa do Ouro,
mantendo menos de um animal jovem por matrizes em lactação.
Assim, gozando de grande prestígio na pecuária
leiteira da Bahia, o produtor joga as contas da fazenda no
azul, mantém o gosto pela atividade e dissemina sua
boa seleção genética, muito bem vinda
os colegas de raça.
Nos últimos três anos, a Lagoa do Ouro tem comercializado
de 40 a 50 animais/ano. Mais da metade deles são machos,
que se mantém com boa liqüidez pela demanda trazida
por rebanhos mestiços. Porém, como o mercado
de fêmeas está muito acanhado, Newton acaba fazendo
muitos negócios em exposições, como o
Fenagro, em Salvador, na mostra de Feira de Santana. Para
um rebanho de 100 animais, este giro acaba promovendo reformulações
grandes, anualmente, no plantel.
O projeto de exportação leiteira de Newton é
bastante ousado para a região. Possui uma área
de feno, (irrigada por pivô central), de 14 ha; além
de outros 5ha (irrigados por aspersão) divididos em
26 piquetes para pastejo do rebanho. Segundo análise
do capim, teor de proteína é de 18%. Ainda mediante
análise, desta vez do solo, os campos recebem adubação
orgânica e de cobertura, periodicamente, porém
com intervalos diferentes. Os campos de feno rendem de cinco
a oito cortes ao ano, dependendo da ocorrência de chuvas.
Vale destacar que apenas 50% desta produção
é consumida na fazenda. O restante é comercializado,
representado uma fatia bastante importante no faturamento
geral.
A qualidade do produto é suficiente para garanti-lo
como substituto de silagens como a de milho, sorgo, ou cameron.
Newton explica que o gado responde melhor ao feno, pela digestibilidade,
além de que as culturas para confecção
de silagem e seu respectivo processo são muito mais
onerosos. Outra justificativa para a ausência de leguminosas
é o ataque de pássaros, muito freqüente
na sua região.
Os piquetes de pastejo não recebem adubação
orgânica, pois já estão estercados pelo
próprio gado. Cada um, depois de dois trabalho, fica
de 24 a 26 dias descansando. A lotação, no verão,
é de 13 unidades animais por hectare, número
que cai para oito, no inverno. Outro ponto a destacar no bom
rendimento das gramíneas da Lagoa do Ouro é
o fato de que a grande ensolação, características
do centro de Minas Gerais para o Nordeste, favorece sobremaneira
seu cultivo, já que a irrigação promovida
tira o efeito negativo trazido pelos períodos de extensa
seca.
Todo o volumoso oferecido ao rebanho provém do campo
de tifton. No inverno, serve-se feno no cocho para complementar
o consumo do pastejo. As vacas em lactação estão
divididas em lotes por produção: primeiro, para
fêmeas com lactação diária acima
de 15kg, outro para aquelas entre 10 e 15 kg e um terceiro
para fêmeas em final de produção. Elas
consomem, respectivamente, 6,4 e 2kg de ração
por dia. O balanceamento é o mesmo e a energia é
tirada do milho, sorgo ou polpa. Já a soja, a uréia
e o sal respondem pela proteína. Todos os ingredientes
são comparados e misturados na própria fazenda
e com esta dieta, as vacas registram média de 21kg/
dia. Newton faz questão de frisar que esta média
poderia ser bem maior se mudasse a alimentação.
Porém ele, prefere este patamar, uma vez que tal aumento
diminuiria sua rentabilidade, apurada na hora de apontar custos
maiores com novos insumos.
O método de secagem promovido nas matrizes é
o abrupto. Após a última ordenha, a fêmea
é separada e deixada por 24 horas em jejum e sem água.
Ela fica solta em um piquete de baixa qualidade. O estresse
é tanto que, em uma semana, ela estará seca.
Os índices de mastite são bastante baixos.
Já a incidência de carrapatos na região
é muito grande. O forte calor a umidade decorrente
da irrigação favorecem em demasia o parasita.
Mas são difíceis problemas com o gado em função
disso. Os cascos sofrem mais, porém desde que implantou
o manejo de casqueamento e pé de lúvio a cada
três meses, as incidências de doenças do
casco caíram quase que para zero. O trabalho preventivo
é seguido a risco, tais como o de vacinação,
inclusive de IBR e BVD; e até leptospirose, quando
as chuvas abrem muitas áreas encharcadas.
Um outro ponto a destacar é o manejo das vacas em pré-parto.
Trinta dias antes data prevista para o parto, elas são
deslocadas para um piquete que fica próximo da casa
do vaqueiro. Ficam ali, confinadas com 3kg de ração
própria para gado jovem e feno à vontade. Especificamente
as novilhas de primeira cria, 15 dias antes de parirem já
estão freqüentando a rotina da ordenha. Porém,
no lugar da ordenha, lava-se o úbere mais demoradamente.
Desta forma, por ocasião da coleta, elas estarão
acostumadas a todo o procedimento.
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