Pesquisadores
estudam o comportamento de plantas daninhas na cultura da
soja e sugerem técnicas de combate e prevenção.
Para os que defendem a vocação agrícola
do Brasil, a evolução da soja pode ser apontada
como o melhor exemplo. Incipientes na década de 70,
o cultivo registrava 1,5 milhões de toneladas. Em 1980,
o total a produção saltou para 15 milhões
de toneladas. E, conforme números da companhia Nacional
de Abastecimento (Conab) alcançou 32,344 milhões
de toneladas na safra 99/2000.
Esse cenário surgiu em função da expansão
da soja das áreas tradicionais, como a região
sul do país, para novas áreas, como Cerrado.
Como conseqüência, a pesquisa brasileira investiu
em trabalhos de busca por novos cultivares, mais apropriados
para essas regiões, e tecnologia para cultivos em solos
de baixa fertilidade. Como resultado, o Brasil ocupa a segunda
posição como produtor mundial.
Ainda assim, pesquisadores e produtores acreditam que a média
de produtividade, 2.720 kg/ha na safra 00/01, pode ser aumentada.
Isso exige aprimoramento nos cuidados de preparo de solo,
plantio, fitossanidade e colheita. Afinal, sabe-se que plantas
daninhas, doenças e pragas contribuem de maneira decisiva
para reduzir os efeitos da produção.
Estudos comprovam, por exemplo, que as plantas daninhas reduzem,
em termos médios, entre 30% e 40% da produção
agrícola mundial. A isso soma-se também o fato
de as plantas daninhas aumentarem os custos de produção,
o que reduz a eficiência agrícola. Alguns pesquisadores
não hesitam em afirmar que causam danos maiores que
pragas e doenças.
Dionísio Luiz Gaviero, pesquisador de fitopatologia
da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária/Centro
Nacional de Pesquisa de Soja Embrapa Soja, afirma que
as plantas daninhas variam conforme o local e a propriedade.
O Brasil abriga dezenas de espécies de plantas daninhas,
espalhadas ao longo do território, que atacam com maior
freqüência na época do verão. Na
prática, isso significa que o pico de germinação
das plantas daninhas coincide com a época de plantio
da soja no país.
O pesquisador salienta que o produtor precisa saber que cada
espécie é variável de região para
região e de propriedade para propriedade. Mais: as
comunidades de plantas daninhas são dinâmicas
e se alteram conforme o manejo da lavoura. Exatamente por
isso, existem espécies com maior incidência em
plantio direto e em plantio convencional, por exemplo.
A Embrapa Soja realizou o amplo trabalho. A Cultura
da Soja no Brasil, que disseca os aspectos do cultivo
da planta, desde o preparo do solo até colheita, editado
em forma de CD-ROM. Um dos capítulos é dedicado
ao manejo de plantas daninhas. Nele, os pesquisadores afirmam
que a competição por minerais essenciais, água,
luz e espaço compõem a forma mais conhecida
de interferência das plantas daninhas sobre as culturas.
As principais características das plantas daninhas
são a agressividade, desuniformidade no processo germinativo,
capacidade de germinar e emergir de grande profundidade, além
de diversos mecanismos de reprodução e rápido
desenvolvimento e crescimento inicial.
Infestações de corda de viola (Ipomoea purpurea
e Ipomoea nil) e balãozinho (Cardiospermum halicacabum)
dificultam e, em algumas situações, impedem
a colheita da soja. Sabe-se que a colheita da soja junto com
plantas daninhas implica na redução de qualidade
dos grãos.
Já a infestação de amendoim-bravo (Euphorbia
heterophylla), por exemplo, comprou o aumento de umidade dos
grãos de soja de 9,62% para 21,10%, quando o nível
de infestação passou de zero para 48 plantas/metro
quadrado. Essa invasora revela-se difícil de controlar.
Freqüente no Brasil, sua semente germina durante quase
todo o ano e alcança maior intensidade nas épocas
quentes. Pesquisas comprovaram quedas de rendimento de 2.310
kg/ha para 1.376 kg/ha para as densidades de 0-10 e 61-70
plantas por metro quadrado de amendoim-bravo, respectivamente.
O carrapicho beiço- de- boi ou desmódio (Desmodium
tortuosum), espécie recente nas plantações
do Paraná, assume importância econômica.
A planta produz grande quantidade de sementes, com facilidade
de disseminação. A isso soma-se a existência
de poucos herbicidas para soja, o que propicia o aumento de
infestação da planta daninha.
O capim-marmelada (Barchiaria plantaginea) e o capim-carrapicho
(Cenchrus echinatus) são exemplos de gramíneas
importantes na competitividade com a soja. Gaviero afirma
que o capim-marmelada tende a aumentar em plantios convencionais,
enquanto a trapoeraba (Commelina benghalensis) registra aumento
de área em cultivos de plantio direto.
A recomendação técnica aos produtores
é considerar importante toda espécie que ocorrer
na propriedade, já que qualquer invasora apresenta
potencial para causar prejuízos. Exatamente por isso,
recomendam algumas formas de controle.
A principal alternativa para o controle das plantas daninhas
na soja é o controle químico. O trabalho da
embrapa Soja ressalta como grande vantagem á economia
de mão-de-obra e rapidez na aplicação
do controle. Alguns cuidados são fundamentais, como,
antes da escolha dos produtos, estabelecer o mapeamento da
propriedade, separando a área por talhões e
indicando, em cada um deles, as espécies ali existentes
e intensidade.
Os pesquisadores afirmam que a eficiência da aplicação
de um herbicida é obtida por meio da razão da
dose técnica requerida para controle de determinada
população de plantas daninhas pela dose real
empregada, multiplicada por cem. Logo, quanto menor o intervalo
dessas doses, ou seja, quanto mais próxima for a dose
usada para controle em relação à realmente
necessária, maior será a eficiência da
aplicação.
Para que maior eficiência seja obtida, alguns pontos
devem ser levados em consideração, como o aplicador,
o alvo, o produto, a cobertura de gotas, o equipamento utilizado
e os fatores de interferência, em especial os de clima.
Temperaturas acima de 30ºC e umidade abaixo de 55% favorecem
a evaporação das gotas de pulverização
e podem induzir as plantas a estresse.
O trabalho enfatiza também a atenção
á resistência de plantas daninhas aos herbicidas.
O problema começou a ser estudado no Brasil no início
desta década. Hoje, em diferentes regiões produtoras,
verifica-se a resistência do capim-marmelada, picão-preto
e amendoim-bravo. Sabe-se também que os casos de resistência
ainda não são comuns e, muitas vezes confundidos
com falta de controle, por problemas de aplicação
inadequada.
Em área que adotam o plantio direto, a eliminação
das plantas daninhas feitas antes da semeadura, com o uso
de herbicidas em dosagens e números de aplicações
que variam de região e de propriedade. Habitualmente,
os Cerrados exigem doses maiores. Na semeadura direta, a prevenção
na disseminação de novas espécies tendem
a reduzir a emergência de forma significativa como o
capim-marmelada, enquanto o guanxuma (Sida rhombifolia), o
capim armagoso (Digitaria insularis) entre outras, tendem
a aumentar.
Estudos sobre a influência da palha na penetração
dos herbicidas até o solo, quando aplicados em pré-emergência,
asseguram que alguns produtos tenham eficiência reduzida,
em razão da intercepção do produto pela
cobertura morta.
Ainda como estratégia de controle, o produtor pode
recorrer ao controle preventivo, que consiste em adotar medidas
para evitar a entrada de determinada espécie em local
onde ainda não existe. Convém lembrar que a
disseminação das espécies de plantas
daninhas está ligada ás atividades do homem.
O melhor exemplo é o que houve na região do
Brasil Central, quando as plantas daninhas foram levadas por
sementes de soja, implementos e colhedoras originárias
da região sul do país. A disseminação
pode ser evitada por práticas como:
- usar sementes de elevada pureza, provenientes de campos
controlados;
- limpar rigorosamente máquinas e implementos antes
de serem transportados para áreas livres de plantas
daninhas ou para áreas com baixa população;
- controlar o desenvolvimento das invasoras, impedindo a reprodução
de sementes e estruturas de reprodução nas margens
de cercas, terraços, estradas, pátios, canais
de irrigação e outros locais de propriedade;
- usar métodos para controle de plantas daninhas, desde
a catação manual, até aplicação
localizada de herbicidas;
- observar a existência de estruturas de disseminação
de plantas daninhas na utilização de adubo orgânico;
- adotar rotação de culturas e de herbicidas;
- controlar invasoras na entressafras, caso não haja
outra cultura, para que não haja grande quantidade
de sementes;
- observar para que certas sementes não sejam transportadas
por roupas e pêlos de animais.
Já o controle cultural, outra estratégia a ser
adotada, implica em cuidados de manejo da planta. Sabe-se
que o espaçamento de fileiras de cultura é fator
básico para determinar a intensidade e a precocidade
de sombreamento do solo. A combinação de espaçamentos
reduzidos e densidade adequada de plantas na fileira é
condição imprescindível para que a cultura
possa sombrear mais rápido o solo a ser mais agressiva
com plantas daninhas. No sistema convencional, o ideal é
semear imediatamente após o preparo do solo.
Os pesquisadores afirmam que a rotação e sucessão
de culturas fazem a prevenção contra o aparecimento
de certas espécies de plantas daninhas adaptadas á
culturas. Deve-se considerar, portanto, espécies com
características morfológicas e fisiológicas
diferenciadas. O ideal é optar por espécies
de rápido crescimento e cobertura de solo. E permitir
menor tempo possível, para a convivência da cultura
com plantas daninhas.
A capina mecânica é outro meio de controle bastante
utilizado. Usam-se arados, grades e cultivadores. O controle
pode ser feito na instalação da cultura, por
meio de aração ou gradeação ou
ainda após a instalação da cultura, com
cultivadores. O correto é realizar o trabalho em dias
quentes e secos, para obter melhor eficiência. A capina
deve ser feita antes da floração da soja. E
o número de capinas depende da presença de plantas
daninhas na lavoura. Geralmente, o produtor faz entre uma
ou duas antes do florescimento. Não haverá problemas
depois do florescimento, desde que a louva tenha sido mantido
limpa até este estágio.
Gaviero garante que não há receita pronta.
O problema deve ser enfrentado em cada propriedade.
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