Os
levantamentos de informações sobre a competitividade
da produção da soja brasileira frente à
norte-americana foram confirmados cientificamente em uma pesquisa
realizada por Rodolfo Guilherme Hirsch, da ESALQ/USP. O trabalho,
que tomou como base dois importantes pólos produtores
de soja (um aqui e outro nos Estados Unidos) mostra que o
custo de produção de soja no município
de Sorriso (MT), tomando-se por base a safra 2000/01, representa
cerca de 48% do custo total da região central de Illionois
(EUA), safra 2000. Outra contribuição da pesquisa
é a comparação dos contratos realizados
entre produtores e compradores de soja nas duas regiões,
com a constatação de que os contratos oferecidos
nos EUA são mais diversificados para o produtor do
que os disponíveis aos brasileiros.
Nas pesquisas sobre os custos de produções de
soja não - transgênica brasileira, em sistema
de plantio direto, no Mato Grosso, Rodolfo Hirsch identificou
que para produzir um hectare na região de Sorriso,
o produtor depende US$ 386,23 por hectare. Na região
central de Illinois, a conta fica em US$ 798,15 por hectare,
obtendo-se a diferença de 62% em favor da produção
brasileira. O estudo apurou os custos de produção
de soja transgênica nos EUA, em sistema de plantio convencional,
tendo-se em vista que é predominante esta modalidade
naquele país.
Não adianta termos produção tão
barata se os preços brasileiros são muito mais
baixos que os deles, observa o pesquisador. Torna-se,
portanto, imprescindível uma análise de rentabilidade
para averiguar se de fato tal vantagem se reverte em lucro
ao produtor e competitividade ao país. Nesta
análise, Rodolfo apurou que a rentabilidade média
brasileira estaria por volta de 8,7% (safra Brasil 2000/01).
Já para os norte- americanos, a constatação
é curiosa e aponta um resultado negativo de 24,52%
(safra EUA 20001), mesmo com os subsídios para garantir
o preço mínimo.
A explicação para a continuidade do negócio
lamenta Rodolfo, os americanos não souberam lhe dar.
Talvez o que permitiria tal manutenção da atividade
completa, seria a forte receita obtida com a preservação
de áreas naturais e o alto valor recebido pela prestação
de serviços de maquinários para a colheita de
outros grãos, por exemplo. Além do que, muitos
produtores têm a opção de trabalhar em
outras atividades fora da fazenda.
Quanto à produtividade, o Brasil também se mantém
líder. No Mato Grosso, a produtividade média,
segundo Conab, na safra 2000/01, é de 3.100 kg por
hectare, enquanto em Illionois a média, na safra de
2000, foi de 2.959 kg/ha, segundo USDA.
A pesquisa destaca também a estrutura das propriedades
entre os dois países. Na região do sorriso e
Lucas do Rio Verde (média MT), 60% da produção
de soja se encontra em propriedade de 1.000 a 10.000 ha, segundo
o IBGE (1999). Já no centro de Illionois, as propriedades
variam entre 20 a 200 ha, segundo censo do USDA (1997).
O Brasil só perde em competitividade quando o assunto
é transporte. com o Transporte interno da soja de Sorriso
ao porto de Paranaguá (PR), via rodoviária,
são gastos US$ 43,34/tonelada, incluindo-se os custos
portuários. Já da região central de Illionois
até o porto New Orleans, o dispêndio é
de US$ 12,65/tonelada. Já o frete oceânico até
o porto de Roterdã (Holanda), segundo uma grande empresa
processadora atuante nos dois países, a vantagem é
para os Estados Unidos. De Paranaguá a Roterdã,
o custo é US$ 11,50/t e de New Orleans, US$ 10,00/t.
Contratos
No
Brasil, os contratos entre produtores e compradores se dão
para obtenção de recursos para a produção
e outros para garantia de preços. Para a captação
de recursos financeiros, destacam-se os contratos de CPR,
a soja verde e o adiantamento. Já para
diminuir os riscos de comercialização, são
comuns os contratos de pré-fixação dos
preços realizados entre produtor e comprador, sendo
este, muitas vezes, a própria indústria esmagadora.
Já nos Estados Unidos, os contratos oferecidos aos
produtores ocorrem basicamente no nível da comercialização,
já que a produção tem financiamento facilitado
através de bancos agrícolas. Destaca-se que
pelo fato dos norte-americanos centrarem suas atenções
em contratos de administração de risco, bem
como pelas próprias condições de planejamento,
a longo prazo oferecidas pelo país, existe uma variedade
maior de contratos ao produtor, o que lhe dá mais opções
de reduzir seus riscos de comercialização. Algumas
das operações contratuais mais comuns nos EUA
são a pré-fixação de preços
e a venda a fixar, tal qual ocorre no Brasil. São praticados
também contratos de preços mínimos (entre
produtor e empresa compradora); contrato de base e hedge-to-arrive.
Além destes, há a chamada Nova Geração
de contratos através dos quais o produtor tem
a chance de obter melhores níveis de preços,
podendo, por exemplo, mudar o valor contratado em pré-fixação,
entre outros.
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