Indicada
mais para as condições do Sul do Brasil, prática
ainda usada no país permite recuperação
dos campos naturais e conseqüentes aumento no ganho de
peso dos animais.
O diferimento constitui práticas de manejo que pode
contribuir para preservação e melhor uso dos
campos naturais. Trata-se de um descanso planejado da pastagem,
com o objetivo de proporcionar a recuperação
do vigor e a produção de sementes das melhores
espécies forrageiras nativas. Portanto, a recuperação
das condições de pastagem. Mais: possibilita
a acumulação de forragem em um período
ou nulo crescimento da pastagem.
O pesquisador Klecius E. Gomes, autor de um trabalho sobre
o uso do diferimento no manejo do campo natural, explica que
o experimento teve como foco os campos naturais na região
Sul do país, especificamente os do Rio Grande do Sul,
embira a técnica também seja usada em pastagens
cultivadas na área do Centro-Oeste, como as pastagens
de brachiaria e panicum. O descanso planejado, com médias
entre 90 e 100 dias, permite recompor as forças das
plantas, por meio da parte aérea e das raízes,
além de garantir a produção de sementes,
o principal objetivo na opinião dele. Afinal, sabe-se
que o uso intensivo da pastagem inibe a produção
de sementes.
O experimento foi realizado em cerca de 60 ha, divididos em
nove piquetes de 6,7 ha cada, na forma de três diferimentos
repetidos três vezes. A vegetação, denominada
regionalmente campo misto, é formada predominantemente
por paspalum nonatum (grama batatais) e axonopus affinis (grama
tapete). Gomes afirma que a área de campos naturais
representa atualmente 40% da área do Estado e gira
em torno de milhões de ha.
O diferimento ou vedação de pastagens ainda
é pouco usado na Brasil. Concentram as práticas
nas regiões sul e Centro-Oeste, Originária do
Estados Unidos, nas décadas de 30 e 40, a técnica
foi introduzida no Brasil nos anos 50. O pesquisador credita
o baixo número de propriedades com uso de diferimento
ao fato de o material vegetal ficar envelhecido e perder a
qualidade da forragem ao longo do descanso. Convém
lembrar, porém, que, em contrapartida, há a
renovação do campo. Outra razão para
o pouco uso da técnica consiste no consenso do campo,
já que muitos produtores insistem em utilizar a totalidade
da área da propriedade. Ainda assim, Gomes mantém
a expectativa de que os produtores brasileiros, em busca da
produção de um animal orgânico com menor
impacto de resíduos, optem por campos naturais e, conseqüentemente,
pelo diferimento. A produção animal em
campos naturais deve garantir preços da carne mais
elevados, deduz. No Rio Grande do Sul, o diferimento
do inverno acontece entre agosto e novembro. Já o diferimento
do verão ocorre entre final de fevereiro e início
de junho. As respostas variam de campo para campo. O importante
é saber que os campos naturais compõem o crescimento
de uma comunidade de plantas, que mostra modificações
conforme as diferenças regionais. Daí, a necessidade
de um estudo sobre as melhores épocas de diferimento
em cada região do país.
A implantação do diferimento exige custos mínimos,
ou seja, basta cercar a área a entrar em descanso.
O produtor deve estar atento ao benefício indireto
para o pasto natural. Isso acontece porque a cobertura vegetal
do solo permite a recuperação da área
foliar. Além disso, a maior quantidade de matéria
orgânica no solo implica na recuperação
das raízes. Não se pode esquecer que o
processo é lento, alerta Gomes. Sabe-se também
que, após o inicio do processo de melhoria da pastagem,
a produção de matéria seca aumenta e,
conseqüentemente, cresce a produção de
cresce a produção animal. É importante
salientar que o diferimento não implica em áreas
mínimas ou máximas, mas depende de propriedade
para propriedade. O pesquisador da Embrapa recomenda a escolha
de áreas mais deterioradas ou muito pastejadas. O produtor
pode optar também por rotação, em um
ou dois anos sucessivos. Gomes afirma que os resultados para
a engorda de bovinos revelaram-se entusiasmadamente. Esplica
que no diferimento do verão houve 155 kg de peso vivo
por ha/ano, ganho de peso por área total. Na área
testemunhada, sem diferimento, ao longo do ano, o ganho de
peso vivo por área total alcançou 96 kg. A média
registrada no Estado é de 50 kg por ha/ano. No inverno,
a perda foi de 18 kg de peso vivo por ha. E, no verão,
ganho de 17 kg de peso vivo por ha. O pesquisador afirma que
o número de animais variou, já que o manejo
adotado pela Embrapa determina número de animais conforme
o crescimento da pastagem. Exatamente por isso, o mais
importante é o ganho do peso vivo, explica. E
conclui: o diferimento é uma prática útil
para a ampliação do rendimento animal em campo
natural, e os campos naturais sulbrasileiros apresentam um
potencial ainda desconhecido e não valorizado para
a obtenção de uma produção animal
ecológica e sustentável.
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