Mato
Grosso prepara-se para mais uma safra de algodão. A
estimativa é de que o Estado colha 483 mil toneladas
do algodão em pluma, o que representa 58% da safra
brasileira, conforme dados da Companhia Nacional de Abastecimento
(Conab). O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
(IBGE) é mais animador e aponta 560 milhões
de toneladas ou 61% da produção nacional. A
produtividade deve superar a marca de 1.301 kg/ha obtida na
safra passada. As exportações acompanham esse
movimento. Neste ano, a previsão é comercializar
150 mil toneladas, com resultados de US$ 180 milhões.
Para 2002, esperar-se dobrar o total exportado e obter divisas
de US$ 350 milhões.
Esses resultados animadores merecem análise. Afinal,
sabe-se que o Brasil era auto-suficiente em algodão
no início da década de 90. Em 1992, por exemplo,
a área brasileira da cultura somava 1,594 milhões
de ha, com produção de 1,863 milhões
de toneladas de algodão pluma e produtividade de 1.168
kg/ha. Em 1997, a área cultivada sofreu redução
brutal, ao somar 636 mil ha, cuja produção somou
apenas 305 mil toneladas e índices de produtividade
de 480 kg/ha. NO ano passado, o país registrou cultivo
em 858 mil ha, com produção de 2,282 milhões
de toneladas e produtividade de 2.116 kg/ha. São Paulo,
por exemplo, cuja área história de plantio somava
300 mil ha, entre 1997 e 1999, quando produziu apenas 54 mil
toneladas, e ainda não conseguiu recuperar a posição
ocupada. Já Mato Grosso ocupava áreas que oscilavam
de 55 mil a 200 mil ha no mesmo período, com produção
de 243 mil toneladas, tornou-se o principal produtor nacional,
desde 1998. A safra 2000/2001 deve permitir a circulação
de R$1,17 bilhão no Mato Grosso.
Esses dados foram apresentados a 3,5 mil pessoas, entre agrônomos,
produtores brasileiros e delegações estrangeiras
da Indonésia, Turquia e Tailândia, que se reuniram
no evento Algodão no Mato Grosso (Fundação
MT), governo do Estado e fundo de Apoio à Cultura do
Algodão (Facual).
Ao longo do dia de campo foram apresentadas palestras técnicas
e discussões sobre a cultura. Cloves Vettorato, diretor
da Fundação MT, explica que abertura irresponsável
da economia brasileira, isenção de tarifas para
importação de algodão em pluma, altos
juros internos financiamentos de importações
a juros internacionais, câmbio desalinhado da realidade
e baixa tecnologia empregada na produção por
falta de pesquisa e apoio podem ser apontados como fatores
causadores na seqüência das baixas safras.
Ele lembrou que, em 1995, os produtores matogrossenses uniram-se
e investiram US$ 500 mil, para viabilizar a fundação
e dar início a um programa de pesquisa de manejo e
novas variedades de algodão com resultados que alteraram
o cenário da cultura. Dois anos mais tarde, novamente
os produtores tomaram a iniciativa de apresentar ao governo
estadual a proposta para criação do Programa
de Incentivo à Cultura do Algodão (Proalmat),
programa de incentivos ao produtor.
Nesse período também foi criado o Fundo de apoio
à Cultura do Algodão (Facual), programa que
tem como fonte de recursos parcela dos incentivos recebidos
por produtores, cuja função inclui manter investimentos
para pesquisas, marketing e treinamento entre outras atividades.
Os números apontam resultados. O índice de crescimento
da produção da safra de 1997 para 1998 foi de
171%, quando a área saltou de 55 mil ha para 110 mil
ha, produção de 35 mil toneladas para 94 mil
toneladas e produtividade de 630 Kg/ha para 856 kg/ha. De
1998 para 1999, cresceu 158%. E continua crescendo,embora
em margens menores. Por exemplo, de 1999 para 2000, em 44%.
E, de 2000 para 2001, 38%. E o Mato Grosso mantém a
posição que assumiu em 1998, ou seja, líder
na produção e na produtividade do algodão.
Vettorato explica que a presença de delegações
estrangeiras no Brasil em busca de maiores informações
sobre algodão não é novidade. Há
três anos, a Fundação MT programa a interação
entre produtores brasileiros e compradores. Em 1998, por exemplo,
levou ao Estado representantes do mercado, levou ao Estado
representantes do mercado interno, como a indústria
de fiação e de tecelagem, além de realizar
um programa de marketing do algodão junto às
indústrias nacionais. No ano seguinte, Mato Grosso
recebeu representantes de associações da indústria
têxtil de diversos países, como Estados Unidos,
França, Inglaterra, Itália, Alemanha e Canadá.
Em 2000, produtores brasileiros e representantes do governo
estadual compareceram a uma exposição em Hanover,
na Alemanha, para contatos para indústria. E, neste
ano, representantes de trades da Inglaterra visitaram Estado.
Vettorato explica que se trata de um trabalho constante de
interação com o mercado externo, pois é
preciso trazer o comprador para conhecer a qualidade do produtor
para conhecer a qualidade do produto e estabelecer contato
com os produtores.
Os resultados são visíveis. No ano passado,
por exemplo, Mato Grosso exportou US$ 15 milhões, especialmente
para Ásia e Europa. Em 1998 e 1999, a comercialização
externa podia ser considerada como exportação
promocional, já que o volume era muito baixo. Vetoratto
garante que o perfil do produtor matogrossense também
ajudar a explicar o sucesso. A quase totalidade da área
de cultivo é composta por produtores, que plantam algodão
em áreas acima de 300/500 ha e, em muitos casos, ocupam
entre sete mil e 12 mil ha, sempre em propriedades altamente
mecanizadas. Mais: cada 10 ha de algodão garante um
emprego direto. Isso não ocorre com a soja, que produz
um emprego direto a cada 70 ha cultivados.
Trata-se também de produtores acostumados a cumprir
contratos, já que a maioria é proveniente do
cultivo da soja. Ele sabe que tem que plantar o que o mercado
demanda. Em busca dessa aceitação com maior
intensidade, a Fundação MT já lançou
três variedades, mas as pesquisas continuam à
procura de uma variedade que uma as mesmas características
de fibra com maior resistência a doenças. O plantio
do algodão no Centro Oeste é feito entre de
dezembro e janeiro e a colheita estende-se da segunda quinzena
de maio até a primeira quinzena de agosto.
Vettorato explica que o Proalmat busca incrementar a qualidade
de plantio. É um programa seletivo e estende-se
a produtores que atendam a pré-requisitos, afirma.
Na prática, isso significa o uso de sementes certificadas;
assistência técnica especializada; destino adequado
às embalagens de agrotóxicos; destruição
de soqueiras da lavoura do algodão, para reduzir pragas
e doenças; e ausência de dívidas com o
fisco estadual.
O Facual, por sua vez, financia parte da pesquisa do Estado,
qualificação de mão-de-obra e ações
de marketing organizadas no Estado, como a vinda de empresários
estrangeiros.O órgão possui um conselho gestor
gerenciado por cinco entidades produtores, indústria,
trabalhadores, governo Estadual e Ministério da agricultura,
que representantes de cada uma delas.
Vettorato garante que os esforços e as expectativas
do cultivo estão centrados na exportação,
que será a sustentabilidade do algodão. Na opinião
dele, o mercado interno não absorve a produção
e as indústrias compram o algodão mais
barato do mundo. Essa perspectiva persiste, mesmo na
situação atual, marcada por preços baixos
no mercado interno e internacional. As exportações
enxugam o mercado interno e promove a recuperação
dos preços, garante.
Atento ao mercado, ele afirma que a Fundação
MT pretende acelerar os trabalhos de pesquisa para o lançamento
de novas variedades e manter as parcerias de tecnologia com
órgãos de pesquisa, como o Instituto Agronômico
de Campinas (IAC) e Universidade Federal do Mato Grosso (UFMT),
mais a continuidade de trabalhos com a Associação
Matogrossense dos Produtores de Algodão (Abrapa).
Conforme Blairo Maggi, presidente da Fundação
MT, a experiência do algodão no Estado mostra-se
vitoriosa, com novas variedades e aumento de produtividade.
Ainda assim, a intensidade do crescimento do cultivo depende
do preço. Exatamente por isso, a fundação
adota a estratégia de trazer negociantes estrangeiros.
Não é possível ficar na dependência
da indústria nacional, que não se preocupa com
a sobrevivência do produtor, assegura.
A isso soma-se o fato de os preços baixarem muito mais
na safra, já que o governo não possui uma política
para comercialização. a solução,
que consiste na abertura do mercado internacional, implica
em resultados práticos, como a estabilidade para o
produtor, com a garantia da venda e a conscientização
de que deve produzir o que o mercado necessita.
Adilton Sachet, presidente da Ampa, concorda. Defensor de
soluções em conjunto, afirma que o produtor
isolado não vai a lugar nenhum. Criada há
cinco anos e com atuação mais intensa desde
1999, a Ampa tem como objetivo principal organizar e aglutinar
produtores sob o mesmo pensamento e postura. Hoje, a entidade
reúne 430 produtores espalhados ao longo do Estado,
cujas áreas oscilam entre pequenos produtores, com
áreas de até 10 ha; médios produtores,
com cultivos de 300 ha a 500 ha; e grandes produtores, com
plantio entre mil e 10 mil ha. A porcentagem dos produtores
mecanizados é de 99% do total. Ao traçar o perfil
do produtor matogrossense de algodão, Sachet lembra
que o trabalho dentro da porteira está feito.
O produtor, apesar do custo alto, é competente, ou
seja, o país carece de política para a safra.
Garante que não existe infraestrutura para a produção,
setor que abrange fertilizantes, herbicidas e defensivos.
Não se pode esquecer que também não há
logística em crédito, rodovias, ferrovias e
hidrovias. E o algodão consiste em uma cultura dolarizada.
Basta analisar preços de adubo e máquinas. No
ano passado, a entidade organizou um grupo de produtores,
para visitar trades na Europa e Estados Unidos. Também
desde esse período, sugere modificar a atual estrutura
de classificação do algodão usada no
país por uma classificação universal,
adotada no mercado mundial. Ele defende o objetivo da região
como fazer o melhor algodão possível ao
menor preço possível.
A entidade acredita que a conscientização do
produtor em relação ao manejo da cultura agiliza
esse resultado. Isso significa compromisso com o meio ambiente,
uso de defensivos com receituário agronômico
e equipamentos de proteção. A Ampa afirmou convênio
para estudo do impacto do algodão nas águas
subterrâneas. O trabalho se estenderá por dois
anos. O produtor tira o sustento do meio ambiente. Se
não cuidar, não tem mais como aproveitar,
garante.
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