Produtores de morango encontram na lavoura orgânica um caminho viável de produção que apresenta menos custos e venda garantida.
O Brasil é um dos maiores produtores de morangos com 100 mil toneladas colhidas todo ano nas regiões sul, sudeste e no Distrito Federal. Cerca de 90% da produção é destinada ao consumo in natura e o restante acaba nas indústrias. Em 2007 exportamos 37.909 kg da fruta, o que representou grande crescimento em relação a 2006, quando o País enviou 25.456 kg para fora. Mas este crescimento, de aproximadamente 14%, não foi suficiente para chegar perto da quantidade exportada nos últimos oito anos. Excluindo 2006 e 2007, a exportação sempre superou os 100 mil quilos anuais.
Em 2001, por exemplo, chegamos a ter até 339.883 kg comercializados com outros países. O pesquisador da Embrapa Clima Temperado (RS), Luis Eduardo Antunes, diz que o real motivo para a queda no número de exportações é a desvalorização do dólar. “O mercado externo tem interesse em nossas frutas, em especial as pequenas, tipo morango, amora-preta e framboesa. Mas há a questão de preço e logística”, aponta Antunes. Como a moeda norte-americana desvalorizou em relação ao real, os produtos nacionais ficaram mais caros para os estrangeiros.
Com a desvalorização do dólar os produtos estrangeiros se tornaram mais acessíveis aos consumidores e passamos a importar mais morangos nos últimos meses. Em 2008 entraram no Brasil 13.316 kg da fruta (até o mês de junho o que representou U$ 55.737), enquanto que no ano passado foram importados apenas 5.668 kg. Mas os números deste ano não deverão aumentar muito já que a safra nacional segue, praticamente, até o final do ano.
O Brasil tem potencial para exportar muito mais do que vende atualmente. Essa é a opinião do pesquisador da Embrapa que culpa a falta de estrutura. “Somos muito amadores na questão exportação!”, afirma Antunes, já que o País não exporta nem 0,5% do que produz.
Um outro problema que o País enfrenta é que o morango é um vilão quando o assunto é agrotóxico. É de conhecimento de todos que a lavoura convencional de morango recebe grande quantidade de defensivos. Em abril de 2008, o Programa Nacional de Análise de Resíduos de Agrotóxicos em Alimentos (PARA) divulgou uma pesquisa, que analisou 1.198 amostras de frutas e verduras no Brasil. O resultado coloca o morango como líder em reprovação. A fruta teve índice de 43,6% de frutas que continham excesso de agrotóxico. Tomate, com índice de 44,7% e o alface, com 40%, estavam em segundo e terceiros lugares respectivamente como produtos inadequados para a Ingestão Diária Aceitável (IDA), o que é prejudicial à saúde. Algumas amostras de morango continham agrotóxicos não autorizados para o cultivo da fruta, 14 ao todo, e outros defensivos liberados foram usados inadequadamente e ultrapassaram o Limite Máximo Permitido (LMP).
Este resultado mostra a preocupação do agricultor com a sua lavoura, porque acaba usando mais produtos do que o liberado por medo de perder a fruta para as pragas.
Ácaros Rajados: Uma alternativa no combate ao uso de agrotóxicos
Uma das pragas que mais afetam o cultivo de morango é o ácaro rajado. Ele permanece durante todo o período de colheita e acaba trazendo prejuízos ao produtor. Para combatê-lo, o agricultor usa acaricida, o que na verdade pode criar um problema ainda maior. “Muitos produtos matam populações de outras espécies que fazem o controle natural de outras pragas. Ao jogar o acaricida, você pode erradicar o ácaro, mas acaba atraindo outros problemas”, explica o Pesquisador do Centro Experimental Central do Instituto Biológico de São Paulo, Mário Eidi Sato.
Como os acaricidas são usados na época de colheita, muitos produtores não respeitam o tempo de carência (a partir do dia que foi feita a aplicação o agricultor deve esperar um período para colher o fruto) e acabam colhendo o morango antes do tempo, levando à mesa do consumidor uma fruta com resquícios de agrotóxico, o que é proibido.
Uma alternativa para o combate dos ácaros rajados é a liberação de ácaros predadores na propriedade. Por se alimentar dos próprios rajados, os predadores se multiplicam e acabam com a infestação dos rajados que destroem os morangueiros. Apesar do custo inicial ser maior, ao final do período de colheita o produtor acaba gastando menos. Além de a lavoura ficar protegida e render mais frutos, a liberação dos ácaros rajados pode ser realizada apenas uma ou duas vezes, enquanto o uso do acaricida deve ser feito diversas vezes e, em muitos casos, não surtem mais efeito porque a praga já se tornou resistente ao acaricida. Além da economia de mão-de-obra o valor também é menor. “O custo de uma liberação de ácaros é maior que o custo de uma aplicação de acaricida, mas é mais barato uma ou duas liberações do que 15 ou 20 aplicações de acaricida”, explica Sato.
Além do uso de ácaros predadores no lugar de acaricidas, o agricultor pode produzir usando somente produtos orgânicos. Este tipo de lavoura vem apresentando bons resultados para os adeptos.
Os adeptos dos Orgânicos
Ronaldo Pereira produz morango há 30 anos e nos últimos quatro se especializou na produção orgânica. Com auxilio da Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios (APTA), o agricultor passou a ter uma lavoura de 25 mil pés de morango com 560 de adubação natural. “É muito bom trabalhar com orgânico porque diminui os gastos de produção”, afirma Pereira.
O produtor de Monte Alegre do Sul, a 130 km de São Paulo, não usa nenhum sintético químico, mas não possui nenhum selo que certifique sua colheita como orgânica.
Com isso, ele não vende o produto oficialmente como orgânico, mas já está criando um plantel de consumidores fiéis. “A cada ano a minha freguesia está melhorando, porque o pessoal que compra está confiando no meu trabalho”, afirma Pereira.
Sobre os problemas com pragas o produtor diz que nos anos com a plantação natural tem menos incidência. “O cultivo orgânico controla até melhor que o cultivo convencional. Ele acaba tendo menor incidência de pragas que o convencional”, diz Pereira. O pesquisador científico da APTA, Joaquim Adelino de Azevedo Filho, explica os motivos para essa melhora. “Devido à adubação mais equilibrada no sistema orgânico, dentro da planta existe menos aminoácido livre, que é o alimento dos ácaros, então no sistema convencional existe uma quantidade muito grande (de aminoácido livre) e os ácaros se reproduzem mais facilmente, o que não acontece no cultivo orgânico”, explica o pesquisador.
A afirmação é confirmada ao analisar a lavoura de um produtor de morango convencional na mesma cidade. O agricultor Roberto Moreira de Souza diz que o “vermelhão”, doença causada por fungos na raiz do pé que torna o morango impróprio ao consumo, está destruindo uma parte considerável da lavoura. A razão para o aparecimento, segundo ele, seria a chuva. Mas na lavoura orgânica, localizada a poucos metros de distância, não há nenhum sinal do “vermelhão”.
Morango sem preconceitos
Antigamente se tinha a idéia de que o produto orgânico era menor em tamanho e em quantidade, mas hoje já não é assim. Na lavoura do produtor Ronaldo Pereira, houve ano que foi colhido mais de seiscentos gramas de morango por pé. Apesar de ainda ser a primeira colheita (que geralmente é menor que a segunda), o tamanho do morango já prova que a cultura orgânica não é defasada em relação à convencional. “Existe esse preconceito com relação aos produtos orgânicos, mas não é verdade. Hoje nós temos produtos com a mesma qualidade, forma e tamanho que o convencional, devido às tecnologias produzidas” explica o pesquisador da APTA.
Ricardo Schiavinato é outro produtor de morango orgânico. Há 10 anos no ramo, ele chega a produzir entre 10 e 15 mil bandejas anualmente. Ele possui o selo da ECOCERT BRASIL certificando o produto como orgânico o que lhe permitiu vender com um preço superior. Para Schiavinato vale à pena produzir orgânico, mas só se “garimpar” o mercado consumidor. “Os supermercados esfolam a gente. Hoje eu faturo mais do que quando vendia para grandes empresas porque hoje tem gente que quer consumir produtos orgânicos, mas a gente tem que pesquisar”, afirma o produtor de Serra Negra, a 150 km da capital paulista. Ele passou a adequar a produção à quantidade de compradores. “Quando tenho um morango plantado, ele já está vendido”, explica.
O agricultor vende diretamente para lojas pequenas e especializadas em produtos orgânicos. Elas, por sua vez, têm um público seleto que se preocupa com questões ambientais, de saúde e que apreciam o sabor da fruta sem defensivos. “Se você comer um morango de lavoura orgânica e outro de uma convencional, você consegue sentir a diferença”, diz o Pesquisador da APTA, Joaquim Filho.
Devido às tecnologias, os produtores orgânicos têm menos custos de produção com as mesmas quantidades, tamanho e forma que o convencional. Outros pontos positivos são: a venda com preço mais elevado ao convencional e a qualidade do produto final, oferecendo mais saúde para os consumidores.