Após
as dificuldades iniciais a cultura comprova eficiência
na alimentação animal e no sistema de plantio
direto. Na safra 98/99, o Brasil plantou 712 mil há
de sorgo e colheu um milhão de toneladas Desse total,
o sorgo granífero representava 558 mil e o sorgo forrageiro,
154 mil. Na safra 00/01, a colheita deve aumentar para 2,2
milhões de toneladas, com área total de 1,2
mil há, dos quais 965 mil há estarão
ocupados com o sorgo granífero e 280 há com
sorgo forrageiro e produtividade geral de 2,4 mil kg/há.
A expectativa é de que o crescimento mantenha-se nos
próximos anos, conforme trabalho elaborado por Antonio
G. de L. Mezzena, gerente de Produto Sorgo & Girassol,
da Monsanto do Brasil.
Para a safra ¾, a estimativa aponta área de
1,7 milhão, distribuídos em 1,4 milhão
há em sorgo forrageiro. Os números diferem dos
dados divulgados pelo Pró-Sorgo, grupo formado por
pesquisadores da iniciativa pública e particular, que
apontam estimativa de área de 1,4 milhão de
há para essa mesma safra, com 1,1 milhão de
há para sorgo granífero e 342 mil há,
para forrageiro. Confirma-se, portanto, a aposta na evolução
da cultura.
Mas nem sempre foi assim. Paulo M. Ribas, agrônomo e
pesquisador da Embrapa Milho e Sorgo, que trabalha no mercado
de sorgo, que trabalha no mercado de sorgo desde os anos 70,
lembra, que naquela época, a cultura era conhecida
apenas no Rio Grande do Sul e no Nordeste, em razão
do cultivo comercial e trabalhos mais consistentes. Referências,
e apenas referências podiam ser obtidas no Instituto
Agronômico de Campinas (IAC), na Universidade Federal
de Viçosa (UFV) e na Escola Superior de Agricultura
Luiz de Queiroz (Esalq).
Ao longo dessa mesma década, a situação
sofreu tentativas de modificações. O cultivo
do sorgo começou a ser incentivado em novas áreas,
como São Paulo, Paraná e Minas gerais. Mesmo
assim, patinou, porque sofria comparações com
o milho, explica Ribas E, naturalmente, o milho possuía
massa crítica de dados e de produção
maior. Resultado: os anos 70 e 80 compõem praticamente
décadas perdidas para o Brasil em relação
ao sorgo.
Ainda como tentativa para reverter o quadro, a Embrapa criou
o primeiro programa nacional para estudo da cultura, na metade
dos anos 70. E conseguiu algum resultados para o segmento
forrageiro. Ribas conta que os produtores eram receptivos
ao plantio, mas os problemas situavam-se na fase de armazenagem
e venda do produto. Havia rejeição, pois o sorgo
era comparado ao milho.
Ribas acredita que houve um erro de comunicação.
Vendia-se a idéia do sorgo como substituto do milho.
Percebeu-se, então, que a cultura precisava de uma
injeção de ânimo ou deixaria de existir
no país. Os pesquisadores de empresas públicas
e privadas criaram o Pró-Sorgo, grupo que reúne
duas vezes ao ano, com sede na Associação Paulista
dos Produtores de Sementes e Mudas (APPS), em Campinas, interior
de São Paulo. Nessas reuniões, discutem-se perspectivas
para a cultura, estabelecem-se estratégias e análises
de safras.
E, somente nos anos 90, a situação começou
a se estabilizar. Constatou-se que o problema do sorgo era
semelhante ao de muitas culturas do sorgo era semelhantes
ao de muitas culturas da agricultura, isto é, da porteira
para fora. Ribas conta que os trabalhos concentram-se no consumidor
final, ou seja, fabricantes de rações, confinadores,
granjeiros e panificadores, segmento em proporção
muito menor.
Outro fator trabalhou a favor do sorgo: o Plano Real e a redução
do preço da carne de frango. Para manter os preços
baixos e atrativos, os produtores recorreram ao uso de produtos
alternativos, para a composição das rações.
E o sorgo encontrou o seu papel, como complementou do milho.
Portanto, entre 93 e 94, o sorgo começou a se estabilizar.
Entre 93 e 94, a área cultivada saltou de 250 mil há
para 700 mil há.
Ribas afirma que O Brasil mantém-se em pé de
igualdade com os demais países produtores da cultura,
quanto á produção de sementes, embalagens
e distribuição. Os Estados Unidos lideram a
produção mundial, com 15,1 milhões de
toneladas; seguidos por Índia, com 8 milhões
de toneladas; México, com 6,5 milhões de toneladas;
e Argentina, com 3,5 milhões de toneladas. O Brasil
pode ser apontado entre os 10 maiores produtores mundiais,
assegura.
Para a nova posição colaborou também
a redução do temor, comum nos anos 70, de que
o sorgo ocupasse as terras do milho. Comprovou-se que o sorgo
podia ser plantado após o milho. Enquanto a safra do
milho estende-se de outubro a março, a do sorgo acontece
entre fevereiro e junho/setembro. Inicialmente, era chamada
safrinha do sorgo. Hoje, torna-se a principal safra no Centro-Sul,
norte de São Paulo, Triângulo Mineiro. Goiás,
Mato Grosso do Sul, Mato Grosso, Tocantins e maranhão.
Já no Rio Grande do Sul, onde não é considerado
safrinha, o plantio acontece em novembro e a colheita, em
março.
O cultivo ao longo do pais revela a extrema versatilidade
da planta (Ver Tabela 1). Ribas garante que o sorgo, originário
da África, resiste á saca, altas e baixas temperaturas
solo de baixa fertilidade e umidade. No Rio Grande do Sul,
o cultivo após o arroz tem apresentado bons resultados.
Naturalmente, há resposta ao uso de fertilizantes,
mas, se houver restrições, o cultivo não
sofre, garante.
A produção brasileira atende ás necessidades
do mercado especialmente ás indústrias de ração,
integradores, confinadores e produtores de leite. Na opinião
de Ribas, esse mercado carece de trabalho, já que o
potencial é muito grande. Ele explica que no momento
da comercialização, conforme a regra mundial,
o sorgo é cotado com deságio em relação
ao milho. Em outros países, o deságio é
na ordem de 15%. No Brasil, alcança entre 25% e 35%,
embora o suportável seja 20%.
De qualquer forma, o mercado no Brasil é bem articulado
e, a maior parte, funciona na base de contratos, atuações
de cooperativas, corretores de mercado e, especialmente, em
Mato Grosso e Minas gerais, com atravessadores. O produtor,
acertado previamente ou não, costuma vender direto
da lavoura para a indústria, afirma. Na verdade, 80%
da produção é comercializada com indústrias
de ração. Convém considerar alguns pontos
negativos. Sabe-se que o sorgo tem valor biológico
ligeiramente inferior, entre 5% e 10%, ao do milho. Outra
desvantagem consiste na digestibilidade. Ribas explica a necessidade
de adequar o animal (bovinos, suínos e aves), idade
e finalidade (corte, leite, postura), para a formulação
de rações.
A isso, soma-se também o fato do sorgo ser pobre em
pigmentação, o que consiste num problema sob
o ponto de vista mercadológico. Outro componentes que,
inicialmente, afastou muitos produtores foi o fato de alguns
tipos de sorgo conterem tanino. Trata-se de uma substância
amarga, que reduz a digestabilidade e sempre foi usada como
cultura para espantar pássaros. Ribas garante que hoje
a oferta de sementes com tanino não alcança
5% do total das sementes no mercado.
Cláudio P. Zago, pesquisador de sorgo da semente Dow
AgroSciences e autor do trabalho Sorgo no Mundo, explica que
o sorgo forrageiro é plantado em todo o país,
especialmente na áreas que concentram bacias, leiteiras.
Atualmente, Goiás, é o maior plantador de sorgo
granífero, seguido por São Paulo e Mato Grosso
do Sul. Já o sorgo granífero mostra crescimento
constante desde a safra 94/95. Esse aumento é facilmente
explicado, frente ao cenário de necessidade de aumento
de renda e melhor uso de terra, reconhecimento do sorgo como
alternativa aos programas de rotação de cultura,
instalações de integrações de
suínos e aves no Centro-Oeste e crescimentos do sorgo
em dieta de bovinos.
O crescimento do sorgo forrageiro, 20%, em média, ao
longo do últimos oito anos, deve-se ao aumento na produção
de leite, especialmente no Brasil Central; ao crescimento
em confinamento de gado de corte; á necessidade de
redução nos custos de produção;
ao reconhecimento de que com silagem a oferta de volumoso
estará segura e com quantidade e qualidade. Minas Gerais
e Rio Grande do Sul lideram o cultivo.
Os pesquisadores que integram o Pró-Sorgo apontam o
desenvolvimento do sistema de produção conhecido
como safrinha, que proporciona receita extra ao produtor,
entre os fatores fundamentais ao desenvolvimento do agronegócio
do sorgo. Embora entusiasmado, sugerem soluções
para vencer desafios futuros e consolidar a cultura, como:
obter cultivares mais bem adaptados ao sistema de sucessão
de culturas e a diferentes situações ambientais,
além de sua integração definitiva no
sistema de Plantio Direto; pesquisa, experimentação,
registro e disponibilização de novos herbicidas
e inseticidas alternativos á tradição
e reduzida oferta de produtos comercial; desenvolvimento de
cultivares de melhor qualidade nutricional (grãos e
forragens) e pesquisa de novas formas de processamento e utilização;
estabelecer um Programa Nacional de Sorgo, coordenando políticas,
organizando fluxo de informações em toda cadeia
de informações em toda a cadeia do agronegócio
e aumentar a integração com a pesquisa.
As perspectivas são animadoras. O sorgo mostrou-se
também ideal para plantio direto, pois produz palhada.
Hoje, metade do cultivo em Mato Grosso e Goiás é
feito no sistema de plantio direto. A comercialização
do sorgo tornou-se fácil e com liquidez. O consumidor
não deixará de analisar o sorgo como alternativa
ao milho. O ministério da Agricultura, segundo Ribas,
analisa o sorgo como alternativa ao milho para o mercado interno.
Dessa forma, a exemplo do que ocorre a Argentina, o milho
poderia ser direcionado á exportação.
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