É possível encontrar animais que combinem méritos da genética aditiva de seleção dentro de cada raça, e rebanhos geneticamente prontos para produzir carne dentro do que o consumidor busca.
O Brasil conta com uma produção de carne bovina de qualidade, apta para atender mercados bastante exigentes. Neste contexto, o consumidor considera maciez, sabor, cor, textura e qualidade de gordura, algo dentro de suas expectativas de consumo. Só que para alcançar do padrão solicitado pelo mercado cada vez mais se utiliza uma poderosa ferramenta: o melhoramento genético. O fato é que a tecnologia se transformou em uma aliada indispensável para o pecuarista produzir mais e melhor.
“O melhoramento genético voltado à produção de carne exerce um papel fundamental na pecuária e atende ao exigente mercado do boi gordo. A genética tem a mesma relação que o motor tem em um carro de corrida, ou seja, sem um ótimo motor não adianta colocar a melhor gasolina ou ter a melhor estrada, o carro não vai chegar no destino final”, explica Luis Adriano Teixeira, coordenador de pecuária de corte da Agro-pecuária CFM, de São José do Rio Preto.
“A genética selecionada para características de real valor econômico, como é o caso da CFM, é capaz de aumentar a produtividade e performance dos animais e fazer com que o produtor produza o boi gordo que o mercado procura: um animal pesado, com carcaça padronizada e com bom acabamento de gordura e jovem. Somente animais com alta genética para ganho de peso a pasto e seleção para precocidade conseguirão responder ao adequado manejo nutricional e sanitário e assim o produtor produzirá este boi precoce, que o mercado busca e remunera melhor”, diz. “O resumo do abate dos bois gordos da CFM em 2007 foi o abate até os 24 meses, iniciando com 22, com média de 18,5 arrobas e acabamento de carcaça tipo exportação”, ressalta o coordenador da Agro-pecuária CFM, empresa que gerencia 11 fazendas nos estados de São Paulo, Mato Grosso do Sul, Mato Grosso e Bahia.
O trabalho de melhoramento genético da Agro-pecuária CFM se desenvolve totalmente no pasto. Os animais recebem capim e sal mineral até completarem toda a fase de coleta de dados, até os 18 meses. Associando o trabalho de campo, a empresa desenvolve o Programa de Seleção do Nelore CFM (reconhecido desde 1992 por meio do CEIP – Certificado Especial de Identificação e Produção – documento oficial outorgado pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento), um dos projetos pioneiros com a utilização das DEPs ponderais (Diferenças Esperadas na Progênie). Em outras palavras, índices que estimam o valor genético dos animais, como Ganho de Peso, Musculosidade, Fertilidade, Precocidade e Conformação de carcaças, entre outras características.
Segundo Luis Adriano, é possível quantificar o ganho efetivo da seleção CFM usado as DEPs de seus touros. “Na última safra a DEP média de peso ao sobreano (animais de 14 a 18 meses) foi de 18,60Kg que equivale a 0,644arrobas a mais, com 52% de rendimento. Se calcularmos que um touro é colocado em reprodução, em média com 35 fêmeas, irá produzir 30 produtos por ano.
Durante seis anos, que é o tempo de vida útil de um touro, ele terá produzido 180 filhos ou na safra toda da CFM 360 mil produtos. Com uma produção extra de 0,64 arrobas por filho. Com isto, falamos de um incremento de produtividade de 231.840 arrobas, que valorizadas ao preço de R$ 90,00, gera um impacto de quase R$ 21 milhões. Isso sem contar os ganhos de precocidade sexual e que serão passados para a geração futura. O fato é que o investimento em genética provada com CEIP é totalmente rentável e gera lucro para a fazenda”, enfatiza o coordenador da Agro-pecuária CFM.
Localizada na região do Pantanal, no município de Corumbá (MS), Ema Agropecuária é cliente da Agro CFM e comprova os resultados citados pelo coordenador. “Apesar da região, onde o touro realmente precisa estar totalmente adaptado às condições de pastagens nativas e um ambiente super rigoroso, eles aumentaram em 13,5% o peso ao desmama dos animais filhos de touros CFM, saindo de uma desmama de 163,8 kg para 185 kg. As novilhas, filhas de touros CFM apresentaram 39,5% a mais de taxa de prenhez aos 24 meses de idade, saindo de 32% para 71,5%, ou seja, um de ganho de 123% a mais”, conclui.
Com resultados comprovados sobre os benefícios de trabalhar com genética superior, capaz de produzir bezerros desmamados mais pesados, que chegam à idade de abate em torno dos 24 meses de idade, a Agro CFM realiza anualmente o Megaleilão CFM, onde disponibiliza touros Nelore e Montana com CEIP, certificado recebido aos programas de seleção com reconhecida melhoria de produção ao longo das gerações.
Dê olho no Programa
Quanto o assunto é melhoramento genético, a CRV Lagoa da Serra também é referência. A central de inseminação artificial, instalada em Sertãozinho (SP), está no mercado há 37 anos. Há 14, criou o programa de melhoramento genético denominado de PAINT, (Programa de Avaliação e Identificação de Novos Touros) que tem como característica identificar e disponibilizar touros melhorados ao mercado e custo-benefício fácil por meio da inseminação artificial. Os animais nascidos no PAINT são numerados e identificados ao nascimento, pesados à desmama e aos 15 meses de idade. Todos são acompanhados e avaliados em características lineares de Conformação, Precocidade, Musculosidade e Umbigo. O objetivo é promover o melhoramento genético do rebanho Nelore, num sistema de produção a pasto. “Com o programa de melhoramento genético é possível identificar indivíduos realmente melhoradores dentro dos rebanhos, principalmente nas características que são avaliadas e que têm um retorno econômico na atividade. Com os dados em mãos, os criadores possuem subsídios para fazer a correta seleção em seus rebanhos, descartando os animais pioradores e maximizando os acasalamentos que realmente vão agregar valor, ou seja, dos touros e matrizes considerados positivos nas avaliações. A conseqüência imediata disso será um progresso genético do rebanho, benefício que não se perde mais, já que a herdabilidade permite que esses benefícios sejam passados dos pais para os filhos”, comenta Ricardo Abreu, gerente de produto da CRV Lagoa.
Para fortalecer o campo da genética, a empresa inaugurou em 2007 o Centro de Performance (CP) Lagoa, que surgiu pela necessidade de identificar nos rebanhos, animais jovens melhoradores. “Tudo isso, de maneira mais rápida e confiável já que o foco são animais PO (Puros de Origem). Por se tratar de um teste realizado em sistema de confinamento total, a agilidade e rapidez em identificar os ‘jovens talentos’ e disponibilizá-los para teste de progênie é bem maior. Em média isso ocorre entre 20º e 22º mês de vida”, enfatiza Ricardo Abreu. Participa do CP Lagoa, um total de 459 animais de 140 criadores de 11 estados. “A vantagem é que por tratar-se de um teste em confinamento, com os animais num mesmo ambiente as avaliações são feitas em conjunto para Ganho de Peso, Lineares de carcaça alinhada com as características por ultra-sonografia que são: Área de Olho de Lombo (AOL), Espessura de Gordura e Marmoreio”, conta Abreu. Dos 10 touros em destaque da primeira edição CP Lagoa, quatro deles já produziram sêmen e estarão sendo utilizados na estação de monta.
“Por meio do CP Lagoa, conseguimos disponibilizar ao mercado a ponta do progresso genético dos rebanhos, onde criadores terão acesso a genética de animais de ponta da safra 2006, isto é, utilizando da inseminação artificial em animais jovens com apenas 24 meses de idade”, conclui.
Na edição 2008 do CP, as avaliações finais estão sendo marcadas para o período de 03 a 10 de outubro, sendo que as avaliações genéticas serão realizadas entre 10 e 20 do mesmo mês. Os animais jovens superiores identificados serão levados a leilão no final da prova. Além disso, os touros jovens classificados como Top Class poderão ser fonte para o teste de progênie do PAINT. De acordo com o gerente, dez touros Top Class do CP Lagoa 2007 foram escolhidos para serem doadores de sêmen e já estão em coleta na Central. “São vários benefícios para o criador participante, entre eles a avaliação genética dos animais jovens, agregando valores positivos; reconhecimento e valorização por parte do mercado e a possibilidade de ter o touro em coleta de sêmen na Lagoa”, conclui.
Em prol da Genética
É difícil não notar que exista um leque de opções, seja voltado para o trabalho a campo ou quando o assunto são as inovações tecnologias, que alia também a pecuária de precisão, conduzida por ferramentas high-tech – microchips, balanças eletrônicas, softwares e DEPs ponderais. Exemplo disto é o Grupo Provados a Pasto, pioneiros em Provas de Ganho de Peso a Pasto, no Centro-Oeste do País. Formado por Nana Guimarães, Elza Guimarães, Humberto de Freitas Tavares e Fernando Lemos Guimarães – com propriedades situadas nas regiões de Jussara, Iporá e Quirinópolis (GO) – eles estão engajados em um sistema produtivo moderno focado no aumento da produtividade e que tem como característica principal à utilização exclusiva de touros efetivamente provados.
O Grupo enfatiza os índices de produtividade (Peso, Ganho de peso, Perímetro escrotal) sem jamais abrir mão de adequação funcional (testículos, aprumos, dorso-lombo, cascos). “Nós trabalhamos de maneira cooperada, com o duplo objetivo de aumentar a taxa de progresso genético dos nossos rebanhos e repassar ao mercado os benefícios conquistados. Dentro deste objetivo estão a seleção genética a pasto, rusticidade no rebanho, busca constante de precocidade sexual, fêmeas com boa habilidade materna e fertilidade. O repasse (dos benefícios conquistados) ao mercado é feito através da oferta de touros jovens da raça Nelore 560, provados nas rigorosas condições do Brasil Central. O Grupo oferece ao mercado reprodutores férteis e produtivos no ambiente em que viverão pelo resto de suas vidas. E o melhor, testados e aprovados na real condição de cria no Brasil: a Pasto”, explica Humberto Tavares, um dos sócios do Grupo Provados a Pasto.
O Projeto funciona primeiramente com Provas de Ganho de Peso a Pasto, no qual são realizadas com animais de sete a nove meses que – depois de passarem por uma pré-seleção nas propriedades em que nasceram – são enviados para a fazenda onde será realizada a prova. Com duração de 294 dias, sendo os 70 primeiros de adaptação, os animais são pesados a cada 56 dias e submetidos à medição testicular aos 12 e aos 18 meses. Ao final da prova, o técnico da ABCZ (Associação Brasileira dos Criadores de Zebu) pontua os animais de acordo com o sistema EPMURAS, (Estrutura, Precocidade, Musculosidade, Umbigo, características Raciais, Aprumos e características Sexuais) “Os índices atingidos são ferramentas importantes na escolha do touro, pois indicam quais características do rebanho esse animal pode melhorar, já que tudo que é genético é transmissível à progênie. Em segundo momento do projeto, após o final da prova, os animais reprovados são devolvidos. Os aprovados são recriados a pasto na fazenda onde se realizou a prova, até uma idade em torno de 24 a 30 meses. Por último, é realizado um (dois ou três) leilão, onde são comercializados os animais aprovados, com total garantia genética, andrológica e sanitária”, comenta Tavares. “Os usuários e beneficiários primários são os pecuaristas de corte na atividade de cria, seja usando touros geneticamente superiores em monta natural, seja usando seu sêmen. Os secundários somos nós mesmos (o grupo)”, comenta Humberto de Freitas Tavares, Grupo Provados a Pasto.
Trabalhos em Parcerias
Para um grupo de pecuaristas quando se comenta sobre genética, logo se remete ao projeto genético desenvolvido pela GenSys. “A tese do professor Luiz Alberto Fries (falecido em 2007) de 1974, foi um marco nesse sentido, criou as bases do PROMEBO – Programa de Melhoramento Bovino de Corte da Associação Nacional de Criadores – Herd Book Collares / RS. O professor Fries foi o fundador da empresa GenSys juntamente com seus colegas e alunos”, comenta Jorge L. P. Severo, sócio da empresa criada em 1991 para desenvolver, implantar e monitorar projetos de melhoramento em Gado de Corte e Ovinos. O trabalho de melhoramento genético da GenSys inicia com o controle individual dos animais. Logo em seguida, os animais são manejados em lotes (grupos de manejo). “O rigor na determinação dos grupos de manejo é fator importante na determinação do grau de sucesso do programa de melhoramento genético. Por exemplo, todos os animais de um grupo de manejo devem entrar e sair de um determinado pasto/potreiro no mesmo dia e devem ser submetidos aos mesmos tratamentos sanitários e nutricionais”, diz.
O conceito básico dos grupos de manejo é: dar as mesmas condições ambientais para que apareçam as diferenças genéticas entre os animais. Após este processo, a coleta é uma das etapas mais importantes no programa de melhoramento genético. “São coletadas informações em cada uma das fases do ciclo biológico dos bovinos: na reprodução, no nascimento, na desmama e no sobreano. As características a serem melhoradas nos animais são avaliadas em dois momentos-chave, na desmama (entre 6 e 8 meses de idade) e no sobreano (entre 14 e 18 meses de idade). Após a coleta, todos os dados são digitados e armazenados. A próxima etapa é a avaliação genética”, comenta Jorge Severo.
De acordo com o sócio do GenSys, os procedimentos utilizados nas avaliações genéticas visam separar adequadamente o quanto de cada característica medida nos animais é devido a fatores ambientais e o quanto é devido a fatores genéticos, onde somente a parte genética é transmitida dos pais para os filhos. “A seleção dos futuros reprodutores é a última etapa do programa de melhoramento genético. Com base nos índices genéticos dos animais, o criador e/ou seu técnico faz a seleção dos animais, destinando os melhores à reprodução e os inferiores à engorda”, enfatiza.
Hoje, a GenSys oferece grandes benefícios para seus parceiros e associados. “Os benefícios são muitos, entre eles, o aumento da produtividade que gera maior lucratividade. É importante para a pecuária encontrarmos animais superiores (um rebanho) e não apenas um indivíduo. O principal foco do melhoramento genético é ter nas mãos um reprodutor, com menor tempo possível, e animais que vão para terminação muito mais rápido. Com este benefício, entre tantos outros, o custo do programa que pode variar de acordo com o número de cabeças, atingindo de R$ 4 a R$ 12 reais, mas tem suas compensações”, comenta Daniel Biluca, um dos clientes do Programa GenSys e executivo da Conexão Delta G.
Aliás, parceria é o que desenvolve a Conexão Delta G a utilizar o programa desenvolvido pela GenSys. Atualmente a Conexão Delta G – reúne 36 empresas, constituída de 65 fazendas – e atua com dois grupos fortes: a Conexão G Norte e Sul, que tem como foco no programa de melhoramento genético as raças Hereford, Braford e Nelore, dentro de cada contexto regional. O programa de melhoramento genético conta hoje com mais de 50 mil bezerros nascidos por ano. “A avaliação dos animais da Conexão Delta G é feita através de características fenotípicas que expressam produção num enfoque bem amplo, não apenas levando em consideração o peso do animal, mas também a composição do peso, através de características morfológicas como a conformação da carcaça, sua musculosidade e precocidade; é o sistema CPM – Conformação, precocidade e musculatura. A avaliação é feita na fazenda por técnicos treinados e enviada GenSys, especializado em melhoramento genético, que analisa os dados”, comenta Daniel Biluca.
Os animais melhorados são indicados pelo programa, recebem o CEIP – garantindo o desempenho do animal inclusive informando os índices das características produtivas avaliadas. Tudo isto garante evolução genética para o rebanho produzindo animais comprovadamente melhorados que refletem diretamente na velocidade de ganho de peso, fêmeas melhores e mais precoces, redução da idade no abate, maior rendimento. Os resultados avaliados originam o sumário Delta G e participam do Sumário Aliança do GenSys.
Melhoramento
Uma associada das empresas que compõem a Conexão Delta G e que também dá continuidade ao trabalho sério de melhoramento genético nas raças Nelore/Braford é a Agropecuária Jacarezinho.
Para Fernando Boveda, gerente da pecuária da Agropecuária Jacarezinho, é importante ter em mente que o componente genético determina o sistema de produção que poderá ser utilizado, pois de nada adianta melhorar as condições de manejo e ambientais se os animais não apresentarem mérito genético para converter esse investimento em maior eficiência econômica e produtiva. “Geneticamente falando, ‘Qualidade sai de quantidade’ (Dr. Fries), ou seja, há maior probabilidade de se identificar indivíduos superiores para as características selecionadas e utilizar os mesmos para promover melhorias, quando se faz seleção em uma grande população de animais”, comenta Boveda.
Na Agropecuária Jacarezinho, todos os animais são identificados e cadastrados em um sistema informatizado e têm seu desempenho controlado individualmente desde o serviço da matriz, passando pelos períodos de nascimento, desmama e pós-desmama. Os dados colhidos no programa são analisados pela metodologia dos Modelos Mistos – Método Gensys. Da análise destes dados, resulta a estimativa do valor genético aditivo, apresentados sob forma de DEP´s para obter estimativas do valor genético aditivo para características de peso ao desmame e sobreano, conformação (C) , precocidade (P) , musculosidade (M), que ajudam a encontrar os animais mais equilibrados e adaptados.
De acordo com ele, dois animais de mesmo peso podem ter características de carcaça completamente diferentes e isto tem grande impacto na produtividade. Por isto, esse sistema de avaliação – conhecido como CPM – torna-se tão importante.
Tecnologia de Ponta
A Central Bela Vista Genética Bovina, situada em Pardinho (SP) mantém um lista de 450 clientes. O trabalho é voltado à tecnologia para produzir sêmen com elevado índice de prenhez e embriões. Com mais de 140 reprodutores de várias raças de corte e leite, a Bela Vista está entre as três maiores centrais brasileiras de reprodução. São produzidos em média 700 a 800 mil doses de sêmen/ ano e 1000 prenhez positivas.
Hoje, a Central Bela Vista, além dos serviços na área de inseminação artificial, que abocanha 30% do mercado nacional, tornou-se em 2003 uma parceria da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) para desenvolver um projeto pioneiro no requisito melhoramento genético: é o desvendamento do genoma do boi Nelore. O método é o mapeamento que permite identificar, através de marcadores moleculares, quais genes transmitem características de importância econômica para a produção de carne.
O projeto já conta com um banco de dados de 22 mil genes mapeados e 300 marcadores moleculares, em outras palavras, trechos de DNA responsáveis por determinadas peculiaridades. “Procuramos diferenças na molécula do DNA que possam estar relacionadas a características produtivas”, explica o professor da Unesp, Luiz Roberto Furlan, responsável pelo Genoma Funcional do Boi. O projeto agora está focado na elaboração de um protocolo para validar os marcadores. A idéia é que a validação seja a mais ampla possível. “Com os marcadores será possível saber se o animal terá ou não carne macia muito antes de ser abatido. O grande diferencial deste projeto é a utilização de um banco de seqüências de DNA específicas de zebuínos para a busca de potenciais marcadores moleculares, os quais serão validados em populações de animais zebuínos, criados nas condições ambientais características do nosso País. Dessa forma, acreditamos que estaremos produzindo marcadores confiáveis, cuja utilização poderá agregar valor ao produto e contribuir para elevar a pecuária brasileira a um patamar tecnológico semelhante ao dos nossos concorrentes no mercado de carne”, explica o professor Furlan.
“A realidade vivida hoje pela pecuária requer alternativa viável para viabilizar a produção de carne. Isso reduzirá significativamente o tempo de melhoramento e agregará valor ao produto nacional. Em um futuro não tão distante, a carne brasileira de origem zebuína poderá ser apresentada por dois diferenciais, uma carne macia e magra”, comenta José Roberto Potiens, médico-veterinário e gerente técnico da Central.
Para o professor Furlan, os benefícios oferecidos pelo Genoma Funcional do Boi podem ir além da carne macia. Pode colocar a pecuária brasileira num patamar tecnológico semelhante ao dos nossos concorrentes no mercado de carne, melhorar a eficiência da pecuária em reduzir a necessidade de se ocupar novas áreas de produzir carne e leite e a geração de conhecimentos sobre diversidade genética, primeiro passo para preservação.
Dos Livros para o Campo
Geneplus (Gene: vem de genética e Plus: algo mais) foi o nome escolhido pelos seus idealizadores para designar o Programa Embrapa de Melhoramento de Gado de Corte. Desde 1977, a equipe de melhoramento genético da Embrapa percebeu a necessidade do melhoramento na atuação direta nos rebanhos de seleção. Logo depois da fundação do Centro Nacional de Pesquisa de Gado de Corte (MS) começaram os contatos, com as associações, como a ABCZ. “A partir de 1982 um convênio foi estendido para todo o território nacional o que proporcionou em 1984, o lançamento do primeiro trabalho de avaliação de reprodutores da raça nelore que veio ser o embrião dos atuais sumários de touros”, comenta o pesquisador da Embrapa Antonio do Nascimento Rosa. “Em 1987, a Embrapa, por delegação do MAPA, passou a gerenciar o Arquivo Zootécnico Nacional (AZN) – Raças Zebuínas, função que exerce até hoje. Em atendimento a esta missão, a ABCZ repassou uma cópia fiel dos dados de genealogia e de provas zootécnicas de todos os rebanhos a ela filiados, em todo o país, à Embrapa. Desta forma, a equipe da Embrapa desenvolveu um know how bastante significativo uma vez que além das avaliações genéticas em nível nacional fazíamos, também, as avaliações de cada um dos rebanhos participantes”, conclui o pesquisador da Embrapa Gado de Corte.
Em pouco tempo depois, a Embrapa já disponibilizava do Programa diferente dos demais e próprio, o Geneplus. “O principal objetivo é auxiliar o criador em suas tomadas de decisão na execução da seleção, fornecendo a ele as avaliações genética de seus touros, matrizes e produtos. Cada criador pode ter um programa próprio de seleção. A função do Programa Geneplus é assessorar o criador para que ele atinja suas metas de produtividade e qualidade de produto, tendo em vista um sistema de produção equilibrado e harmonioso, do ponto de vista ambiental e de mercado”.
De acordo com o pesquisador, a tecnologia Geneplus é possível de ser aplicada a rebanhos de raças puras, a populações compostas (raças em formação) e mesmo a programas de cruzamentos entre raças. “A maioria dos nossos clientes são criadores de raças puras, compostas e européias. Atualmente, além de criadores individuais, o Programa Geneplus também atende as associações de criadores como a de Canchim, Caracu e ABCZ”, finaliza o pesquisador da Embrapa, Antônio do Nascimento Rosa.
Para o pesquisador, o pecuarista mais do que um parceiro é considerado um ativo executor do programa uma vez que, na verdade, todo o trabalho no campo fica sob sua responsabilidade. “Ele é a pessoa mais interessada em que tudo seja bem feito, com dados bem coletados, pois da qualidade de dados depende o valor das informações que ele recebe de volta, para executar a seleção, para tomar a decisão de qual animal selecionar, qual irá descartar e assim por adiante. É verdade que as crises que afetam a pecuária repercutem, também, sobre os programas de seleção. A cada mês novos criadores aderem ao programa, pois sabem que a tendência é o mercado ficar cada vez mais exigente em qualidade, em informação técnica e em confiabilidade. E isto o Programa Geneplus pode proporcionar”, conclui.