Na contramão de grandes redes internacionais que aportaram nos últimos anos no Brasil, a Café do Centro – tradicional torrefadora brasileira de cafés gourmet e especiais – seguiu para triunfar em um novo mercado, na “terra do sol nascente”.
Em 2006, a empresa genuinamente brasileira (com sedes em Varginha, Minas Gerais, e Adamantina, oeste de São Paulo), apostou alto quando abriu a primeira cafeteira brasileira no Japão, mais precisamente em frente ao Palácio Imperial, no centro de Tóquio.
O resultado foi positivo, tanto que no final de 2007 eles inauguraram a segunda, na cidade de Aoyama, próximo à embaixada brasileira. Agora, a expectativa é de que a localização estratégia renda para a cafeteria, um faturamento anual de R$ 1 milhão e 300 mil.
Porém, a pretensão da Café do Centro é ir além: atingir 100 unidades no continente asiático em dez anos e de conquistar definitivamente o paladar japonês. E potencial para isto tem. “O mercado japonês foi o que mais cresceu nos últimos anos. É um mercado extremamente sofisticado e muito exigente. Este é o tipo de público que nós procuramos. No Brasil, a Café do Centro é líder no mercado de cafés Gourmet, presente em boa parte dos melhores restaurantes e cafeterias. Por isto, nossas atenções estão voltadas para o mercado externo. Não pretendemos abrir lojas no Brasil para não concorrer com os nossos clientes. Nosso posicionamento aqui é de fornecedor de café”, argumenta Rafael Branco Peres, diretor da Café do Centro.
Parcerias Brasil e Japão
O Café do Centro tem uma relação muito próxima com a colônia japonesa. A indústria fica localizada em Adamantina, região com forte influência de imigrantes japoneses. Outro ponto é que os imigrantes tiveram grande participação direta nas lavouras de café no Estado de São Paulo e Norte do Paraná, logo que chegaram no Brasil há exatos 100 anos. Entretanto, os contatos comerciais da Café do Centro com o Japão surgiram em 2001, quando exportou pela primeira vez para aquele País. Mas, devido à diversidade de costumes, idiomas e modo de gerir, a empresa levou cinco anos para a abertura da primeira loja. De acordo com o diretor da Café do Centro, Rafael Branco Peres, com a expansão de redes internacionais de cafeterias no País, investidores japoneses se interessaram em criar, lá, um negócio que tivesse qualidade. Vieram aqui, visitaram fazendas e indústrias do segmento. “E entre a primeira reunião em 2001 até a abertura da primeira loja em Tóquio, foram cinco anos. Este foi o tempo necessário para os japoneses compreenderam os conceitos da marca Café do Centro”, argumenta o diretor. A segunda unidade levou menos tempo para ser inaugurada – um ano e meio – mas depois de todo os tramites, somente 30 dias foram o suficiente para que a cafeteria fosse posta em funcionamento.
“Para se fazer negócios com japoneses, é essencial que eles entendam as culturas e os valores de uma empresa e de um País”, diz. “O mercado japonês é sofisticado em todos os setores, principalmente o gastronômico. Eles querem saber a origem dos hábitos, dos ingredientes e do preparo de todo alimento. É natural a preferência por produtos de qualidade”.
Talvez, a melhor arma da Café do Centro foi também a sua história. A única marca brasileira do segmento em território japonês, é uma das principais produtoras de Café Gourmet e Especial do País – disponibiliza Cafés Especiais de várias regiões diferentes, como Mogiana, Paraná, Bahia, Cerrado Mineiro, Espírito Santo e Sul de Minas. Está presente na carta de lugares sofisticados, como o D.O.M, A Bela Sintra e La Tambouille. “Nós compramos café de um grupo de fazendas certificadas por nossa equipe de qualidade. Elas produzem excelentes cafés, e tem compromissos sociais e ambientais.
Depois o café é enviado para o nosso centro de compra no Sul de Minas Gerais, onde ele é classificado por um moderno equipamento que separa cada um dos grãos por tamanho, cor, defeito e peso através de leitura ótica. Todos os nossos cafés passam pelo mesmo processo de qualidade sem diferenciação se serão exportados ou não”, conta o diretor da Café do Centro.
Histórico familiar
Com 90 anos de tradição, a torrefadora pode oferecer um cardápio com diferentes tipos de cafés, classificados pela origem dos grãos (São Paulo, Paraná, Sul de Minas, Cerrado Mineiro, Pernambuco e Bahia). Os donos da Café do Centro, Rafael e Rodrigo Brando Peres, são herdeiros de uma tradicional família de agricultores paulistas que se destacam nos segmentos de café, laranja, açúcar e álcool. A empresa passou para as mãos de Rafael e Rodrigo há dez anos como pagamento de dívida da torrefadora com a holding Branco Peres, grupo com faturamento de US$ 150 milhões. A torrefadora entrou em crise justamente por concentrar os negócios apenas no segmento de cafés gourmet, ainda modesto no País. Diante da situação, os primos Branco Peres partiram para outros negócios e hoje 60% do faturamento da empresa vem da produção de marcas próprias para supermercados (cafés solúvel, em pó, capuccino, em grão).
Projeto Café do Centro Japan
Com 120m² de área, 15 funcionários e decoração requintada, a loja oferece um cardápio repleto de produtos brasileiros. Lá, os atrativos são: cafés gourmet (expresso e coado), especiais de origem, frapês gelados, café gelado, cappuccinos – todos da Café do Centro. Pão de queijo, pastéis, bolinhos de bacalhau, caipirinha e sucos de maracujá e manga também são itens indispensáveis no menu. Um atrativo a mais para duas vertentes de consumidores: o brasileiro que vive no Japão e o japonês que quer experimentar os petiscos brasileiros. “Temos que aproveitar que o Brasil está na moda no mundo todo para divulgar nossos produtos. Os melhores cafés do mundo são cultivados por aqui e grande parte dos brasileiros não sabe disso. Oferecemos para o Japão, além de vários tipos de cafés, nossos cappuccinos. Talvez o ‘jeitinho’ brasileiro, a simpatia e a informalidade que tratamos os estrangeiros tenha nos ajudado nas negociações com o Japão”, revela o diretor.
O que pouca gente sabe que o Japão é o terceiro maior consumidor de café do mundo, atrás de Estados Unidos e Brasil. Só para se ter uma idéia, o café expresso é vendido por quase US$ 7,00 a xícara.