Os
mecanismos utilizados pelo governo para equacionar; sobretudo,
a questão fundiária, parecem não estar
surtindo efeitos desejados. Essa impressão é
obtida, principalmente, junto a agricultores familiares, que
reclamam e reivindicam uma política de crédito
mais abrangente e um apoio mais eficiente para a comercialização
da produção. Para eles, além da consessão
de um pedaço de terra, é preciso que existam
instrumentos que possibilitem a fixação do homem
no campo. Nos últimos seis anos, o êxodo
rural atingiu 480 mil famílias, no Brasil todo, enquanto
foram assentadas apenas 260 mil, no mesmo período.
A queixa é do secretário geral da FAF
Federação de Agricultura Familiar, José
Luiz das Chagas, ao assinalar que uma forma de segurar o agricultor
em seu meio seria o lançamento de um projeto alternativo
de agroindústria, com mini unidades de processamento
que possibilitem aos agricultores agregarem valores a seus
produtos. A idéia desse projeto, acrescenta, surgiu,
em 1995, em Brasília, reunindo cerca de R$ 5 mil para
a montagem do negócio. O programa permite a industrialização,
ainda que elementar, da produção e os participantes,
com os familiares, buscavam nichos de mercado, que é
o que pretende aqui em São Paulo, normalmente na periferia
da cidade, para a comercialização em valores
que garantam alguma renda, pois a venda in natura ocorria
e ocorre a preços muito baixos, quase de graça.
Num primeiro momento, conta Chagas, eram manipulados produtos
como frango, leite e derivados, frutas, entre outros. Os resultados
foram positivos, a proposta se alastrou e, atualmente, existem
mini agroindústria em Minas Gerais, Mato Grosso do
Sul (cerca de 300), Paraná, Santa Catarina
(entre 250 e 300), além do Rio Grande do
Sul. A idéia foi tão boa que chegou a
ser exportada para a Bolívia, Chile e Equador,
indica. Foi criada uma lei específica para esse tipo
de manufatura, mas a instalação acabou esbarrando
em problemas relacionados com a inspeção, padrões
de higiene e outras normas que acabaram provocando uma redução
nos investimentos.
Nova
lei impede manipulação de produtos vegetais
Em
São Paulo, as autoridades também colocaram restrições
e o governador Mário Covas vetou um projeto de lei
alegando conflito com Sif (Serviço de Inspeção
Federal). Um projeto quase igual foi lançado
recentemente no Estado, mas não contempla nosso
segmento, conta Chagas. Não Obstante, acrescenta,
uma nova lei foi elaborada e aprovada, mas se restringe
apenas aos produtos de origem animal, como carnes em geral,
leite e derivados, ovos, mel, peixes e frutos do mar. Não
nos permite operar com produtos vegetais, condição
que outros estados não impõem. Chagas
afirma que a federação tem realizado reuniões
com representantes do governo paulista, numa tentativa de
eliminar essas barreiras e manifesta a crença de que
até o final deste ano esses obstáculos
estarão neutralizados e a lei aprovada com maior abrangência.
Com relação à existência de alguma
linha de crédito para financiar os investimentos iniciais
necessários que giram em torno de R4 15 mil
por unidade que pode atender um grupo de até 5 famílias,
Chagas aponta o Pronaf Programa Nacional de Fortalecimento
da Agricultura Familiar, com uma das fontes. Essa carteira
contém várias modalidades de empréstimos
e, uma delas, prevê aplicações neste setor.
Porém, ressalva, o programa, tem, como contrapartida
aos juros baixos, um excesso de burocracia e muitas
exigências. Aposentando, por exemplo, não é
contemplado. Assentados, ou não, têm que atender
inúmeros detalhes específicos que acabam dificultando,
de modo geral, o acesso ao dinheiro.
De fato, esse entrave é apontado por um estudo do IEA
Instituto de Economia Agrícola, no qual a economista
Yara Maria de Carvalho e a agrônoma Vera Lúcia
Kuhn, da Cati, avaliam o apoio dado à agricultura familiar
no Estado de São Paulo. Em suas conclusões,
conforme Revista Rural nº 24, afirmam que, para Pronaf
se mostrar eficiente tem não só que enfrentar
as restrições monetárias próprias
do momento atual, mas também, enfrentar o corporativismo
de diversos órgãos envolvidos, que buscam adequar
o programa às suas linhas tradicionais de atuação,
como, por exemplo, o clientismo na distribuição,
na distribuição de verbas do legislativo federal
e o oportunismo dos órgãos estaduais e municipais
para receber os recursos sem o comprometimento dos agricultores
familiares.
Yara e Vera Contataram que o Pronaf atende 48 municípios
do Estado (em 1999) e atua como linha auxiliar do Feap
- Fundo de Expansão da Agropecuária e Pesca
(atualmente, a sigla significa Fundo de Expansão do
Agronegócio Paulista), que está voltado, especialmente,
para o público que o governo federal não tem
sido capaz de atender, ou seja, os produtores sem acesso direto
à terra ou carentes de maior subsídios.
Chagas cita que o Feap tem aspectos favoráveis e observa
que o Pronaf atende apenas 2% dos agricultores familiares
paulistas, apesar de ter sido uma conquista dos produtores
familiares do Sul, principalmente Rio Grande do sul e Santa
Catarina. O projeto inicial, com mais de 100 itens,
foi totalmente vetado pelo governo. Ao que diz, em são
Paulo, o segmento é composto por 180 mil famílias
consideradas tradicionais e entre 8,5 mil a 9 mil famílias
de assentados.
Mini
agroindústria reúne condições
contra êxodo rural
Para
ele, se o governo quer evitar uma migração maciça
do campo para a cidade, tem, necessariamente, que elaborar
um plano para estimular o agricultor a permanecer no local
ou região em que ele exerce sua atividade e, para
nós, a montagem de uma mini agroindústria, não
só colabora para essa fixação, como também
é de vital importância, pois há uma consciência
sobre a necessidade de industrializar o produto e essa é
uma posição que não tem volta,
adverte. Quanto aos comentários sobre a distribuição
fundiária paulista estar esgotada, ou seja, não
há terra suficiente para alojar novos produtores/Criadores,
Chagas é categórico ao afirmar que isso não
corresponde à realidade. Na região noroeste
do Estado existem 50 fazendas em via de desapropriação,
que mostram potencial para assentar mais de 180 mil famílias,
arremata.
Contando um pouco da história da FAF, Chagas diz que
a entidade foi criada em fevereiro de 2000, buscando uma política
específica para agricultores familiares. No Brasil,
é a segunda do gênero; a primeira surgiu em Santa
Catarina. A federação surgiu como decorrência
do antagonismo existente na estrutura oficial, pela qual,
até 1999, a Fetaesp (Federação dos Trabalhadores
na Agricultura do Estado de São Paulo), defendia interesses
de empregados e patrões, simultaneamente. Atualmente,
a FAF representa oito sindicatos com abrangência em
até 30 municípios, com cerca de 13
mil associados. Há, ainda, uma expectativa sobre
a adesão de mais de 10 sindicatos, Com o desmembramento
de STRs (Sindicatos de Trabalhadores Rurais) da Fetaesp. Isso
deve acontecer ainda neste ano, prevê.
Meta
futura é fazer agricultura orgânica
O
projeto básico assinala, é construir um desenvolvimento
rural sustentado, solidário e local, pois a agropecuária
capitalista não é absolutamente nada solidária.
A intenção é assegurar que o produto
consiga se auto-sustentar, obtendo e garantindo uma qualidade
de vida melhor. Entre outras metas, aponta, para
um futuro próximo, uma produção sem agrotóxico,
a fim de beneficiar as comunidades urbanas. Indica,
ainda, a realização de debates com várias
prefeituras, inclusive a paulistana, para implantação
de um mercado solidário com vendas diretas
do produtor ao consumidor, eliminado a intermediação.
Nessa mesma linha, procede um levantamento de associações
e cooperativas com vistas a montar mecanismos que facilitem
o escoamento da produção.
No campo dos obstáculos, aponta problemas para o agricultor
familiar aplicar a mecanização na propriedade.
Isso, porém, está para ser resolvido com o uso
coletivo das máquinas, uma forma de contornar
o crédito difícil e caro. A extensão
rural é outra barreira. Dificilmente, com a estrutura
atual, ela poderá atender a agricultura familiar, em
São Paulo. Isso porque, um município com 300
produtores têm, na Casa da Agricultura, apenas um agrônomo
que trabalha com receituários, ou seja, você
vai lá, conta o que acontece e ele dá uma receita
sobre as medidas a serem tomadas. A Cati não consegue
atender a demanda.
Porém, o segmente parte para adoção de
tecnologias alternativas e de baixo custo. É o caso
da produção leiteira, onde o pecuarista divide
um alquiere de pasto em piquetes, coloca 20 vacas e
vai rotacionando, com a troca de campos a cada 4 ou 5 dias.
Os animais mostram ganhos de peso e produtividade, pois chegam
a produzir 20 litros, cadaNa área de hortaliças,
o setor tem apelado muito para o uso de estufas, que
as lavouras renderem de 3 a 4 vezes mais que o cultivo tradicional.
Com essas técnicas, os produtores conseguem um retorno
razoável a um baixo investimento finaliza.
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