São
Paulo prepara-se para a safrinha de milho. E, a exemplo do
ano passado, quando a seca e a geada contribuíram para
resultados desanimadores, esta safra não cria grande
expectativa. Desta vez, os produtores rurais estão
atentos ao preço da saca 60 kg de milho, em torno de
R$ 9,00. Os agricultores estão desestimulados e acredito
que boa parte deles não repita o plantio nesse ano,
garante André Ferraz de Arruda, agrônomo da área
de extensão rural da Coordenadoria de Assistência
Técnica Integrada (CATI) da Secretaria da Agricultura
e Abastecimento do Estado de São Paulo.
A safrinha é cultivada no Estado há 10 anos
e surgiu da necessidade de cobrir o solo no inverno, após
a colheita da safra de verão. Na opinião dele,
exatamente esse papel, ou seja, opção de época
para quem não tem opção é que
determinou o início da safrinha com uso de baixa tecnologia,
sem grande expectativa e a conseqüente utilização
do milho colhido apenas na composição de ração
animal.
O plantio da safrinha teve inicio e se mantém intenso
da região do Vale do Paranapanema. Arruda explica também
que o aumento ou redução da área a cada
ano pode ser atribuído ao fator preço. A comparação
com a importância da safrinha de milho no Paraná,
que habitualmente gera ânimo e lucro, deve respeitar
o fato de o inverno ser mais úmido naquele Estado e
o plantio ocorrer mais cedo.
O cenário de São Paulo é partilhado por
Paulo Arlindo de Oliveira, diretor-técnico do Escritório
de Desenvolvimento Regional (EDR) de Assis, que congrega 16
municípios e lidera o plantio da safrinha no Estado
ao longo de 150 mil há, com produtividade média
de 3.791 kg/há. Ele explica que a semente cara, enquanto
o preço do milho se mantém baixo. Como conseqüência,
o produtor deve investir menos em tecnologia, ao usar sementes
mais baratas e reduzir a adubação, mas sem reduzir
a área na região. Portanto, o temor é
de retrocesso no uso da tecnificação. O custo/saca
para o produtor gira em torno de R$ 7,50 e R$ 8,00. Isso basta
para calcular o retorno, se é que vai haver, contabilidade.
A região adotou a safrinha há 10 anos, influenciada
pelo norte do Paraná. Inicialmente, o plantio era considerado
um risco. O quadro começou a mudar, em 1996, com a
definição da época correta de plantio,
entre 15 de fevereiro e 15 de março, e uso de tecnologia.
Mais ainda: hoje, a totalidade dos produtores adota o plantio
direto. Como conseqüência, produtividade aumentou
substancialmente. Hoje muitas propriedades alcançam
4.958 kg/há, conta. Os produtores da região
encaram a safrinha como fonte de renda. Ele explica que 60%
do milho colhido é para consumo da avicultura e 10%
para consumo humano.
Paulo César da Luz Leão, assistente de planejamento
do Escritório de Desenvolvimento Regional (EDR) de
Orlândia, a segunda região na liderança
do plantio da safrinha, com cerca de 79 mil há, concorda
com Oliveira. O cenário delineado por ele também
aponta redução de área plantada, entre
15% e 20%, no mínimo, em função do insucesso
na safra anterior e do cultivo de soja com variedade de ciclo
mais longo neste ano.
A região de Orlândia reúne 12 municípios,
que investem na safrinha há mais de 15 anos. A tecnologia
adotada varia conforme a época de plantio. Leão
explica que os produtores que plantam na época recomendada,
entre meados de fevereiro e meados de março, costumam
seguir as regras. Já quem planta depois dessa data,
classificada como área de risco, caracterizada por
oferecer menor resistência á seca e á
geada, reduz a tecnologia, com medo de perda do plantio. A
produtividade média da região da região
gira em torno de 2.460 kg/há.
O agrônomo e produtor Sérgio Luis Villas Boas
Tambara considera a safrinha como boa opção.
A família é proprietária da Fazenda Grota
Seca, em Salto Grande, São Paulo, com área total
de 300 há, dos quais aproximadamente 150 há
produzem a safrinha. No verão, 100 há são
cultivos com milho e 200 há com soja. Mais: a propriedade
cria 150 cabeças de corte de cruzamento industrial.
Tambara é plantador de safrinha há 12 anos e,
desde 93 do plantio direto, com produtividade média
de 3.600 kg/há. Ele recomenda aos produtores obedeçam
ás normas recomendadas para o plantio e tecnificação,
como garantia de colheita.
Adepto da tecnologia, Hugo Souza Dias, diretor-executivo do
Centro de Desenvolvimento do Vale do Paranapanema (CDVale),
organização não governamental (ONG) na
região de Assis, que reúne associação
de produtores, cooperativas e empresas da região, acredita
na redução de área da safrinha neste
ano. O preço do milho e dos insumos tende a traçar
um quadro de redução de área de plantio.
Ele lembra que, desde 93, a safrinha é considerada
cultura de lucro e as safras entre 96 e 99 comprovaram as
expectativas.
Ele aponta 3.500 kg/há como produtividade média
da região. Mais: em 95 a CDVale firmou convênio
com o Instituto Agronômico de Campinas (IAC), para estudos
de cultivares, adubação, espaçamento
e época correta de plantio, com financiamento das empresas
de sementes de milho. A prática resultou na melhoria
dos resultados obtidos pelos produtores. Assim, a média
inicial de 1.600/1.800 kg/há, registrada no início
dos anos 90, saltou para as médias atuais.
Esse quadro de redução de área é
reforçado por José Antônio Veloso Balhestero,
agrônomo do departamento técnico da Cooperativa
dos Cafeicultores de Cândido Mota (Coopermota). Ele
lembra que o preço do milho e a demora do financiamento
oferecido pelo Banco do Brasil, Banespa e Caixa Econômica
Federal aos produtores são a causa dessa baixa. Convém
lembrar que o produtor está descapitalizado.
Há também incerteza em relação
ao seguro, aceito apenas para o plantio até final de
fevereiro. Balhestero assegura que entre 80% e 90% dos produtores
plantam em março. Os agricultores que procuram
a cooperativa mostram-se inseguros com a situação,
explica. O correto é plantar entre 15 de fevereiro
e 15 de março. Após essa época, deve-se
optar pela rotação de culturas, com a aveia
ou o trigo no lugar do milho.
Nas condições atuais, os cálculos apresentados
por Balhestero mostram que o custo de plantio por há
está girando entre R$ 400,00 e R$ 450,00, enquanto
o retorno esperado não deve ultrapassar os R$ 480,00.
Esse acaba sendo um fator decisivo, gerando pouco estímulo
para o produtor, assegura o agrônomo.
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