O
produtor de gado de leite deve entender que o período
pós-parto é fundamental para as vacas. Trata-se
do momento mais crítico da alimentação
e, se bem administrado, renderá em fases consecutivas
sem problemas. A afirmação é de José
Maurício de Souza Campos, agrônomo e professor
da Universidade Federal de Viçosa (UFV), em Minas Gerais.
Para ele, a importância da nutrição das
vacas e a estreita relação com a produção
leiteira não pode ser conceituada sem uma rápida
análise do setor de leite. E, a partir daí,
implementar as mudanças necessárias á
evolução. Lembra que, nos anos 90, houve uma
grande transformação baseada no tripé:
abertura comercial, liberação do preço
do leite, queda da inflação e estabilidade econômica.
Essa transformação provocou um impacto no setor.
Por exemplo, houve aumento de consumo de produtos lácteos
e o consumidor tornou-se mais exigente em qualidade. A indústria,
por sua vez, passou a enfrentar maior concorrência,
modificar critérios ao produtor, com a exigência
de qualidade e quantidade, e oferecer maior diversidade de
produtos.
Ao produtor foi necessário elevar a produção
para compensar no preço do leite, aumentar a produtividade
e conviver com a migração da produção
para novas áreas. Assim, regiões como o sul
de Minas Gerais e o Estado de São Paulo cederam lugar
ao Triângulo Mineiro e ao Centro-Oeste em especial,
Goiás.
Sabe-se que Minas Gerais é o Maior produtor brasileiro
e responde por 34% da produção. Hoje, Goiás
ocupa p segundo lugar, com 18% da produção nacional,
garante Campos.
Já as mudanças na área de assistência
técnica implicaram em ampliar o enfoque de gerência
técnica do sistema criatório para gestão
econômica do sistema. Isso significa unir a tecnologia
para aumentar não só a produção
animal, mas também a renda do produtor. Na prática,
o Brasil deu um salto na produção de leite.
De para 1996 para 1997 houve crescimento de produção
de 1,4 bilhão de litros de leite. Em 1999, o país
produziu 14,5 bilhões de litros de leite.
No ano seguinte, a estimativa é de 21 bilhões
de litros. Como conseqüência, o preço do
leite baixou. Campos afirma que, entre 1980 e 2000, a queda
do preço alcançou aproximadamente 50%, a preços
corrigidos. Mais: naturalmente, houve queda de poder de investimento
no setor, o que, na opinião dele, determina a difícil
situação atual.
Nesse contexto, ao produtor resta entender que o alimento
do rebanho tem que ser compreendido no sistema de produção,
o que inclui, além da alimentação, reprodução,
sanidade e também fatores agronômicos, como a
produção de volumosos por exemplo. Ele garante
que se deve considerar que o alimento atende ás exigências
nutricionais e de mantença, que mudam conforme a situação.
De qualquer maneira, oferecer alimento farto e de qualidade
é fundamental em todas as fases de vida do animal.
Compete ao produtor considerar a alimentação
no círculo lactacional. Há a fase de balanço
positivo. A fase de balanço negativo, a mais delicada
e importante para o desempenho futuro da vaca, ocorre entre
o pós-parto até atingir o pico da lactação.
Nesse período, o animal não consegue consumir
alimentos suficientes para evitar a perda de peso. Campos
assegura que, a vaca mal alimentada nessa fase, tem perda
de peso mais acentuada e entra no processo de anestro nutricional
ou de cio. A conseqüência é a o aumento
de intervalo entre partos. A conduta do produtor deve ser
reduzir a magnitude dessa fase. O balanço negativo
pode estender-se até 45 dias, em países tropicais,
e a 60 dias, em países de clima temperado.
Campos explica que, depois de consumidas energia e proteína
da dieta, parte é perdida por meio de gases, fezes
e urina. E, após a absorção dos nutrientes,
parte é reciclada via saliva, parte usada na mantença
e parte utilizada para a produção de leite e
de bezerros. A prioridade de alocação de nutrientes
é para mantença, gestão, produção
de leite e reserva corporal. Nem sempre essa ordem é
obedecida.
Ele sugere ao produtor cuidados básicos para bons resultados
de nutrição x produção leiteira.
Em primeiro lugar, dar atenção ao conforto animal.
Em seguida, observar a sanidade. E, em terceiro, oferecer
fórmulas de dieta para vaca recém-parida, com
o objetivo de maximizar a ingestão de energia, evitar
perda excessiva de peso no pós-parto e impedir a produção
e eficiência na reprodução e produtividade
do rebanho.
O fato de o Brasil ser um país de clima tropical, embora
não uniformemente tropical, não consiste em
efeito direto prejudicial. Para Campos, os efeitos indiretos,
como os ataques de ecto e de endoparasitas e as forrageiras
existentes, diferenciadas das encontradas em países
de clima temperado, são preocupantes.
A orientação dele em relação ao
conforto do animal é manter o rebanho em zona termoneutra,
ou seja, de conforto térmico para animal. Para as raças
derivadas da espécie Bos Taurus entre 1 C e 16 C e
para animais da espécie Bos Indicus, de 10 C a 27 C.
Em temperaturas de 21 C, para os animais aumentam o ritmo
respiratório para perder calor.
E, quando a animal sai da zona de conforto térmico,
a primeira resposta é aumentar o consumo de matéria
seca para reduzir a produção interna de calor.
Portanto, a alimentação é importante
para conforto do animal. Ele aconselha conhecer o animal,
reconhecer a necessidade de alimentação e o
momento exato.
Campos recomenda uma fórmula para avaliar vacas altamente
produtivas. Seriam assim considerados, os animais que secretassem
70% do consumo diário de energia líquida em
leite. Por exemplo, uma vaca com 600 kg e produção
de 35 litros/dia/leite no pico da lactação e
que transformasse 64% da energia líquida ingerida em
leite não é altamente produtiva. Exatamente
o oposto de uma vaca, com 320 kg e 20 litros/leite/dia que
secretasse 70% da ingestão de proteína líqüida
como leite.
Um
levantamento realizado por Sebastião Teixeira Gomes,
também professor da UFV, mostrou que os produtores
que não gastam 30% da renda obtida com o leite custos
com concentrados para alimentar o rebanho e custos de até
20% com mão-de-obra mostram-se satisfeitos com a atividade.
O perfil inclui sistema de produção a pasto
no período das águas e semiconfinamento na seca,
a base de volumosos de silagem de milho.
Já a situação para os produtores que
mantêm animais em confinamento. Os custos com alimentação
sobem para 45% da renda obtida com o leite e entre 15% e 20%,
para a mão-de-obra. Na opinião de Campos, a
alimentação pode atingir no máximo, 50%
da renda. Essa faixa de produtores, cujas médias superam
a marca de 200 litros/leite/dia, respondem por 10% dos produtores
brasileiros, mas concentram 50% da produção
de leite do país. Já 50% do estrato de produtores
são compostos por produtores de até 50 litros/leite/dia
e significam 10% da produção total.
Completa a difícil situação dos confinadores
e dos produtores com rebanho a pasto a variação
sazonal de preço e de produção. A produção
na época das águas é 18% maior do que
no período da seca. E a variação do preço,
sofre queda de 25% na seca. Para os produtores a pasto resta
a alternativa de suspender a silagem e devolver os animais
ao pasto. Para os confinadores, responsáveis pela produção,
de leite engessada, como alguns denominam, não há
como reduzir o custo.
Parte da solução seria substituição
de volumosos ou de concentrados. Para isso, a UFV pesquisa
a busca por base volumosa e base concentrado que seriam ofertados
na seca para reduzir o preço baixo da época
das águas. Ou ainda, tentar reduzir o custo na época
das águas. A UFV também procura alternativas
para viabilizar a produção familiar de leite.
Atualmente, não há consenso sobre o sistema
produtivo de leite ideal, garante Campos. Ele aconselha a
cada produtor consultar um técnico, que deve estar
atento ao mercado. No futuro, talvez os produtores da área
de leite consideram a possibilidade de preparar as rações
na propriedade, como forma de redução de custo.
Na opinião de Pedro Braga Arcuri, agrônomo e
pesquisador da Embrapa Gado de Leite, a alimentação
e a mão-de-obra representam entre 50% e 60% dos custos
de produção de leite. Conseqüentemente,
não se deve pensar em alimentar muito os animais, mas
alimentá-los corretamente, afirma. Recomenda a procura
por assistência técnica em órgãos
da extensão rural, universidades e instituições
ou a contratação de um profissional com conhecimento
sobre nutrição animal. Sabe-se que cada caso
é um caso, em manejo de rebanho leiteiro, explica.
Na opinião dele, a grande vantagem da pecuária
brasileira é poder utilizar a pastagem durante a maior
parte do ano. Exatamente por isso, cuidar do pasto de forma
econômica significa evitar a erosão e o uso intensivo
que acaba favorecendo o surgimento de pragas. Nos piquetes
próximos aos estábulos, para as vacas em lactação,
recomenda adubação periódica e ainda
a rotação de piquetes para garantir forragem
de boa qualidade.
A possibilidade de diminuir os custos com nutrição
é uma possibilidade, que depende de um cálculo
inicial de quanto p produtor gasta com alimentos, o que inclui
adubos aplicados na pastagem, sal mineral e concentrados.
Após esse acompanhamento, a alimentação
pode ser reformulada e reduzir o custo. Daí, a importância
do acompanhamento técnico.
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