È
conhecida a correlação entre o peso da desmama
e o peso de abate. Exatamente por isso, a fase pós-desmame
é extremamente importante e deve receber cuidados especiais
tanto para o criador que faz o desmame tradicional, como para
o que adota o sistema de creep-feeding. O bezerro deve sofrer
o menor estresse possível. Recomenda-se tirar a mãe
do pasto e ali manter apenas os bezerros que já conhecem
o local e sentem-se seguros. Outra sugestão é
preparar um pasto bem cercado ao lado de onde estão
mantidos mãe e bezerros. No pasto novo, coloca-se somente
a mãe, por aproximadamente seis/sete dias. Dessa forma,
os bezerros perdem a dependência da mãe. No desmame
tradicional, entre sete e oito meses de idade, os bezerros
perdem entre 10% e 15% de peso vivo, conforme o grau de estresse.
Já em creep-feeding não há perda de peso,
porque o animal está condicionado a ir ao cocho e receber
suplementação. Há ligeira perda na primeira
semana, menos de 5% do peso vivo, quando o bezerro sente falta
da mãe, mas a recuperação ocorre entre
20/30 dias após o desmame, garante Lauriston B. Fernandes,
diretor do Departamento Técnico da Premix Zootécnica,
e um dos defensores da prática.
Lauriston explica que, se o produtor não vender os
bezerros, o correto é manter um planejamento de suplementação
moderada a pasto, especialmente na seca e nos pós-desmame.
É necessário que o produtor compreenda que o
primeiro passo para o manejo correto é ter pastagem.
E que o suplemento apenas completa o que animal encontra na
propriedade.
Portanto, o bezerro precisa de pasto. Ele recomenda mais folhas
que talos. O pasto deve ser rebaixado com animais mais pesados
30 dias antes da entrada dos bezerros. Portanto, ao produtor
que pretende adotar o creep-feeding o conselho é também
adotar um programa pós-desmama.
O creep-feeding produz incremento também nas fases
de puberdade e de reprodução. Fernandes afirma
que as bezerras de raça européia podem entrar
em cio, entre 12 e 16 meses, com 280 kg a 300 kg. E as zebuínas,
em torno de 18 meses, com 270 kg a 300 kg. Entusiasmado com
os resultados, acredite que a tecnologia cresça ao
longo do país.
A opinião é compartilhada por José Renato
Sixas, superintendente técnico da Rações
Fri Ribe, para quem os técnicos, pesquisadores e produtores
ainda têm muito a apreender. Desde o Plano Real, a atividade
rural enfrenta novos desafios e alcançou o conceito
de que terra é negócio e não apenas
investimento.
Para os produtores atentos ao creep-feeding, ele assegura
que a tecnologia, quando comparada ao desmame tradicional,
oferece ganho de peso, em torno de 10% a 20% de peso vivo,
e menor desgaste da mãe. A exemplo de Fernandes, sugere
que os bezerros recebam pasto de boa qualidade e quantidade.
O ideal é que permaneçam no pasto conhecido
e a mãe seja deslocada para outro pasto.
Ele salienta a necessidade de após o desmame, o bezerro
receber a suplementação que recebia no creep-feeding
por mais um dois meses. O custo/benefício é
positivo, porque o animal não perde peso. Em seguida,
o animal deve ser transferido para outro pasto e receber proteínados
para crescimento e engorda.
O produtor precisa planejar todo o sistema, afirma. Por exemplo,
para bezerros superprecoce, abatidos com 18 meses de idade,
o correto é oferecer o creep-feeding, mais a ração
de confinamento. Já para animais precoces, abatidos
entre 24 meses e 30 meses, o creep-feeding, proteínados
e pasto de boa qualidade.
Seixas lembra que as vacas das raças zebuínas
têm baixa produção de leite, o que favorece
a utilização da tecnologia. Outra vantagem consiste
no fato de os bezerros, colocados no creep-feeding desde zero
a dói/três meses de idade, reunirem as vantagens
de aprender a comer e saber localizar o alimento.
Para o sucesso, alguns cuidados são necessários.
O cocho do creep=feeding deve comportar espaço para
todos os animais, os bezerros devem entrar fácil na
instalação, enquanto as vacas não devem
conseguir entrar. Para o produtor que busca precocidade, a
solução é o uso do creep-feeding, garante.
A prática mostra que o tradicionalismo é pressionado
em função da rentabilidade do negócio.
Marcos Baruselli, gerente do Departamento de Pesquisa e Desenvolvimento,
da Tortuga, concorda com Seixas. Lembra que a empresa quando
lançou o produto nutricional para creep-feeding promoveu
uma ampla campanha de marketing junto aos pecuaristas. Ele
acredita que, atualmente, a tecnologia seja adotada por 10%
dos produtores rurais. O que ainda é muito pouco. Lembra,
porém, que o país ainda é deficiente
no manejo animal. Existem rebanhos muito bem conduzidos. A
pecuária cresceu nos últimos cinco anos mais
do que nos 50 anos anteriores. Ainda assim, a média
tem muito a aprender, assegura. De qualquer forma, o comprovado
ganho de peso na desmama, cerca de 20% ganho de peso vivo
a mais que na desmama tradicional, motiva a utilização
do creep-feeding. Baruselli afirma que na desmama tradicional,
um bezerro de sete meses alcança peso médio
de 160 kg, enquanto no creep-feeding, com os mesmos sete meses,
o peso salta para 200 kg de peso médio.
Outra vantagem consiste em poupar a vaca, já que o
bezerro procura menor a mãe, e ela entra no cio mais
facilmente. Portanto, melhora a taxa de fertilidade. O bezerro
tratando no creep-feeding é considerado ruminante funcional,
ou seja, capaz de digerir. Ele pode se alimentar de capim
e não depende exclusivamente do leite materno.
O certo é manter o pasto com bom valor nutricional
e vedado 25/30 dias antes da entrada dos bezerros, com bom
volume de massa verde. E mais: continuar fornecendo suplementos
minerais, até o final da vida do animal. Outros cuidados
consistem na vermifugação correta contra parasitas
internos e externos e suplementação na seca
e nas águas. No período da seca, com minerais,
fonte de proteína e sais proteínados. E nas
águas, com suplemento mineral.
Com esse planejamento, o animal desmamado não perde
peso, garante. Sugere também ao produtor fazer a reposição
diária do suplemento mineral no cocho, para ficar bem
solto e atrair mais o bezerro.
O tradicionalismo do pecuaristas em usar novas tecnologias
é apontado por Ronaldo de Oliveira Encarnação,
pesquisador da Embrapa Gado de Corte, como fator que
ainda mantém baixos os índices de creep-feeding
no país. Na busca por bons resultados, ele recomenda
ao produtor planejar de forma correta as instalações,
para evitar perda no custo/benefício, e usar suplemento
mineral ou ração adequada no cocho.
Especialista em comportamento e manejo animal, o pesquisador
lembra que o período da desmama é extremamente
estressante ao animal. Ele recomenda ao produtor selecionar
peões que saibam trabalhar com animais, manter os bezerros
no pasto que estavam com as mães e substitui-las por
um lote amadrinhado, que pode ser fêmeas ou de machos,
o que transmitirá segurança aos animais.
Em pastos sujeitos a frio e ventos, aconselha o uso de quebra-vento,
como redução de estresse. Para bezerros de raças
européias, a sugestão é mantê-los
em pastos bem sombreados, com água de qualidade e em
quantidade. Afirma que para cruzamento industriais, com bezerros
filhos de mãe Nelore e pai de raça européias,
o creep-feeding proporciona resultados excelentes. E apostas
no crescimento da tecnologia.
Giampaolo Buso, gerente de Planejamento e Marketing da Minerthal
Produtos Agropecuários, concorda com Encarnação
e define o perfil dos produtores que adotam creep-feeding:
propriedades com tecnologia entre média e alta, instalações
adequadas, controle e planejamento. Portanto, proprietários
que adotam controles administrativos e produtivos.
Ele explica que a decisão requer acompanhamento do
rebanho. Seis meses antes com a mãe e com bezerro.
E, acima de tudo, continuidade no manejo. Exatamente por isso,
sugere ao produtor interessado em usar a tecnologia a procurar
orientação técnica, especialmente em
relação á fase pós-desmame e nas
condições de funcionamento.
Aconselha também a usar pasto vedado e de boa qualidade,
com 40 cm de altura e dimensionamento de 1,5 unidade/animal
por há, além de todo o manejo de sanidade. Na
opinião dele, a tecnologia deve crescer no país,
mas ainda necessita de melhor divulgação. Mais:
deve ser usada em situações específicas.
E cabe ao produtor não esquecer o tripé: genética,
nutrição e manejo.
Creep-Feeding
ainda é pouco utilizado
A
pecuária brasileira avançou muito nos últimos
anos. Pesquisadores, produtores e empresas compartilham o
consenso de que o profissionalismo torna-se imperioso aos
que pretendem viver de lucros obtidos com rebanhos. Ainda
assim, algumas das tecnologias necessitam de maior divulgação
para alcançar os índices ideais para alavancar
o crescimento dos rebanhos.
Nesse hall, encontra-se o creep-feeding, construção
com pequeno cocho instalada no pasto com acesso exclusivo
aos bezerros. Na prática, trata-se de um local cercado
em que as vacas ficam de fora e somente os bezerros são
capazes de entrar. No cocho, os bezerros podem receber suplementação
mineral ou ração. Portanto, aprendem a comer.
A tecnologia é apontada como responsável por
substancial ganho de peso dos bezerros na época de
desmama. E, mantidas as condições de manejo
alimentar, como fator determinante no peso de abate do animal.
Lançando no Brasil nos anos 90, o uso do creep-feeding
ainda é incipiente e não alcança 2% do
rebanho, acredita Lauriston B. Fernandes, diretor do Departamento
Técnico da Premix Zootécnica. E a explicação
é simples, pois todo mundo quer mudar resultados sem
alterar a fórmula. Para isso, contribuem também
dois fatores.
Primeiro, o creep-feeding representa movimento para o bolso
do produtor. Sabe-se porém, que a construção
do pequeno cocho e as cercas não significa custo alto.
Segundo, implica também em alterações
no operacional da propriedade, já que as vacas receberão
um tipo de suplemento e os bezerros, outro. Afinal, são
animais com exigências diferentes. Muitos produtores
e peões acham mais fácil oferecer apenas um
tipo de suplemento para todos os animais.
Mas a situação deve modificar-se até
2004. Até lá haverá conscientização
da necessidade de investir em mão-de-obra e oferecer
noções de tecnologia aos empregados. As conseqüências
serão inúmeras, pois a tecnologia para produzir
bezerros deve ser aprimorada, a exploração de
bezerros mostra sustentação e, desde hoje, é
possível administrar preço de venda.
Sinais
animadores do uso de creep-feeding podem ser evidenciados
no Sudeste, Sul, Centro-Oeste e no Acre e Rondônia.
Fernandes explica que as vantagens são inúmeras.
Os bezerros alimentados em creep-feeding exigem menor da habilidade
materna, os lotes de animais apresentam melhor homogeneidade
e peso médio, com incrementos de e peso médio,
com incremento de 5 kg a 20 kg de peso vivo no desmame, em
torno de sétimo mês de vida, dependendo da raça
e das características de manejo.
Milho,
farelo de soja e mistura mineral
O
período entre o nascimento do bezerro e a desmama é
a fase de vida do animal que apresenta as mais altas taxas
de ganho de peso. Ao sete meses, fase da desmama, o animal
alcança cerca de 25% a 35% do peso final de abate.
A explicação é de Ronaldo de Oliveira
Encarnação e de Sheila da S. Moraes, autores
do trabalho suplementação de Bezerros de Corte,
produzido pela Embrapa Gado de Corte.
No trabalho, os pesquisadores afirmam a importância
do leite materno no oferecimento de nutrientes indispensáveis
ao bezerro. Garantem que, quanto mais leite o bezerro receber
da mãe, mais rápido ele cresce. Mas a relação
entre produção leiteira da mãe e ganho
de peso da cria reduz a intensidade após 16 semanas.
Dessa forma , a partir de três e quatro meses de idade,
boa parte dos nutrientes necessários ao bezerros provém
de outras fontes. Para contornar as possíveis deficiências
nutricionais, os pesquisadores sugerem formas de suplementação.
Uma delas é o creep-feeding. Encarnação
e Sheila definem creep-feeding como forma de suplementação
com ração balanceada no cocho, dentro de um
cercado, com acesso apenas ao bezerro.
A ração, recomenda por Encarnação
e José M. da Silva, pesquisador do mesmo órgão,
é composta por 70% de quirera de milho, que pode ser
substituída por sorgo, trigo ou arroz; 27% de farelo
de soja ou de algodão; 3% de mistura mineral. Oferecer
a ração á vontade. Se o consumo ultrapassar
1,5 kg/cab/dia, adicional sal comum na proporção
de 7% -10% ou limitar manualmente.
O trabalho também aconselha estratégia para
garantir que os bezerros comam a ração. Por
exemplo, reunir ás crias um bezerro errado, iniciado
no sistema, que sirva como chamariz por alguns dias. Espalhar
um pouco da ração do lado de fora do cercado,
junto aos locais de passagem dos bezerros, de maneira que
as vacas possam ensinar suas crias a comer.
Em seguida, colocar próxima ao cocho, dentro do cercado;
permitir o acesso ao cocho, tantos das vacas como bezerros
durante alguns dias. Recomenda-se também separar os
bezerros e suas mães em dois ou três lotes de
idades mais próximas.
Com instalação, a Embrapa-Gado de Corte sugere
um cercado resistente, com seis fios de arame liso e distância
de, no mínimo, quatro metros, entre os postes. O tamanho
depende do número de bezerros a serem suplementados.
A localização do cercado deve ser junto ás
áreas de descanso das vacas, o malhadouro, ou ás
aguadas, ou ainda nas proximidades do cocho de sal.
Os pesquisadores sugerem: - área de cercado
mais ou menos 1,5 metro quadrado/cria, com espaço de
2 m entre o cocho e a cerca para circulação;
- acesso de entrada exclusivo ao bezerro: 0,40 m de largura
x 1,20 de altura, com esteios ficados bem firmes; - número
de entradas quatro para 50 bezerros, oito para 200
bezerros; - cocho com comprimento de 0,10m/cria e largura
que possibilite a alimentação de dois animais,
um de cada lado, simultaneamente.
Perigo
escondido na silagem
Pesquisas
recentes provam que fugos, encontrados em todas as colheitas,
incluindo aí as silagens, podem produzir uma grande
quantidade de micotoxinas em questão de minutos, o
que é prejudicial tanto aos homens como aos animais.
Nas silagens, quanto são cortadas, postas no silo e
seladas, os fungos começaram imediatamente a utilizar
qualquer resto de oxigênio existente e a que produzir
micotoxinas. Uma vez consumido todo oxigênio, os fungos
e as micotoxinas ficam latentes. Entretanto, assim que o selo
é quebrado e há a reintrodução
do oxigênio, eles tornaram-se ativos novamente.
As micotoxinas, quanto consumidas por ruminates, podem prejudicar
a saúde e o rendimento dos animais. No passado, muito
nutricionistas afirmavam que as micotoxinas não afetavam
os ruminantes do mesmo modo que atingiam aves e suínos,
pois os ruminantes têm a capacidade de desintoxicar
ou de transformar algumas micotoxinas em substâncias
menos perigosas. Porém, chegou-se á conclusão
de quem em algumas condições a capacidade de
desintoxicação do rúmen é diminuída
(dietas altas em concentrado) e pelo tipo de alimento consumido
pelos ruminantes, a quantidade de micotoxinas é muito
maior que em monogástricos, tendo efeito alargado com
aumento das condições de estresse.
Os mais susceptíveis aos efeitos das micotoxinas são
as vacas de alta produção e o gado de crescimento
rápido, em comparação com animais de
baixa produção. Deste modo, torna-se importante
conhecer alguns sintomas de contaminação por
micotoxinas: redução da ingestão alimentar,
crescimento retardado, problemas de reprodução
e diminuição da produção e diminuição
da produção de leite. Entretanto, tais sintomas
nem sempre são óbvios e facilmente passam despercebidos.
E se os produtores esperarem que eles se manifestem, arriscam
a ter efeitos devastadores em seus animais. Por exemplo: a
contaminação por micotoxinas nos ruminantes
podem resultar em níveis fora do normal da seretonina
no cérebro, ocasionando perda de apetite e letargia.
Além disso, o consumo de micotoxinas pelos animais
também ajuda a reduzir a pressão arterial e
impede a síntese apropriada das proteínas, o
que explica a perda de produção de leite e o
ganho diário de peso nos bovinas de corte, além
de afetar em grande escala a reprodução das
vacas com sintomas de aborto, cios silenciosos etc.
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