Na
hora de elaborar um projeto de curral, o pecuarista tem que
levar em conta uma série de questões, evitando
problemas como a falta de funcionalidade das instalações
ou o pouco tempo de vida útil dos materiais utilizados
em sua construção. Pode parecer exagero ma,
segundo, os técnicos e especialista no assunto a construção
de um curral é um trabalho bem mais complexo do que
parece e que absorve uma quantia considerável de investimentos
para não ser tratado com bastante atenção.
Para entender o que é um bom curral é preciso
conhecer um pouco mais sobre o comportamento bovino. São
animais bastante sensíveis ao estresse, que perdem
peso facilmente, memorizam com facilidade situações
adversas e se ressentem, na performance reprodutiva, quando
submetidos a tudo isso. Sendo assim, considerando as exigências
arquitetônicas dessa espécie, um bom curral deve
proporcionar um manejo rápido, simplificado, sem hostilizações
e outros riscos à saúde dos animais e dos próprios
manejadores.Para tanto, um bom planejamento da instalação,
com bom suporte técnico e estudo criterioso, basta
para conferir eficiência. Há vários bons
modelos de currais no mercado, com mais ou menos vantagens
e desvantagens. Tudo vai depender das necessidades do rebanho,
em termos numéricos, das condições topográficas
das áreas disponíveis e do manejo. O bom planejamento,
na ponta do lápis, ainda é sinônimo de
economia de material e espaço, além de rentabilidade
futura, pela economia de mão de obra e
de perdas animais.
O estresse em bovinos, facilmente verificado em currais de
concepção mais antiga, além de proporcionar
perdas de peso desnecessárias e comprometer a performance
reprodutiva, ainda retira a resistência a doença
e baixa a qualidade da carne dos animais. Portanto, independente
das instalações, o gado deve ser manejado com
paciência e respeito ao seu instinto: uma res isolada
do rebanho, por exemplo, na sua própria percepção,
está sob séria ameaça. Para tanto, os
envolvidos precisam movimentar-se com calma e evitar movimentos
bruscos e barulhos como gritos, assovios e estalos de chicote,
por exemplo, próximo ao gado.Ferrões e outros
objetos agressivos causam um estresse desnecessário.
Da mesma forma, que o ranger de dobradiças, tronco
de contenção e outras ferragens, assustam em
demasia. Atender a um lote mais reduzido de animais é
sempre mais recomendável.
A área destinada à seringa (espécie de
sala de espera para os animais que entrarão no tronco)
não deve nunca ser super lotada. Ocupe-a no máximo
em ¾ de sua capacidade. Outro ponto importante é
a eliminação de distrações para
o gado na seringa, tronco coletivo e embarcadouro. As reses
não devem ficar expostas, visualmente, às atividades
de manejo e outros incidentes externos, por aumentarem o estresse.
Para tanto, é preciso que estas áreas específicas
do curral sejam absolutamente fechadas (réguas justa-postas
sem espaçamento).
Outro ponto de apoio ao manejo do gado do curral é
o jogo de luz. Os bovinos tendem em direção
a ela. Se, por exemplo, o seringa e o início do tronco
coletivo foram cobertos, o gado tenderá, naturalmente,
a sair pela área do tronco que apresenta maior iluminação.
O tronco de contenção deve proporcionar pressão
suficiente, apenas para conter a res, sem excessos ou faltas;
evitando assim estresse e acidentes. Acostumar o gado ao manejo
em curral desde o nascimento é uma conduta sábia,
lembrando sempre que, a primeira experiência nele deve
ser a mais tranqüila possível.
Tendo em vista estes cuidados na rotina de trabalho de um
curral, passa a ser possível compreender o que é
uma boa instalação: é aquela que facilita
o máximo possível atender a estes cuidados.
A resposta é de Rodrigo Carrara, técnico da
Belgo Mineira. Ele salienta, de saída, que o local
escolhido para levantar a instalação deve atender
alguns critérios. A área em questão deve
ser plana ou, no máximo, levemente ondulada. Deve-se
ainda evitar serviços de terraplantagem com máquinas.
Também o escoamento da água precisa ser rápido.
O terreno deve ser seco e de boa drenagem para permitir secagem
rápida após a chuva ou manejo do gado. Solo
arenoso é sempre muito bom para este fim; já
os argilosos exigem obras de drenagem e encarecem a obra.
A posição entre os piquetes deve ser a mais
eqüidistante possível, de modo a evitar longos
percursos ao gado, circunstância que pode provocar perda
de peso. Propriedades muito extensas pedem a existência
de mais de um curral. Boa água e energia elétrica
são fundamentais.
Assimiladas as exigências de localização
de um bom curral, resta agora trabalhar o modelo e seus respectivos
materiais de construção. Atualmente, o mais
recomendado é o circular, exatamente pela vantagem
de não apresentar cantos perdidos e permitir um fluxo
de animais mais rápido. Quanto as dimensões,
partindo do princípio que um curral bem concebido proporciona
agilidade no manejo, não há necessidades de
grandes dimensionamento. Ponderando-se as várias categorias
animais, multiplique seu número médio de cabeças
pela medida de 1,90 m² (espaço para cada res que
precisa ser manejada). Exemplificando, lotes de 50 cabeças
exigem 50x1,90m², ou seja, 95m². Como há
o curralete de apartação, multiplique este número
ainda por 2. Sendo assim, para atender 50 animais, o curral
terá que possuir 190m² mais a área destinada
à seringa, o tronco coletivo, os troncos de contenção
e a área de manejo dos peões. Outros 40m²
são suficientes.
Além da vantagem de não apresentar cantos perdidos,
os currais circulares ainda apresentam a vantagem de aproximar,
em distância, as várias etapas do curral. Quem
está acostumado a trabalhar todo um dia no curral tradicional,
retangular, sabe que o vai-vem de 30m, ao final do dia significa
quilômetros. Funcionários menos cansados são
mais produtivos e exercita seu oficio mais tranqüilamente.
Há, porém, quem defende currais retangulares
ou em L, como Renato dos Santos, assessor da Beckhauser.
Para ele, os currais retangulares ou em L são
eficientes desde que tenham cantos arredondados. Renato vê
mais racionalidade no trabalho. A perda de espaço comum
neste tipo de instalação, na sua visão,
é resolvida com arredondamento dos cantos.
Um dos espaços mais importantes de um curral é
a seringa. Tradicionalmente, elas estão dispostas em
trapézio ou em forma retangular, com ambos os lados
angulados. Tais disposições dificultam o manejo,
pois os animais podem se comprimir para entrar no tronco.
Um seringa mista, ou trapézio retângulo, com
um lado reto é mais eficiente. Contudo , na opinião
de Rodrigo, a semicircular ou ¾ de círculo e
a em curva com porteira e cercas justapostas (sem espaçamento)
são mais produtivas, pois empurram naturalmente os
animais para uma única saída: o tronco. Neste
item, Renato concorda, salientado o auxilio da porteira de
entrada da seringa, muito útil na hora de tocar os
animais, enquanto que Rodrigo vê que um formato misto
(uma parede reta e outra inclinada) é a melhor alternativa:
evita as quedas e contém maiores movimentos reses.
Na maioria dos projetos, saídas para troncos de contenção,
de passagem, de inseminação artificial localização
dentro do sistema. Para os embarcadouros, porém, os
técnicos divergem. Enquanto Rodrigo vê na elevação
da saída do embarcadouro, com plataforma, uma boa alternativa;
Renato acha que ele deve se posicionar no mesmo nível
do curral, rebaixando-se o piso onde encosta o caminhão
boiadeiro. Para Renato, esta alternativa é a melhor
por evitar quedas e refugos. Os bovinos têm dificuldade
de percepção de profundidade do espaço
e evitam declives acentuados.
Outro ponto de discordância dos técnicos é
quanto ao piso do curral. Rodrigo apresenta a solução
de dispor camadas compactadas de pedras roladas (sem pontas,
tipo as de rios). Rodrigo explica que ele impermeabiliza o
solo e evita o barro. A alternativa de Renato é o piso
de terra mesma, porém com buracos de drenagem. Segundo
o técnico, há vários currais com este
sistema, que não é mais caro, com quase vinte
anos de uso e sem nunca ter feito barro.
Mas uma das novidades para as áreas de mangueira e
apartação (curraletes internos) ficam por conta
da cerca utilizando mourões e cordoalhas (cordas de
aço galvanizado). Os problemas de frouxidão
do sistema com o passar do tempo foram superados. Rodrigo
informa que a cerca não vai bambear se ela for travada
em cima (travas de madeira e esticador) e em baixo por vigas
baudrame de concreto ou travesseiros. Já Renato, entende
que os travesseiros nos mourões de esticamento são
suficientes, desde que se utilizem pinos para travar as cordoalhas
em cada um dos mourões. Rodrigo apresenta, ainda, um
modelo novo de parafuso esticador de grande resistência,
para ser utilizado com uma espécie de laço metálico
que abraça a cordoalha, que não pode esgarcear,
evitando pontas que vão ferir animais e funcionários.
Além disso, deve ser de metal tratado para suportar
a corrosão de secreções, muito comuns
neste tipo de espaço.
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