Doenças e pragas podem causar grandes prejuízos na lavoura e, com certeza, tiram o sono de muito agricultor. A única forma de combatê-las é com aplicação de defensivos. Mas o produtor sabe que esse trabalho não é simples, requer conhecimento técnico dos pulverizadores e também no manuseio dos produtos.
Para auxiliar os produtores, o Instituto Agronômico de Campinas (IAC) e a Arysta, fabricante de defensivos agrícolas, criaram o “Aplique Bem”. O programa consiste em uma van, equipada com uma série de medidores, que visita fazendas em diversas regiões do Brasil para dar um curso de aplicação de defensivos. “Nós atendemos qualquer tipo de pulverizador. Estacionário (tomate), costais (cereais), pulverizador de barra, turbo, uniporti, qualquer um”, afirma o técnico do IAC, Sergio Filipini, que é o responsável pelas palestras. (A única aplicação que a equipe não atende é aquela realizada com aviões).
O projeto surgiu quando as reclamações de agricultores eram dirigidas ao produto. “Muitos produtores colocavam a culpa da ineficiência no produto. Diziam que não adiantava aplicar”, lembra Luis Fernando Vital, representante técnico da Arysta. Para desmistificar esse tipo de afirmação, a empresa entrou em contato com o IAC para elaborarem o Aplique Bem. “Não existe produto ruim, mas sim produto mal aplicado”, explica o técnico do IAC. Segundo o especialista, com 34 anos de experiência, os produtos são testados durante anos pelas empresas e são lançados apenas com a eficiência comprovada.
A aplicação correta de defensivos interessa a todos os participantes da cadeia produtiva. Com o trabalho correto, o produtor terá a lavoura mais protegida o que resulta em maior quantidade e qualidade do produto. Além disso, não terá desperdício de defensivos. “Tem agricultor que chega a gastar até 70% a mais em produtos. Ele joga uma superdosagem nas plantas”, comenta Sergio Filipini.
O consumidor final também é beneficiado, já que ingerir excesso de defensivos não faz bem à saúde. Pessoas que se importam em manter uma alimentação saudável podem dar preferência a produtos com baixo teor de defensivos. Com um selo, o IAC certifica as fazendas que realizam a aplicação corretamente. Além de o selo servir para a venda como produto sem excedente de defensivos, ele é requisito para exportação.
A saúde do aplicador é outro aspecto importante do curso, já que alguns defensivos podem causar problemas à saúde, caso não sejam manuseados corretamente, ou se o Equipamento de Proteção Individual (EPI) não for utilizado.
Outro beneficiado é o meio ambiente. Com o uso correto, o solo e a água não serão sobrecarregados de defensivos. Rios e lagos próximos às lavouras serão mais limpos beneficiando os próprios fazendeiros que utilizam aquela água diariamente.
Aplique Bem em Araguari
Em Araguari, cidade vizinha a Uberlândia (MG), três produtores de café receberam a equipe do Aplique Bem. O curso abordou desde a manutenção do trator, até a correta utilização do maquinário de pulverização. Muitos fazendeiros se surpreenderam com as instruções de uso do veículo já que eles não tinham nenhum cuidado com o trator. O técnico do IAC mostrou que fazer a manutenção do trator pode significar redução de gastos no futuro. O curso, com duração de até oito horas, ajuda o agricultor para futuras aplicações. “Pulverização de café é algo muito questionável, cheia de detalhes. Por meio dessas demonstrações a gente consegue aprender”, comenta Elizeu Gussoni, produtor de café da região de Araguari.
Sobre a pulverização, os pontos mais importantes nos trabalhos em cafezais são o manejo dos produtos e a velocidade do trator no momento da aplicação. Muitos aplicadores se preocupam com o consumo de diesel, e deixam o trator em baixa rotação no momento em que os produtos são misturados no tanque. Resultado: os defensivos se depositam no fundo do tanque e a aplicação é ineficiente.
Os erros mais comuns dos agricultores estão na regulagem da pressão do equipamento. Os produtores não se importam com o manômetro (medidor de pressão) e muitos equipamentos estão desregulados ou totalmente danificados. Outro problema recorrente é a ausência da capa do cardã. A peça, que liga o trator ao tanque de pulverização, gira em alta velocidade e caso o aplicador encoste a calça na peça, a o cardã irá girar a pessoa. “Sem a proteção do cardã, os aplicadores correm perigo. Muitos trabalhadores são mutilados e até morrem”, afirma o especialista do Instituto.
Os agricultores identificam as imperfeições do trabalho da fazenda durante o curso. “A gente comete vários erros na regulagem do trator, nos cuidados com os bicos, na regulagem dos pulverizadores. Tem de ver se está jogando certinho na saia, no meio e no topo da planta”, comenta Neidivaldo Garcia, produtor de café da região de Araguari. Assim como já foi citado, um dos pontos essenciais da pulverização de café é o uso correto da marcha do trator. “O mais importante é a velocidade do trator porque o pessoal usava na marcha errada”, explica o proprietário de uma das fazendas visitadas, Valdinei Mantovaneli. A velocidade influencia diretamente uma aplicação mais eficaz porque penetrará na planta.
Os técnicos do IAC já passaram por nove estados das regiões sul, sudeste e centro-oeste. Uma segunda van começará a circular pelas fazendas, provavelmente, em julho, e o programa deverá se estender às regiões norte e nordeste.