A Bunge Fertilizantes anunciou um investimento total de R$ 3,2 bilhões em quatro novos projetos de expansão da produção de fósforo e de outros produtos no Brasil, utilizados na fabricação de fertilizantes e em nutrição animal e humana. O anúncio aconteceu, no mês de maio, durante as comemorações de 70 anos de atividades da empresa.
O grande destaque da empresa é o investimento de R$ 2 bilhões na mina de Salitre, em Patrocínio (MG), por meio da Fosfertil, que terá capacidade de produção anual de 2 milhões de toneladas de rocha fosfática (equivalente a 700 mil toneladas de fósforo), que junto com o ácido sulfúrico, será usado na fabricação de ácido fosfórico, MAP (fosfato monoamônio), DAP (fosfato diamônio) e TSP (superfosfato triplo). O projeto deverá entrar em operação em 2011.
Além de Salitre, já está em curso um investimento de R$ 300 milhões para a expansão do complexo industrial da Fosfertil de Uberaba (MG) e das minas de Tapira e Catalão. Outro grande projeto da Bunge é a abertura de uma nova mina de fósforo em Araxá (MG), com capacidade anual de produção de 820 mil toneladas de rocha fosfática (equivalente a 290 mil toneladas de fósforo), que deverá estar concluída já em 2009. O valor desse investimento é de R$ 320 milhões, sendo que os demais valores serão destinados a demais complexos e exploração de jazida.
Com os novos projetos deverá haver uma redução das importações e o acréscimo de 1,2 milhão de toneladas de fósforo no mercado interno, o que representa 30% da demanda atual.
De acordo com o presidente da Bunge Fertilizantes, Mário Barbosa, a médio prazo mais da metade das importações atuais de matérias primas será substituída por produtos brasileiros. Ele informa que em 2007 o consumo brasileiro de fósforo foi de 4 milhões de toneladas, sendo que desse total, cerca de 50% foi suprido por importações. A exploração do fosfato no Brasil se dá em minas existentes em São Paulo, Minas Gerais, Goiás e Bahia, com as importações vindo principalmente dos Estados Unidos, Marrocos, Rússia, Israel e Tunísia.
Preocupação Aparente
Durante o evento, a alta dos preços dos fertilizantes e, conseqüentemente, a alta nos preços dos alimentos também foram discutidos. De acordo com o ex-ministro da agricultura do Governo Lula, Roberto Rodrigues, neste momento de grande procura por matérias primas todo investimento é bem-vindo. No entanto, os resultados aparecerão em longo prazo. “Vejo com grande preocupação a alta dos preços dos fertilizantes para o produtor brasileiro. As empresas não fizeram o investimento necessário e, de repente, existe uma procura grande pelo produto. Além disso, alguns países exportadores aumentaram taxas, em decorrência da oferta e da procura. É evidente que neste cenário, todos saem prejudicados”, diz Rodrigues.
Preocupado também se vê o Governo que quer aumentar rapidamente a produção de fertilizantes no País como um instrumento para conter a alta no preço dos alimentos. A redução da dependência nessa área foi recomendada, na segunda semana de junho, pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva em reunião ministerial. Feito à base de potássio, fosfato e nitrogenados, os fertilizantes tiveram reajustes de 560 nos últimos meses, tornando-se um dos principais fatores de pressão inflacionária no setor.
Na reunião ficou acertado que a ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, o ministro de Minas e Energia, Edson Lobão, e outros integrantes do primeiro escalão vão se reunir com diretores da Vale e da Petrobrás, empresas que têm jazidas de minerais inexploradas, especialmente de potássio. A intenção do Governo é reverter um quadro de dependência externa, reduzindo de 75% para 25% do consumo a importação desse tipo de produto. O assunto só foi levantado quando o ministro da Agricultura, Reinhold Stephanes, enumerou a importância e as dificuldades para que o Brasil aumente sua produção de alimentos, compensando com uma oferta maior a grande demanda atual. O ministro afirmou que o governo estuda suspender para fertilizantes e defensivos agrícolas a cobrança do tributo AFRMM – Adicional ao Frete para a Renovação da Marinha Mercante, que é de 5%. A medida, segundo o ministro, está sendo avaliada, mas depende de acordo com outras áreas do governo. Ele admitiu que essa é uma antiga reivindicação dos produtores rurais e é apontada por especialistas no setor como um dos fatores capazes de reduzir os preços dos insumos no curto prazo. Stephanes salientou, no entanto, que a medida se adotada pode ter poucos reflexos em termos de preços no mercado interno, já que as cotações dos insumos estão em alta no mercado internacional.
Fórum internacional discute os impactos e as tendências mundiais
Durante o Fórum Internacional Comemorativo da Bunge Fertilizantes, especialistas discutiram os prováveis cenários para o mundo e os impactos no agronegócio brasileiro. Estiveram presentes no evento, o ex-ministro da agricultura, Roberto Rodrigues, o escritor especialista em projeção do futuro, Alvin Toffler, o secretário-executivo de produção e Comércio Internacional, Michel Prud´homme, e o presidente da Bunge Fertilizantes, Mário Barbosa. “Os fertilizantes têm papel fundamental nestas discussões, pois a abundância de alimentos depende deles, bem como de outros insumos. As matérias-primas necessárias para produzi-los são, entretanto finitas, e não estão igualmente distribuídas no mundo”, comenta Barbosa. Dos três principais nutrientes do solo, fósforo, potássio e nitrogênio, o único que é abundante e se encontra em todos os lugares é o nitrogênio, que está no ar que respiramos. “Mas para transformá-lo em fertilizante, temos de usar o gás natural ou o petróleo, que são finitos e cujos preços são cada dia mais altos. Os outros dois – fósforo e potássio – são encontrados em minas cuja exploração tem um custo crescente, como está acontecendo com praticamente todos os minérios – vejam-se os casos de ferro e de cobre”, explica.
O presidente da Bunge Fertilizantes lembra que o setor da empresa que dirige é responsável por aumentar a produção e a produtividade agrícola em cerca de 50%. “Portanto, se hoje temos seis bilhões de pessoas habitando nosso planeta, metade desta produção deve sua alimentação ao extraordinário nível de produtividade na agropecuária, alcançando graças à utilização dos fertilizantes”, destaca Mário Barbosa. Ele chama a atenção para a incrível ascensão dos preços de uma série de commodities como petróleo, minério de ferro, níquel, cobre, fertilizantes e mesmo alimentos, nos últimos meses, que sinaliza a adoção de um novo patamar de nível de preços.