As
recentes e duras exigências técnicas imposta
à produção leiteira, visando a melhoria
da qualidade do leite, desencadearam uma série de novas
preocupações nos produtores. Uma delas é
sobre a qualidade dos equipamentos de ordenha, que também
devem atender especificações regulamentadas
em normas baixadas pelo Ministério da Agricultura.
Além de detalhes legais, outros aspectos importantes
devem estar em pauta quando o produtor pensar em adquirir
uma ordenhadeira. As condições de assistência
técnica e manutenção são fundamentais,
assim como toda uma mudança de mentalidade dentro da
fazenda. Da mesma forma, o produtor deve ainda ter de forma
mais clara, a dimensão do seu projeto de pecuária,
de modo que a longa vida útil do equipamento, em termos
de eficiência, possa contribuir para uma maior produtividade.
De saía, então, ao escolher um equipamento de
ordenha, o produtor deverá saber se ele atende às
novas normas, pois, caso contrário, estará correndo
o risco de ficar de fora da produção de leite
conceituada como sendo de qualidade; contexto que rebaixaria
a remuneração pelo produto. As normas fixam
padrões de funcionamento para as ordenhadeiras visando
a máxima qualidade do leite extraído, mas também
a proteção dos animais envolvidos. Muitas ordenhadeiras
do mercado, do balde ao pé à canalizada, já
estão adequadas à legislação,
mas algumas ainda precisam, passar por reajustes. É
o que informa José Garcia Preto, do departamento de
desenvolvimento de produto e treinamento da Bosio. Para ele,
apesar de ser um dever do fabricante, fornecer garantia, o
produtor precisa estar amparado por uma assessoria de sua
confiança.
A incursão pelas especialidades técnicas começa
pela escolha da bomba de vácuo, por exemplo, responsável
pela succção de leite, e é de extrema
importância. Se subdimensionada para o equipamento,
além de não conseguir retirar todo o leite,
os úberes estarão bastante expostos às
mastites. Quem explica é Fabiano Amaro, responsável
pela divisão de Produtos e Máquinas da DeLaval.
Segundo ele, a falta de eficiência da bomba de vácuo
traz grandes prejuízos ao produtor: queda de produção,
maior tempo de extração, acometimento de doenças,
perda da qualidade do leite e deterioração de
todo o equipamento de ordenha.
Mais tecnicamente, Fabiano ainda destaca, em relação
ao vácuo, o nível de sua flutuação,
que não pode ser inferior a 5kla. Quanto ao regulador
de vácuo, ele deve atender a três características:
sua capacidade deve ser maior ou igual à da bomba de
vácuo; deve ainda ser extremamente sensível
para perceber quedas de teteiras, por exemplo, que provocam
flutuação de vácuo; e também,
ter a capacidade de fornecer respostas rápidas a estas
mesmas flutuações.
Exigências bastante técnicas, ainda, estão
reservadas para o conjunto de ordenha e pulsadores. Fabiano
entende que o produtor deve sempre estar respaldado por orientações
de profissionais de sua confiança, mas destaca, entre
outros detalhes técnicos que as pulsações
por minuto devem ser em números de 60. Sua relação
com o tempo de descanso tem que estar na faixa entre 60% pulsando
e 40% inerte, até 70% e 30%, respectivamente.. Números
acima ou abaixo, comprometem a saúde do úbere.
A preocupação com as especificações
técnicas, no entanto, são tão importantes
quanto à capacidade do produtor de dimensionar seu
projeto na atividade. Se o rebanho de vacas leiteiras é
estabilizado, por exemplo, em 80 cabeças, fica fácil
conhecer com fidelidade o equipamento necessário para
dar uma boa resposta produtiva. Boa resposta, aqui, é
menor tempo de ordenha, redução do número
de funcionários mobilizados para a coleta, produto
com baixa contagem de células somáticas (ausência
de mastites) e mínimo estresse para os animais.
Mas se sua atividade prevê expansão, é
preciso saber onde se pretende chegar e quando. Quem hoje
possui 80 vacas em lactação, mas almeja chegar
em 200, precisa saber quando este número será
alcançado, para evitar adquirir uma ordenhadeira que
se tornará ineficiente em curto e médio prazo.
Evandro Schiling, gerente técnico da Westfalia, valoriza
bastante o número de animais e a média de produção
per capita, para dimensionar o equipamento necessário.
Ele cita como exemplo fictício um produtor que, atualmente,
possua 50 fêmeas no leite, com 18 litros de média
per capita; mas que prevê um aumento no número
de vacas para 65 e na média, para 23 litros. Neste
caso, os equipamentos para atender as duas situações
são distintos, pois a ordenhadeira que atende uma produção
de 900 litros/dia, na situação atual, em turnos
de duas horas, não fará para 1,5 mil litros,
no futuro.
Um outro destaque na avaliação de Evandro é
quanto à visão dos produtores. A maioria deles
entende que primeiro é preciso levantar uma sala de
ordenha para depois instalar a ordenhadeira, enquanto deveria
ser o contrário. Segundo o técnico, investimento
numa sala de ordenha não traz benefícios diretos
à qualidade do leite; portanto, um aumento na remuneração
do produto; enquanto que o investimento, primeiramente, numa
ordenhadeira canalizada, de imediato observa-se o alcance
de qualidade e a conseqüente alta da remuneração.
Além disso, ele ainda defende a forte redução
dos custos com a mão-de-obra, quando a ordenhadeira
estiver funcionando.
Já para o Carlos Alberto Machado, diretor comercial
da Intermaq, um fabricante nacional, a prioridade do produtor
deve ser quanto à condição do pós
venda do equipamento. Carlos entende que o produto deve se
certificar que a empresa tenha como oferecer manutenção
adequada, inclusive com facilidade de reposição
de peças. A garantia de assistência técnica
eficiente é fundamental para o sucesso do produtor
na sua atividade. Carlos acredita que uma assistência
credenciada distante a mais de 200 km da propriedade, dificilmente
será eficiente no vinculo de pós-venda.
Este contexto de assistência, aliás, é
uma preocupação importante do produtor; porém,
ela deve vir acompanhada de uma mentalidade diferente daquela
que predomina no setor. Manutenção deve
ser programada, preventiva e acatar as orientações
técnicas do fabricante, e não ser emergencial,
sempre, apenas quando o equipamento quebra; explica
Carlos, que ainda atenta para o fato de que as manutenções
emergenciais, exatamente por falta de programação
preventiva, são sempre mais onerosas para o produtor.
Certificar-se também que o manuseio do equipamento,
por parte dos funcionários da fazenda, está
sendo adequado e enquadrado nas recomendações
do fabricante, é outro ponto importante para o negócio.
Da ordenhadeira balde ao pé à canalizada, o
mercado oferece um grande número de modelos. Tal oferta
é interessante pelo fato de boa orientação
garantir a aquisição de um modelo ideal para
atender as necessidades do produtor. Por outro lado, a sedução
dos equipamentos mais sofisticados, eletrônicos informatizados,
pedem, necessariamente, contas na ponta do lápis. Lotário
Alles, gestor comercial da Fockink, atenta para equívocos
de super dimensionamento. Para ele, os dois representam prejuízos.
A realidade da atividade, no Brasil, não está
para falsos benefícios, mesmo com as atuais facilidades
de financiamentos oferecidos pelo BNDS (PROGER, PRONAF E PRO
LEITE) e Finame, afirma; pois quanto maior a sofisticação,
com certeza, menos a ocupação de mão-de-obra;
porém, aumentam-se as exigências de qualificação
dos funcionários e os custos de manutenção.
De acordo a este argumento, Bianca Hilbert Benitez, gerente
de marketing da Sulinox, acredita que o tipo de ordenhadeira
deve refletir a experiência do produtor. Sendo
assim, há mercado para aquelas de R$ 1 milhão
e para as de balde ao pé. Para ela, as últimas
fazem parte de um processo de aprendizagem do produtor de
seus funcionários. As novas normas de produção
incorporam a tecnologia deste tipo de ordenhadeira, mas não
a grande novidade da Sulinox: uma ordenhadeira balde ao pé
móvel, com mangueira direta para o tanque de resfriamento.
Chamada como transferidor de leite, ela é de 10 a 20%
mais cara que a tradicional, mas custa cinco vezes menos que
uma canalizada. Para pequenos produtores que estão
brigando pela tecnificação, as novas normas
abraçam a balde ao pé, já como garantia
de um leite mais higienizado e de qualidade superior.
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